Depois que deixei a frase escapar de mim, o ambiente ficou totalmente em silêncio. Só conseguíamos ouvir o fogo crepitar, esperando que continuássemos nosso trabalho. Mordi o lábio, observando seu rosto, sua reação. Ele apenas me encarava num ar curioso.
— O que você é? — foi a sua primeira pergunta.
Fiquei pensativa. Afinal, o que eu sou?, o pensamento me ocorreu. Nunca ninguém havia me definido realmente. Me chamaram de princesa, de monstro, demônio... Eu realmente me encaixava em algum desses parâmetros? Bem, ainda não tinha descoberto.
— Não sei — confesso, soltando um suspiro. — Pelo menos não me falaram o que eu sou.
A terceira semana de jogos estava chegando ao fim quando eu e Trevor declaramos que já tínhamos conseguido armas o suficiente para apresentar ao príncipe Matthew. Não era a quantidade estipulada por ele, mas Trevor havia me assegurado que seria fácil conversar com o príncipe e negociar. E claro, explicar que tínhamos sido assaltados.Quanto aos rebeldes, meu dono chegou à conclusão de não denuncia-los por ainda levar fé na causa. Embora não fosse mais se meter nos planos deles diretamente como fazia antes. Entendia seu ponto de vista.Arrumamos as armas em caixas de madeira especiais para que não houvesse risco de escaparem durante a viagem. Elas estariam bem amarradas na carroça que usaríamos. Ao terminarmos de embalarmos tudo, Trev
A medida que os segundos iam passando, a chuva acabava aumentando a intensidade. Trevor olhava para mim e eu apenas me sacudi, querendo me livrar da água que estava começando a me incomodar.— Onde está a carroça? — pergunto.Ele acaba seguindo na frente e a encontramos parada perto de um córrego calminho. Lá os cavalos bebiam da água e pelo jeito ficariam assim pelo restante da noite. Eles precisavam descansar. Tiveram uma noite bastante agitada.Na carroça, coloquei o colar em volta do pescoço, voltando à minha forma humana em alguns rápidos segundos. Nisso percebi o quanto estava cheia de sangue. Não sabia que as marcas ficavam ao voltar ao normal. Olhei os cortes e ainda sentia os m&uacu
Meu coração saltitava no peito quando consegui avistar ao longe um grande portão de ferro, seguido por um muro extenso que se perdia de vista horizontalmente. Meus olhos não conseguiam se desgrudar do portão enquanto ele se aproximava. Vários guardas vigiavam o portão, apesar de não ter nada em volta do castelo do príncipe, apenas uma floresta que a gente tinha demorado dias para atravessar.Trevor parou a carroça em frente aos homens e desceu dela. Prendi meus cabelos curtos e tentei agir naturalmente, torcendo para que eles não desconfiassem da minha sexualidade. Não sabia agir como homem, mas tentaria.O meu dono começou a conversar com eles e depois da barganha, conseguiu voltar pra carroça ao mesmo tempo que os Cavaleiros abriam o gran
Eu não voltei a falar com o Trevor depois da nossa suposta briga. Tinha ficado chateada com ele e apesar de estar me dando casa, comida e roupas limpas, não conseguia mais conversar com ele direito. Na verdade, não sabia bem o que dizer. Agora ficava receosa dele me achar louca ou pensar em alguma forma de me expulsar de casa por isso.Mesmo assim, quando ele me perguntou se eu queria me inscrever para o desafio da quarta semana, eu afirmei. Iria arriscar tudo. Iria arriscar minha própria vida em prol do príncipe de gelo. A essa altura ele já deveria estar melhor, afinal, já haviam se passado vários dias desde que tínhamos ido tentar uma visita nele.A quarta semana dos jogos havia chegado. Trevor tecnicamente não permitiu que eu participasse das outras semanas. Possi
Tenho quase certeza absoluta que estou morta enquanto recupero a consciência. Seria até esquisito estar dizendo que a minha consciência estava retornando, mas é essa a sensação que eu tenho.Afinal, é assim que as pessoas morrem? De repente elas se sentem vivas "do outro lado"?Bem, isso era o que estava começando a descobrir naquele momento. Havia sido minha tentativa final de ver o príncipe e provavelmente eu tinha falhado miseravelmente. Já podia imaginar o Trevor chorando pela minha morte e pedindo meu corpo para enterrar. Isso se fosse permitido que uma escrava como eu pudesse ser enterrada.Eu nunca descobriria.Sentia-me dormente da cabeça aos pés. Devia ser um efeito colateral da morte. Quanto mais o tempo ia se passando, mais eu
Sua expressão estava completamente neutra ao me encarar. Seus olhos gélidos me fizeram ficar paralisada no mesmo lugar. Mordo o lábio apenas de nervosismo. Os fios loiros pareciam alinhados, mesmo que escondidos pela coroa em sua cabeça. No seu gibão azul, notei um broche com o símbolo dos homens. Ele assentiu com a cabeça para o Edwin e este cumprimentou o príncipe com mesura antes de se virar e os guardas voltarem a fechar as portas de madeira, me deixando completamente sozinha com o príncipe.Meu coração começou a ficar agitado. Cheguei a me virar na direção da porta, buscando algum auxílio do que deveria saber, mas já era tarde. Edwin já havia partido e agora restava apenas eu e ele naquela enorme sala de jantar. A comida já havia sido servida e estava fumegan
Percebi estarmos voltando ao meu quarto à medida que reconhecia a decoração dos corredores a qual estávamos percorrendo naquele momento. Nossos braços estavam enlaçados e andávamos calmamente. Fiquei pensando nos olhos penetrantes do príncipe Matthew e da maneira como ele ainda me encarava enquanto eu me afastava do salão de jantar.— Senhor...ita, se me permite dizer, nunca vi o príncipe tão vidrado em alguém.Encolho os ombros. Da mesma forma, ninguém tinha me encarado daquele jeito. Era quase assustador e bastante perturbador. Entretanto, decidi guardar os comentários negativos apenas para mim mesma. Ou ao menos parte deles:— Foi meio estranho — confesso.
Apoiei meu corpo na parede enquanto ouvia mais palavras sendo pronunciadas por aquela mulher. A princesa Marilene.O que ela faz aqui?, a pergunta invadiu minha mente de imediato e internamente eu desejava que pudesse obter alguma resposta.Eu pensava que homens e mulheres não podiam manter contato dessa forma, fui raciocinando. E pelo tom de voz, os dois não pareciam querer se matar no momento.Com os dedos trêmulos, coloquei o colar novamente no pescoço, voltando à minha forma humana. Tinha a sorte daquele corredor não estar movimentado no momento. Se estivesse certa, apenas os dois estavam por ali. O corredor era mais escuro que os demais e suas vozes pareciam meio emboladas. Não sabia ao certo o motivo visto que não estava tão longe assim dos dois.
Último capítulo