Os raios de sol passavam pelas portas da varanda e, sem encontrar resistência na fina cortina translúcida, incidiam sobre o corpo de Paulina, despertando-a aos poucos. Preguiçosamente, esticou-se para o lado em busca do aconchego dos braços e corpo de Simon, mas ele não estava ao alcance de seus braços. Abriu um único e sonolento olho, constatando que ele não estava na cama. O barulho de água indicava que ele estava no banho e a embalou de volta para o mundo dos sonhos.— Bom dia, meu amor! — Simon sussurrou, beijando o pescoço macio da Perez minutos depois. — Levante.— É domingo... — gemeu, virando para o outro lado.— Tenho planos para hoje que incluem você.— Exclua... — Jogou o lençol sobre a cabeça e se encolheu para voltar a dormir.Com o corpo leve e sonolento caminhava de volta para nuvens macias de fantasia, quando uma mão grande apalpou seu seio e beijos percorreram sua espinha. Longe de estimular que levanta-se, as carícias tinham o efeito oposto. Seu corpo amoleceu, entre
Simon alugou bicicletas para ela e ele e seguiram os amigos devagar pelo parque. Majin seguia ao lado de Thiago, preso na bicicleta dele com um extensor de metal preso na guia. Em poucos minutos chegaram a uma área em que várias pessoas estavam sentadas sobre toalhas ou direto no gramado, conversando, lendo, comendo ou namorando.Henrique pegou uma toalha quadriculada da mochila que carregava e estendeu no chão, Simon e Thiago retiraram alimentos e Paulina os ajudou a ajeitar tudo. Sentaram, Henrique, Thiago e Majin de um lado, Simon e ela do outro e comeram enquanto conversavam. Na verdade, ela e Thiago conversavam, os outros dois contribuíam com algumas frases ocasionais.Paulina descobriu que Thiago e Henrique se conheciam da faculdade de educação física; moravam a poucos minutos do parque; que as bicicletas não eram alugadas e eles as utilizavam como meio de transporte diário, pois preferiam a liberdade e a mobilidade das bikes à sensação claustrofóbica dos meios automobilísticos
O silencio entre eles perdurou o dia todo. Após algumas horas solitárias no apartamento e ainda irritada com a atitude de Simon, Paulina decidiu visitar o primo, ficando na casa dele até a noite para evitar se desgastar com as mudanças bruscas de humor do Salvatore. Quando retornou seguiu direto para o banheiro. De banho tomado, Paulina enrolou uma toalha em volta do corpo e foi para o closet, se surpreendendo ao encontrar Simon pegando algumas roupas e ajeitando-as em uma enorme mala.— O que está fazendo?— Amanhã, depois do trabalho, tenho uma viagem marcada para Escócia — ele a respondeu, de costas.— Quando volta? — perguntou, ignorando a sensação ruim que sentiu ao receber aquela notícia.— Quinta depois das 20hrs se o trânsito permitir. — ele não se virou, aumentando o desconforto de Paulina com a situação.— Tanto tempo assim?! — Apertou as mãos no nó da toalha, incomodada por ele ficar fora por praticamente toda a semana. Simon viajara antes, chegando a ficas dias fora, mas
Paulina rolou sobre sua cama pela milésima vez. Lutando para dormir, com o cobertor enroscando em suas pernas e braços como um casulo a cada girada angustiada de seu corpo. Afastou o pano, desembaraçando-se dele e jogando-o no chão, e encarou o teto, o cabelo misturado com suor grudado em rosto e a respiração inconstante.Esticou a mão, capturando o celular no nicho acima de sua cabeça para verificar o horário. Estava naquela agonia há duas horas. Esgotada de forçar o sono, sentou na cama por alguns minutos, os pés flutuando a poucos centímetros do chão. Espremeu o lençol entre os dedos, sentindo o peito apertado com a irracional vontade de chorar.Calçou as pantufas, andou até a janela de seu quarto, puxou a cortina e encostou a testa e as mãos no vidro gelado, contemplando as poucas luzes nos outros prédios e as que iluminavam as ruas, aos poucos subindo o olhar para o céu pontilhado de estrelas e com uma lua quase completa.A paz da noite não a alcançava, nem afastava o mal estar q
Quando saiu seu cabelo brilhava, macio e perfumado, o liso habitual ganhou ondas nas pontas, suas unhas estavam tratadas e cobertas por esmalte vinho. Sobrancelhas feitas, corpo depilado — e ela jurou para si mesma que cada gota derramada por dor valeria a pena no final das contas.A beleza de seu rosto delicado foi destacada pela maquiagem que marcava seus olhos claros, os lábios carnudos preenchidos com batom rosa claro e gloss. Tinha prestado atenção em todos os conselhos da maquiadora para reaplicar os produtos caso fosse preciso. O problema era que nem mesmo a correria e a conversa sem fim do salão acabavam com seus devaneios sobre o que aconteceria naquela noite e nas outras. Seu futuro estava atrelado ao encontro com Nathaniel e isso a inquietava. Não estava preparada. Precisava de mais tempo, aulas e de Simon. E isso era o que a frustrava.Enquanto se corroía de nervosismo, o Salvatore estava à milhas de distância, em eventos repletos de modelos glamorosas. Na certa, desfiland
Sentada junto ao balcão, Paulina olhava fixamente a porta do bar, o nervosismo preenchendo cada célula de seu corpo, as mãos suadas escorregando na alça preta da pequena bolsa em seu colo, seus olhos pinicavam e a muito custo — imaginando que borraria a maquiagem — controlava a vontade de coça-los.Chegou ao bar quinze minutos antes do horário combinado para se familiarizar, no entanto, conforme os minutos passavam lentamente se dividia entre ficar e ir embora. O ambiente a incomodava, sentia-se desconfortável com os olhares que atraia e recusara bebidas de homens com expressões que variavam de curiosa à sedenta. Até o momento não comera nada e se limitara a um copo de uma bebida que o barman garantira ter pouco álcool, era bom, mas sua garganta travada pela ansiedade só lhe permitiu um gole.Acuada era um termo brando para descrever como se sentia. Devia ter combinado em um lugar mais tranquilo e acolhedor; o restaurante que costumavam frequentar por exemplo. Quando Nathaniel finalme
O dia de seu tão sonhado — e cancelado — casamento chegou. Um dia que teria sido especial e memorável, começou como qualquer outro e sem previsão de novidade ou motivação. Passou a manhã e o começo da tarde movendo-se como um robô pelo apartamento, fazendo seu serviço com eficiência, mesmo divagando sobre o que faria quando Simon voltasse.As 17hrs, imaginou que sua preocupação teria uma pausa durante a prática de kickboxing, mas logo a aula tornou-se um sacrifício. Sua concentração era zero, os movimentos lentos e desajeitados, e a mulher com quem praticava — ironicamente a mesma que dias antes dissera que Simon procuraria outra — sorria satisfeita, avançando. Além disso, havia os olhares em sua direção, talvez por ser uma massa mole e atrapalhada, porém temia que fosse algo mais.Ao seu redor, com exceção de Thiago, só havia mulheres, como exigia as aulas de quarta. Nenhuma gostava dela. As outras trocavam cumprimentos, participavam das aulas juntas, mas fora dali fingiam que ela er
A casa deles ficava a poucos minutos do prédio, Thiago a acompanhou no táxi até a residência com fachada com ripas de madeira e plantas. Do lado de dentro o verde predominava na varanda e na garagem telhadas, em que ficava a casinha de cachorro. Majin os recepcionou com latidos, pulos e lambidas empolgadas.— Vamos amigão! — Thiago abriu a porta e os três entraram na sala com sofá de quatro lugares marrom, estante aparelhada e mesa de centro feita de pallet. — Sinta-se em casa. A culpa da arrumação é única e exclusiva do Henrique — ele brincou ao perceber sua surpresa com o ambiente ordenado.— E isso? — Apontou para o que parecia um aquário de um metro com tampa de madeira ao lado da estante e em cima de uma mesinha de canto larga, porém preenchido de terra e algumas plantas na parte de cima.— Henrique também. É um formigário. Ele aceita o Majin dentro de casa e eu essa colônia de saúvas — explicou levando Paulina para olhar de perto. — Diferente — comentou, observando a movimentaç