Um tom de cor assume os meus olhos e vejo as pessoas à minha volta cada uma de uma cor diferente.
Faço uma análise rápida de todos aqueles que parecem rir, aos meus olhos, esses são os cinzas. Então encaro para aquele que disse que gostava de mim, que me escreveu cartas, poemas e que disse que meu olhar dizia quem ele realmente era. Infelizmente, eu nunca consegui conhecê-lo. Mas agora, diante da realidade, posso dizer que é como a cor das cortinas na sala dos consultórios odontológicos. Ele é branco ou beje? Eu não sei, nunca consegui perguntar para algum decorador se aquela cor é clara ou moderada.
As pessoas como o Noah são assim, nós não podemos e não somos capazes de dizer em que estado de cor ela se encaixa, porque sempre estão mudando de posição. Por um lado, eu também sou como ele.
Pisco os olhos calmamente e escuto a voz da minha nova professora de literatura pedir que eu leia meu poema num tom mais alto.
"Querida, você pode ler um pouquinho mais alto? Acho que não entendemos balelas do que você disse." Ela cruza as pernas, olhando para minha imagem indefesa na frente dos alunos.
"Tu-tudo bem." Digo contida, folheando de novo o meu caderno.
"Antes que todos escutem, devo lembrá-los que o poema que ela escreveu foi publicado pelo jornal da escola e será o tema da nossa aula de hoje. " A senhorita Vic diz num tom esclarecedor, colocando seus óculos para ver melhor.
O silêncio toma conta da sala.
Eu tento falar, mas a sensação é de que, a minha língua não reage aos meus comandos.
"Fe-feche as portas..."
Balbuciei, sentindo minhas pernas tremer.
"Feche as portas, as portas das memórias que eu não quero lembrar. Para aqueles que têm força, tente viver e continuar. " Pisco os olhos em confronto. "Tente acordar de um mundo onde você está esquecido, eu sei que sou forte, mas como continuar quando você é tratado como um lixo?"
Encaro os outros alunos no fundo da sala.
"Todos os dias vejo as lágrimas fluindo, A violência aumenta mais, E o que vamos fazer? Por que provar a desgraça dos outros, se você não quer sentir a sua? Por que sorrir, se amanhã você pode estar na rua?"
Nesse momento vejo o Edgar se movimentar e colocar os braços fortes ao redor da namorada dele.
"A rua do mal é o caminho do sofrimento, A porta dos estudos é o portão do vento.
Do vento que conduz e volta,Só que às vezes te leva, te esquece e te derruba. Eu quero entender,Por que tal humilhação? Ninguém é perfeito, ninguém é meu amigo ou meu irmão,Então me conte:Qual é o motivo da perfeição?" Digo rapidamente, sentindo a adrenalina tomar conta das minhas veias.Todos ficaram em silêncio, então abaixei o caderno e contínua sem olhar para anotação:
"Abra as portas. Abra as portas que me lembram de um olhar preso à realidade. “Fecho os olhos outra vez e imagino meus pais. "Eu sempre vejo o tempo correndo,
Todos estão sorrindo,Você também sorri e não consegue entender?A piada em si é você!"No dia em que me jogaram na lixeira, lembro-me muito bem o que é sorrir sabendo que você é o motivo da piada.
"Tudo parece não ter fim..." ergo as mangas do casaco sentindo calor. "Dentro de você há um oceano e você está se afogando. A chuva cai devagar,
E, assim como suas gotas,Você está caindo!As forças acabaram,Você pensa em desistir,Então você para e pensa:Por que estou aqui?Lágrimas duram uma noite e alegria vem pela manhã,Mas será que você estará vivo até o amanhecer?"Estou afarando, sentindo o meu coração doer e todos simplesmente estão calados. Eles nunca me ouviram, por que agora ouvem?
Viro o rosto em confronto, encaro a imagem de Noah e Stéfany juntos no fundo da sala.
Os olhos dele estão contra os meus punhos, e rapidamente, percebo que eu havia levantado a manga do meu casaco.
Desci os olhos para imagem da cicatriz, não era grande, mas talvez fosse grande o suficiente para que todos conseguissem ver.
"Muito bem!" A professora bateu palmas, fazendo que parassem de me observarem. "Vamos todos para sala de vídeo, vamos!"
Abaixei a manga do moletom, olhei para ela de volta e voltei para o meu lugar. Pouco a pouco, todos foram saindo da sala e eu contínua sentada.
Quando a sala estava vazia, a senhorita Vic conduziu-se até mim e sentou-se numa cadeira à frente da minha.
"Eu não pude deixar de notar, está tudo bem com você?" Ela perguntou, pegando na minha mão. "Temos percebido o quão distante você está da escola e dos seus colegas, pelo o que o conselho sabe, sua mãe está grávida. O que está acontecendo com você, Kristen? "
"Nanada. " Digo baixo, agarrando a minha mochila.
"Você tem certeza? Eu sei como é difícil ser nova num lugar e não se apegar muito nele, a quanto tempo está conosco? 6 meses? "
"São 5. " Corrigi-a. "Eu cheguei aqui em setembro e agora estamos em fevereiro."
"Pois então, porque ainda não fez nenhum amigo ou amiga?"
"Não sei."
"Você é uma aluna espetacular Kristen, você tira notas excelentes, é esforçada e muito dedicada, mas não entendo o porquê de ser tão sozinha. " Ela se levanta, pegando sua pasta. " Vamos para sala de vídeo, o filme que vamos assistir é ótimo."
Eu me levantei, peguei minha mochila e segui-a até a sala de vídeo da escola. Havia muitas pessoas lá, então eu preferi me sentar num lugar isolado.
Bang Bang! Você morreu! - Esse era o nome do filme. Foi um bom filme, talvez um dos melhores que eu já tenha assistido sobre bullying e perseguição. Sabe o que é estranho? O estranho mesmo é ver tantas pessoas iguais aos personagens do filme, sorrirem, comentarem ou acharem absurdo uma coisa que faz todos os dias com você.
Por mais que eu tente, não consigo esquecer o dia em que o Noah e seus amigos dele me jogaram na lata de lixo. Isso me marcou.... E algumas marcas são difíceis de apagar.
Tem sido um longo tempo ... tempo suficiente para que seus cabelos crescessem, para erguer uma relação séria com Stéfany e me esquecer completamente. Não tenho certeza do que está acontecendo dentro de mim, seja ou não amada por ele, não importa. Mas não é o fato de que é seus lábios que ele beija, ou o cabelo dela que ele acaricia ... O que me incomoda é que ele não se importa por ser uma mentira.
Ninguém sabe o que realmente acontece dentro de uma pessoa.
Que bobagem a minha, pensar que podemos dizer ou não quem gosta das pessoas.
Quando o filme entra em reta final e o sinal do intervalo toca, a maioria dos alunos correm para fora e poucos alunos ficam para terminar de verem o final do filme.
Leio as últimas palavras do ator no telão mentalmente:
Bang! Bang!
Você morreu!Ele diz isso a si mesmo, olhando no espelho, enquanto as almas das pessoas que ele matou perturbam-no. Quantas vezes você disse isso? Será que você já se sentiu morto? No filme, o personagem Josh se vê na loucura de ter matado os seus colegas de escola quando ele se sente morto por dentro. Matar uma pessoa não é justo, muito menos esclarecedor, mesmo assim, eu recomendaria que assistissem ao filme.
Saio da sala de vídeo e vejo Alice com o seu novo namorado. Ele não é de nenhuma equipe, mas faz parte da grade editorial do jornal da escola. Não sei o nome dele, mas sei que ele é chamado de D.S pelos corredores. A Angel mudou-se de escola, o Edgard e a Kate matem um relacionamento aberto e Stéfany, bem, ela está com o Noah.
Parece que todos se encaixaram num lugar, queria eu, saber como é se sentir parte de alguma coisa. Eu estou em um estado que se alguém me atingisse, não faria mal, porque tudo em mim já está praticamente morto de alguma forma. Como eu havia dito, algumas marcas são difíceis de serem apagadas.
Demorará um tempo até que eu esqueça o que aconteceu, assim como irá demorar um certo tempo até que as pessoas esqueçam a maneira maluca que eu reagi aquela "brincadeira. "
As coisas estão diferentes... Ou em outras palavras, mais intensas. Mas não se preocupe, eu estou bem. Bem...Insignificante, abandonada, vazia, confusa, deprimida, culpada, ofendida, paranoica... Estou em tantos estados sentimentais, que não sei mais o que é sentir- se apenas de um jeito.
Durante esses meses que passaram eu me perguntei: Por que eu acredito que as coisas podem mudar algum dia?Minha mãe está grávida de seis meses, o bebê, que também é o meu irmão, é um menino. Não é que eu não gosto dele, mas continuo me perguntando: como será a minha vida quando ele nascer?Eu sei que muitas coisas vão mudar, já não serei a filha única, eles não vão me ouvir - algo que nunca me fizeram - muito menos vão se preocupar em perguntar como eu me sinto sobre isso, eles ainda vão discutir muito, quase sempre sobre as mesmas coisas. O meu pai ainda vai "acariciá-la” -moderadamente - mas minha mãe vai continuar dizendo que ela é quem é culpada por atormentá-lo tanto.Em suma, é como se minha vida inteira estivesse sendo reproduzida no jogo de DVD.O controle está quebrado, então nunca seguiremos ir para frente ou para trás. Tudo é o mesmo.As camas ainda rangem, os copos de vidros ainda são jogados pelas paredes, os vizinhos nos vêem com olhos es
A mamãe não explicou muito por que o papai teve que viajar, tudo o que sei é que ele obteve uma oferta de emprego e aceitou.Desde a partida dele, as coisas ficaram um pouco mais calmas, no entanto, eu nunca vi a minha mãe tão irritada como esteve nos últimos dias.Eu acordei com as mãos delas medindo a temperatura dos meus pés. Ela certificou que a água do chuveiro estava quente o bastante e verificou a minha garganta antes que eu pudesse tomar meu café da manhã.“Não esqueça o cachecol, por favor, não quero ver ninguém doente depois, hein?” Ela disse, servindo-me o café. A minha mãe é um pouco paranoica, acho que superprotetora também.“Tudo bem." Respondi, tomando um gole de café. Estava amargo, mas eu nunca gostei de coisas muito doces mesmo."O que estava fazendo ontem? Vi você subir as escadas tarde, estava sem sono? " Mamãe puxou uma cadeira e sentou-se."Hu um." Apenas resmunguei."Não fique acordada até tarde filha, isso prejudica m
O ônibus parou quando ele me ofereceu o livro."Você não é de falar muito, é?" o aquarela sorriu, pegando sua mochila. Ele guardou os fones de ouvido na bolsa, levantou-se e me entregou o livro nas mãos. "Toma, você me entrega quando terminar."Balancei minha cabeça, aceitei o livro e caminhei ao lado dele para fora do ônibus. Ele era tão diferente ... Eu não sabia muito qual era a dele, mas por algum motivo, ele me seguiu até o meu armário. Eu guardei o livro que ele emprestou, peguei outros livros para aula de biologia e fechei meu armário, observando-o de pé ao meu lado. O que devia dizer ou fazer? Eu não tinha ideia do que dizer e muito menos o que fazer sobre ele estar dois passos à frente de mim."Nós nos vemos por aí." Foi tudo o que ele disse, seguindo caminho à frente.Fiquei por alguns minutos tentando entender o que realmente aconteceu. Suspirei profundamente, enfiei um fio de cabelo atrás de minhas orelhas e sorri de um lado para outro. Pelo que e
Diz-se que a leitura antes da hora de dormir é um grande remédio para a insônia e é por isso que dormi muito bem depois de ter devorado todo o livro praticamente em um único dia. Eu não fiquei irritada com a minha mãe tentando ler os parágrafos do livro enquanto ela assistia sua telenovela e eu lia, pelo contrário, mantive minha leitura e soltei algumas risadas.A Mamãe comeu pipoca, assistiu a sua novela e não me perguntou nada sobre como consegui o livro. Ela nunca tinha me visto com um livro diferente nas mãos, mas pelo título, suponho que ela pensou que era a mesma coisa que os outros. Mas ele era diferente, sem fadas, gnomos ou princesas, o livro era sobre a Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, senti-me presa com ele durante a leitura. Guardei comigo uma de suas frases: "A infância é medida por sons, aromas e visões, antes que o tempo obscuro da razão se expanda."Com essa frase, coloquei o livro na minha mochila, deitei-me na cama de barriga para cima e pe
Os raios do sol perfuraram as fendas na janela do meu quarto e me fizeram acordar.De alguma forma, minha mãe entrou no meu quarto à noite, tirou os meus sapatos e me cobriu com o cobertor.Desde o que aconteceu, esta foi a primeira vez que eu dormi bem. Não sei o porquê, mas eu sei que o livro que o garoto Ki-suco me emprestou, tem a ver com isso. Ninguém nunca emprestou um livro, nem uma caneta, nem uma borracha ou qualquer coisa e sem me conhecer, ele emprestou.Ontem no ônibus, foi como uma dessas cenas de filmes, ou livros, como em “Eleanor e Park”, só que o Aquarela não é mestiço, eu não sou ruiva e não nos parecemos nada como o livro. Ele é... distante e sorridente, porém ainda distante.Com os meus pensamentos á mil, separei minhas roupas para o Colégio e fui para o banho.Antes de ligar o chuveiro, despi-me e me observei com o espelho. Se as pessoas percebessem bem, talvez notariam que eu perdi 4 quilos e que minhas roupas estão começando a se
O Bruno tem uma irmã insuportável, mas por outro lado, a chatice da irmã é compensada na amizade entre ele e o Shmuel. A sua ingenuidade é muito clara, porque com certeza, o menino de oito anos não tinha ideia de que ele estava morando no fundo de um campo de concentração.A minha leitura foi um pouco mais curta do que a noite passada, mas ainda foi boa e agradável.Ao me aproximar do Capítulo 10, encontrei um pedaço de papel que marcou o lugar que ele deixou de ler com a seguinte frase:Alerta de Spoiler:A irmã do Bruno vai se apaixonar pelo soldado, e sim, vaificarainda mais chata.Talvez o Ki-suco já tivesse terminado de ler o livro, pois todas as outras páginas tinham um pequeno spoiler na introdução em um pequeno pedaço de papel azul, colado no canto da página.Nós não nos veremos amanhã, nem depois de amanhã e muito menos no dia depois de amanhã. Porque estamos à véspera do final de seman
Hoje é terça-feira e é março.Isso significa que faltam exatamente quatro meses e meio até o final do ano letivo.“Filha, você ficou na sala ontem, viu se o seu pai ligou?" A minha mãe perguntou, vendo-me amarrar o cabelo de frente ao espelho."Não, eu não vi.” Respondi, sentindo me mal por vê-la tão infeliz."Huhum." Resmungou, mudando o olhar. "Você está diferente, filha. O que aconteceu?""Diferente como, mamãe?” eu perguntei de volta. Na noite passada, eu vomitei tudo o que eu tinha comido por conta de uma crise de ansiedade, talvez, talvez, ela me viu entrar no banheiro."Não sei dizer, mas o seu cabelo, desde quando está prendendo-o?""Oh, sim, o meu cabelo ...” Olhei no espelho, vendo meus ouvidos livres. O meu rosto se sentia mais leve, meu peito estava carregado, mas o meu carinho parecia convincente. Eu estava bem, aparentemente falando, já o meu interior, estava cheio de espinhos, eles derrubaram a minha garganta, me fizeram
As pessoas sempre acreditam em rumores. Essa é uma das verdades mais verdadeiras que eu já ouvi, por quê? Toda a verdade, por si só, é verdadeira, mas as pessoas não gostam da verdade, são mais fantasiosas e preferem algo maior, por isso, preferem acreditar no que um número maior de pessoas fala do que ouvir a versão verdadeira.Quando entrei na sala de aula, fiz o que sempre faço antes da chegada do professor, peguei o meu material, coloquei-o sobre a mesa e esperei.Geralmente, a Kate e os amigos dela se sentavam no fundo da sala e ficavam me perturbando e dessa vez eles estavam distantes, com a Stéfany destacando-se na primeira fila ao lado da parede e a Kate e os outros no meio da sala.Todos estavam fofocando baixo, alguns estavam olhando para a Stéfany e rindo, ela parecia tensa, muito tensa.Foi quando a Alice entrou na sala ao lado de um amigo que a Stéfany disse alto e claro: "Cachorra!"Ela se levantou, recheou a boca e repetiu, "Cachorra!" Vo