A mamãe não explicou muito por que o papai teve que viajar, tudo o que sei é que ele obteve uma oferta de emprego e aceitou.
Desde a partida dele, as coisas ficaram um pouco mais calmas, no entanto, eu nunca vi a minha mãe tão irritada como esteve nos últimos dias.
Eu acordei com as mãos delas medindo a temperatura dos meus pés. Ela certificou que a água do chuveiro estava quente o bastante e verificou a minha garganta antes que eu pudesse tomar meu café da manhã.
“Não esqueça o cachecol, por favor, não quero ver ninguém doente depois, hein?” Ela disse, servindo-me o café. A minha mãe é um pouco paranoica, acho que superprotetora também.
“Tudo bem." Respondi, tomando um gole de café. Estava amargo, mas eu nunca gostei de coisas muito doces mesmo.
"O que estava fazendo ontem? Vi você subir as escadas tarde, estava sem sono? " Mamãe puxou uma cadeira e sentou-se.
"Hu um." Apenas resmunguei.
"Não fique acordada até tarde filha, isso prejudica muito o seu raciocínio. Mas o que estava fazendo lá fora, especificamente?"
Fumando os cigarros do papai...- Eu pensei, mordiscando uma fatia de pão de forma.
"Nanada." Acabei mentindo.
"Você precisa ser mais objetiva, minha filha. Como você quer ser a oradora da classe no último ano, se tudo o que você diz é tudo bem, huhum e na-nada? "
“Eu...Eu não quero ser a oradora da minha turma.” Respondi.
"Como não?" Ela ergueu a sobrancelha. "Por que você não quer ser a oradora da sua turma, filha? Será... Será magnífico. "
"Eu não sei se consigo falar em público, mamãe. A senhora sabe que eu sou uma garota de poucas palavras, sabe que... que eu não consigo."
"Deixe de bobeiras, sabe o que seu pai pensa sobre esse silêncio?" Ela pega manteiga com uma faca de mesa. “De acordo com a teoria dele, você tem sido muito mimada e então tem essa dificuldade em falar. Eu defendo você Kristen, mas você tem que detê-lo. Quando seu irmão nascer, você continuará a agir assim?”
Eu balancei minha cabeça em negação. O que ela quis dizer com isso?
“É por isso que de agora em diante, você vai à escola de ônibus e não de bicicleta. Eu acho que ver mais pessoas vai fazer você mudar.”
Tínhamos conversado a respeito do colégio, alguns dias antes do papai viajar, e os dois disseram que eu precisava conhecer as pessoas da minha idade.
"Tudo bem." Respondi, limpando os cantos da boca."Tudo bem? É tudo o que você tem para me dizer, Kristen?""Sim." Ergui a sobrancelha.
"Okay. Nós discutimos sobre isso depois, agora você tem que ir para o Colégio, o ônibus já deve estar a caminho.” eu me levantei, peguei a minha mochila e caminhei em silêncio até a porta da frente.
A mamãe me seguiu até o ponto de ônibus, que ficava do outro lado da calçada, perto da grande árvore ipê do bairro.
"Tenha uma boa aula, filha." Ela beijou minha testa, passando as mãos pelo o meu rabo de cavalo.
"Obrigada." Respondi, ajustando o uniforme. Os meus cabelos estavam presos, acho que será a primeira vez que vou para o Colégio com um penteado diferente.
Quando o ônibus chegou, entrei e procurei um lugar vazio. Mas, como eu imaginava, não havia nenhum, todos estavam sentados em pares, algumas garotas da minha classe ocupavam os últimos assentos e eles também fizeram muito barulho quando me viram. Foi então que eu olhei no meio do ônibus, tinha um assento vazio, ao lado da janela.
Um menino - que não era estranho para mim - ocupava o lado lateral, usava uma camisa da banda Nirvana, cabelos verdes, piercing de sobrancelhas, lábios vermelhos como se passasse horas com um cubo de gelo na boca, calçados despojados, pulseiras no pulso e as amplas calças castanhas, era uma grande quantidade de informações para uma pessoa, mesmo assim, ainda o achei um pouco atraente. Ele estava lendo um livro, uma das coisas que chamou minha atenção foi que ele parecia inteiramente ligado nas páginas do livro, porque ele não se importava com o fato das pessoas estarem atirando bolas de papel nas costas dele.
O motorista apitou, então eu voltei o olhar para o fundo e segui adiante. Eu estava decidida, me sentaria ao lado dele e pronto. Não deveria ser tão difícil assim, afinal, ele nem sequer me notaria.
Eu me inclinei contra o banco, apoiei meu pé contra o dele para que ele percebesse que queria sentar e ele deu espaço, levantando-se. Eu analisei o rosto dele, eu já tinha ouvido falar nele, eu estava de frente para o garoto Ki-suco. Acho que é assim que eles o chamam, garoto Ki-suco, aquarela ou coisa assim, porque ele sempre está mudando a cor do cabelo. Ninguém sabe a verdadeira cor do cabelo dele, embora eu acredite que ele é loiro, muitos dizem que ele é realmente careca e usa perucas. Acho que isso explicaria a quantidade de vezes que ele tingiu os cabelos, mas ele tem algumas falhas na cabeça, cabelo com friz e dupla extremidade, as perucas têm dupla extremidade?
Tremendo e envergonhada, pratiquei-me contra a poltrona e escondi-me atrás da minha mochila amarela. Ele nem se moveu, ele estava ereto, focado, ouvindo música alta, acho que In The End da banda de Rock Linkem Park. Sem que ele soubesse, eu li o título do livro "O Menino do Pijama Listrado". Li alguns parágrafos, mas não deixei que ele me visse, não queria que pensasse que eu era uma intrometida.
Ele é o garoto aquarela e todos têm muito medo dele.
Há rumores de que ele foi responsável pela falsa bomba que ameaçou explodir o banheiro no Ashton Military College, não tenho certeza do verdadeiro nome dele, nunca o ouvi pronunciar para ninguém, na verdade, não acho que o tenha visto falar com ninguém além de Mr. Mind, o professor de matemática do primeiro Ano D.
Na semana passada, ele escreveu uma passagem sobre adolescentes no jornal escolar. O Aquarela não é muito um garoto falante, mas ele fala muito mais do que eu, ele deu uma resposta bastante direta a um garoto na cafeteria ontem, o David, um típico valentão, roubou os seus fones de ouvido e perguntou: "O que você vai fazer, louco? Você vai me bombear?" O garoto Ki-suco sorriu cinicamente, virou-se e disse: "Não, eu vou dizer aos seus pais que você se masturba no banheiro do Colégio com a foto da sua professora de física". O David não disse mais nada, virou-se em silêncio e deixou-o em paz.
O ônibus era muito barulhento, virei o rosto contra a janela e pensei nas incontáveis vezes que ele e eu nos encontramos no corredor da escola.
Fechei os meus olhos, apertei minha mochila contra minha barriga e me lembrei do dia em que me jogaram na lata de lixo, ele também estava lá, eu lembro dos olhos dele. Lembro-me dele estar me encarando, naquele dia o cabelo dele estava cor de rosa, eu me lembro dele.
Voltei o rosto novamente para o livro dele, li outra seção do livro e fingi que não prestar atenção. Foi então que ele disse algo como: “Você quer emprestado?” A sua voz era séria, forte e assustadora. Por que ele estava me perguntando isso? Será ... Será que eu estava tão visível assim?
"Vou repetir mais uma vez, você quer emprestado?" Ele repetiu, mantendo o olhar para o livro. "Estou no penúltimo capítulo, posso te emprestar quando eu terminar."
Meus olhos se arregalaram, balancei a cabeça e tentei descobrir o que estava acontecendo. Ao que parecia, o garoto mais "estranho" da escola acabou de me emprestar um livro que ele nem tinha terminado de ler.
Aquilo se parecia tanto com as cenas dos livros que eu li no verão passado.
O ônibus parou quando ele me ofereceu o livro."Você não é de falar muito, é?" o aquarela sorriu, pegando sua mochila. Ele guardou os fones de ouvido na bolsa, levantou-se e me entregou o livro nas mãos. "Toma, você me entrega quando terminar."Balancei minha cabeça, aceitei o livro e caminhei ao lado dele para fora do ônibus. Ele era tão diferente ... Eu não sabia muito qual era a dele, mas por algum motivo, ele me seguiu até o meu armário. Eu guardei o livro que ele emprestou, peguei outros livros para aula de biologia e fechei meu armário, observando-o de pé ao meu lado. O que devia dizer ou fazer? Eu não tinha ideia do que dizer e muito menos o que fazer sobre ele estar dois passos à frente de mim."Nós nos vemos por aí." Foi tudo o que ele disse, seguindo caminho à frente.Fiquei por alguns minutos tentando entender o que realmente aconteceu. Suspirei profundamente, enfiei um fio de cabelo atrás de minhas orelhas e sorri de um lado para outro. Pelo que e
Diz-se que a leitura antes da hora de dormir é um grande remédio para a insônia e é por isso que dormi muito bem depois de ter devorado todo o livro praticamente em um único dia. Eu não fiquei irritada com a minha mãe tentando ler os parágrafos do livro enquanto ela assistia sua telenovela e eu lia, pelo contrário, mantive minha leitura e soltei algumas risadas.A Mamãe comeu pipoca, assistiu a sua novela e não me perguntou nada sobre como consegui o livro. Ela nunca tinha me visto com um livro diferente nas mãos, mas pelo título, suponho que ela pensou que era a mesma coisa que os outros. Mas ele era diferente, sem fadas, gnomos ou princesas, o livro era sobre a Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, senti-me presa com ele durante a leitura. Guardei comigo uma de suas frases: "A infância é medida por sons, aromas e visões, antes que o tempo obscuro da razão se expanda."Com essa frase, coloquei o livro na minha mochila, deitei-me na cama de barriga para cima e pe
Os raios do sol perfuraram as fendas na janela do meu quarto e me fizeram acordar.De alguma forma, minha mãe entrou no meu quarto à noite, tirou os meus sapatos e me cobriu com o cobertor.Desde o que aconteceu, esta foi a primeira vez que eu dormi bem. Não sei o porquê, mas eu sei que o livro que o garoto Ki-suco me emprestou, tem a ver com isso. Ninguém nunca emprestou um livro, nem uma caneta, nem uma borracha ou qualquer coisa e sem me conhecer, ele emprestou.Ontem no ônibus, foi como uma dessas cenas de filmes, ou livros, como em “Eleanor e Park”, só que o Aquarela não é mestiço, eu não sou ruiva e não nos parecemos nada como o livro. Ele é... distante e sorridente, porém ainda distante.Com os meus pensamentos á mil, separei minhas roupas para o Colégio e fui para o banho.Antes de ligar o chuveiro, despi-me e me observei com o espelho. Se as pessoas percebessem bem, talvez notariam que eu perdi 4 quilos e que minhas roupas estão começando a se
O Bruno tem uma irmã insuportável, mas por outro lado, a chatice da irmã é compensada na amizade entre ele e o Shmuel. A sua ingenuidade é muito clara, porque com certeza, o menino de oito anos não tinha ideia de que ele estava morando no fundo de um campo de concentração.A minha leitura foi um pouco mais curta do que a noite passada, mas ainda foi boa e agradável.Ao me aproximar do Capítulo 10, encontrei um pedaço de papel que marcou o lugar que ele deixou de ler com a seguinte frase:Alerta de Spoiler:A irmã do Bruno vai se apaixonar pelo soldado, e sim, vaificarainda mais chata.Talvez o Ki-suco já tivesse terminado de ler o livro, pois todas as outras páginas tinham um pequeno spoiler na introdução em um pequeno pedaço de papel azul, colado no canto da página.Nós não nos veremos amanhã, nem depois de amanhã e muito menos no dia depois de amanhã. Porque estamos à véspera do final de seman
Hoje é terça-feira e é março.Isso significa que faltam exatamente quatro meses e meio até o final do ano letivo.“Filha, você ficou na sala ontem, viu se o seu pai ligou?" A minha mãe perguntou, vendo-me amarrar o cabelo de frente ao espelho."Não, eu não vi.” Respondi, sentindo me mal por vê-la tão infeliz."Huhum." Resmungou, mudando o olhar. "Você está diferente, filha. O que aconteceu?""Diferente como, mamãe?” eu perguntei de volta. Na noite passada, eu vomitei tudo o que eu tinha comido por conta de uma crise de ansiedade, talvez, talvez, ela me viu entrar no banheiro."Não sei dizer, mas o seu cabelo, desde quando está prendendo-o?""Oh, sim, o meu cabelo ...” Olhei no espelho, vendo meus ouvidos livres. O meu rosto se sentia mais leve, meu peito estava carregado, mas o meu carinho parecia convincente. Eu estava bem, aparentemente falando, já o meu interior, estava cheio de espinhos, eles derrubaram a minha garganta, me fizeram
As pessoas sempre acreditam em rumores. Essa é uma das verdades mais verdadeiras que eu já ouvi, por quê? Toda a verdade, por si só, é verdadeira, mas as pessoas não gostam da verdade, são mais fantasiosas e preferem algo maior, por isso, preferem acreditar no que um número maior de pessoas fala do que ouvir a versão verdadeira.Quando entrei na sala de aula, fiz o que sempre faço antes da chegada do professor, peguei o meu material, coloquei-o sobre a mesa e esperei.Geralmente, a Kate e os amigos dela se sentavam no fundo da sala e ficavam me perturbando e dessa vez eles estavam distantes, com a Stéfany destacando-se na primeira fila ao lado da parede e a Kate e os outros no meio da sala.Todos estavam fofocando baixo, alguns estavam olhando para a Stéfany e rindo, ela parecia tensa, muito tensa.Foi quando a Alice entrou na sala ao lado de um amigo que a Stéfany disse alto e claro: "Cachorra!"Ela se levantou, recheou a boca e repetiu, "Cachorra!" Vo
Às vezes eu gosto de observar as pessoas, a maneira que elas andam, se vestem e se comunicam.Foram apenas alguns minutos antes do sinal do intervalo ser tocado e eu as vi atravessar a cantina como se nada tivesse acontecido. A Stéfany usava uma saia jeans e jaqueta jeans, maquiagem mais clara e cabelo solto, estava ao lado das amigas e esbanjava a nova tatuagem que tinha feito na panturrilha, depois de ficar quase dez dias em casa de suspensão.O conselho convenceu a mãe dela deixar que a filha terminasse o primeiro ano e depois a transferisse para outra instituição, caso ela estivesse de acordo, mas a Stéfany já não ligava muito para o que os outros pensavam, no final de tudo, aquilo só tinha aumentado a sua popularidade e as amigas dela ainda eram amigas dela, com exceção da Alice é claro, mas isso nem fazia tanta diferença assim.Ela disse aos professores que foi seduzida, e como ninguém mais tinha acesso aos seus outros casos, aquele seria o único a vir à tona
Imediatamente eu sinto como se uma faca estivesse presa no meu coração e todas as más lembranças me invadem fazendo com que eu me afaste do Noah."Não me toque, nunca mais!" Exclamei irritada."Kris..." Ele resmungou tentando pegar as minhas mãos. "Eu... Eu pensei que fosse o que você queria, afinal, por que você veio até aqui?""Eu não sei..." Viro as costas, seguindo caminho adiante."Me desculpe!" o Noah grita, vendo-me correr para fora.Kristen Dink é uma menina ingênua, silenciosa e tola. O que eu pensei quando eu decidi seguir alguém como o Noah? Eu queria poder entender todas as coisas que acontecem na minha cabeça.Vou pelo corredor em direção à saída com o estômago torcendo, ouço vozes e sinto o meu coração em um fio saindo da minha boca. As moléstias me aterrorizam, minhas mãos estão frias e minhas pernas abaladas. Era a minha ansiedade, ela estava roubando todo o meu controle.Comecei a contar até 10.eu viro à direita.