Os raios do sol perfuraram as fendas na janela do meu quarto e me fizeram acordar.
De alguma forma, minha mãe entrou no meu quarto à noite, tirou os meus sapatos e me cobriu com o cobertor.
Desde o que aconteceu, esta foi a primeira vez que eu dormi bem. Não sei o porquê, mas eu sei que o livro que o garoto Ki-suco me emprestou, tem a ver com isso. Ninguém nunca emprestou um livro, nem uma caneta, nem uma borracha ou qualquer coisa e sem me conhecer, ele emprestou.
Ontem no ônibus, foi como uma dessas cenas de filmes, ou livros, como em “Eleanor e Park”, só que o Aquarela não é mestiço, eu não sou ruiva e não nos parecemos nada como o livro. Ele é... distante e sorridente, porém ainda distante.
Com os meus pensamentos á mil, separei minhas roupas para o Colégio e fui para o banho.
Antes de ligar o chuveiro, despi-me e me observei com o espelho. Se as pessoas percebessem bem, talvez notariam que eu perdi 4 quilos e que minhas roupas estão começando a se soltar no corpo, mas ninguém, nem mesmo a minha mãe, que é paranoica e superprotetora, percebeu. Há também minhas marcas, eles estão em tantas partes, que em breve, não poderei escondê-las dentro de mim.
Assim que fui à cozinha, encontrei uma pilha de pratos sujos e um copo de água fervente secando no fogão.
A mãe anda esquecendo das coisas ultimamente, ela não faz muito esforço, às vezes ela gasta toda a tarde dormindo no sofá. Eu não a culpo, entendo seus motivos, afinal, papai a abandonou grávida, não sei como seria esse sentimento, mas não deveria ser bom. É difícil vê-la como ela está, principalmente por eu não poder fazer muito. Sou uma pessoa sem palavras, eu não saberia confortá-la.
Peguei alguns biscoitos do armário, comi-os e segui caminho até o ponto de ônibus escolar.
Quando chegou o ônibus, entrei e procurei o Ki-suco, mas ele não estava lá, o seu lugar estava vazio, eu senti frio, não consigo explicar, mas era como se o ônibus estivesse incompleto sem ele.
Caminhei até o assento, sentada junto à janela, esperei que ele chegasse, talvez estivesse apenas atrasado.
Longos segundos passaram, então o ônibus começou a andar de novo e uma menina sentada na poltrona do lado me encarou.
“Esqueça, ele não virá". Ela tinha um piercing dolorido (era no septo) cabelo curto como um menino, e usava roupas masculinas. Fiquei quieta, afinal, eu também não a conhecia. O que ela quis dizer com "Ele não vem?" Eu não estava esperando por ele, eu não tinha expectativas ... Talvez, bem, talvez eu quisesse vê-lo novamente, mas não entendi por que ela estava me dando declarações sobre alguém que eu nem conhecia o nome.
Durante a viagem, tentei fazer o meu melhor para não olhar de lado, sem ele lá, era como se eu estivesse indefesa. O próprio Ki-suco era uma barreira das pessoas, outras pessoas diziam ter medo dele, mas eu não.
Abri o livro que ele me emprestou, dei uma lida e, de vez em quando, percebi que a menina com aparência masculina estava reparando no livro nas minhas mãos.
O ônibus parou na frente da escola, então eu desci e segui em frente. Antes, eu costumava olhar para o horizonte esperando ver o Noah encostado no carro dele, agora, eu apenas ando.
As coisas estão confusas, andar, sentir, respirar e parar de respirar, tudo parece igualmente igual. Isso não deve ser bom, não é mesmo?
Eu andei de lado sem prestar atenção aos comentários sobre mim, afinal, o que as pessoas pensam sobre mim não me irrita mais.
No final do dia, ao segurar aquela lâmina, nada disso parecerá importante.
Aproximando do meu armário, eu podia ver o Noah no gramado com a sua namorada. Ele olhou para mim, mas eu desviei o olhar.
A Stéfany é uma pessoa mimada e ciumenta, a última vez que ela viu o Noah olhando alguém, ela ameaçou cortar o cabelo da menina que se aproximou dele. Ele foi meu primeiro amor... porque agora tudo o que posso sentir é a minha culpa.
Tudo poderia ter sido evitado, eu sei que foi minha culpa, mas foi ele quem me jogou na lata de lixo, quem me fez sentir um nada, que me fez rir quando o meu coração se despedaçou por dentro. Se ele fez todas essas coisas, como posso ainda assim, me sentir culpada?
Posso ouvi-los do outro lado, imagino como é a relação deles. O Noah chega do Colégio, joga basquete em casa, argumenta com o seu pai (provavelmente por conta de uma nota mais baixa), sobe para o quarto, desenha algo e depois ignora as mensagens da Stéfany que devem chegar a cada 10 segundos. De tudo, ele deve se lembrar dos erros que ele cometeu ao lado de seus "amigos" na escola, se sente culpado, muito culpado. Então, apenas para ouvir de alguém que o ama, vai para a casa da sua namorada, estaciona o carro e bate na porta. A Stéfany abre a porta com um short curto, um top rosa, uma maquiagem pesada e brincos grandes, sorri e beija o namorado, levando-o para dentro. Ela começa a se despir, então segue o ritmo e faz o mesmo com seu namorado, os pais dela não estão em casa, os dois vão para cima e ele sabe o que acontecerá, a Stéfany tenta fazer que o Noah não pareça exausto, mas são tentativas em vão, ela sabe que ele nunca foi seu e que ela nunca foi dele, como ninguém é de ninguém. Os dois fazem sexo, ele se sente experiente, mas em sua mente, a garota se deusa com ele, porque aos 16 anos de idade já tinha estado com caras mais firmes e bom cama, melhores do que ele. Então, quando eles finalmente terminam, ela diz que o ama, ele se sente melhor, mas ele sabe que são mentiras, porque a partir dela, tudo o que você pode esperar são falsas palavras e sentimentos de mentiras.
Voltando a realidade, sou pega de surpresa por uma bolinha de papel que é arremessada contra mim.
"Presta atenção para onde olha, sonsa!" a Stéfany diz irritada, perdendo o controle sobre si mesma.
Eu apenas viro o rosto, sentindo lágrimas se formarem no canto dos meus olhos.
Outra Melodia invade a minha cabeça.
“Acalme ela. Ela está me dando nos nervos. Você não a ama. Pare de mentir com essas palavras.” (Melanie Martinez, 2015.)
Abro o meu armário e vejo um pedaço de papel amassado cair no chão.
"Suas rosas. Elas têm espinhos? Uma rosa sem cores, ainda é uma rosa?Um garoto sem falta de si mesmo,Poderia tocar numa rosa desbotada?"[...]
Os meus olhos encheram-se de lágrimas, respirei fundo e amassei o bilhete contra o peito.Uma garota desbotada.
Um garoto sem qualidades.
O que isso importa?
A música continua tocando na minha cabeça.
Tinha sido o Noah, foi ele quem escreveu, eu tinha certeza que sim.
Eu limpei as lágrimas e segui em frente.
Uma parte de mim chora, ao saber que, sentimentos são arremessados como pedras, e que pouco importa o que o outro sente, quando se está no meio da fama, nada mais importa. Os adolescentes como o Noah são estúpidos por pensarem que a vida se resume apenas à escola.
Noah e eu nunca poderemos ser nada a mais do que somos um para o outro: desconhecidos.
Livros e mais livros, era tudo o que eu queria ganhar, mas infelizmente, o garoto Aquarela não tinha ido para o colégio.
O Bruno tem uma irmã insuportável, mas por outro lado, a chatice da irmã é compensada na amizade entre ele e o Shmuel. A sua ingenuidade é muito clara, porque com certeza, o menino de oito anos não tinha ideia de que ele estava morando no fundo de um campo de concentração.A minha leitura foi um pouco mais curta do que a noite passada, mas ainda foi boa e agradável.Ao me aproximar do Capítulo 10, encontrei um pedaço de papel que marcou o lugar que ele deixou de ler com a seguinte frase:Alerta de Spoiler:A irmã do Bruno vai se apaixonar pelo soldado, e sim, vaificarainda mais chata.Talvez o Ki-suco já tivesse terminado de ler o livro, pois todas as outras páginas tinham um pequeno spoiler na introdução em um pequeno pedaço de papel azul, colado no canto da página.Nós não nos veremos amanhã, nem depois de amanhã e muito menos no dia depois de amanhã. Porque estamos à véspera do final de seman
Hoje é terça-feira e é março.Isso significa que faltam exatamente quatro meses e meio até o final do ano letivo.“Filha, você ficou na sala ontem, viu se o seu pai ligou?" A minha mãe perguntou, vendo-me amarrar o cabelo de frente ao espelho."Não, eu não vi.” Respondi, sentindo me mal por vê-la tão infeliz."Huhum." Resmungou, mudando o olhar. "Você está diferente, filha. O que aconteceu?""Diferente como, mamãe?” eu perguntei de volta. Na noite passada, eu vomitei tudo o que eu tinha comido por conta de uma crise de ansiedade, talvez, talvez, ela me viu entrar no banheiro."Não sei dizer, mas o seu cabelo, desde quando está prendendo-o?""Oh, sim, o meu cabelo ...” Olhei no espelho, vendo meus ouvidos livres. O meu rosto se sentia mais leve, meu peito estava carregado, mas o meu carinho parecia convincente. Eu estava bem, aparentemente falando, já o meu interior, estava cheio de espinhos, eles derrubaram a minha garganta, me fizeram
As pessoas sempre acreditam em rumores. Essa é uma das verdades mais verdadeiras que eu já ouvi, por quê? Toda a verdade, por si só, é verdadeira, mas as pessoas não gostam da verdade, são mais fantasiosas e preferem algo maior, por isso, preferem acreditar no que um número maior de pessoas fala do que ouvir a versão verdadeira.Quando entrei na sala de aula, fiz o que sempre faço antes da chegada do professor, peguei o meu material, coloquei-o sobre a mesa e esperei.Geralmente, a Kate e os amigos dela se sentavam no fundo da sala e ficavam me perturbando e dessa vez eles estavam distantes, com a Stéfany destacando-se na primeira fila ao lado da parede e a Kate e os outros no meio da sala.Todos estavam fofocando baixo, alguns estavam olhando para a Stéfany e rindo, ela parecia tensa, muito tensa.Foi quando a Alice entrou na sala ao lado de um amigo que a Stéfany disse alto e claro: "Cachorra!"Ela se levantou, recheou a boca e repetiu, "Cachorra!" Vo
Às vezes eu gosto de observar as pessoas, a maneira que elas andam, se vestem e se comunicam.Foram apenas alguns minutos antes do sinal do intervalo ser tocado e eu as vi atravessar a cantina como se nada tivesse acontecido. A Stéfany usava uma saia jeans e jaqueta jeans, maquiagem mais clara e cabelo solto, estava ao lado das amigas e esbanjava a nova tatuagem que tinha feito na panturrilha, depois de ficar quase dez dias em casa de suspensão.O conselho convenceu a mãe dela deixar que a filha terminasse o primeiro ano e depois a transferisse para outra instituição, caso ela estivesse de acordo, mas a Stéfany já não ligava muito para o que os outros pensavam, no final de tudo, aquilo só tinha aumentado a sua popularidade e as amigas dela ainda eram amigas dela, com exceção da Alice é claro, mas isso nem fazia tanta diferença assim.Ela disse aos professores que foi seduzida, e como ninguém mais tinha acesso aos seus outros casos, aquele seria o único a vir à tona
Imediatamente eu sinto como se uma faca estivesse presa no meu coração e todas as más lembranças me invadem fazendo com que eu me afaste do Noah."Não me toque, nunca mais!" Exclamei irritada."Kris..." Ele resmungou tentando pegar as minhas mãos. "Eu... Eu pensei que fosse o que você queria, afinal, por que você veio até aqui?""Eu não sei..." Viro as costas, seguindo caminho adiante."Me desculpe!" o Noah grita, vendo-me correr para fora.Kristen Dink é uma menina ingênua, silenciosa e tola. O que eu pensei quando eu decidi seguir alguém como o Noah? Eu queria poder entender todas as coisas que acontecem na minha cabeça.Vou pelo corredor em direção à saída com o estômago torcendo, ouço vozes e sinto o meu coração em um fio saindo da minha boca. As moléstias me aterrorizam, minhas mãos estão frias e minhas pernas abaladas. Era a minha ansiedade, ela estava roubando todo o meu controle.Comecei a contar até 10.eu viro à direita.
Minha febre não diminuiu muito e acabei passando a tarde no quarto. Embora minha mãe estivesse desconfiada de uma gripe viral, eu sabia que tinha sido o beijo de Noah que tinha causado tudo aquilo."Descanse, caso você não melhore, vou ter que levá-la ao pronto Socorro.""Já estou me sentindo melhor, mãe." Respondi, tentando manter a calma. " A senhora não precisa se preocupar, estou dizendo a verdade. ""Mesmo assim, não quero ver você fazendo nada hoje, está me entendendo?"Assenti com a cabeça e fiquei quieta.A minha mãe pode ser bastante convincente quando quer, ela preparou uma sopa de legumes, me fez comer e depois foi dormir.As mulheres grávidas dormem cedo ...Mamãe gasta a metade do dia com sono, quando ela não está com sono, está de luto pela falta de notícias do meu pai, eu prefiro vê-la dormindo a chorar por alguém que não a ama.Por volta das 10:00 da noite, a minha ansiedade era quase incontrolável. Tudo par
O despertador tocou muito cedo, mas não era para eu descer as escadas e preparar a louça ou lavar o chão, levantei-me cedo para ler mais alguns capítulos do livro que o Andy me emprestou. Eu não sou mais Amarelo, eu sou vermelho, mas isso não significa que eu não posso ser vermelho como sua coloração de cabelo ... Bem, o vermelho de seu cabelo parece bonito, "feliz". E se... e se o meu vermelho estiver ficando harmonioso?Não me importo mais com o fato de que o Noah me beijou, não importa, não faz diferença.Quando eu estou lendo, esqueço completamente as coisas que aconteceram comigo e penso que é difícil ter sido uma criança na era da guerra. Como deve ter sido difícil para o Bruno ter que conviver com o exílio, com a falta de amigos..., mas então me lembro de sua ingenuidade e de sua amizade com Shmuel, todas as coisas se tornam menos doloridas quando temos um amigo de verdade.
É um bom dia para sair e fazer um piquenique, eu propus que saíssemos de casa por um tempo, mas a mamãe anda muito sonolenta. Francamente, eu realmente não gosto de sair de casa, eu prefiro ficar no meu quarto e fantasiar um mundo diferente do qual eu vivo, mas qualquer coisa deve ser melhor do que ter que ouvir a sua mãe dizendo coisas para si mesma como "Você é inútil! Faça isso bem, faça melhor! " Antes do meu pai viajar, ela me tratou de uma maneira, digamos... menos dolorosa. Ela nunca falou muito comigo, nós duas temos nossos segredos - mamãe me puniria se soubesse o meu - e nenhuma de nós os revelará a ambos, no entanto, ela me tratou de uma maneira diferente nesses últimos dias.Quando eu chego da escola, ela sempre está no sofá- costurando- e minha presença é quase que irreverente. Ela fala com a barriga dela, essas coisas que grávida faz, mas não é só isso... a minha mãe diz coisas ao bebê sobre a vida dela e sobre mim, coisas das quais me machucam... Ont