O ônibus parou quando ele me ofereceu o livro.
"Você não é de falar muito, é?" o aquarela sorriu, pegando sua mochila. Ele guardou os fones de ouvido na bolsa, levantou-se e me entregou o livro nas mãos. "Toma, você me entrega quando terminar."
Balancei minha cabeça, aceitei o livro e caminhei ao lado dele para fora do ônibus. Ele era tão diferente ... Eu não sabia muito qual era a dele, mas por algum motivo, ele me seguiu até o meu armário. Eu guardei o livro que ele emprestou, peguei outros livros para aula de biologia e fechei meu armário, observando-o de pé ao meu lado. O que devia dizer ou fazer? Eu não tinha ideia do que dizer e muito menos o que fazer sobre ele estar dois passos à frente de mim.
"Nós nos vemos por aí." Foi tudo o que ele disse, seguindo caminho à frente.
Fiquei por alguns minutos tentando entender o que realmente aconteceu. Suspirei profundamente, enfiei um fio de cabelo atrás de minhas orelhas e sorri de um lado para outro. Pelo que entendi, uma pessoa finalmente tentou entrar em contato direto comigo. Era o Ki-suco, o garoto bomba antissocial da escola, mesmo assim, ele ainda era uma pessoa.
Caminhei sorrindo para o segundo andar, onde entrei na sala 25, me sentando na primeira fileira ao lado da porta.
"Fala ae Kris!" Uma voz masculina gritou no fundo da sala, fazendo-me virar para trás. Era Edgard, acompanhado de Kate, sua namorada. Eles estavam juntos ou separados, não sei bem explicar a situação de relacionamento que eles mantêm. " Qual é a sensação de ser o centro das atenções do Colégio?"
Tremi o maxilar, voltei o olhar para frente e vi o professor de biologia entrar na sala de aula.
"Bom dia." Ele disse culto.
"Bom dia." Todos respondemos em uníssono. "Devido ao projeto escolar, todos nós deveremos participar de uma palestra com o novo diretor sobre redes sociais e bullying."
Revirei os olhos. Não sabia sobre esse projeto, apenas que faríamos uma redação ou poesia e foi por isso que eu escrevi o poema que me fizeram ler ontem. Nunca me disseram que levaria isso tão adiante, muito menos que fariam um projeto.
"Kristen, você deve estar feliz, não é mesmo?" O professor aproximou-se da minha mesa. "Os outros professores me contaram sobre o seu desempenho, fiquei impressionado."
"Ela não fala, não adianta tentar.” O Edgard disse do fundo da sala, rindo de mim.
Deixei minha franja cobrir os meus olhos, suspirei profundamente e respondi: "Eu posso falar". Foi rápido demais, acredito que poucos alunos me ouviram, mas, pelo meu tom de voz, soube imediatamente que eu havia mudado.
"Todos vocês, direto para o pátio!" O professor disse alto, mantendo o controle da situação.
Os alunos foram conduzidos até o pátio do Colégio onde se encontravam o diretor Torvalds e mais três coordenadores do Instituto de educação da escola.
Procurei um lugar mais silencioso na plateia, tirei uma cadeira e me sentei. O assunto que seria abordado aqui me incomodou muito, não só por mim, mas por milhares de pessoas que passaram por isso e teve que ouvir palestras sobre "piadas" de mau gosto. Bullying não é apenas uma simples brincadeira, muito menos deve ser tratado como um "probleminha" de adolescente.
O diretor disse três ou quatro palavras sobre o assunto, então deu espaço aos coordenadores e só então a conversa real começou. De acordo com a palestra, o número de adolescentes que relataram suicídio após serem vítimas do acúmulo cibernético é muito maior do que o esperado pelo Conselho Internacional. Você sabe o que isso significa? Isso significa que a cada 10 pessoas, apenas uma acaba procurando por ajuda. Esse número assusta, mas é a realidade. No mundo de hoje, com tanto ódio e rancor, muitos adolescentes buscam resolver seus problemas em silêncio.
Quando eu ouvi a palestra, senti que eu era uma das pessoas que preferiam o silêncio ao invés de dizerem o que estava acontecendo. Não há palavras, quando tudo ao seu redor é insegurança, não há como dizer a alguém que se sente vazio quando muitos te acham uma garota estranha e mimada. Não há como confiar na família, quando seus pais não passam um minuto de seu tempo preciso para saber como seus filhos se sentem.
"- Dê-lhe dinheiro, os adolescentes gostam de gastar. ",
"- Na minha época, psicólogos eram chinelos, cinto e vassoura, e melhor, as consultas eram gratuitas.",
"- Para o drama, você quer chamar a atenção? Amarre uma melancia na sua cabeça! "
Qual adolescente nunca ouviu uma dessas frases de seus pais, tias, tios ou qualquer outra pessoa? Eu escuto milhares deles todos os dias. E você sabe como eu me sinto? Vazio. O dinheiro não me deixa uma pessoa melhor ou pior, infeliz ou feliz, as surras não me farão relacionar o que é certo do que está errado, amarrar uma melancia à cabeça não fará de mim uma garota com mais atenção ou menos dela.
Nada disso irá fazer com que as coisas mudem dentro de mim.
Após a palestra de quase uma hora e meia, todos os alunos retornaram às aulas normais e segui meu caminho direto para a sala de matemática. Eu fiz três exercícios, tirei boas médias, mas não tão boas quanto as de Noah. Nós trocamos alguns olhares, mas nada foi como antes. Ele estava distante, pois entre o ser e o não-ser, ele era ao contrário do que dizia ser.
Depois da aula de matemática, fui para o refeitório e escrevi um poema:
E se os meus olhos veem mais do que as pessoas são?
Um ramo brota no horizonte,
Um ramo antigo e caído ...Mas em meus olhos,Tudo é verde e florido.E se meus olhos veem mais que conflitos?E se em vez disso,Eles vêem os lírios?Há uma longa distância entre o ser e o se ....[...]
Acabei por não comer meu almoço no intervalo, mantive-o de volta e fiquei concentrado no que aconteceu de manhã no ônibus.
Há uma linha que separa o que as pessoas parecem ser de quem realmente são, talvez, não sei, talvez essa linha também inicie coisas que não possamos entender. Pois não compreendi por que aceitei um livro de um completo estranho, também não entendi, quando ele passou por mim na cafeteria, puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado, nós não falamos nada, não trocamos uma palavra sequer, foi como estar ao lado de uma pedra, só que com cabelos, ainda por cima coloridos.
Diz-se que a leitura antes da hora de dormir é um grande remédio para a insônia e é por isso que dormi muito bem depois de ter devorado todo o livro praticamente em um único dia. Eu não fiquei irritada com a minha mãe tentando ler os parágrafos do livro enquanto ela assistia sua telenovela e eu lia, pelo contrário, mantive minha leitura e soltei algumas risadas.A Mamãe comeu pipoca, assistiu a sua novela e não me perguntou nada sobre como consegui o livro. Ela nunca tinha me visto com um livro diferente nas mãos, mas pelo título, suponho que ela pensou que era a mesma coisa que os outros. Mas ele era diferente, sem fadas, gnomos ou princesas, o livro era sobre a Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, senti-me presa com ele durante a leitura. Guardei comigo uma de suas frases: "A infância é medida por sons, aromas e visões, antes que o tempo obscuro da razão se expanda."Com essa frase, coloquei o livro na minha mochila, deitei-me na cama de barriga para cima e pe
Os raios do sol perfuraram as fendas na janela do meu quarto e me fizeram acordar.De alguma forma, minha mãe entrou no meu quarto à noite, tirou os meus sapatos e me cobriu com o cobertor.Desde o que aconteceu, esta foi a primeira vez que eu dormi bem. Não sei o porquê, mas eu sei que o livro que o garoto Ki-suco me emprestou, tem a ver com isso. Ninguém nunca emprestou um livro, nem uma caneta, nem uma borracha ou qualquer coisa e sem me conhecer, ele emprestou.Ontem no ônibus, foi como uma dessas cenas de filmes, ou livros, como em “Eleanor e Park”, só que o Aquarela não é mestiço, eu não sou ruiva e não nos parecemos nada como o livro. Ele é... distante e sorridente, porém ainda distante.Com os meus pensamentos á mil, separei minhas roupas para o Colégio e fui para o banho.Antes de ligar o chuveiro, despi-me e me observei com o espelho. Se as pessoas percebessem bem, talvez notariam que eu perdi 4 quilos e que minhas roupas estão começando a se
O Bruno tem uma irmã insuportável, mas por outro lado, a chatice da irmã é compensada na amizade entre ele e o Shmuel. A sua ingenuidade é muito clara, porque com certeza, o menino de oito anos não tinha ideia de que ele estava morando no fundo de um campo de concentração.A minha leitura foi um pouco mais curta do que a noite passada, mas ainda foi boa e agradável.Ao me aproximar do Capítulo 10, encontrei um pedaço de papel que marcou o lugar que ele deixou de ler com a seguinte frase:Alerta de Spoiler:A irmã do Bruno vai se apaixonar pelo soldado, e sim, vaificarainda mais chata.Talvez o Ki-suco já tivesse terminado de ler o livro, pois todas as outras páginas tinham um pequeno spoiler na introdução em um pequeno pedaço de papel azul, colado no canto da página.Nós não nos veremos amanhã, nem depois de amanhã e muito menos no dia depois de amanhã. Porque estamos à véspera do final de seman
Hoje é terça-feira e é março.Isso significa que faltam exatamente quatro meses e meio até o final do ano letivo.“Filha, você ficou na sala ontem, viu se o seu pai ligou?" A minha mãe perguntou, vendo-me amarrar o cabelo de frente ao espelho."Não, eu não vi.” Respondi, sentindo me mal por vê-la tão infeliz."Huhum." Resmungou, mudando o olhar. "Você está diferente, filha. O que aconteceu?""Diferente como, mamãe?” eu perguntei de volta. Na noite passada, eu vomitei tudo o que eu tinha comido por conta de uma crise de ansiedade, talvez, talvez, ela me viu entrar no banheiro."Não sei dizer, mas o seu cabelo, desde quando está prendendo-o?""Oh, sim, o meu cabelo ...” Olhei no espelho, vendo meus ouvidos livres. O meu rosto se sentia mais leve, meu peito estava carregado, mas o meu carinho parecia convincente. Eu estava bem, aparentemente falando, já o meu interior, estava cheio de espinhos, eles derrubaram a minha garganta, me fizeram
As pessoas sempre acreditam em rumores. Essa é uma das verdades mais verdadeiras que eu já ouvi, por quê? Toda a verdade, por si só, é verdadeira, mas as pessoas não gostam da verdade, são mais fantasiosas e preferem algo maior, por isso, preferem acreditar no que um número maior de pessoas fala do que ouvir a versão verdadeira.Quando entrei na sala de aula, fiz o que sempre faço antes da chegada do professor, peguei o meu material, coloquei-o sobre a mesa e esperei.Geralmente, a Kate e os amigos dela se sentavam no fundo da sala e ficavam me perturbando e dessa vez eles estavam distantes, com a Stéfany destacando-se na primeira fila ao lado da parede e a Kate e os outros no meio da sala.Todos estavam fofocando baixo, alguns estavam olhando para a Stéfany e rindo, ela parecia tensa, muito tensa.Foi quando a Alice entrou na sala ao lado de um amigo que a Stéfany disse alto e claro: "Cachorra!"Ela se levantou, recheou a boca e repetiu, "Cachorra!" Vo
Às vezes eu gosto de observar as pessoas, a maneira que elas andam, se vestem e se comunicam.Foram apenas alguns minutos antes do sinal do intervalo ser tocado e eu as vi atravessar a cantina como se nada tivesse acontecido. A Stéfany usava uma saia jeans e jaqueta jeans, maquiagem mais clara e cabelo solto, estava ao lado das amigas e esbanjava a nova tatuagem que tinha feito na panturrilha, depois de ficar quase dez dias em casa de suspensão.O conselho convenceu a mãe dela deixar que a filha terminasse o primeiro ano e depois a transferisse para outra instituição, caso ela estivesse de acordo, mas a Stéfany já não ligava muito para o que os outros pensavam, no final de tudo, aquilo só tinha aumentado a sua popularidade e as amigas dela ainda eram amigas dela, com exceção da Alice é claro, mas isso nem fazia tanta diferença assim.Ela disse aos professores que foi seduzida, e como ninguém mais tinha acesso aos seus outros casos, aquele seria o único a vir à tona
Imediatamente eu sinto como se uma faca estivesse presa no meu coração e todas as más lembranças me invadem fazendo com que eu me afaste do Noah."Não me toque, nunca mais!" Exclamei irritada."Kris..." Ele resmungou tentando pegar as minhas mãos. "Eu... Eu pensei que fosse o que você queria, afinal, por que você veio até aqui?""Eu não sei..." Viro as costas, seguindo caminho adiante."Me desculpe!" o Noah grita, vendo-me correr para fora.Kristen Dink é uma menina ingênua, silenciosa e tola. O que eu pensei quando eu decidi seguir alguém como o Noah? Eu queria poder entender todas as coisas que acontecem na minha cabeça.Vou pelo corredor em direção à saída com o estômago torcendo, ouço vozes e sinto o meu coração em um fio saindo da minha boca. As moléstias me aterrorizam, minhas mãos estão frias e minhas pernas abaladas. Era a minha ansiedade, ela estava roubando todo o meu controle.Comecei a contar até 10.eu viro à direita.
Minha febre não diminuiu muito e acabei passando a tarde no quarto. Embora minha mãe estivesse desconfiada de uma gripe viral, eu sabia que tinha sido o beijo de Noah que tinha causado tudo aquilo."Descanse, caso você não melhore, vou ter que levá-la ao pronto Socorro.""Já estou me sentindo melhor, mãe." Respondi, tentando manter a calma. " A senhora não precisa se preocupar, estou dizendo a verdade. ""Mesmo assim, não quero ver você fazendo nada hoje, está me entendendo?"Assenti com a cabeça e fiquei quieta.A minha mãe pode ser bastante convincente quando quer, ela preparou uma sopa de legumes, me fez comer e depois foi dormir.As mulheres grávidas dormem cedo ...Mamãe gasta a metade do dia com sono, quando ela não está com sono, está de luto pela falta de notícias do meu pai, eu prefiro vê-la dormindo a chorar por alguém que não a ama.Por volta das 10:00 da noite, a minha ansiedade era quase incontrolável. Tudo par