POV: CARINASalto ao receber o primeiro balde de água fria, ainda no pátio.Há gente assistindo, e devo ser mais orgulhosa do que pensei, pois quero morrer.Não sei ao certo quantas vezes quis morrer hoje, as ideias vai e vem numa frequência difícil de controlar.Saltar do parapeito.Quebrar um vaso e usar os estilhaços.Desejar que Embry erre a dose do sedativo, assim a natureza fará o trabalho.A sujeira se acumula aos meus pés, e elas só param de atirar mais baldes de água quando a poça se torna limpa.Sou guiada para um cômodo grande, ignorando os sussurros atrás de mim sobre “como esse saco imundo de ossos conseguiu a atenção do príncipe.”Meu estômago ronca, talvez por isso me sinto tão fraca e a luta se foi.Só Nathaniel tem a chave da corrente, e deve ter entregado para elas, pois antes de ser empurrada para uma banheira enorme, mas rasa, ouço o clique do metal sendo aberto e o peso é retirado. Suspiro de alívio, tocando a camada grossa de emplastro de ervas que cobria os feri
POV: CARINA[Pesadelos rubros] [lembrança] Alerta de gatilho: AbusoDói, dói muito.É como se algo estivesse me rasgando por dentro.Meu braço se move, desferindo outro golpe nas costas de Charles, que não para.O sangue escorre pela minha mão, e é tão frio quanto a pele dele. Seus quadris se movem para frente, empurrando-se mais fundo dentro de mim.Cada vez que o apunhalo nas costas com o grampo de cabelo suas investidas se tornam mais brutais. Quase como se estivesse se divertindo.—Ah, querida, pare, está me deixando com fome. Já é difícil me segurar. Escolhi esse grampo de cabelo com tanto carinho, e está arruinado.—Ele rosna.Meu choro se transforma num soluço quando ele me desarma, segurando meus pulsos com uma única mão acima da cabeça.—Quero que você seja o brinquedinho perfeito… mas perfeição exige esforço, precisa colaborar.—A outra mão desliza pelos trapos do meu vestido, apertando meu seio com força suficiente para me fazer gritar.Ele não é um lycan, é outra coisa.
POV: Nathaniel A luz do luar penetra pelos vitrais do quarto, elas criam padrões coloridos no rosto de uma Carina adormecida. Não está na cama, está encolhida num tapete de peles, encolhida em sua chemise de linho branco. O semblante é pacífico demais, não combina com a marca avermelhada em seu pescoço, deixada pela corrente, nem com a nova que foi adicionada ao seu pé e está atada numa das paredes da cama. A culpa me corrói, me sinto arrependido por não ter aceitado sua sugestão de fugir juntos, ainda que soubesse ser uma mentira. A capital é um ninho de víboras, e não sei se uma garota instável conseguirá sobreviver aqui. Há uma corrente fina em seu tornozelo, a corrente termina fixada na minha parede, e só pode ser removida ao fim do treinamento inicial, que talvez não seja difícil, afinal, ômegas são inclinados a servir.Sua pele pálida brilha na luz suave, suas curvas são acentuadas pelo tecido da chemise. Vê-la limpa e com os cabelos penteados depois de tanto tempo coberta p
POV: NathanielA luz do sol bate primeiro no meu rosto.Estou exausto, de novo. Carina também não parece bem ao abrir os olhos, primeiro devagar, depois rápido, como se tivesse percebido onde estava e nos braços de quem. Assim que seus olhos encontram os meus, Carina recua tanto que fica a ponto de cair da cama. Em breve os criados chegarão com o café da manhã, o meu e o dela. Conheço o passo a passo do treinamento de um escravo, se tivesse um pingo de bom senso teria explicado tudo ontem a noite, mas o que seria uma noite a mais?Pelo menos assim teve um descanso. Observo com os olhos semicerrados, notando o quão pequeno e mansa ela se parece. Tão pequena e fraca que fica a ponto de desaparecer na grossa manta de peles. Isso faz meu peito doer, mas não posso me dar ao luxo de amolecer agora. Escuto passos vindo do corredor, e percebo que a conversa precisará ficar para depois.—Vá para o tapete.—Ordeno e ela hesita, mas obedece. Tem o semblante cansado de quem dormiu tão ma
POV: CarinaAs garras dele traçam meu queixo sem rasgar a pele, Charles repete o movimento e para na parte do meio da garganta, então a ponta do dedo sobe, forçando meu queixo para cima. Encontro seus olhos no mesmo tom violeta que os meus, o que é estranho, me lembro deles vermelhos. Todos os alfas tem olhos vermelhos. —Lembra da última lição?—Nego, e ele sorri, posso ver as presas brancas brilhando, e então a mão se fecha em minha garganta antes de me puxar para sentar em seu colo.Minhas costas estão pressionadas em seu peito, e ele aperta meu pescoço até interromper o fluxo de ar. Só para quando abro os olhos, encarando nossa imagem refletida no espelho. —Nunca desvie o olhar, nós gostamos que mantenham os olhos fixos em nós quando transformamos coisinhas lindas como você numa bagunça.—Obedeço assim que vejo para onde ele está olhando, o chicote com nós posicionado em cima da mesa. A mão dele desce pelo meu ventre ainda coberto pela chemise e um bolo se forma em meu estômago,
POV: CarinaO pânico toma conta de mim, esmaga qualquer resquício de racionalidade.Não confio nos meus pais, não tenho uma única lembrança de confiar neles desde que os sussurros começaram a invadir meus sonhos, dizendo para fugir.A única coisa boa é que Charles não está aqui, ele gosta de me ver assustada, e faz de tudo para que eu tenha mais medo ainda.O Rito do Despertar Prateado é algo que conhecemos das canções, escutava da torre as cantigas entoadas nos dias de festivais, mas hoje não é uma cantiga para assustar filhotes.É real, e vai me destruir.Eles planejam forçar minha primeira mudança com um ritual bárbaro que nem deve ser verdade.É ultrapassado, cruel, mas os dois discordam, veem a prática como uma forma de separar os fortes e os fracos da matilha.Sem a voz dizendo o quanto tudo é errado, eu teria continuado feito o bichinho dócil de sempre, mas ela começou, primeiro sozinha, depois todas ao mesmo tempo.Sei que o Alfa supremo de Lycanthara, o Rei Lycander Fenris, b
POV: CarinaA sensação de derrota ainda queima em meu peito enquanto meus pais me conduzem para uma passagem secreta da torre de olhos vendados.Isso já aconteceu antes algumas vezes, mas só quando meu irmão me levava para sair escondido dos dois.O terror que sinto parece se intensificar a cada segundo. A escuridão é sufocante, e não deve ser nem metade do tormento que o rei deve estar passando agora. Se formos pegos a morte será um presente adorável. Não passo de uma marionete arrastada para um destino que não escolhi.—Vamos, Carina,— ela sussurra, como se suas palavras pudessem acalmar meu terror, apagar toda a desonra dos seus feitos. —É para o seu bem, quando tudo der certo as aulas ficarão mais fáceis, seu corpo ficará mais forte, e então não precisará reprimir nada.—Odeio os livros, sempre odiei, pelo menos os que ela me forçava decorar e repetir em voz alta, mas quando ela usa a palavra aulas com aquela nota de aborrecimento na voz todo meu corpo treme. Ouvi essa mentira
POV: Nathaniel, o príncipe herdeiroO festival de comemoração pelos cinquenta anos de paz estava em seu auge quando aconteceu a tragédia.Toda Silver Harbor estava reunida na praça principal, as ruas lotadas de carruagens decoradas com fitas.Papai, o alfa supremo, achou prudente suspender a queima de fogos e garantir que boa parte dos nossos guardas vigiassem o rio.Talvez por isso tenha demorado para ouvir o grito, da minha mãe e pai, e então da dama de companhia. Quem diria que a poderosa Alethea, a Lua do reino, acabasse ferida por uma cobra dentro de um cesta de pães doces. Após uma minuciosa investigação ninguém foi culpado pelo incidente. Silver Harbor é nossa maior cidade portuária fluvial, e cresceu para além dos muros de forma desordenada, invadindo extensas áreas antes ocupadas pelas florestas. Havia toda sorte de áspides e animais invadindo a área agora. A matilha responsável pela administração já estava lidando com isso, o governador, Alfa Raymond Silverbrook já tinha