✥ · ✥ · ✥
Saímos de Drysand.
O ar mudou consideravelmente quando chegamos perto da fronteira do Reino Lunar, e logo pude perceber onde estávamos. Não paramos, porém, quando vimos uma pequena vila à nossa direita, longe o bastante para me fazer ter certeza de que já pisávamos em solo diferente. A tempestade que nos assolou durante a noite finalmente deu trégua, tornando a cavalgada mais fácil.
Não tiro os olhos de Dakar em nenhum momento. Korian parece pensar o mesmo que eu, pois não descola os olhos dele também. Fico atenta a cada movimento, cada passo e cada olhar. Também noto que, desde o momento em que acordamos n
✥ · ✥ · ✥ O mar nos saúda com toda a sua glória na tarde do outro dia. Dakar parece a ponto de pular de alegria. Até mesmo me ofereceu uma bebida diferente para "comemorar" sua glória. Porém, quando chegou perto demais de mim, Korian me agarrou pela cintura e grunhiu para ele com uma animosidade tão grande que até mesmo eu estremeci. Dakar se afastou com um sorriso malicioso, erguendo as mãos. Se eu pensasse antes que ninguém tinha nos ouvido, qualquer dúvida foi retirada quando vi sua expressão. O nojo subiu tão rápido que me fez perder o fôlego. Korian me abraçou com raiva mal disfarçada para te
✥ · ✥ · ✥ Na formação do Reino Lunar, ano 201 O cheiro de sangue e carne pútrida me faz torcer o nariz, e franzir a testa logo em seguida quando dor percorre meu rosto inteiro com o movimento. Mas nada se compara com a dor desta visão. O resultado que a Guerra nos deixou não é nem um pouco agradável. Corpos e mais corpos despencados no chão - ou partes de corpos - preenchem cada centímetro do gramado que antes era puro verde mas que agora brilha em um ígneo vermelho. Sangue inimigo misturado com sangue aliado. Sangue dos meus companheiros. Sangue que eles quiseram derramar para me proteger; um príncipe que nunca foi merecedor de tudo isso e que teria sim oferecido sua vida em troca das que foram perdidas nesse campo de batalha. Mancando fortemente em direção à maior conce
✥ · ✥ · ✥ ㅡ Eu não quero saber se o Ministro não aprovou nossas regras, Armon. ㅡ rosno, fazendo-o tremer levemente. Estreitando os olhos para o papel que ele me estende corajosamente, abro minha expressão mais animalesca e ponho as garras para fora. ㅡ Mande uma mensagem agora para a sede e lhe diga que o que me propôs jamais será aceito. Eu sou o deus desse reino, e não vou tolerar ordens de um inferior a mim. O mensageiro novato se encolhe, me fazendo ter vontade de bater na sua cabeça. Por Taryan, se eu não conseguir alguém ao menos corajoso para enviar minhas mensagens, terei que matar mais um? A busca por novos humanos capazes de realizar viagens longas assim está ficando cada vez mais complicada desde que a barreira foi criada. Aparentemente, com a proteção, eles têm ficado mais distantes da floresta e enfiados em suas vilas. Passando a garra ameaça
✥ · ✥ · ✥ 500 anos após a Guerra, ano 708 O vento frio do outono soprou meus cabelos pra meu rosto e o cheiro de perigo flutuou até mim com a brisa do vento. Sabia que era arriscado estar na Floresta Negra a esta hora da madrugada, mas não podia voltar mais uma vez para casa de mãos vazias. Ninguém gostaria de escutar sua chefe te criticando depois que não fez um trabalho direito, e eu estou no topo dessa lista. A caçada era algo extremamente difícil para mim. Principalmente porque era um trabalho que deveria ser feito pelos homens ㅡ ainda mais depois que várias escravas fugiram da propriedade em que eram serviçais depois de serem designadas a caçar o jantar ㅡ e depois porque era muito dificil matar um animal inocente para que pessoas tão ruins como eles pudessem come
✥ · ✥ · ✥ 9 anos antes A forte tempestade que caía sobre a mansão fazia a tenda onde eu me escondia sacudir para todos os lados. Já conseguia ver o castigo que eu ia levar por simplesmente sair de casa a esta hora da madrugada, mas não me importava. Desde que vim parar aqui, minha vida se tornou cheia de regras e promessas, e tudo o que eu quero é um pouco de aventuras nesta minha vida chata. Sejam elas aventuras mortais ou não. Uma rajada forte de vento me atinge, fazendo meu corpo sacolejar dentro da pequena despensa onde me escondi. O espaço é tão pequeno que apenas foi o suficiente para me abrigar sentada e com os joelhos grudados no peito, mas é o suficiente. Quero dizer, seria bem melhor se não estivesse escondida nessa terrível tempestade em um cubículo como esse. Maldita hora em que fui inventar de arrumar as coisas dentro
✥ · ✥ · ✥ Da minha cama colada à janela é possível ver o céu escuro e as milhares estrelinhas que o pontilham de canto a canto. Estrelas que eu tento pintar algumas vezes, mas que nunca faz jus à realidade. Um brilho na escuridão nunca poderá ser registrado de qualquer forma que seja, pois é algo mágico demais para que se torne uma realidade retratada pelos humanos. Uma pequena perfeição que eu aprendi a admirar todos os dias antes de dormir. A chuva que cai pela janela e goteja em meu quarto me faz mais uma vez lembrar que dia é hoje. 23 de novembro. Mais um ano se passou desde que aquela criatura me prometeu me buscar, uma vez que eu o irritei tanto que ele marcou minha própria carne para me fazer lembrar desta promessa. A pequena cicatriz que carrego bem no peito, em cima do coração, tem a form
✥ · ✥ · ✥ Humana Asterin. Dia 23 de novembro. O total impacto daquelas palavras ainda não foram registradas por mim. Minha mente coloca tudo em câmera lenta enquanto tento acreditar que ele realmente veio para me buscar depois de nove anos. Me deixou sofrer durante quase uma década para que eu sempre tivesse essa insegurança morando dentro de meu peito até o dia em que ele viria finalmente cumprir sua promessa. O que ele planeja fazer comigo, afinal? Aqueles dentes afiados brilham de sangue. Fará o mesmo comigo aqui e agora ou me levará a algum lugar secreto para me executar longe da vista de todos? Só desejo que seja rápido e bem longe daqui, para que ninguém precise ver meu executamento. Aquelas garras afiadas poderiam me fatiar aqui e agora, mas tenho sérias dúvidas de que ele faria isso. Os ho
✥ · ✥ · ✥ A luz forte preenchendo meus olhos fechados e me causando uma dor de cabeça terrível é a única forma de me fazer abrir os olhos com dor e esforço. Estou deitada no chão da floresta, sem sombra de dúvidas. A grama fofa pica minhas costas quando me viro para admirar a beleza da paisagem em que me encontro. As árvores densas e com as folhas verdes brilhando tanto me dão a mesma sensação de paz que senti antes ao ver aquela pequenina luz vindo em minha direção. Os galhos movimentam-se levemente, como uma música sendo tocada pelo mais famoso músico. O som tão reconfortante que me enche de emoção sem sentido. Um sentimento de liberdade. O vento forte ressoa em meus ouvidos, batalhando contra o som doce e singelo dos pássaros chegando por todos os lados. A primavera deixa uma marca registrada na floresta, selada por conta das vastidão de flores coloridas que me cercam.