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As árvores densas e com as folhas verdes brilhando tanto me dão a mesma sensação de paz que senti antes ao ver aquela pequenina luz vindo em minha direção. Os galhos movimentam-se levemente, como uma música sendo tocada pelo mais famoso músico. O som tão reconfortante que me enche de emoção sem sentido. Um sentimento de liberdade. O vento forte ressoa em meus ouvidos, batalhando contra o som doce e singelo dos pássaros chegando por todos os lados. A primavera deixa uma marca registrada na floresta, selada por conta das vastidão de flores coloridas que me cercam.
✥ · ✥ · ✥ Fanillen não é nada do que eu imaginei que seria. Nas histórias de terror contadas para que as crianças parassem de fazer birra, Fanillen era mencionada como a Cidade da Morte, onde os monstros da Floresta Negra se juntavam para matar as pequenas crianças que cruzavam o caminho deles. É claro que todos acreditam nesta versão. Eu não fui diferente. Só que agora, tendo a chance de olhar realmente a cidade que tomava meus bons sonhos de criança, não poderia deixar de me chamar de idiota. Não há sangue e destruição em nenhum lugar; as pessoas estão felizes e sorrindo sem parar enquanto passeiam pelas ruas douradas. A grande praça no centro da cidade contém vários músicos espalhados, cada um tocando sua própria música. De alguma forma, os sons não se misturam. Formam uma linda melodia que se segue desde a extremidade inicial de Fanillen até o outro lado.
✥ · ✥ · ✥ As mesmas mãos invisíveis de antes são as mesmas que me seguram agora. Andando pelo corredor e sendo escoltada por dois homens imortalmente altos e sentindo o peso das algemas invisíveis envolvendo meus pulsos atrás das costas, tenho que me segurar muito para não atacar esses dois malditos. Desde o fatídico dia em que o imortal foi me buscar em minhas terras, fiquei presa em uma cela até considerada confortável, mas tão pequena que precisava dormir encurvada para caber naquele cubículo. Em todas as noites tinha o mesmo sonho: aqueles olhos azuis em um rosto invisível, cheios de tanta intensidade que me fazia perder o fôlego a cada vez que o via. Sei disso porque sempre acordava suada e puxando várias respirações rápidas, completamente sem fôlego. E então vinha o pesadelo. Onde eu sempre estava fugindo de uma criatura imortal que corria atrás de
✥ · ✥ · ✥ A transmissão está sendo passada em todos os canais do Reino Florido. Nos últimos dias, todo o castelo esteve em atividade vinte e quatro horas. Os preparativos para o Dia da Consagração passaram como um borrão, enquanto eu ficava aprisionada no quarto apenas ouvindo os movimentos constantes pelo corredor. O desejo era arrombar aquela fechadura coberta de magia, mas logo me lembrava da primeira vez em que havia tentado fazer isso e levei um choque terrível. Em vários momentos senti a magia penetrando meu espaço. Imortais de todos os reinos passavam pelos corredores do meu quarto, conversando sempre baixo. Nunca conseguia decifrar qualquer coisa que fosse útil para minha estadia aqui, por mais que tentasse ouvir por baixo da porta. Estou sem comer. Não por culpa deles, mas minha. Não confio na comida que mandam pelos criados humanos
✥ · ✥ · ✥ As garras me prendem. A sala do trono ficou desconfortavelmente quente depois do meu ataque confuso mais cedo. E agora, depois que todos já foram embora e sobrou apenas eu, Korian e seu pai, fico ainda mais amedrontada nos vários pensamentos que rolam sobre minha cabeça. O que ele quer comigo aqui? Aquela pequena explosão não foi e não significa nada, certo? ㅡ Acredito que queira se explicar, Asterin. ㅡ O rei fala, a voz grave e ameaçadora. Estou ajoelhada no chão com as algemas invisíveis segurando meus braços e pés colados ao piso refletor. Fico calada, absorvendo sua raiva e perguntando porque diabos ele me fez essa pergunta. Se ele não sabe o motivo daquilo, como eu deveria saber? Já estava bem perto de lhe perguntar porque aquilo tinha acontecido comigo para me fazer quase entrar em combustão.&
✥ · ✥ · ✥ O salão está cheio. A última música para os casais acabou há alguns minutos, e agora todos se movem ao redor da sala gigante para as extremidades, onde a comida está. Os criados passam por mim com olhares tensos e medrosos, alheios ao fato de que estou da mesma forma. O medo tem corroído minha mente há tanto tempo que mal consigo me mover de onde estou, sentada em uma das mesas e apenas esperando Korian ou seu pai me agarrarem sem motivo. Eu ainda não tinha me recuperado da pequena surpresa, três dias atrás. Ainda posso sentir o fogo em minhas veias, apenas esperando o momento correto de quase me explodir novamente. Os imortais ao meu redor me olham de esguelha, parecendo não se importar com minha existência. Ou lembrando do porquê uma suposta "imortal" perdida estava fazendo com roupas de criados enqua
✥ · ✥ · ✥ Me jogo na sacada, apreciando o vento fresco e ligeiramente cheiroso que me atinge na noite fria de primavera. A lua está enorme esta noite, se acentuando no céu escuro. Isso sem falar na infinidade de estrelas brilhantes que pontuam a vastidão escura desse maravilhoso céu noturno. De alguma forma, o céu parece mais bonito no Reino Floral. Mais rico; com mais vida e beleza. Não parece nada com o céu opaco que eu via da minha pequena janela do quarto. Gostaria que lá tivesse ao menos um modo de eu poder observar as estrelas calmamente sem ser observada até cair no sono. A dor de cabeça constante pulsando em meu cérebro me faz lembrar do anúncio que fizemos horas antes perante todos que assistem TV no reino. O choque nos olhos de algumas pessoas; medo e desconfiança nos outros. Alguns até vieram me pedir para conjurar um pequeno poder como "demonstraçã
✥ · ✥ · ✥ Meus pulmões ardem com o esforço de correr durante horas pela floresta. A adrenalina, antes existente, agora é apenas um eco fraco pulsando em meu corpo. Sinto dor em cada músculo existente conforme tento me mover com mais rapidez por entre as árvores densas. Tão juntas e grandes que em alguns momentos preciso me espremer entre duas árvores caso queira passar. Acho que perdi o imortal de vista. Corro há tanto tempo que nem sei mais o caminho de volta para casa. É aí que o desespero começa. Minhas pequenas pernas, ainda as de uma criança, correm na maior velocidade que conseguem. Antes, tomava cuidado para sempre deixar a trilha em minha vista, porém quando o imortal apareceu correndo atrás de mim mais rápido que um raio, desisti. Apenas corri, corri e corri. Passei por clareiras, um lago estranhamente escuro e uma parte on
✥ · ✥ · ✥ Fanillen não é nada parecida com o que eu imaginava. Não sei o que me fazia pensar assim, mas sempre achei que em todas as partes veria morte e destruição, e não beleza e paz. Em todos os lugares crianças correm umas atrás das outras com gritos e brados de alegria, cada um empunhando seus brinquedos. Comerciantes alegres se movem rapidamente pela cidade, levando suas cestas gigantes cheias de frutas diretamente para suas barracas onde alguns clientes já esperam. Isto poderia muito bem ser considerado um lar para quem vive aqui. Não vejo dor ou tristeza; apenas a alegria daquilo que construíram há vários séculos atrás. A herança que conservam até hoje. O tesouro de Taryan, como eles mesmos falam. O vento frio do início de inverno penetra meus ossos, fazendo-me estremecer. Aperto mais a túnica em minha volta e suspiro