(Seis Anos Atrás) Estamos no auge da fama, tocando para estádios lotados, vivendo vidas que qualquer pessoa normal chamaria de sonho. Mas por dentro, éramos uma bomba-relógio prestes a explodir. Estávamos em algum hotel luxuoso de Los Angeles, mas para ser honesto, eu mal sabia onde estava. A ressaca dos shows e das festas era constante, e as drogas… bem, as drogas já não eram só uma fuga, mas uma rotina. Blaze estava com o brilho inconfundível nos olhos azuis, era uma espécie de marca registrada. Ele parecia imortal, sempre liderando as festas e nos arrastando junto. A banda tinha tocado na noite anterior, mas a maioria de nós não lembrava como o show havia terminado. Eu sabia que tínhamos quebrado recordes de público, mas era só isso. No quarto do hotel, a madrugada parecia eterna. Blaze estava em pé na varanda, tragando um cigarro enquanto segurava uma garrafa de uísque quase vazia. Lennox estava jogado no sofá, com um olhar perdido, e Damian ria de algo que eu nem conseguia
São Paulo era sempre uma experiência surreal. Não importava quantas vezes eu tivesse vindo para cá, as multidões, os gritos e o calor humano das fãs brasileiras tinham algo único, quase hipnótico. O estúdio de TV onde seríamos entrevistados era uma loucura de flashes e vozes, com fãs aglomeradas nas cercas ao redor, segurando cartazes e gritando nossos nomes. Eu podia ouvir "Iron Vortex" ecoando, misturado com gritos isolados de "Lukke, eu te amo!". A banda e eu fomos conduzidos para o camarim, uma sala espaçosa com sofás de couro preto, uma mesa cheia de petiscos e um espelho cercado por luzes. Reed já tinha ocupado o canto do sofá, com um cigarro preso entre os dedos, exalando uma fumaça que preenchia o ambiente. Ele tragou longamente antes de soltar a fumaça para cima e olhar diretamente para mim. — Vai querer? — ele perguntou casualmente, oferecendo o cigarro na minha direção. Olhei para ele e balancei a cabeça. — Não, cara. Estou parando. Damian, que estava mexendo no c
Atena GodoyOs dias estavam tão corridos que eu mal tinha tempo para respirar. Agora mesmo, Isaac estava ao meu lado enquanto revisávamos questões pendentes da nossa empresa. Para quem acha que CEOs não trabalham, sinto dizer, mas estão redondamente enganados. — Atena, deixa de ser tirana. Vamos descansar um pouco e amanhã terminamos isso. — Isaac pediu pela décima vez, enquanto massageava a testa. — Nem pensar! O combinado era revisar tudo hoje, lembra? — retruquei, sem tirar os olhos do computador. Ele revirou os olhos contrariado e, com um suspiro, voltou sua atenção para a tela. — Pelo menos vamos abrir um vinho. — Ele tentou mais uma vez. — Estamos trabalhando, Isaac, não celebrando. — Fui categórica. — Megera! Eu podia estar na cama fodendo uma mulher incrível agora e, em vez disso, estou aqui com você e essa pilha de arquivos. — Não vai faltar tempo para você foder com mulheres sem cérebro. — Falei, voltando ao que fazia. — Ei, nem todas são sem cérebro. Lembra
Acordar atrasada já era motivo suficiente para começar o dia em desespero. Me arrumei apressada, pronta para ir ao trabalho, e desci às pressas para comer alguma coisa. — O que está fazendo arrumada, Atena? — Martina perguntou, mal contendo o riso. — Ué, estou indo trabalhar. Já se esqueceu que tenho uma empresa para cuidar com meu amigo? — Att, hoje é domingo, criatura. Confirmei no celular e percebi que ela estava certa. Me arrumar toda para trabalhar e perceber que era domingo foi o ápice do meu momento patético. Martina soltou uma gargalhada, e eu acabei me juntando a ela. Entre risos, decidi aproveitar o dia com Ellah. — Martty, quer vir com a gente? — perguntei, animada. — Acho melhor não. Tenho coisas a fazer aqui. — Claro que não tem! Você vai com a gente e ponto final. Martina me lançou um olhar de derrota, mas seu sorriso denunciava que, no fundo, estava feliz. — Titia, você vai pra onde? — Ellah apareceu na cozinha, seus olhos brilhando de curiosidade. —
Lukke Rock Acordei com o som estridente do meu celular vibrando na mesa de cabeceira. Esfreguei os olhos e olhei para a tela. Era a minha mãe. O alívio imediato por saber que ela estava bem após o susto do dia anterior foi substituído pelo nervosismo que sempre sentia antes de nossas conversas. Não era medo, mas ela sabia exatamente como me desarmar com palavras. — Bom dia, mãe — atendi com a voz rouca de sono. — Bom dia, meu filho. Como está? — Estou bem. E você? Atena me disse que passou mal ontem. — Já estou ótima, não se preocupe. Aliás, conheci a sua filha ontem. Soltei o ar que nem percebi estar prendendo. — Conheceu, é? O que achou dela? — Ela é um encanto, Lucas. Uma menina tão doce, tão esperta. E a tia dela… Atena, certo? Meu coração disparou só de ouvir aquele nome. — Sim, Atena. — Que mulher incrível! Educada, firme… E linda. Ri nervoso. Minha mãe nunca foi de medir palavras. — É, mãe. As duas são lindas. — E você está se apaixonando por ela, Luc
O palco estava montado, e a energia do público já podia ser sentida mesmo antes das cortinas abrirem. São Paulo nunca decepcionava. Sempre tinha algo de especial tocar naquela cidade, mas naquela noite parecia ainda mais intenso. Talvez fosse a adrenalina ou o peso das lembranças que a cidade trazia, mas tudo estava à flor da pele. Minutos antes do início do show, me sentei no camarim com a banda. Damian, Reed e Lennox estavam eufóricos, brincando e zombando uns dos outros. Mesmo assim, percebi que, por trás das piadas, cada um carregava a mesma expectativa que eu. — Pronto, galã? — perguntou Damian, com aquele sorriso de sempre. — Sempre. — Dei um tapa no ombro dele e me levantei. A voz do público ficou mais alta, quase ensurdecedora, quando as luzes começaram a piscar e os primeiros acordes ecoaram pelo estádio. Assim que pisei no palco, tudo desapareceu — os problemas, as preocupações, até mesmo o cansaço. Era só eu, minha música e o público. Cantamos os sucessos antigos,
Atena Godoy Minha manhã estava caótica, como sempre. A pilha de documentos sobre a mesa parecia multiplicar-se a cada segundo, e a quantidade de e-mails na minha caixa de entrada deixaria qualquer um à beira de um colapso. Mas não eu. Não havia espaço para falhas. Cada linha de cada relatório exigia minha atenção, e era exatamente nisso que eu estava concentrada quando Murilo apareceu à porta. Ele bateu levemente antes de entrar, o rosto carregado de cautela. — Senhora Atena, temos um visitante na recepção. Sem levantar os olhos do relatório que estava analisando, respondi automaticamente: — Ele tem horário marcado? — Não. Revirei os olhos, impaciente. — Então dispense. Não tenho tempo para surpresas hoje. Murilo hesitou, e quando ergui a cabeça para encará-lo, percebi que havia algo mais. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, uma voz irritantemente familiar ecoou pela sala. — Nossa, sendo dispensado assim? Que frieza, ruivinha. Levantei o olhar e lá estava
Cheguei em casa completamente exausta. A pilha de relatórios que enfrentei hoje parecia um teste de resistência, e ainda havia a interrupção inesperada de Lukke no escritório, que, honestamente, foi mais desgastante do que qualquer reunião da semana. Eu só queria um banho quente, um pouco de silêncio, e, se tivesse sorte, algumas horas de sono decente. Mas, claro, paz era algo raro na minha vida ultimamente. Assim que abri a porta da sala, um riso baixo chamou minha atenção. Franzi o cenho, deixando minha bolsa em cima da mesa lateral e seguindo o som até a sala de estar. Meus passos ficaram mais apressados quando percebi que vinham do meu quarto. Ao empurrar a porta, meu coração quase parou. — O que é isso? — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. Ellah estava sentada no chão com meu dossiê aberto no colo, e Lukke estava ao lado dela, folheando as páginas como se fossem trechos de uma revista qualquer. — Ah, você chegou, titia! — Ellah disse, com um sorriso inocent