Atena Godoy Minha manhã estava caótica, como sempre. A pilha de documentos sobre a mesa parecia multiplicar-se a cada segundo, e a quantidade de e-mails na minha caixa de entrada deixaria qualquer um à beira de um colapso. Mas não eu. Não havia espaço para falhas. Cada linha de cada relatório exigia minha atenção, e era exatamente nisso que eu estava concentrada quando Murilo apareceu à porta. Ele bateu levemente antes de entrar, o rosto carregado de cautela. — Senhora Atena, temos um visitante na recepção. Sem levantar os olhos do relatório que estava analisando, respondi automaticamente: — Ele tem horário marcado? — Não. Revirei os olhos, impaciente. — Então dispense. Não tenho tempo para surpresas hoje. Murilo hesitou, e quando ergui a cabeça para encará-lo, percebi que havia algo mais. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, uma voz irritantemente familiar ecoou pela sala. — Nossa, sendo dispensado assim? Que frieza, ruivinha. Levantei o olhar e lá estava
Cheguei em casa completamente exausta. A pilha de relatórios que enfrentei hoje parecia um teste de resistência, e ainda havia a interrupção inesperada de Lukke no escritório, que, honestamente, foi mais desgastante do que qualquer reunião da semana. Eu só queria um banho quente, um pouco de silêncio, e, se tivesse sorte, algumas horas de sono decente. Mas, claro, paz era algo raro na minha vida ultimamente. Assim que abri a porta da sala, um riso baixo chamou minha atenção. Franzi o cenho, deixando minha bolsa em cima da mesa lateral e seguindo o som até a sala de estar. Meus passos ficaram mais apressados quando percebi que vinham do meu quarto. Ao empurrar a porta, meu coração quase parou. — O que é isso? — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. Ellah estava sentada no chão com meu dossiê aberto no colo, e Lukke estava ao lado dela, folheando as páginas como se fossem trechos de uma revista qualquer. — Ah, você chegou, titia! — Ellah disse, com um sorriso inocent
Após o jantar, Ellah bocejou pela terceira vez, e eu sabia que era hora de colocá-la na cama. Apesar de todo o caos que ela causou mais cedo, ainda era uma criança adorável que precisava de descanso. — Vamos, mocinha. Hora de dormir — disse, levantando-me da cadeira e estendendo a mão para ela. — Mas eu não tô com sono! — protestou, esfregando os olhos enquanto segurava minha mão. — Claro que não está — retruquei com um sorriso divertido, guiando-a para o quarto. Depois de ajudá-la a vestir o pijama, sentei-me na beira da cama, ajustando as cobertas ao redor dela. — Você sabe que mexer nas coisas dos outros não é legal, né? Ela assentiu, parecendo um pouco arrependida. — Desculpa, titia. Eu só queria ver o que tinha no caderno. — Ellah olhou para mim com aquela carinha de culpada. — Tudo bem. Mas da próxima vez, peça primeiro, certo? — Certo. Inclinei-me para beijar sua testa. — Boa noite, meu amor. Durma bem. — Boa noite, titia — respondeu com um sorriso sonol
— Como assim, namorar? Você e eu? — Exatamente. Somos perfeitos um para o outro. — Lucas, não sei se isso daria certo. Nós somos… sei lá, tão diferentes. Ele riu, inclinando-se para me beijar suavemente. — A gente só vai saber se tentar, ruivinha. E, antes que eu pudesse responder, ele já estava me prendendo contra a parede do box, retomando as provocações que faziam meu corpo se incendiar. Quando finalmente estávamos arrumados e descemos para tomar café, senti que havia algo diferente no ar. Não sei se era por conta de Lukke, que parecia mais relaxado do que nunca, ou por mim, que não conseguia parar de lembrar dos acontecimentos da manhã. Dona Martina estava na cozinha, colocando xícaras na mesa, quando nos viu entrar. Seus olhos afiados nos analisaram de cima a baixo, e um sorriso curioso surgiu em seus lábios. — Vocês estão com um brilho diferente hoje — comentou, cruzando os braços. — Impressão sua — respondi rapidamente, sentando-me à mesa e tentando parecer na
Rafaela Mattos O barulho insistente da chuva batendo contra a janela acompanhava o ritmo acelerado dos meus pensamentos. O apartamento que outrora fora o símbolo do meu sucesso estava agora vazia e decadente, como a minha própria vida. Sentei-me no sofá rasgado da sala de estar, segurando uma taça de vinho barato e encarando o teto manchado de infiltrações. "Como eu vim parar aqui?" perguntei a mim mesma, embora soubesse exatamente a resposta. Minha ganância, minhas escolhas egoístas, meu desprezo pelas consequências... Tudo isso havia me levado a perder tudo o que tinha, inclusive as pessoas que mais importavam. Suspirei, largando a taça na mesa de centro cheia de papéis antigos e contas atrasadas. Minha última aposta tinha falhado miseravelmente. O que restava era um amontoado de dívidas e um orgulho ferido. Foi então que uma ideia perigosa começou a se formar em minha mente. "Eu preciso de dinheiro. E rápido." Era a única coisa que importava agora. Foi por isso que decidi vo
Atena GodoyO dia começou como qualquer outro, ou assim eu pensei. Acordei ao som do despertador insistente, como sempre, e me preparei para mais um dia de trabalho. Escolhi uma roupa discreta, mas elegante, como de costume, prendi os cabelos em um coque e segui para a cozinha, onde Martina já estava com a chaleira no fogo. — Bom dia, chefe. Café saindo em dois minutos. — Ela sorriu, enquanto eu pegava minha bolsa. — Bom dia, Martina. Estou saindo. Preciso resolver algumas pendências antes de começar o dia. — Dei um gole rápido na água que ela já havia deixado na mesa para mim e caminhei até a porta. Mal coloquei o pé no corredor do prédio, percebi algo fora do normal. O som abafado de vozes exaltadas vinha da entrada do edifício. Quanto mais me aproximava do elevador, mais alto ficava o burburinho. Ao descer e chegar ao térreo, fui recebida por uma cena que mais parecia um tumulto de celebridades. Câmeras, microfones, jornalistas com seus blocos de notas e celulares apontados
Lukke Rock A luz fluorescente do hospital era implacável. O cheiro de antisséptico misturado com café requentado fazia tudo parecer ainda mais sufocante. Cada segundo na sala de espera parecia uma eternidade. Minha mãe estava em cirurgia, e eu me sentia impotente. Stella estava ao meu lado, equilibrando o tablet no colo enquanto me atualizava sobre os últimos acontecimentos. — Lukke, encontramos a origem do vazamento — disse ela, quebrando o silêncio pesado. Virei-me para ela, cansado. — Quem foi? Ela hesitou por um instante, mas respondeu com firmeza: — Rafaela. O nome bateu como um soco no estômago. Rafaela, minha prima. Sangue do meu sangue. — Você tem certeza? — Absoluta. — Stella me entregou o tablet, onde todas as evidências estavam reunidas: transferências bancárias, mensagens, contatos com jornalistas... tudo apontava para ela. Minha cabeça girava. Eu havia sido apaixonado por Rafaela e, por ela, fiz muita merda na vida. No entanto, agora ficava claro que tu
Atena GodoyMe afastei dele e sentei na cadeira para organizar os documentos que Isaac e eu estávamos revendo antes de pararmos para descansar.— Como foi no hospital? — perguntei, virando-me para ele. Ele suspirou antes de responder, como se estivesse reorganizando os pensamentos. — A cirurgia foi um sucesso. O médico disse que minha mãe vai precisar de cuidados intensivos nos próximos dias, mas ela vai ficar bem. — Fico tão aliviada em saber disso. — Minha mão foi instintiva até o braço dele, apertando-o levemente. — Semana que vem posso levar Ellah para visitá-la. Aposto que isso vai animar a sua mãe. Ele sorriu, aquele sorriso que fazia seu rosto parecer menos carregado. — Tenho certeza de que vai. Ela diz que a pequena tem uma energia que ilumina qualquer lugar. Sorri, concordando com a afirmação. Ellah realmente tinha esse dom. Porém, antes que o momento pudesse se estender, Lukke me olhou de um jeito diferente, mais inquisitivo. — Atena... — Ele começou devagar, c