Atena GodoyMe afastei dele e sentei na cadeira para organizar os documentos que Isaac e eu estávamos revendo antes de pararmos para descansar.— Como foi no hospital? — perguntei, virando-me para ele. Ele suspirou antes de responder, como se estivesse reorganizando os pensamentos. — A cirurgia foi um sucesso. O médico disse que minha mãe vai precisar de cuidados intensivos nos próximos dias, mas ela vai ficar bem. — Fico tão aliviada em saber disso. — Minha mão foi instintiva até o braço dele, apertando-o levemente. — Semana que vem posso levar Ellah para visitá-la. Aposto que isso vai animar a sua mãe. Ele sorriu, aquele sorriso que fazia seu rosto parecer menos carregado. — Tenho certeza de que vai. Ela diz que a pequena tem uma energia que ilumina qualquer lugar. Sorri, concordando com a afirmação. Ellah realmente tinha esse dom. Porém, antes que o momento pudesse se estender, Lukke me olhou de um jeito diferente, mais inquisitivo. — Atena... — Ele começou devagar, c
Lukke Rock Os dias haviam finalmente se acalmado. Depois das entrevistas, das fotos e do assédio constante da mídia, a poeira começou a baixar. Era quase estranho ter um momento de silêncio na minha vida, mas eu aproveitava o máximo que podia. Sentado na minha poltrona preferida no estúdio caseiro, rabisquei algumas palavras no caderno de letras enquanto dedilhava o violão. A melodia que eu criava era suave, diferente das minhas ultimas composições habituais. Meu pensamento vagueava, e as palavras surgiam quase como se fossem ditadas por alguém. Quando comecei a anotar uma nova frase, ouvi a porta se abrir. Arthur entrou, carregando aquele sorriso confiante que ele sempre exibia. — Ah, finalmente um pouco de paz, hein? — disse ele, sentando-se na cadeira ao lado, cruzando as pernas com naturalidade. — Finalmente. — Suspirei, colocando o violão de lado. — Mas isso não seria possível sem você e a Stella. Vocês trabalharam como loucos para afastar a mídia de nós. Arthur deu uma
Atena GodoyCheguei à cozinha com Ellah, e o cheiro do jantar preenchia o ambiente, fazendo minha barriga, que eu nem percebera estar vazia, dar sinais de vida. Fui direto para as panelas que Martina havia deixado no fogão. Sem cerimônia, comecei a destampá-las, curiosa para saber o que teríamos para o jantar. — Ei, ei, ei, mocinha! — Martina exclamou, surgindo de repente e cruzando os braços. — Quem é a cozinheira aqui? — Você, mas eu sou quem vai comer. — Retruquei, erguendo a tampa de outra panela para espiar. Martina bateu de leve na minha mão com uma colher de pau, me fazendo recuar, indignada. — Para com isso! Vai já tomar banho e me deixa terminar aqui em paz. — Martina, pelo amor de Deus, você é minha funcionária, não o contrário! — Respondi, gesticulando como se ela estivesse fora de si. — Ah, e alguém tem que fazer o papel de mãe da desnaturada aqui, né? — Martina rebateu sem nem piscar, apontando para mim como se tivesse ganhado a discussão. Revirei os olhos,
Lukke Rock Estava em meu camarim quando Stella entrou, os olhos semicerrados, me avisando com aquele tom de "você não vai gostar do que eu tenho para dizer". Não gostava quando ela entrava assim. Meu corpo automaticamente ficou em alerta. — Lukke, descobrimos quem contou para Rafaela sobre a Ellah. Foi o Reed. Senti meu sangue ferver. O Reed? A pessoa que compartilhou os maiores palcos da minha vida? A quem eu considerei como um irmão? Levantei imediatamente e fui para o corredor. Não queria pensar, só agir. A passos largos, caminhei até a sala de ensaio. E lá estava ele, calmamente afinando o baixo como se não tivesse destruído minha vida pessoal por puro prazer. — Reed! — gritei. Ele levantou a cabeça, me encarando com aquela expressão de quem já sabia que a tempestade estava chegando. — Então foi você, seu desgraçado? Você contou para a Rafaela sobre a Ellah? Ele largou o baixo e deu de ombros, sem sequer tentar negar. — E daí? Alguém precisava fazer isso. Alguém
Atena GodoyEllah insistia para que eu assistisse seu desenho favorito com ela pela décima vez naquela semana. Não tive como negar. Então, lá estávamos nós, enroscadas no sofá, enquanto ela ria das travessuras dos personagens. Mais tarde, após colocá-la para dormir, já estava pronta para adiantar algumas coisas do trabalho, quando dona Martina apareceu na porta do meu quarto, com o rosto preocupado. — Atena, o Lukke está lá embaixo. Ele está... bem machucado. Meu coração deu um salto. Desci correndo e quando cheguei na sala, o vi sentado no sofá, com o rosto marcado por arranhões e hematomas. Seu olhar estava perdido, e o cheiro de álcool era inconfundível. — Lukke, o que aconteceu? — perguntei, me ajoelhando na frente dele. Ele tentou sorrir, mas o sorriso não chegou aos olhos. — Briguei com o Reed — murmurou, a voz arrastada. — Lukke, você está bêbado? — questionei, mas logo percebi que o problema era maior. — Você usou alguma coisa? Ele abaixou a cabeça, os ombros t
Ele passou a mão pelo cabelo, claramente frustrado. — Eu não sei, Atena... Blaze teria me mandado largar tudo se estivesse vivo. Puxei sua mão novamente, forçando-o a me encarar. — Você acha mesmo que o Blaze concordaria com isso? O seu xará, o homem que acreditava no poder da música para unir as pessoas? Ele jamais apoiaria você tomar essa decisão por raiva. Os olhos dele se encheram de uma emoção que eu não conseguia identificar por completo, mas sabia que minhas palavras estavam chegando a ele. — Blaze acreditava em seguir em frente, não importa o quê — ele admitiu, quase num sussurro. Aproveitei a brecha. — Então siga em frente, Lukke. Mostre que você é maior que o Reed e que sua música é mais forte do que qualquer briga ou traição. Ele ficou em silêncio por um longo momento, os dedos tamborilando na borda da xícara de café. Finalmente, olhou para mim e sorriu de leve. — Você tem razão. — Eu sempre tenho razão, roqueiro. Ele riu e se levantou, me puxando para
Stella Castro Arthur andava de um lado para o outro com o celular colado ao ouvido, enquanto eu tentava controlar o desespero. Lukke não atendia nossas ligações, e a última vez que alguém o viu foi em um bar no centro, completamente descontrolado. — Ainda nada? — perguntei, tentando manter a voz firme. Arthur balançou a cabeça, encerrando mais uma chamada frustrada. — Já liguei para todo mundo: Damian, Lennox, até o segurança do estúdio. Ninguém sabe onde ele está. Fechei os olhos, sentindo o peso do medo me sufocar. Lukke era como um irmão para nós, e a ideia de que ele pudesse estar em perigo era insuportável. — E se ele... — engoli em seco, tentando afastar os piores cenários da mente. — E se o encontrarmos na sarjeta, bêbado ou, pior, morto? Arthur parou e colocou as mãos nos meus ombros, tentando me acalmar. — Stella, não pense assim. Lukke está limpo há muito tempo. Ele não vai voltar para aquele lugar escuro. Olhei para ele, minha voz cheia de frustração. —
Lukke Rockk Sentei no sofá com um cansaço que não era apenas físico. Era como se cada célula do meu corpo carregasse o peso de tudo que vivi nos últimos meses. Atena estava ao meu lado, sua presença silenciosa mais eloquente que qualquer palavra. Ela segurava minha mão, e aquele toque me lembrava que, mesmo nos piores momentos, eu não estava sozinho. — Como você está se sentindo? — perguntou, sua voz suave, mas com um tom de preocupação evidente. — Exausto, mas... aliviado — respondi, olhando para ela. — Sabe, por muito tempo eu achei que ser forte significava segurar tudo sozinho, mas agora percebo que isso só me afundou mais. Atena sorriu de um jeito que só ela sabia, um sorriso que dizia “eu te entendo” sem precisar de explicação. Eu sabia que precisava de ajuda, mas admiti-lo em voz alta parecia um ato de coragem que eu ainda estava aprendendo a praticar. No dia seguinte, Stella organizou minha primeira sessão de terapia. Confesso, eu estava nervoso. Sempre achei que con