Atena GodoyO dia começou como qualquer outro, ou assim eu pensei. Acordei ao som do despertador insistente, como sempre, e me preparei para mais um dia de trabalho. Escolhi uma roupa discreta, mas elegante, como de costume, prendi os cabelos em um coque e segui para a cozinha, onde Martina já estava com a chaleira no fogo. — Bom dia, chefe. Café saindo em dois minutos. — Ela sorriu, enquanto eu pegava minha bolsa. — Bom dia, Martina. Estou saindo. Preciso resolver algumas pendências antes de começar o dia. — Dei um gole rápido na água que ela já havia deixado na mesa para mim e caminhei até a porta. Mal coloquei o pé no corredor do prédio, percebi algo fora do normal. O som abafado de vozes exaltadas vinha da entrada do edifício. Quanto mais me aproximava do elevador, mais alto ficava o burburinho. Ao descer e chegar ao térreo, fui recebida por uma cena que mais parecia um tumulto de celebridades. Câmeras, microfones, jornalistas com seus blocos de notas e celulares apontados
Lukke Rock A luz fluorescente do hospital era implacável. O cheiro de antisséptico misturado com café requentado fazia tudo parecer ainda mais sufocante. Cada segundo na sala de espera parecia uma eternidade. Minha mãe estava em cirurgia, e eu me sentia impotente. Stella estava ao meu lado, equilibrando o tablet no colo enquanto me atualizava sobre os últimos acontecimentos. — Lukke, encontramos a origem do vazamento — disse ela, quebrando o silêncio pesado. Virei-me para ela, cansado. — Quem foi? Ela hesitou por um instante, mas respondeu com firmeza: — Rafaela. O nome bateu como um soco no estômago. Rafaela, minha prima. Sangue do meu sangue. — Você tem certeza? — Absoluta. — Stella me entregou o tablet, onde todas as evidências estavam reunidas: transferências bancárias, mensagens, contatos com jornalistas... tudo apontava para ela. Minha cabeça girava. Eu havia sido apaixonado por Rafaela e, por ela, fiz muita merda na vida. No entanto, agora ficava claro que tu
Atena GodoyMe afastei dele e sentei na cadeira para organizar os documentos que Isaac e eu estávamos revendo antes de pararmos para descansar.— Como foi no hospital? — perguntei, virando-me para ele. Ele suspirou antes de responder, como se estivesse reorganizando os pensamentos. — A cirurgia foi um sucesso. O médico disse que minha mãe vai precisar de cuidados intensivos nos próximos dias, mas ela vai ficar bem. — Fico tão aliviada em saber disso. — Minha mão foi instintiva até o braço dele, apertando-o levemente. — Semana que vem posso levar Ellah para visitá-la. Aposto que isso vai animar a sua mãe. Ele sorriu, aquele sorriso que fazia seu rosto parecer menos carregado. — Tenho certeza de que vai. Ela diz que a pequena tem uma energia que ilumina qualquer lugar. Sorri, concordando com a afirmação. Ellah realmente tinha esse dom. Porém, antes que o momento pudesse se estender, Lukke me olhou de um jeito diferente, mais inquisitivo. — Atena... — Ele começou devagar, c
Lukke Rock Os dias haviam finalmente se acalmado. Depois das entrevistas, das fotos e do assédio constante da mídia, a poeira começou a baixar. Era quase estranho ter um momento de silêncio na minha vida, mas eu aproveitava o máximo que podia. Sentado na minha poltrona preferida no estúdio caseiro, rabisquei algumas palavras no caderno de letras enquanto dedilhava o violão. A melodia que eu criava era suave, diferente das minhas ultimas composições habituais. Meu pensamento vagueava, e as palavras surgiam quase como se fossem ditadas por alguém. Quando comecei a anotar uma nova frase, ouvi a porta se abrir. Arthur entrou, carregando aquele sorriso confiante que ele sempre exibia. — Ah, finalmente um pouco de paz, hein? — disse ele, sentando-se na cadeira ao lado, cruzando as pernas com naturalidade. — Finalmente. — Suspirei, colocando o violão de lado. — Mas isso não seria possível sem você e a Stella. Vocês trabalharam como loucos para afastar a mídia de nós. Arthur deu uma
Atena GodoyCheguei à cozinha com Ellah, e o cheiro do jantar preenchia o ambiente, fazendo minha barriga, que eu nem percebera estar vazia, dar sinais de vida. Fui direto para as panelas que Martina havia deixado no fogão. Sem cerimônia, comecei a destampá-las, curiosa para saber o que teríamos para o jantar. — Ei, ei, ei, mocinha! — Martina exclamou, surgindo de repente e cruzando os braços. — Quem é a cozinheira aqui? — Você, mas eu sou quem vai comer. — Retruquei, erguendo a tampa de outra panela para espiar. Martina bateu de leve na minha mão com uma colher de pau, me fazendo recuar, indignada. — Para com isso! Vai já tomar banho e me deixa terminar aqui em paz. — Martina, pelo amor de Deus, você é minha funcionária, não o contrário! — Respondi, gesticulando como se ela estivesse fora de si. — Ah, e alguém tem que fazer o papel de mãe da desnaturada aqui, né? — Martina rebateu sem nem piscar, apontando para mim como se tivesse ganhado a discussão. Revirei os olhos,
Lukke Rock Estava em meu camarim quando Stella entrou, os olhos semicerrados, me avisando com aquele tom de "você não vai gostar do que eu tenho para dizer". Não gostava quando ela entrava assim. Meu corpo automaticamente ficou em alerta. — Lukke, descobrimos quem contou para Rafaela sobre a Ellah. Foi o Reed. Senti meu sangue ferver. O Reed? A pessoa que compartilhou os maiores palcos da minha vida? A quem eu considerei como um irmão? Levantei imediatamente e fui para o corredor. Não queria pensar, só agir. A passos largos, caminhei até a sala de ensaio. E lá estava ele, calmamente afinando o baixo como se não tivesse destruído minha vida pessoal por puro prazer. — Reed! — gritei. Ele levantou a cabeça, me encarando com aquela expressão de quem já sabia que a tempestade estava chegando. — Então foi você, seu desgraçado? Você contou para a Rafaela sobre a Ellah? Ele largou o baixo e deu de ombros, sem sequer tentar negar. — E daí? Alguém precisava fazer isso. Alguém
Atena GodoyEllah insistia para que eu assistisse seu desenho favorito com ela pela décima vez naquela semana. Não tive como negar. Então, lá estávamos nós, enroscadas no sofá, enquanto ela ria das travessuras dos personagens. Mais tarde, após colocá-la para dormir, já estava pronta para adiantar algumas coisas do trabalho, quando dona Martina apareceu na porta do meu quarto, com o rosto preocupado. — Atena, o Lukke está lá embaixo. Ele está... bem machucado. Meu coração deu um salto. Desci correndo e quando cheguei na sala, o vi sentado no sofá, com o rosto marcado por arranhões e hematomas. Seu olhar estava perdido, e o cheiro de álcool era inconfundível. — Lukke, o que aconteceu? — perguntei, me ajoelhando na frente dele. Ele tentou sorrir, mas o sorriso não chegou aos olhos. — Briguei com o Reed — murmurou, a voz arrastada. — Lukke, você está bêbado? — questionei, mas logo percebi que o problema era maior. — Você usou alguma coisa? Ele abaixou a cabeça, os ombros t
Ele passou a mão pelo cabelo, claramente frustrado. — Eu não sei, Atena... Blaze teria me mandado largar tudo se estivesse vivo. Puxei sua mão novamente, forçando-o a me encarar. — Você acha mesmo que o Blaze concordaria com isso? O seu xará, o homem que acreditava no poder da música para unir as pessoas? Ele jamais apoiaria você tomar essa decisão por raiva. Os olhos dele se encheram de uma emoção que eu não conseguia identificar por completo, mas sabia que minhas palavras estavam chegando a ele. — Blaze acreditava em seguir em frente, não importa o quê — ele admitiu, quase num sussurro. Aproveitei a brecha. — Então siga em frente, Lukke. Mostre que você é maior que o Reed e que sua música é mais forte do que qualquer briga ou traição. Ele ficou em silêncio por um longo momento, os dedos tamborilando na borda da xícara de café. Finalmente, olhou para mim e sorriu de leve. — Você tem razão. — Eu sempre tenho razão, roqueiro. Ele riu e se levantou, me puxando para