Depois de um dia longo e cheio de reuniões, finalmente cheguei em casa. Cada parte do meu corpo pedia por descanso, mas, ao abrir a porta, fui recebida pelo sorriso doce da Ellah, que veio correndo até mim.— Tia Atena, você tá bem? — perguntou, os olhinhos preocupados e atentos.Sorri para ela, apesar do cansaço evidente.— Sim, meu amor, só cansada. — Respondi, tirando os sapatos e me sentando no sofá.Foi aí que notei uma mancha de tinta azul bem onde eu acabara de sentar. Olhei para a Ellah, que imediatamente arregalou os olhos e começou a chorar, assustada.— Desculpa, tia... foi sem querer! — disse, com as lágrimas já escorrendo pelo rostinho.Respirei fundo e, ao invés da bronca que normalmente sairia de mim, afaguei seus cabelos com carinho.— Não precisa chorar, Ellah. Essas coisas acontecem, tá tudo bem. — Puxei-a para um abraço e limpei suas lágrimas. Ela me olhou surpresa e, depois de alguns segundos, sorriu de volta, me abraçando com força.Depois que ela se acalmou, fui
Lukke RockOlhei para o espelho do banheiro encarando meu reflexo como se fosse um estranho. Estava diferente, mas as marcas do passado ainda estavam lá: os olhos cansados, o maxilar rígido, a sombra de alguém que já foi ao fundo do poço. Respirei fundo e passei as mãos pelo cabelo, tentando domar os fios bagunçados. Não era só o cabelo que estava desorganizado; minha mente também estava. A viagem com minha antiga banda não era só uma oportunidade de reviver os tempos de glória, mas também uma chance de encarar demônios que eu vinha evitando há anos.O som de passos ecoou pelo quarto antes que a porta do banheiro fosse escancarada sem cerimônia. Stella entrou, como sempre, sem pedir licença, equilibrando sua postura firme e seu olhar de quem sabia muito mais do que deixava transparecer.— Tá pronto, estrela do rock? — perguntou, apoiando-se no batente da porta e cruzando os braços.Virei-me para ela, ajeitando a jaqueta de couro. — Você podia respeitar minha privacidade, sabia? — rec
O som baixo da música no ônibus misturava-se com o leve ronco do motor, criando uma trilha sonora monótona para os pensamentos caóticos que ocupavam minha mente. Estávamos na estrada há algumas horas, e o clima entre os integrantes da banda oscilava entre conversas esparsas e silêncios pesados. Eu me encontrava em meu lugar habitual: ao fundo do ônibus, com os fones no ouvido, mesmo que a música estivesse pausada há tempos. Era minha forma de criar uma barreira invisível, um espaço seguro no meio daquele caos velado.Meu celular vibrou no bolso, tirando-me da minha bolha. Peguei o aparelho, e um sorriso automático surgiu ao ver o nome que piscava na tela: *Megera/ruivinha*.“Tudo bem por aí?” li sua mensagem.Ri baixo. Ela sempre sabia quando eu precisava de uma âncora para manter os pés no chão.“Tudo sim, ruivinha. E por aí?” Sua resposta veio quase instantaneamente.“Correndo como sempre. Mas me conta... Tá gostando dessa viagem nostálgica?” Olhei ao redor, observando os outros.
(Seis Anos Atrás) Estamos no auge da fama, tocando para estádios lotados, vivendo vidas que qualquer pessoa normal chamaria de sonho. Mas por dentro, éramos uma bomba-relógio prestes a explodir. Estávamos em algum hotel luxuoso de Los Angeles, mas para ser honesto, eu mal sabia onde estava. A ressaca dos shows e das festas era constante, e as drogas… bem, as drogas já não eram só uma fuga, mas uma rotina. Blaze estava com o brilho inconfundível nos olhos azuis, era uma espécie de marca registrada. Ele parecia imortal, sempre liderando as festas e nos arrastando junto. A banda tinha tocado na noite anterior, mas a maioria de nós não lembrava como o show havia terminado. Eu sabia que tínhamos quebrado recordes de público, mas era só isso. No quarto do hotel, a madrugada parecia eterna. Blaze estava em pé na varanda, tragando um cigarro enquanto segurava uma garrafa de uísque quase vazia. Lennox estava jogado no sofá, com um olhar perdido, e Damian ria de algo que eu nem conseguia
São Paulo era sempre uma experiência surreal. Não importava quantas vezes eu tivesse vindo para cá, as multidões, os gritos e o calor humano das fãs brasileiras tinham algo único, quase hipnótico. O estúdio de TV onde seríamos entrevistados era uma loucura de flashes e vozes, com fãs aglomeradas nas cercas ao redor, segurando cartazes e gritando nossos nomes. Eu podia ouvir "Iron Vortex" ecoando, misturado com gritos isolados de "Lukke, eu te amo!". A banda e eu fomos conduzidos para o camarim, uma sala espaçosa com sofás de couro preto, uma mesa cheia de petiscos e um espelho cercado por luzes. Reed já tinha ocupado o canto do sofá, com um cigarro preso entre os dedos, exalando uma fumaça que preenchia o ambiente. Ele tragou longamente antes de soltar a fumaça para cima e olhar diretamente para mim. — Vai querer? — ele perguntou casualmente, oferecendo o cigarro na minha direção. Olhei para ele e balancei a cabeça. — Não, cara. Estou parando. Damian, que estava mexendo no c
Atena GodoyOs dias estavam tão corridos que eu mal tinha tempo para respirar. Agora mesmo, Isaac estava ao meu lado enquanto revisávamos questões pendentes da nossa empresa. Para quem acha que CEOs não trabalham, sinto dizer, mas estão redondamente enganados. — Atena, deixa de ser tirana. Vamos descansar um pouco e amanhã terminamos isso. — Isaac pediu pela décima vez, enquanto massageava a testa. — Nem pensar! O combinado era revisar tudo hoje, lembra? — retruquei, sem tirar os olhos do computador. Ele revirou os olhos contrariado e, com um suspiro, voltou sua atenção para a tela. — Pelo menos vamos abrir um vinho. — Ele tentou mais uma vez. — Estamos trabalhando, Isaac, não celebrando. — Fui categórica. — Megera! Eu podia estar na cama fodendo uma mulher incrível agora e, em vez disso, estou aqui com você e essa pilha de arquivos. — Não vai faltar tempo para você foder com mulheres sem cérebro. — Falei, voltando ao que fazia. — Ei, nem todas são sem cérebro. Lembra
Acordar atrasada já era motivo suficiente para começar o dia em desespero. Me arrumei apressada, pronta para ir ao trabalho, e desci às pressas para comer alguma coisa. — O que está fazendo arrumada, Atena? — Martina perguntou, mal contendo o riso. — Ué, estou indo trabalhar. Já se esqueceu que tenho uma empresa para cuidar com meu amigo? — Att, hoje é domingo, criatura. Confirmei no celular e percebi que ela estava certa. Me arrumar toda para trabalhar e perceber que era domingo foi o ápice do meu momento patético. Martina soltou uma gargalhada, e eu acabei me juntando a ela. Entre risos, decidi aproveitar o dia com Ellah. — Martty, quer vir com a gente? — perguntei, animada. — Acho melhor não. Tenho coisas a fazer aqui. — Claro que não tem! Você vai com a gente e ponto final. Martina me lançou um olhar de derrota, mas seu sorriso denunciava que, no fundo, estava feliz. — Titia, você vai pra onde? — Ellah apareceu na cozinha, seus olhos brilhando de curiosidade. —
Lukke Rock Acordei com o som estridente do meu celular vibrando na mesa de cabeceira. Esfreguei os olhos e olhei para a tela. Era a minha mãe. O alívio imediato por saber que ela estava bem após o susto do dia anterior foi substituído pelo nervosismo que sempre sentia antes de nossas conversas. Não era medo, mas ela sabia exatamente como me desarmar com palavras. — Bom dia, mãe — atendi com a voz rouca de sono. — Bom dia, meu filho. Como está? — Estou bem. E você? Atena me disse que passou mal ontem. — Já estou ótima, não se preocupe. Aliás, conheci a sua filha ontem. Soltei o ar que nem percebi estar prendendo. — Conheceu, é? O que achou dela? — Ela é um encanto, Lucas. Uma menina tão doce, tão esperta. E a tia dela… Atena, certo? Meu coração disparou só de ouvir aquele nome. — Sim, Atena. — Que mulher incrível! Educada, firme… E linda. Ri nervoso. Minha mãe nunca foi de medir palavras. — É, mãe. As duas são lindas. — E você está se apaixonando por ela, Luc