O som dos gritos da multidão lá fora invadia a cochia, me deixando com a adrenalina a mil. Era sempre assim antes de um show. Eu já estava acostumado com a energia que fluía pelo meu corpo nesses momentos, mas hoje parecia mais intenso. Talvez fosse a expectativa, ou quem sabe a conversa estranha com Betão que tinha acabado de acontecer.— Está na hora, Lukke. E nada de se atrasar, ok? — Arthur disse com seu tom meio sério, meio debochado de sempre.— Relaxa, Arthur. Tá tudo sob controle — respondi, pegando a guitarra e ajustando o boné na cabeça. O boné virado pra trás já tinha se tornado meio que a minha marca registrada, e Stella vivia dizendo que isso era parte do meu charme "bad boy" que as fãs adoravam.Ao sair do cochia, senti o coração acelerar ainda mais. Subi ao palco e fui recebido por uma multidão ensandecida. As luzes estroboscópicas, o som ensurdecedor das guitarras começando a aquecer e o grito de "Lukke, Lukke, Lukke!" vindo da plateia já me deixaram no clima.— Boa noi
Atena Godoy— Você estava onde? — Meu pai se engasgou com o café e me olhou como se eu fosse louca.— Fui cumprir o que a Artemis me pediu. — Ele ainda me encarava, atônito.— Atena, perdeu o juízo? E se a sua irmã só fantasiou essa história toda? Você não devia ir atrás desse cara sem saber se isso é mesmo verdade.— Eu conheço a minha irmã o suficiente para saber que ela está falando a verdade. Artemis se entregou a Lukke no camarim. Ela disse na carta que ele estava muito louco, como se tivesse usado alguma droga, e quando ela se ofereceu, ele não recusou.— Que merda! O que você e sua irmã têm na cabeça? Se bem que agora... nem posso dar os tapas que nunca dei nela! E eu achando que era aquele paspalhão do Joel o pai...— Ainda bem que a Ellah não é filha dele. Sabe o que eu descobri pelo diário da Artemis? Aquele filho da puta batia nela, em lugares onde ninguém podia ver. Quando ela ficou grávida, ele disse que ia tirar o bebê dela, mesmo sabendo que ele não era o pai.— Por que
Quando cheguei em casa, já passava das 22h. Meu pai estava assistindo algo na televisão e, ao me ver, deu pause.— Não pare de assistir por minha causa — disse, sentando-me ao seu lado.— A Ellah perguntou por você — meu pai disse, desligando a TV. — Filha, tem certeza de que pode tomar conta dela? Eu vou precisar voltar para casa e posso levá-la comigo.— Sério, pai. Eu posso fazer isso. Amanhã, a babá que contratei virá conhecê-la e passará um tempo com ela. Por favor, fique de olho e me diga se vir algo de errado. Direi o mesmo à Martina.— Eu sei que você quer cumprir a promessa que fez à sua irmã, mas não acha melhor que...— Já disse que não, pai. Eu consigo. — Ele me olhou e sorriu. Não deve ser tão difícil cuidar de uma criança de cinco anos.— Sei que você deve estar pensando que é fácil cuidar de uma criança, mas não é. Quando nos tornamos pais, precisamos abdicar de muitas coisas. Não podemos mais pensar só em nós mesmos, porque temos alguém que depende de nós.— Entendo, p
Cheguei em casa já tarde, como de costume. O relógio marcava um pouco mais de nove da noite, e as luzes da sala estavam parcialmente acesas. Assim que abri a porta, ouvi passos leves correndo pelo corredor. Olhei rapidamente e vi Ellah disparar para o quarto dela sem dizer uma palavra. Suspirei, exausta. Talvez fosse o impacto da manhã, quando ela tinha molhado a cama. Antes que eu pudesse ir atrás dela, Dona Margarida, a nova babá, se aproximou de mim com um sorriso caloroso.— Boa noite, Dona Atena — disse ela. — O dia foi ótimo. A Ellah é um amor de criança. Brincamos bastante, e ela até me ajudou a preparar o lanche da tarde. — Obrigada, Dona Margarida — sorri, embora minha mente ainda estivesse no que tinha acontecido mais cedo. — Fico feliz que tudo tenha corrido bem. — Ellah é uma menina especial, e eu vejo que ela só precisa de amor e um pouco mais de paciência, mas, no geral, ela foi um doce o dia todo. Bem, eu vou indo agora — disse Dona Margarida, já caminhando em direçã
Na manhã seguinte, acordei com os primeiros raios de sol que escapavam pelas cortinas entreabertas. Eu tinha dormido mais tranquila depois de resolver as coisas com Ellah na noite anterior. Ela continuava dormindo profundamente ao meu lado, seu rostinho tranquilo me fez sorrir. Com cuidado, me levantei da cama para não acordá-la e fui direto para o banheiro.Depois de me arrumar, desci as escadas, já checando meu celular. Como sempre, havia mensagens pendentes, e-mails e notificações de trabalho. O tempo parecia escasso para tudo que eu tinha que fazer, mas hoje minha prioridade era passar um tempo com meu pai antes dele ir embora.Ao descer, com os olhos ainda grudados no celular, fui pega de surpresa quando meu pé esbarrou em algo pesado no chão. Me desequilibrei um pouco, quase derrubando o telefone. Olhei para baixo e vi uma mala grande, preta, bem no meio da sala.Franzi a testa, confusa. "Quem colocou isso aqui?"— Martina? — chamei alto, esperando a empregada aparecer e me dar
Os últimos três dias haviam sido um verdadeiro turbilhão. Desde que meu pai voltou para casa, eu me via atolada em trabalho, sem conseguir respirar direito. As demandas do escritório pareciam multiplicar-se, e mesmo em casa, com Ellah, não conseguia relaxar como gostaria. Parecia que todo o peso do mundo estava sobre mim.Naquela manhã, eu me apressei para o escritório em busca de um documento importante. Passei a noite anterior organizando os balancetes, conferindo cada detalhe para que hoje fosse um dia tranquilo no trabalho. Ao entrar no escritório, senti uma pontada de cansaço nas pernas, mas era o menor dos meus problemas naquele momento.O que me aguardava ali era algo que eu não estava preparada para ver.Ao me aproximar da mesa, percebi um monte de papéis coloridos espalhados. Não, eles não estavam coloridos por marcadores de texto ou gráficos de desempenho... estavam coloridos por desenhos infantis. Desenhos alegres, com carinhas sorridentes, sol, flores e até o que parecia s
Cheguei ao trabalho um pouco mais tarde do que o planejado. A manhã já tinha sido um verdadeiro teste de paciência, e eu ainda nem tinha pisado no escritório. Estacionei o carro na garagem da empresa e respirei fundo antes de sair. Ao fechar a porta do carro, dei mais uma olhada no relógio. Eram 8h45, e minha reunião seria às 10h. Eu tinha tempo para me recompor e organizar o que fosse necessário, mas só de pensar no que havia acontecido com as planilhas, já sentia meu estômago revirar.Ao entrar no prédio, caminhei até o elevador, tentando me concentrar. A cena de Ellah, minha pequena sobrinha, sentada no meio do meu escritório com um sorriso enorme no rosto e meus balancetes cobertos de desenhos coloridos, ainda estava fresca na minha mente. Eu sabia que ela só queria me alegrar, mas não pude evitar o pequeno surto interno que senti ao ver o trabalho de uma noite inteira perdido.Quando as portas do elevador se abriram, vi Murilo já me esperando na porta do escritório. Ele me olhou
Lukke Rock Depois de duas semanas agitadas, estava arrumando minha mala para voltar para o Rio de Janeiro e resolver meu problema com Atena. Fechava a última mala quando Arthur entrou no quarto.— Stella me mandou ver se você já havia arrumado tudo — ele disse, com uma expressão meio sem graça enquanto eu soltava uma gargalhada.— Fala pra chata que está tudo sob controle. Já estou descendo. Pediu para a equipe do hotel preparar a saída pelos fundos? Hoje não estou a fim de ver fãs.— Stella já cuidou de tudo isso também — respondeu ele, eficiente como sempre.— Sua esposa é a melhor, Arthuzão! — comentei, dando um tapinha nas costas dele. — Me ajuda com essas malas, precisamos sair logo.Arthur assentiu e me ajudou com as bagagens. Quando encontramos Stella, ela já havia chamado alguns funcionários do hotel para nos ajudar com o restante das malas. Ao passarmos pelo saguão, podíamos ouvir algumas fãs animadas gritando meu nome. Não vou negar que gosto disso, mas ultimamente estou um