Quando cheguei em casa, já passava das 22h. Meu pai estava assistindo algo na televisão e, ao me ver, deu pause.— Não pare de assistir por minha causa — disse, sentando-me ao seu lado.— A Ellah perguntou por você — meu pai disse, desligando a TV. — Filha, tem certeza de que pode tomar conta dela? Eu vou precisar voltar para casa e posso levá-la comigo.— Sério, pai. Eu posso fazer isso. Amanhã, a babá que contratei virá conhecê-la e passará um tempo com ela. Por favor, fique de olho e me diga se vir algo de errado. Direi o mesmo à Martina.— Eu sei que você quer cumprir a promessa que fez à sua irmã, mas não acha melhor que...— Já disse que não, pai. Eu consigo. — Ele me olhou e sorriu. Não deve ser tão difícil cuidar de uma criança de cinco anos.— Sei que você deve estar pensando que é fácil cuidar de uma criança, mas não é. Quando nos tornamos pais, precisamos abdicar de muitas coisas. Não podemos mais pensar só em nós mesmos, porque temos alguém que depende de nós.— Entendo, p
Cheguei em casa já tarde, como de costume. O relógio marcava um pouco mais de nove da noite, e as luzes da sala estavam parcialmente acesas. Assim que abri a porta, ouvi passos leves correndo pelo corredor. Olhei rapidamente e vi Ellah disparar para o quarto dela sem dizer uma palavra. Suspirei, exausta. Talvez fosse o impacto da manhã, quando ela tinha molhado a cama. Antes que eu pudesse ir atrás dela, Dona Margarida, a nova babá, se aproximou de mim com um sorriso caloroso.— Boa noite, Dona Atena — disse ela. — O dia foi ótimo. A Ellah é um amor de criança. Brincamos bastante, e ela até me ajudou a preparar o lanche da tarde. — Obrigada, Dona Margarida — sorri, embora minha mente ainda estivesse no que tinha acontecido mais cedo. — Fico feliz que tudo tenha corrido bem. — Ellah é uma menina especial, e eu vejo que ela só precisa de amor e um pouco mais de paciência, mas, no geral, ela foi um doce o dia todo. Bem, eu vou indo agora — disse Dona Margarida, já caminhando em direçã
Na manhã seguinte, acordei com os primeiros raios de sol que escapavam pelas cortinas entreabertas. Eu tinha dormido mais tranquila depois de resolver as coisas com Ellah na noite anterior. Ela continuava dormindo profundamente ao meu lado, seu rostinho tranquilo me fez sorrir. Com cuidado, me levantei da cama para não acordá-la e fui direto para o banheiro.Depois de me arrumar, desci as escadas, já checando meu celular. Como sempre, havia mensagens pendentes, e-mails e notificações de trabalho. O tempo parecia escasso para tudo que eu tinha que fazer, mas hoje minha prioridade era passar um tempo com meu pai antes dele ir embora.Ao descer, com os olhos ainda grudados no celular, fui pega de surpresa quando meu pé esbarrou em algo pesado no chão. Me desequilibrei um pouco, quase derrubando o telefone. Olhei para baixo e vi uma mala grande, preta, bem no meio da sala.Franzi a testa, confusa. "Quem colocou isso aqui?"— Martina? — chamei alto, esperando a empregada aparecer e me dar
Os últimos três dias haviam sido um verdadeiro turbilhão. Desde que meu pai voltou para casa, eu me via atolada em trabalho, sem conseguir respirar direito. As demandas do escritório pareciam multiplicar-se, e mesmo em casa, com Ellah, não conseguia relaxar como gostaria. Parecia que todo o peso do mundo estava sobre mim.Naquela manhã, eu me apressei para o escritório em busca de um documento importante. Passei a noite anterior organizando os balancetes, conferindo cada detalhe para que hoje fosse um dia tranquilo no trabalho. Ao entrar no escritório, senti uma pontada de cansaço nas pernas, mas era o menor dos meus problemas naquele momento.O que me aguardava ali era algo que eu não estava preparada para ver.Ao me aproximar da mesa, percebi um monte de papéis coloridos espalhados. Não, eles não estavam coloridos por marcadores de texto ou gráficos de desempenho... estavam coloridos por desenhos infantis. Desenhos alegres, com carinhas sorridentes, sol, flores e até o que parecia s
Cheguei ao trabalho um pouco mais tarde do que o planejado. A manhã já tinha sido um verdadeiro teste de paciência, e eu ainda nem tinha pisado no escritório. Estacionei o carro na garagem da empresa e respirei fundo antes de sair. Ao fechar a porta do carro, dei mais uma olhada no relógio. Eram 8h45, e minha reunião seria às 10h. Eu tinha tempo para me recompor e organizar o que fosse necessário, mas só de pensar no que havia acontecido com as planilhas, já sentia meu estômago revirar.Ao entrar no prédio, caminhei até o elevador, tentando me concentrar. A cena de Ellah, minha pequena sobrinha, sentada no meio do meu escritório com um sorriso enorme no rosto e meus balancetes cobertos de desenhos coloridos, ainda estava fresca na minha mente. Eu sabia que ela só queria me alegrar, mas não pude evitar o pequeno surto interno que senti ao ver o trabalho de uma noite inteira perdido.Quando as portas do elevador se abriram, vi Murilo já me esperando na porta do escritório. Ele me olhou
Lukke Rock Depois de duas semanas agitadas, estava arrumando minha mala para voltar para o Rio de Janeiro e resolver meu problema com Atena. Fechava a última mala quando Arthur entrou no quarto.— Stella me mandou ver se você já havia arrumado tudo — ele disse, com uma expressão meio sem graça enquanto eu soltava uma gargalhada.— Fala pra chata que está tudo sob controle. Já estou descendo. Pediu para a equipe do hotel preparar a saída pelos fundos? Hoje não estou a fim de ver fãs.— Stella já cuidou de tudo isso também — respondeu ele, eficiente como sempre.— Sua esposa é a melhor, Arthuzão! — comentei, dando um tapinha nas costas dele. — Me ajuda com essas malas, precisamos sair logo.Arthur assentiu e me ajudou com as bagagens. Quando encontramos Stella, ela já havia chamado alguns funcionários do hotel para nos ajudar com o restante das malas. Ao passarmos pelo saguão, podíamos ouvir algumas fãs animadas gritando meu nome. Não vou negar que gosto disso, mas ultimamente estou um
Atena Godoy Depois de um dia exaustivo no escritório, finalmente consegui voltar para casa. O relógio marcava quase nove da noite e eu sentia cada músculo do meu corpo clamando por descanso. As reuniões haviam sido tensas, e as decisões que precisei tomar pareciam pesar o dobro do habitual. Ao entrar no apartamento, suspirei aliviada ao ver a luz da sala suavemente acesa e o silêncio acolhedor que preenchia o espaço. Minha sobrinha já estava dormindo em sua cama. Dona Margarida, ao me ver, sorriu e levantou, contando como havia sido o dia da minha sobrinha. Agradeci a ela, que se retirou, desejando-me boa noite. Dona Martina havia deixado o jantar preparado, como de costume. Agradeci mentalmente por esse cuidado, pois a última coisa que eu queria agora era me preocupar com o que comer. Deixei minha bolsa sobre a mesa da sala e fui até a cozinha, onde o prato estava coberto com um pano limpo. "Canelone de espinafre", li em um bilhete deixado pela Dona Martina. Esbocei um sorriso. El
Depois de algumas horas de conversa fiada, onde Lukke conseguiu me irritar com cada comentário bobo e piadinha fora de hora, o cansaço começou a pesar mais forte. Olhei para o relógio de parede e vi que já passava da meia-noite. Era incrível como ele parecia não ter noção do tempo ou simplesmente não se importava. Eu, por outro lado, estava no meu limite.— Acho que já está na hora de você ir, Lukke — falei, colocando minha taça vazia sobre a mesa de centro e me levantando. — Já passa da meia-noite, e você tem uma equipe vindo logo cedo amanhã para o exame de DNA.Ele olhou para mim com aquele sorriso desafiador, sem demonstrar nenhuma pressa em ir embora.— Já vou, gatinha — respondeu tranquilamente. — Meu motorista está me esperando lá embaixo.Franzi o cenho, surpresa.— Espera aí... O motorista está lá embaixo desde que você subiu?Ele acenou com a cabeça, casual, como se fosse algo completamente normal.— Sim, ele está lá desde o momento que cheguei.Eu soltei um suspiro de indig