MaeveMeu mundo girou e eu senti tudo o que eu tinha comido voltar.-Onde eles estão? -perguntei, minha voz não mais do que um sussurro.-Em um parque a cinco minutos daqui. - Trevor trincou o maxilar, sem conseguir me olhar. -Eles devem ter posto um rastreador no meu carro durante a batalha. Não acredito que eu deixei isso passar.Envolvi seu rosto com as minhas mãos, obrigando-o a olhar para mim. Quando ele finalmente me encarou, seus olhos estavam tomados pela dor.-A culpa não é sua.Ele riu, amargurado.-Então de quem é?-Do Robert, Leona, Lucien… você pode escolher. - eu coloquei firmeza em minha voz. -Mas não é sua.Trevor me olhou com intensidade, antes de encostar a testa na minha e fechar os olhos, seus braços se fechando ao meu redor como correntes.-Você fica aqui que eu vou resolver isso.A indignação fervilhou em meu peito enquanto eu o encarava, irritada.-Como se eu fosse deixar você fazer isso sozinho. - ele começou a protestar, mas eu o calei. -O tempo está correndo,
MaeveA escuridão foi o que prevaleceu durante muito tempo. Relances de realidade iam e vinham, a dor sempre me fazendo recuar para a inconsciência. Durante esses curtos períodos em que minha mente não estava mergulhada no vazio, eu via Trevor ao meu lado, seus olhos inchados e olheiras profundas fazendo meu coração doer ainda mais do que o resto do corpo.Era de se imaginar que nesse vazio a solidão me acompanharia, mas na verdade, foi exatamente o oposto. Uma presença calorosa sempre esteve comigo, observando-me de perto. Quando achava que ia finalmente ceder e deixar a morte me levar, Trevor se fazia ainda mais forte dentro de mim, me segurando feito uma âncora, seus olhos azuis brilhando como dois faróis.Tudo em mim ardia quando estava nesse estado, a dor em minha barriga me deixando tonta e fazendo o ar sair de meus pulmões. Lembro vagamente de gritar, sentindo a vida se agarrar a mim debilmente enquanto eu reunia minhas forças para tentar me curar. Não sei ao certo quanto tempo
MaeveEncarei os líderes presentes, a sala de reuniões tomada por tanta tensão que podia vê-la dançando no ar. Os três estavam ali - Gregor, Hateya e Ronnan - me fuzilando como se a culpa da guerra não ter dado certo fosse inteiramente minha. Trevor estava imóvel ao meu lado, mas eu senti o quanto ele estava no limite através do nosso laço.Eu, por outro lado, só queria acabar logo com aquilo e voltar o quanto antes para a minha vida normal, já tinha tido a minha dose de lobisomens e sua politicagem.-Senhores, os convoquei aqui assim que Maeve acordou, conforme pediram. -James começou, o olhar sério não combinando com ele. -Agora conto com a prudência de vocês durante as negociações.Gregor riu, batendo com o punho na mesa e liberando suas ondas Alfa. Os demais responderam fazendo o mesmo, apenas para não deixar seu território ser tomado com ele.-O loirinho aí mal assumiu a posição e acha que já pode nos dar ordens. - ele cuspiu no chão, limpando a boca de modo rude. -Robert e Lucie
MaeveMe endireitei no banco do carona pela décima vez, contendo um suspiro irritado. O carro era meu, mas é claro que Robert não me deixaria dirigir com ele dentro. Afinal, ele é o Alfa e eu sou… bem, eu sou Maeve.Gosto de me descrever como Maeve, futura pediatra promissora. Mas nesse momento eu voltei a ser Maeve, filha do Alfa e seu maior problema. Tecnicamente sou sua filha, por mais que uma ligação de aniversário por ano e um depósito simbólico por mês não me façam aceitá-lo como pai. Não que ele precise de minha aceitação. Como Robert sempre me diz, ele precisa apenas da minha cooperação.-Estamos chegando. Fique atrás de mim o tempo todo e coopere. - sua voz áspera surgiu pela primeira vez em três horas de viagem.Eu apenas assenti, apoiando a cabeça na janela e ignorando-o. Por mais que ele fizesse meu sangue ferver, uma coisa que eu tinha aprendido da maneira mais difícil é que o único motivo para alguém desafiar um Alfa era para matar ou morrer. Não pretendia morrer tão ced
TrevorBlake tinha acabado de me contar uma de suas piadas sórdidas quando ela apareceu. Tinha visto quando entrou no salão cinco minutos antes, é claro. Com seus cabelos castanhos, curvas de matar e olhos verdes que reluziam era difícil não notá-la. Antes mesmo que ela surgisse, seu cheiro a denunciou, uma mistura de hortelã e algo doce, que fez meu corpo todo tremer em excitação. Era tão estonteante que quase não percebi que havia um Alfa com ela.Não era estranho os Alfas circularem por aqui. O Dark Night era um clube exclusivo, onde muitos Alfas vinham fazer suas negociações - exatamente por isso eu e Blake escolhemos vir para cá quando deixamos o bando do nosso pai. Era o último lugar que ele iria querer nos ver e por isso era o lugar certo para nós.Porém, humanos não eram comuns ali e a garota era com certeza humana.Levei alguns segundos para entender o que estava acontecendo quando ela entrou gritando para que corrêssemos. Minha concentração se focou nela assim que ela surgiu
MaeveAcordei com o barulho do motor do meu carro sendo acelerado ao máximo. Meio grogue, me levantei com a cabeça explodindo e olhei ao redor, tentando entender o que tinha acontecido. Mas a cena era caótica demais para eu sequer absorver, quanto mais entender.Ao meu lado, o homem de cabelos pretos que tentou me proteger, estava coberto por uma lona preta, apenas a cabeça de fora. Ele gemia, os olhos fechados com força e os cabelos grudados à testa pelo suor. Seu rosto estava vermelho e cheio de hematomas, com olheiras fundas se formando em bolsas ao redor dos olhos. Da cabeça para baixo, não havia um pedaço de pele que não estivesse roxo pelos hematomas ou coberto do sangue que vertia da mordida no pescoço.No banco da frente, contudo, a cena parecia vinda de outra dimensão.A bruxa dirigia animada, cantando o que parecia ser uma versão em rock de “Oh, happy day”. Seus cabelos estavam desgrenhados, a roupa amassada e a maquiagem desfeita. Enojada, eu não precisei ver o chupão em se
MaeveCurar alguém sempre foi algo difícil para mim. A cura em si não apresentava dificuldade alguma, pelo contrário, toda vez havia sido natural. A energia fluí de mim fácil como uma respiração, envolvendo a outra pessoa e trabalhando para curá-la. É quase como montar um quebra cabeça - só preciso conectar os pontos certos e tudo fica bem.A parte difícil é lidar com a intimidade.Curar alguém é tocar nessa pessoa. Em todas as partes. A energia que flui é parte de mim e percorre todas as partes machucadas de alguém. Às vezes um toque superficial é o suficiente. Mas hoje esse não era o caso. As lesões dele eram profundas e se espalhavam por quase todo o corpo.Suspirei, me concentrando para bloquear a presença da bruxa, me observando pelo espelho retrovisor. Tirei a camiseta de cima do machucado, passando a pressioná-lo com minha mão esquerda. A direita posicionei em sua testa, que ardia sob meu toque. Ele gemeu com o meu contato, claramente tão incomodado quanto eu com aquilo.Fechei
Maeve Seu grito quase me ensurdeceu. Atônita, eu vi ele discar frenéticamente o número no celular, ficando cada vez mais irritado quando não conseguia. Ver ele fazer aquilo estava me irritando. Ele podia só estar vendo um lado da situação, mas eu não era obrigada a aturar sua babaquice só porque ele era desinformado. Precisando de ar, abri a porta do carona, sentindo o ar frio em meu corpo seminu. Caminhei até o porta-malas, ignorando as buzinas dos carros que passavam. Lá dentro, encontrei uma sacola com duas mudas de roupa, minha bolsa e um bilhete com o endereço do bando. É, com certeza isso é tudo que precisamos para viver. Trincando os dentes, peguei minha bolsa para checar se meus cartões de crédito ainda estavam ali, quando mais uma buzina soou. -Filho da puta. - resmunguei. -Ao invés de parar e ajudar uma pessoa seminua e cheia de sangue na beira da estrada, vamos apenas buzinar e pensar em como ela é gostosa. Ainda checando minha bolsa e as roupas, eu mal reparei que meu