Blake tinha acabado de me contar uma de suas piadas sórdidas quando ela apareceu. Tinha visto quando entrou no salão cinco minutos antes, é claro. Com seus cabelos castanhos, curvas de matar e olhos verdes que reluziam era difícil não notá-la. Antes mesmo que ela surgisse, seu cheiro a denunciou, uma mistura de hortelã e algo doce, que fez meu corpo todo tremer em excitação. Era tão estonteante que quase não percebi que havia um Alfa com ela.
Não era estranho os Alfas circularem por aqui. O Dark Night era um clube exclusivo, onde muitos Alfas vinham fazer suas negociações - exatamente por isso eu e Blake escolhemos vir para cá quando deixamos o bando do nosso pai. Era o último lugar que ele iria querer nos ver e por isso era o lugar certo para nós.
Porém, humanos não eram comuns ali e a garota era com certeza humana.
Levei alguns segundos para entender o que estava acontecendo quando ela entrou gritando para que corrêssemos. Minha concentração se focou nela assim que ela surgiu do meio do nada, vindo em minha direção. Era como um sonho bom em que uma gostosa te quer e você só tem que esperar pela parte boa. Mas quando vi sua expressão de puro terror, o ar mudou, acendendo imediatamente meus instintos.
Fervendo, meu corpo se transformou em tempo recorde, músculos e ossos se partindo e se curando como mágica. A dor foi terrível, mas quando ela passou por mim eu já estava pronto. Me coloquei imediatamente à frente dela, protegendo-a com meu corpo e esperando que o Alfa que vi antes aparecesse. Apurei os ouvidos, captando os grunhidos usuais de quando Blake se transformava em contraste com o silêncio mortal no resto do salão.
-Vocês precisam fugir! - a garota atrás de mim praticamente ordenou, histérica, me acertando alguns t***s nas costas, como se isso fosse o suficiente para me convencer.
Antes que eu pudesse me mover, contudo, o Alfa pulou das sombras. O lobo era tão grande quanto meu pai, o corpo coberto de pelos cinza-avermelhados e os olhos amarelos. Não desviei do ataque, chocando meu corpo contra o dele em uma explosão de dor. Teria sido mais fácil ganhar tempo e cansá-lo até Blake me ajudar, porém, essa era uma típica situação de proteção de refém e eu não podia desviar ou a garota seria o alvo.
Tentando mantê-lo longe de Blake e da garota, prendi o Alfa ao chão com minhas patas, esquivando de suas mordidas e tentando acertar as minhas próprias. Isso durou menos tempo do que eu gostaria. Ele se soltou com facilidade, indo direto para a cavidade entre meu ombro e meu pescoço. Seus dentes se enterraram fundo em minha carne e eu uivei de raiva.
Chacoalhei meu corpo com toda força, lançando o Alfa para longe. Ele bateu contra uma barreira invisível, levando consigo um pedaço da minha pele. Recuei para mais perto de Blake e da garota, me preparando para uma emboscada. A barreira indicava que uma bruxa o estava ajudando e se isso fosse verdade, não era bom sinal. Eu precisava de reforço o quanto antes.
Analisando minhas opções, senti a presença da garota atrás de mim, mas quando me virei para onde Blake estava, ele havia sumido.
-Procurando por algo?
Uma voz melodiosa veio da minha esquerda e eu pulei para encará-la, agachando-me em posição de ataque. A bruxa tinha um sorriso odioso em seu rosto, o olhar de triunfo capaz de subjugar qualquer Alfa. Aos seus pés Blake jazia inconsciente, sua forma humana ainda em meio a transformação, com mãos em garras e pelos espalhados pelo corpo. Tomado pela fúria, eu me preparei para rasgá-la ao meio, mas o Alfa partiu em minha direção, me obrigando a recuar.
Estava cercado de ambos os lados, com a garota atrás de mim tentando dizer algo, mas assim que a bruxa surgiu, abafou completamente sua voz com magia. Isso só me irritou ainda mais, mas se eu deixasse minha posição, ela não duraria nem um segundo contra qualquer um deles. Se não fizesse nada, a situação seria pior ainda.
-Ele vai ser a cobaia perfeita, Robert. -a bruxa falou, suas palavras cheias de poder fazendo minha visão ficar turva. -Já tem os instintos no lugar certo. - olhou para Blake como se ele fosse seu novo brinquedo. -Só precisa da motivação certa.
Ela estalou os dedos e Blake voou a mais de dois metros de altura, seu corpo suspenso por fios invisíveis. Me lancei contra ela, cego pelo ódio. Meus músculos me impulsionaram para frente com velocidade. Abri a boca, pronto para o golpe final.
E então ela riu.
E eu percebi como tinha sido idiota.
O Alfa aproveitou minha distração para me derrubar, imitando o golpe que tinha dado nele a menos de cinco minutos. Dessa vez o impacto foi maior, e eu senti algo se quebrando em minhas costelas. Já totalmente rendido, preso no chão contra seu corpo, ele pressionou minha cabeça com uma das patas, me obrigando a ver a cena diante de mim.
A bruxa tinha ambas as mão erguidas, as pontas dos dedos brilhando. A garota esperneava no ar, na mesma altura de Blake, lutando inutilmente para se libertar. Linhas vermelho escarlate saíam do corpo dela e iam até o dele, ligando-os. Meu coração disparou quando entendi o que estava acontecendo.
Me debati com raiva, arranhando o Alfa na barriga e arrancando tufos de pelo ruivos. Ele rosnou, batendo os dentes perto do meu focinho, em um claro sinal de superioridade. Eu tentei rolar sobre meu corpo para me libertar, mas ele era mais pesado do que eu. Enquanto lutávamos, a bruxa continuava sua ladainha incompreensível. Já tinha visto isso antes, era língua antiga. Por isso, quando ela mexeu seus dedos manipulando os fios e atando os últimos nós entre eles eu soube que a maldição estava completa.
Porque era isso que era, eu podia sentir em meus ossos.
Ela me olhou ao terminar, lambendo os lábios se deliciando com o resto de poder que havia no ar. Seus olhos brilhavam de uma excitação que me fez querer partí-la ao meio. Ela trouxe os braços para baixo, descendo Blake com violência. A garota, contudo, foi baixada com uma delicadeza cruel, como se fosse feita de cristal. Seu corpo agora estava imóvel, deitado contra a pista de dança. A bruxa fixou seus olhos no Alfa, os quadris dançando enquanto ela andava em direção à nossa batalha, totalmente focada no lobo.
-Está feito, meu amor. -ela sibilou.
O lobo entendeu o sinal de sua parceira, me largando como se eu fosse um brinquedo do qual ele já não tinha mais interesse. Quando achei que teria uma brecha para fugir, ele se virou para mim, os dentes reluzindo com meu sangue. Lutei para me manter em pé, tentando enfrentá-lo de frente. Então o Alfa atacou uma última vez.
E eu soube que ele terminaria o que começou.
MaeveAcordei com o barulho do motor do meu carro sendo acelerado ao máximo. Meio grogue, me levantei com a cabeça explodindo e olhei ao redor, tentando entender o que tinha acontecido. Mas a cena era caótica demais para eu sequer absorver, quanto mais entender.Ao meu lado, o homem de cabelos pretos que tentou me proteger, estava coberto por uma lona preta, apenas a cabeça de fora. Ele gemia, os olhos fechados com força e os cabelos grudados à testa pelo suor. Seu rosto estava vermelho e cheio de hematomas, com olheiras fundas se formando em bolsas ao redor dos olhos. Da cabeça para baixo, não havia um pedaço de pele que não estivesse roxo pelos hematomas ou coberto do sangue que vertia da mordida no pescoço.No banco da frente, contudo, a cena parecia vinda de outra dimensão.A bruxa dirigia animada, cantando o que parecia ser uma versão em rock de “Oh, happy day”. Seus cabelos estavam desgrenhados, a roupa amassada e a maquiagem desfeita. Enojada, eu não precisei ver o chupão em se
MaeveCurar alguém sempre foi algo difícil para mim. A cura em si não apresentava dificuldade alguma, pelo contrário, toda vez havia sido natural. A energia fluí de mim fácil como uma respiração, envolvendo a outra pessoa e trabalhando para curá-la. É quase como montar um quebra cabeça - só preciso conectar os pontos certos e tudo fica bem.A parte difícil é lidar com a intimidade.Curar alguém é tocar nessa pessoa. Em todas as partes. A energia que flui é parte de mim e percorre todas as partes machucadas de alguém. Às vezes um toque superficial é o suficiente. Mas hoje esse não era o caso. As lesões dele eram profundas e se espalhavam por quase todo o corpo.Suspirei, me concentrando para bloquear a presença da bruxa, me observando pelo espelho retrovisor. Tirei a camiseta de cima do machucado, passando a pressioná-lo com minha mão esquerda. A direita posicionei em sua testa, que ardia sob meu toque. Ele gemeu com o meu contato, claramente tão incomodado quanto eu com aquilo.Fechei
Maeve Seu grito quase me ensurdeceu. Atônita, eu vi ele discar frenéticamente o número no celular, ficando cada vez mais irritado quando não conseguia. Ver ele fazer aquilo estava me irritando. Ele podia só estar vendo um lado da situação, mas eu não era obrigada a aturar sua babaquice só porque ele era desinformado. Precisando de ar, abri a porta do carona, sentindo o ar frio em meu corpo seminu. Caminhei até o porta-malas, ignorando as buzinas dos carros que passavam. Lá dentro, encontrei uma sacola com duas mudas de roupa, minha bolsa e um bilhete com o endereço do bando. É, com certeza isso é tudo que precisamos para viver. Trincando os dentes, peguei minha bolsa para checar se meus cartões de crédito ainda estavam ali, quando mais uma buzina soou. -Filho da puta. - resmunguei. -Ao invés de parar e ajudar uma pessoa seminua e cheia de sangue na beira da estrada, vamos apenas buzinar e pensar em como ela é gostosa. Ainda checando minha bolsa e as roupas, eu mal reparei que meu
MaeveEu estava esgotada demais para argumentar com Trevor, e nós dois precisávamos urgentemente de um banho acompanhado de uma boa noite de sono. Por isso, me virei para o lado, memorizando o caminho que fazíamos na estrada e evitei olhar para ele. Com o cansaço que estava, em menos de cinco minutos eu apaguei, o vai e vem da estrada embalando meu cochilo.Despertei assustada com um som alto e abafado. Me preparei para o que quer que tivesse acontecido, só para ver Trevor do lado de fora do carro, seu sorriso de lado rindo de mim. Irritada, sai do carro, fechando a porta do carro com todo cuidado, terminando o movimento com uma mesura, enfatizando a gentileza com a qual tratei meu bebê.-Agora me devolve a chave, antes que eu faça você se arrepender de ter batido a porta. - estendi a mão para ele, apertando os olhos em irritação.Ele riu, o olhar divertido fazendo minha concentração falhar. Por que os mais babacas sempre são os mais irresistíveis?-Para uma humana, tenho que admitir
MaeveRespirei fundo, inalando seu aroma maravilhoso. Meu coração acelerou por um instante quando seus olhos fisgaram os meus. Mordi o lábio, contendo a vontade de beijá-lo. Era errado eu querer Trevor. Eu era a última pessoa que ele deveria ter ao lado e ele tão pouco era o cara certo para mim. Mas a verdade era que fazia tempo que eu não transava com ninguém e ele com certeza parecia certo para isso.Mas então ele abriu a boca e todo o encanto se desfez.-Se você não fosse filha de Robert, já estaria na minha cama.Toda a excitação foi substituída por uma onda de raiva. Trinquei os dentes, fuzilando-o com o olhar antes de me esgueirar por baixo da jaula que ele tinha feito com os braços. Trevor não ofereceu resistência, um sorriso presunçoso estampado em seu rosto. Fui até a cama, pegando uma toalha e a atirando em sua cara. Obviamente ele foi mais rápido e a pegou no ar, só me deixando mais irritada.-Deixa de ser convencido e vai logo limpar essa sujeira. - cruzei os braços o enca
TrevorMaeve era pior do que eu tinha imaginado. Quando a conheci, achei que seria fácil conquistá-la. Mesmo depois do caos da luta com seu pai e a descoberta da maldição, seduzí-la parecia ser a coisa mais simples a ser feita. Eu a traria para meu lado, usando sua influência como filha do Alfa para conseguir libertar Blake. E depois matar todos.Não havia porquê mantê-los vivos depois do que fizeram. Eram uma ameaça real à nossa segurança. Eu e Blake tínhamos decidido desertar do bando de nosso pai - um completo babaca, tenho que dizer - para viver como lobos solitários. Nosso tempo no exército tinha nos ensinado tudo que precisávamos saber para nossos serviços como mercenários. Somos os melhores no que fazemos, entrando e saindo sem ser notados. Poucos sabem sobre nós e por isso cobramos caro.No dia do ataque estávamos observando o Alfa dono do Dark Night, nosso próximo alvo, quando fomos pegos de surpresa. Eu devia ter notado que a bruxa estava perto. Devia ter sentido a magia no
MaeveEu nunca havia tido problemas com outros lobos antes. Eu e vovó moramos a vida toda em uma cidade universitária pequena, bem longe de qualquer bando. Ela sempre me disse que a escolha de cidade não tinha nada a ver com isso, mas eu sabia que ela fazia de tudo para me manter em segurança. Robert dizia que minha sorte em ser dormente era que a maioria dos lobos achava que eu era humana.Mas minha sorte tinha acabado.Quando deixei Trevor na fila do mercado, estava com a cabeça em outro lugar. Ele tinha enchido o carrinho de coisas para nós dois, em momento algum parecendo se importar com o preço de tudo. E é claro que ele não se importaria, já que os cart&oti
Maeve-Dirige.-Eu preciso... -eu o calei com uma mão levantada.-Se não chegarmos até o bando hoje à noite, teremos sérios problemas. - ele me olhou de cara fechada, ainda não estando convencido. -Eu respondo três perguntas suas, mas só se você responder três minhas.-Não tem como nos conhecermos bem o suficiente para enganar o bando só com três perguntas.Ele tinha razão, mas eu não estava interessada em deixar Trevor me conhecer. Nunca.-É o que eu consigo te dar hoje. - virei para o lado, fingindo começar a dormir. - É pegar ou largar.Ele pensou um pouco, ligando o ca