Curar alguém sempre foi algo difícil para mim. A cura em si não apresentava dificuldade alguma, pelo contrário, toda vez havia sido natural. A energia fluí de mim fácil como uma respiração, envolvendo a outra pessoa e trabalhando para curá-la. É quase como montar um quebra cabeça - só preciso conectar os pontos certos e tudo fica bem.
A parte difícil é lidar com a intimidade.
Curar alguém é tocar nessa pessoa. Em todas as partes. A energia que flui é parte de mim e percorre todas as partes machucadas de alguém. Às vezes um toque superficial é o suficiente. Mas hoje esse não era o caso. As lesões dele eram profundas e se espalhavam por quase todo o corpo.
Suspirei, me concentrando para bloquear a presença da bruxa, me observando pelo espelho retrovisor. Tirei a camiseta de cima do machucado, passando a pressioná-lo com minha mão esquerda. A direita posicionei em sua testa, que ardia sob meu toque. Ele gemeu com o meu contato, claramente tão incomodado quanto eu com aquilo.
Fechei os olhos, mentalizando seu rosto e deixei a energia fluir. A sensação conhecida de ser puxada para baixo apareceu, logo sendo substituída pela presença do corpo dele sob mim. Era musculoso e firme. Me foquei na mordida no pescoço primeiro, ignorando o formigamento de tê-lo em contato comigo.
Imaginei minhas mãos puxando os músculos, conectando as beiradas da ferida, juntando as veias em uma dança tranquila. Conforme eu tecia, ele gemia e esse era o indicativo de que estava funcionando. Coloquei mais energia em meu toque, fazendo a pele crescer lisa onde antes a lesão estava exposta. Terminando a parte mais crítica, usei a última parte da energia que me restava para suas costelas. Quando as toquei, constatei que já tinham se curado, assim como seus hematomas. Provavelmente sua própria cura estava ajudando-o agora que a pior parte tinha passado.
Exausta, tirei minhas mãos dele, recostando a cabeça no banco. Abri os olhos, trêmula, suor pingando pelas minhas costas pelo esforço. Colocar ossos no lugar e fechar machucados era uma coisa, mas fazer crescer músculos e ossos exigia muito toda vez.
Ao meu lado, ele se moveu, sentando num sobressalto. Agitado, ele olhou ao redor, buscando uma saída como um animal enjaulado. Antes que eu conseguisse dizer algo, a conhecida energia o nocauteou, mantendo ele preso ao lugar. Seus olhos azuis brilharam claros e eu sabia o que estava por vir.
-Ei, ei! -disse colocando a mão em seu braço e gesticulando para a bruxa parar. -Já chega disso, não vou poder curar ele de novo.
A bruxa diminuíu a pressão, oferecendo seu sorriso mais largo.
-Ainda não fomos apresentados. -ela estendeu uma mão, como se estivesse em uma entrevista de emprego. -Leona Dupree.
Ele rosnou, olhando de mim para ela. Quando percebeu que eu não estava fugindo dela, puxou seu braço com violência, tirando minha mão.
-Cadê o Blake? - seu olhar veio para mim agora, inflado de ódio.
Leona levantou um dedo, animada.
-É exatamente aí que eu queria chegar! Vamos às apresentações: Maeve, Trevor. Trevor, Maeve. - eu não me mexi, cansada demais para lidar com suas gracinhas. -A partir de agora, você Trevor, será o guarda-costas da nossa princesinha.
Ela bateu palmas.
E eu achei que iria vomitar.
-O que? - ele perguntou como se ela estivesse louca. Tinha que admitir que talvez ela estivesse.
-Seu querido irmão está eternamente ligado à nossa princesa Maeve. - ele empalideceu e eu me senti afundar no banco do carro. -Maevezinha é a filha de Robert, o Alfa que você teve o prazer de conhecer. -ele me encarou com nojo e a vontade de vomitar aumentou. -Nosso Robert não pode ter nenhum impecilho enquanto conquista novos territórios na guerra que está por vir. Por isso, você, Trevor. Posso te chamar de Trev? -ela fez que não com a cabeça. -Estou me perdendo com tanta animação.
Trevor rosnou e ela riu.
-Ah, você é o espécime perfeito para o trabalho! Bom, continuando. Por isso, Trev, você e Maeve vão se mudar para o bando do tio de Maeve e fingir que são primos.
A overdose de informações me deixou tonta.
-Eu tenho um tio?
-Lá, absolutamente ninguém pode saber quem ela é, pelo bem do futuro dos lobos. E você vai garantir que isso aconteça. E que ela não morra, claro.
O silêncio permaneceu quando ela terminou. Nós dois ficamos imóveis, digerindo o que ela tinha dito. Meu guarda-costas? O que meu pai estava pensando? Não ousei olhar para Trevor, certa de que se o fizesse ele me mataria.
E eu não estava errada.
Se movendo em um borrão, ele me puxou para o seu lado, as mãos em minha garganta. Garras cresceram de seus dedos e ele rosnou uma ameaça para a bruxa. Parecendo cansada, ela olhou para nós com pena.
-Trevor, ainda bem que coloquei uma cueca em você. - ela riu. -Não que a visão seria indesejada.
Ele apertou minha garganta e eu gemi em busca de ar. Qualquer indício de brincadeira desapareceu do rosto de Leona.
-No instante em que falamos, seu irmão deve estar lutando para respirar. -ele mostrou os dentes e eu senti sua mão tremer em minha garganta. -Toda dor que Maeve sente, seu irmão também sente. - ela o fitou com intensidade, marcando cada palavra. -Se ela morrer, ele morre.
Ele me soltou na mesma hora e eu engolfou uma grande quantidade de ar, tossindo e arfando.
-Onde ele está? - ele grunhiu, os pulsos tremendo para controlar o impulso assassino.
Leona soltou um riso seco.
-Está perfeitamente bem, servindo nosso Alfa. Cumpra sua parte e ele continuará assim.
Engoli em seco, tentando controlar a vontade de chorar. Não tinha pedido por nada disso. Preferia morrer a viver como prisioneira de Robert. Parecendo ler meus pensamentos, Leona me olhou de canto de olho.
-Robert tem interesse em você viva. -então adicionou. -E te conhecendo, sei que você não quer que Trevor perca seu amado irmão. Quer?
Uma lágrima escorreu e eu a sequei rapidamente.
-Quero falar com Blake. - exigiu Trevor, a voz cheia de poder. Ondas alfa tomaram o ambiente do carro, fazendo a bruxa fechar os olhos para se equilibrar.
-Ora, ora. Nosso Trevor é cheio de surpresas. - ela sorriu, entregando um celular para ele. -Aqui, sinta-se à vontade para falar com seu irmãozinho quando quiser. -ele pegou o celular de sua mão, começando a discar o número. -No porta-malas tem tudo que precisam.
Ela olhou dele para mim, sorrindo triunfante. Abriu a porta, invadindo a rodovia movimentada e recebendo várias buzinas irritadas. Só quando ela subiu na moto, foi que percebi que tínhamos parado ao lado do veículo. Ela acelerou pegando a estrada e deixando nós dois sozinhos.
Trevor discou algumas vezes no celular, tentando contanto com Blake antes que eu conseguisse pensar em algo para dizer.
-Eu…
-CALA A BOCA!
Maeve Seu grito quase me ensurdeceu. Atônita, eu vi ele discar frenéticamente o número no celular, ficando cada vez mais irritado quando não conseguia. Ver ele fazer aquilo estava me irritando. Ele podia só estar vendo um lado da situação, mas eu não era obrigada a aturar sua babaquice só porque ele era desinformado. Precisando de ar, abri a porta do carona, sentindo o ar frio em meu corpo seminu. Caminhei até o porta-malas, ignorando as buzinas dos carros que passavam. Lá dentro, encontrei uma sacola com duas mudas de roupa, minha bolsa e um bilhete com o endereço do bando. É, com certeza isso é tudo que precisamos para viver. Trincando os dentes, peguei minha bolsa para checar se meus cartões de crédito ainda estavam ali, quando mais uma buzina soou. -Filho da puta. - resmunguei. -Ao invés de parar e ajudar uma pessoa seminua e cheia de sangue na beira da estrada, vamos apenas buzinar e pensar em como ela é gostosa. Ainda checando minha bolsa e as roupas, eu mal reparei que meu
MaeveEu estava esgotada demais para argumentar com Trevor, e nós dois precisávamos urgentemente de um banho acompanhado de uma boa noite de sono. Por isso, me virei para o lado, memorizando o caminho que fazíamos na estrada e evitei olhar para ele. Com o cansaço que estava, em menos de cinco minutos eu apaguei, o vai e vem da estrada embalando meu cochilo.Despertei assustada com um som alto e abafado. Me preparei para o que quer que tivesse acontecido, só para ver Trevor do lado de fora do carro, seu sorriso de lado rindo de mim. Irritada, sai do carro, fechando a porta do carro com todo cuidado, terminando o movimento com uma mesura, enfatizando a gentileza com a qual tratei meu bebê.-Agora me devolve a chave, antes que eu faça você se arrepender de ter batido a porta. - estendi a mão para ele, apertando os olhos em irritação.Ele riu, o olhar divertido fazendo minha concentração falhar. Por que os mais babacas sempre são os mais irresistíveis?-Para uma humana, tenho que admitir
MaeveRespirei fundo, inalando seu aroma maravilhoso. Meu coração acelerou por um instante quando seus olhos fisgaram os meus. Mordi o lábio, contendo a vontade de beijá-lo. Era errado eu querer Trevor. Eu era a última pessoa que ele deveria ter ao lado e ele tão pouco era o cara certo para mim. Mas a verdade era que fazia tempo que eu não transava com ninguém e ele com certeza parecia certo para isso.Mas então ele abriu a boca e todo o encanto se desfez.-Se você não fosse filha de Robert, já estaria na minha cama.Toda a excitação foi substituída por uma onda de raiva. Trinquei os dentes, fuzilando-o com o olhar antes de me esgueirar por baixo da jaula que ele tinha feito com os braços. Trevor não ofereceu resistência, um sorriso presunçoso estampado em seu rosto. Fui até a cama, pegando uma toalha e a atirando em sua cara. Obviamente ele foi mais rápido e a pegou no ar, só me deixando mais irritada.-Deixa de ser convencido e vai logo limpar essa sujeira. - cruzei os braços o enca
TrevorMaeve era pior do que eu tinha imaginado. Quando a conheci, achei que seria fácil conquistá-la. Mesmo depois do caos da luta com seu pai e a descoberta da maldição, seduzí-la parecia ser a coisa mais simples a ser feita. Eu a traria para meu lado, usando sua influência como filha do Alfa para conseguir libertar Blake. E depois matar todos.Não havia porquê mantê-los vivos depois do que fizeram. Eram uma ameaça real à nossa segurança. Eu e Blake tínhamos decidido desertar do bando de nosso pai - um completo babaca, tenho que dizer - para viver como lobos solitários. Nosso tempo no exército tinha nos ensinado tudo que precisávamos saber para nossos serviços como mercenários. Somos os melhores no que fazemos, entrando e saindo sem ser notados. Poucos sabem sobre nós e por isso cobramos caro.No dia do ataque estávamos observando o Alfa dono do Dark Night, nosso próximo alvo, quando fomos pegos de surpresa. Eu devia ter notado que a bruxa estava perto. Devia ter sentido a magia no
MaeveEu nunca havia tido problemas com outros lobos antes. Eu e vovó moramos a vida toda em uma cidade universitária pequena, bem longe de qualquer bando. Ela sempre me disse que a escolha de cidade não tinha nada a ver com isso, mas eu sabia que ela fazia de tudo para me manter em segurança. Robert dizia que minha sorte em ser dormente era que a maioria dos lobos achava que eu era humana.Mas minha sorte tinha acabado.Quando deixei Trevor na fila do mercado, estava com a cabeça em outro lugar. Ele tinha enchido o carrinho de coisas para nós dois, em momento algum parecendo se importar com o preço de tudo. E é claro que ele não se importaria, já que os cart&oti
Maeve-Dirige.-Eu preciso... -eu o calei com uma mão levantada.-Se não chegarmos até o bando hoje à noite, teremos sérios problemas. - ele me olhou de cara fechada, ainda não estando convencido. -Eu respondo três perguntas suas, mas só se você responder três minhas.-Não tem como nos conhecermos bem o suficiente para enganar o bando só com três perguntas.Ele tinha razão, mas eu não estava interessada em deixar Trevor me conhecer. Nunca.-É o que eu consigo te dar hoje. - virei para o lado, fingindo começar a dormir. - É pegar ou largar.Ele pensou um pouco, ligando o ca
MaeveTrevor ficou imóvel por cinco segundos.Então ele sorriu.E gargalhou.-Ah, Maeve. - sua risada era grave, barulhenta. Eu quis esganá-lo.-Eu estou falando sério. - repliquei, irritada. Ele não me deu ouvidos.-Não sei o que é mais engraçado, - sua risada foi diminuindo conforme ele falava. - você achar que pode me convencer de que é uma Ômega, -ele se virou completamente para mim, todo o senso de humor substituído pela raiva. - ou achar que pode mentir para mim.-Não estou mentindo. -disse s
MaeveMaeve: O que você quer?Robert: Informações. Meu irmão não é tão confiável quanto parece e por isso quero que você me passe relatórios diários sobre tudo que acontece no bando.Suspirei, massageando a ponte do nariz. É óbvio que Robert teria mais a ganhar nisso tudo.Maeve: Sem foto, sem acordo.Ele enviou a foto. Vovó estava jantando com outras senhoras. A cena era aparentemente normal, mas eu reconheci o olhar opaco e perdido que já tinha visto tantas vezes. Meus olhos imediatamente encheram de lágrimas. Será