Eu estava esgotada demais para argumentar com Trevor, e nós dois precisávamos urgentemente de um banho acompanhado de uma boa noite de sono. Por isso, me virei para o lado, memorizando o caminho que fazíamos na estrada e evitei olhar para ele. Com o cansaço que estava, em menos de cinco minutos eu apaguei, o vai e vem da estrada embalando meu cochilo.
Despertei assustada com um som alto e abafado. Me preparei para o que quer que tivesse acontecido, só para ver Trevor do lado de fora do carro, seu sorriso de lado rindo de mim. Irritada, sai do carro, fechando a porta do carro com todo cuidado, terminando o movimento com uma mesura, enfatizando a gentileza com a qual tratei meu bebê.
-Agora me devolve a chave, antes que eu faça você se arrepender de ter batido a porta. - estendi a mão para ele, apertando os olhos em irritação.
Ele riu, o olhar divertido fazendo minha concentração falhar. Por que os mais babacas sempre são os mais irresistíveis?
-Para uma humana, tenho que admitir que você é bem corajosa. - ele me entregou a chave, passando por mim e indo em direção à entrada da pousada.
-Eu não sou humana. -disse num tom mais baixo do que eu gostaria, acompanhando sua passada larga. O prédio mais parecia uma casa grande do que um hotel, com alguns caminhoneiros chegando para passar a noite.
Ele franziu o cenho, me olhando por cima do ombro. Farejou o ar e então me olhou confuso.
-Não, você definitivamente é humana.
Sua confiança me irritou profundamente. Tinha que ser muito convencido para declarar algo assim sobre alguém que nem conhecia. Escolhendo não me estressar com seu temperamento, segui para a recepção, deixando ele e suas definições sobre seres humanos para trás.
A recepcionista me recebeu com um sorriso tímido, o qual eu retribuí o melhor que pude. Ela apresentou as opções do lugar, explicando sobre o pagamento e o horário de saída. Enquanto ela falava, vi seu olhar correr para trás de mim quando Trevor entrou, as bochechas corando imediatamente.
-Vamos ficar dois quartos de solteiro. - falei, querendo encerrar a conversa e ir logo para o chuveiro, mas Trevor tinha outra opinião a respeito.
-Vamos querer um quarto duplo. Camas separadas, o mais próximo do estacionamento. De preferência sem janelas.
Me virei para ele, incrédula.
-Você não pode estar falando sério.
Ele se aproximou de mim, se abaixando para falar apenas comigo. O gesto me pegou de surpresa, mas eu não recuei. Seu cheiro inebriante me atingiu em cheio, seus olhos azuis brilhantes fazendo meu coração bater mais rápido. Quando ele falou, arrepios percorreram meu corpo todo.
-Como eu vou te proteger se estivermos em quartos separados? -ele sussurrou, a voz grave deixando minha boca seca.
Ele tinha um bom ponto. Mas mesmo assim, ficar no mesmo quarto que ele… Eu estava me mantendo firme diante de seu temperamento agressivo e não me deixando abalar pela sua inegável beleza. E já estava sendo difícil até demais para uma convivência de poucas horas. Eu precisava me afastar dele para continuar me mantendo assim. Urgentemente.
-Podemos ficar em quartos vizinhos.
Ele negou com a cabeça, caindo na testa em uma onda que o deixa ainda mais com a aparência de badboy. Me afastei um pouco, precisando de espaço.
-Você sabe que os inimigos do seu pai não vão pegar leve.
Queria corrigi-lo dizendo que Robert não era meu pai, mas tinha outros problemas mais importantes no momento. Considerei as opções e vi que ele tinha razão dessa vez. Resignada, me virei para a recepcionista, lhe entregando o cartão para que descontasse o quarto duplo.
-Mas não temos nenhum quarto sem janelas. - ela acrescentou baixinho.
Trevor ia protestar, mas eu o cortei.
-Que bom, mostra que vocês tem bom senso. - disse enquanto olhava para ele para reforçar meu ponto.
Incomodada, peguei a chave e o segui para fora. Toda a situação me deixava extremamente desconfortável. Eu precisava provar meu ponto, defender meu território. Ele não podia entrar na minha vida e fazer o que quisesse, dizer o que quisesse. Não comigo calada. Parte de mim sabia que Trevor também não tinha escolhido nada disso, mas eu sabia igualmente que se eu não estabelecesse limites, era minha segurança que estaria ameaçada.
Então fiz a coisa mais infantil que poderia ter pensado.
-Eu não sou humana. - declarei.
Ele me olhou, arqueando a sobrancelha.
-Você cheira como uma.
Eu ajeitei a postura, projetando minha voz para que saísse firme.
-Só porque eu não tenho cheiro de cachorro molhado, não significa que eu não sou um lobisomen. - uma veia saltando em sua testa me disse que eu o tinha atingido, então continuei para não perder a oportunidade. - Chama-se banho. Você deveria tentar de vez em quando.
Trevor parou em frente à porta do quarto, fazendo com que eu parasse bruscamente para não me chocar contra ele. Com uma lentidão doentia, ele se virou para mim. Seus olhos brilhavam de um jeito perigoso, um claro aviso que eu tinha esgotado sua paciência. Deu um passo à frente, me obrigando a recuar contra o beiral da varanda. Meu coração disparou quando ele diminuiu ainda mais a distância entre nós, deixando-nos a apenas alguns centímetros de nos tocarmos.
-Eu não sou seu aliado, princesa. - ele sussurrou, perto demais para a minha segurança. -Não pense que pode me tratar como um qualquer. Eu vou quebrar a maldição que liga você a Blake e então você, seu pai e aquela vadia vão se arrepender do dia que cruzaram o meu caminho.
Suas palavras eram como uma navalha contra minha garganta, uma promessa de morte. Engoli em seco, sustentando seu olhar. Dentro de mim, por baixo de todo o medo, um fogo se acendeu, me impelindo para frente. Eu me aproximei de Trevor, eliminando a distância que restava, praticamente encostando meu corpo no dele.
-Não me chame de princesa. -cada palavra saiu com uma força que eu mesma desconhecia. Ele continuou me encarando, mas pude perceber que o tinha pego de surpresa. -Você não me conhece, lobo, e eu prefiro que a gente continue assim. - eu sorri, lembrando de suas palavras no carro. -Se você não consegue ver a loba em mim, isso diz mais sobre você do que sobre mim.
Ele me olhou, atônito. Gravei sua cara de choque na memória, aproveitando meu momento de triunfo, antes de ir para o quarto. Abri a porta, parando com a mão na maçaneta. Considerei por meio segundo terminar a discussão ali e ter paz. Então lembrei que a paz era algo que nunca existiu de verdade em minha vida. Um dia a mais sem ela não faria diferença.
-Mas não se preocupe, se você é inseguro quanto ao seu cheiro, não vou mais tocar na ferida.
Passei pela porta, antes que ele pudesse dizer algo. A adrenalina corria por minhas veias, a excitação me deixando trêmula. A verdade era que Trevor me dava calafrios - ele era alto e forte, com poder circundando-o, provavelmente um Alfa em ascenção. Nada o impedia de me matar além da vida do irmão. Quanto tempo levaria para ele se cansar e decidir se livrar de mim eu não sabia, mas enquanto estivéssemos nessa, eu teria medo dele.
E ele não poderia saber disso.
Para minha própria segurança.
Me senti um levemente melhor depois de me acalmar um pouco. Peguei uma das toalhas dobradas na cama, pronta para um merecido banho. Mas minha tranquilidade durou pouco, porque Trevor irrompeu quarto a dentro, seus olhos queimando com o azul vivo dos olhos de seu lobo.
Ele me cercou com seu corpo enorme, me impelindo a recuar, sem me tocar em momento algum. Nervosa, procurei por algo para usar como arma além da toalha em minha mão. Meu desespero aumentou quando bati na parede atrás de mim, me deixando totalmente sem saída. Sentindo meu nervosismo, ele se moveu lentamente, saboreando meu terror. Colocou uma mão acima de minha cabeça e a outra ao lado do meu ombro, seu corpo a centímetros do meu.
-Pelas suas críticas, acho que você não chegou perto o suficiente de mim, Maeve. -ele sussurrou com a voz rouca em meu ouvido. -Precisamos mudar isso.
MaeveRespirei fundo, inalando seu aroma maravilhoso. Meu coração acelerou por um instante quando seus olhos fisgaram os meus. Mordi o lábio, contendo a vontade de beijá-lo. Era errado eu querer Trevor. Eu era a última pessoa que ele deveria ter ao lado e ele tão pouco era o cara certo para mim. Mas a verdade era que fazia tempo que eu não transava com ninguém e ele com certeza parecia certo para isso.Mas então ele abriu a boca e todo o encanto se desfez.-Se você não fosse filha de Robert, já estaria na minha cama.Toda a excitação foi substituída por uma onda de raiva. Trinquei os dentes, fuzilando-o com o olhar antes de me esgueirar por baixo da jaula que ele tinha feito com os braços. Trevor não ofereceu resistência, um sorriso presunçoso estampado em seu rosto. Fui até a cama, pegando uma toalha e a atirando em sua cara. Obviamente ele foi mais rápido e a pegou no ar, só me deixando mais irritada.-Deixa de ser convencido e vai logo limpar essa sujeira. - cruzei os braços o enca
TrevorMaeve era pior do que eu tinha imaginado. Quando a conheci, achei que seria fácil conquistá-la. Mesmo depois do caos da luta com seu pai e a descoberta da maldição, seduzí-la parecia ser a coisa mais simples a ser feita. Eu a traria para meu lado, usando sua influência como filha do Alfa para conseguir libertar Blake. E depois matar todos.Não havia porquê mantê-los vivos depois do que fizeram. Eram uma ameaça real à nossa segurança. Eu e Blake tínhamos decidido desertar do bando de nosso pai - um completo babaca, tenho que dizer - para viver como lobos solitários. Nosso tempo no exército tinha nos ensinado tudo que precisávamos saber para nossos serviços como mercenários. Somos os melhores no que fazemos, entrando e saindo sem ser notados. Poucos sabem sobre nós e por isso cobramos caro.No dia do ataque estávamos observando o Alfa dono do Dark Night, nosso próximo alvo, quando fomos pegos de surpresa. Eu devia ter notado que a bruxa estava perto. Devia ter sentido a magia no
MaeveEu nunca havia tido problemas com outros lobos antes. Eu e vovó moramos a vida toda em uma cidade universitária pequena, bem longe de qualquer bando. Ela sempre me disse que a escolha de cidade não tinha nada a ver com isso, mas eu sabia que ela fazia de tudo para me manter em segurança. Robert dizia que minha sorte em ser dormente era que a maioria dos lobos achava que eu era humana.Mas minha sorte tinha acabado.Quando deixei Trevor na fila do mercado, estava com a cabeça em outro lugar. Ele tinha enchido o carrinho de coisas para nós dois, em momento algum parecendo se importar com o preço de tudo. E é claro que ele não se importaria, já que os cart&oti
Maeve-Dirige.-Eu preciso... -eu o calei com uma mão levantada.-Se não chegarmos até o bando hoje à noite, teremos sérios problemas. - ele me olhou de cara fechada, ainda não estando convencido. -Eu respondo três perguntas suas, mas só se você responder três minhas.-Não tem como nos conhecermos bem o suficiente para enganar o bando só com três perguntas.Ele tinha razão, mas eu não estava interessada em deixar Trevor me conhecer. Nunca.-É o que eu consigo te dar hoje. - virei para o lado, fingindo começar a dormir. - É pegar ou largar.Ele pensou um pouco, ligando o ca
MaeveTrevor ficou imóvel por cinco segundos.Então ele sorriu.E gargalhou.-Ah, Maeve. - sua risada era grave, barulhenta. Eu quis esganá-lo.-Eu estou falando sério. - repliquei, irritada. Ele não me deu ouvidos.-Não sei o que é mais engraçado, - sua risada foi diminuindo conforme ele falava. - você achar que pode me convencer de que é uma Ômega, -ele se virou completamente para mim, todo o senso de humor substituído pela raiva. - ou achar que pode mentir para mim.-Não estou mentindo. -disse s
MaeveMaeve: O que você quer?Robert: Informações. Meu irmão não é tão confiável quanto parece e por isso quero que você me passe relatórios diários sobre tudo que acontece no bando.Suspirei, massageando a ponte do nariz. É óbvio que Robert teria mais a ganhar nisso tudo.Maeve: Sem foto, sem acordo.Ele enviou a foto. Vovó estava jantando com outras senhoras. A cena era aparentemente normal, mas eu reconheci o olhar opaco e perdido que já tinha visto tantas vezes. Meus olhos imediatamente encheram de lágrimas. Será
MaeveCaminhei por entre as árvores indo atrás de Trevor, o coração disparado a única coisa que eu ouvia. Meu corpo tremia descontrolado e tudo que eu conseguia era focar em respirar. Comecei a suar, a tontura ameaçando aparecer.-Você vai por ali e eu vou… -ele parou de súbito ao cruzar o olhar com o meu. - O que aconteceu?Respirei fundo, mas o ar não chegou aos meus pulmões. Eu arfei, desesperada, minha visão começando a escurecer. Num instante Trevor estava ao meu lado, segurando meus ombros para que eu não caísse. Ele me olhava assustado, o terror evidente em seus olhos mesmo no escuro da floresta.-Maeve, se acalma.
TrevorAbsorvi o olhar de admiração de Maeve, como se fosse uma droga. Seus lábios levemente separados, a respiração ofegante, o coração disparado… e o seu cheiro. Eu sabia que ela me queria. E por Deus, como eu a desejava.A atração sempre existiu, mas depois de ter visto ela em perigo no mercado, algo em mim mudou. Provavelmente eram meus instintos protetores confundindo as coisas. Afinal, esse era o meu trabalho agora.Independente do que eu sentisse, quando eu olhava em seus olhos, eu via Robert. E lembrava que Blake estava refém dele.-Aqui. - enchi minha mão de sangue, me aproximando dela. -Agora só precisamos fazê-los acreditar que você me ajudou.Ela tocou minha mã