Acordei com o barulho do motor do meu carro sendo acelerado ao máximo. Meio grogue, me levantei com a cabeça explodindo e olhei ao redor, tentando entender o que tinha acontecido. Mas a cena era caótica demais para eu sequer absorver, quanto mais entender.
Ao meu lado, o homem de cabelos pretos que tentou me proteger, estava coberto por uma lona preta, apenas a cabeça de fora. Ele gemia, os olhos fechados com força e os cabelos grudados à testa pelo suor. Seu rosto estava vermelho e cheio de hematomas, com olheiras fundas se formando em bolsas ao redor dos olhos. Da cabeça para baixo, não havia um pedaço de pele que não estivesse roxo pelos hematomas ou coberto do sangue que vertia da mordida no pescoço.
No banco da frente, contudo, a cena parecia vinda de outra dimensão.
A bruxa dirigia animada, cantando o que parecia ser uma versão em rock de “Oh, happy day”. Seus cabelos estavam desgrenhados, a roupa amassada e a maquiagem desfeita. Enojada, eu não precisei ver o chupão em seu pescoço para saber que ela e Robert tinham transado depois da luta - o brilho doentio de seus olhos e o sorriso largo eram provas suficientes.
Entrando no modo médico, eu tirei minha camiseta, rasgando um pedaço e enrolando ao redor do ferimento que o homem tinha no pescoço. A atadura improvisada ficou ensopada no mesmo instante. Xingando, peguei toda a camiseta e pressionei o mais forte que pude no ferimento, torcendo para ser o suficiente, mas sabendo que não era.
-Uhul! A princesinha acordou pronta para a ação!
-Cala boca. - rosnei, segurando as lágrimas de raiva.
Ela riu, me fazendo querer acertar um soco em seu sorriso debochado.
-Pelo jeito um pouco de mágica fez você ficar corajosa. - ela me encarou pelo espelho retrovisor. -Cuidado para não morder a língua.
Respirei fundo, voltando minha atenção para o ferimento. Pelo jeito que ele ardia em febre, não duraria muito, mesmo sendo um lobisomem. Olhei ao redor, tentando me localizar, mas nada era familiar. Se ele não tivesse o cuidado adequado, iria morrer.
E a culpa seria minha.
-Aonde está nos levando?
-Achei que seu pai já tivesse explicado isso. - ela revirou os olhos diante do meu silêncio. -Para sua nova casa, é claro.
-Nova casa? - o pânico começou a crescer em mim ao pensar na minha vó me esperando em casa. -O que ele fez com minha avó?
-Nada, princesa. Pelo que eu saiba, sua avó a tempos precisava de cuidados médicos e nosso benevolente Alfa se dispôs a pagar as despesas. - ela sorriu. -Em troca da sua cooperação.
-Vadia! - eu cuspi, a raiva fervendo dentro de mim.
Seu olhar me encontrou pelo retrovisor e eu senti gosto de sangue na boca.
-Eu avisei. - ela voltou os olhos para a estrada. - Agora vamos ao que interessa. Seu pai tem grandes planos para o futuro do bando. E você, é claro, não está nele.
Engoli em seco.
-Não tenho pretensões de estar.
-Mas como você bem sabe, as coisas não são tão simples. - ela suspirou, ajeitando o cabelo. - O Alfa está prestes a conquistar novo território e se seus inimigos souberem da sua existência, ele pode perder muitos aliados.
Pressionei a camiseta com mais força. Já tinha ouvido aquela ladainha muitas vezes. Um primogênito fraco era sinal de um Alfa fraco. E um Alfa fraco não teria aliados.
-E porque tudo isso agora? Ninguém nunca descobriu sobre mim.
-Você não está acompanhando. -ela fez que não com a cabeça, acompanhado de um tsc, tsc, tsc que me fez querer arrancar seus olhos. -Estamos falando de guerra.
Meu sangue gelou.
-Ele ficou louco.
O carro deu uma guinada, a bruxa segurando o volante com uma mão, usou a outra para enviar ondas de choque pelo meu corpo. Arfei, lutando para manter minha mão no machucado que ainda sangrava perigosamente.
-Lave sua boca para falar do Alfa! - sua voz saíu grossa, como se se dividisse em muitas ao mesmo tempo. - Ingrata.
Ela voltou a atenção ao trânsito, me libertando de sua influência. Eu tossi, sangue respingando no banco traseiro. Ótimo. Porque eles nunca usavam o próprio carro?
-Agora, preste atenção. -ela encostou o carro no meio-fio, se virando para me encarar. -Você foi escolhida para ajudar seu pai em um experimento. Se der certo, isso levará seu pai e muitos outros a patamares nunca nates vistos. - ela baixou o tom de voz, suas palavras penetrando fundo em minha alma. - Robert sabe o que faz. E você será recompensada com os melhores cuidados para sua avó. - ela sorriu. -Não é incrível?!
Senti a bile subir em minha garganta.
Não, não era nada incrível ser refém de seu próprio pai em uma possível guerra suicida por poder.
-Agora, princesa, faça a nós duas o favor de curar o bonitinho aí.
Meu coração parou.
-E.. eu não sei do que você está falando. - gesticulei nervosa, as mãos trêmulas tateando as costas do homem sem por cima da lona. - Ele precisa de ataduras, antibióticos… Provavelmente uma cirurgia.
Ela me cortou com um aceno de mão descontraído, mas seus olhos eram muito sérios.
-Nós duas sabemos que você não precisa de nada disso. -ela sorriu. -Robert pode não ter notado, mas eu reconheço a magia quando a vejo. -ela empinou o queixo para o machucado tampado pela camiseta. -Então acabe logo com isso para que nós três possamos ter uma conversa civilizada.
Eu a encarei, as palavras presas em minha garganta.
-Não se preocupe, esse será um segredinho só nosso. - seu sorriso cresceu largo, mostrando todos os dentes como um lobo prestes a abocanhar sua presa. -Robert já tem muito com o que se preocupar e não é de meu interesse - ela fez uma pausa. - e, eu imagino, que não seja seu também, que ninguém mais saiba disso.
Eu hesitei.
-E porque?
Ela gargalhou.
-Ah, princesa. Precisamos passar mais tempo juntas. - ela se voltou para mim, o sorriso inexistente e os olhos faíscando. -Os meus interesses são assim. Pertencem apenas a mim. Agora, se você não quer deixar a sua única chance de sobrevivência nessa guerra sangrar até a morte, é melhor você curá-lo.
MaeveCurar alguém sempre foi algo difícil para mim. A cura em si não apresentava dificuldade alguma, pelo contrário, toda vez havia sido natural. A energia fluí de mim fácil como uma respiração, envolvendo a outra pessoa e trabalhando para curá-la. É quase como montar um quebra cabeça - só preciso conectar os pontos certos e tudo fica bem.A parte difícil é lidar com a intimidade.Curar alguém é tocar nessa pessoa. Em todas as partes. A energia que flui é parte de mim e percorre todas as partes machucadas de alguém. Às vezes um toque superficial é o suficiente. Mas hoje esse não era o caso. As lesões dele eram profundas e se espalhavam por quase todo o corpo.Suspirei, me concentrando para bloquear a presença da bruxa, me observando pelo espelho retrovisor. Tirei a camiseta de cima do machucado, passando a pressioná-lo com minha mão esquerda. A direita posicionei em sua testa, que ardia sob meu toque. Ele gemeu com o meu contato, claramente tão incomodado quanto eu com aquilo.Fechei
Maeve Seu grito quase me ensurdeceu. Atônita, eu vi ele discar frenéticamente o número no celular, ficando cada vez mais irritado quando não conseguia. Ver ele fazer aquilo estava me irritando. Ele podia só estar vendo um lado da situação, mas eu não era obrigada a aturar sua babaquice só porque ele era desinformado. Precisando de ar, abri a porta do carona, sentindo o ar frio em meu corpo seminu. Caminhei até o porta-malas, ignorando as buzinas dos carros que passavam. Lá dentro, encontrei uma sacola com duas mudas de roupa, minha bolsa e um bilhete com o endereço do bando. É, com certeza isso é tudo que precisamos para viver. Trincando os dentes, peguei minha bolsa para checar se meus cartões de crédito ainda estavam ali, quando mais uma buzina soou. -Filho da puta. - resmunguei. -Ao invés de parar e ajudar uma pessoa seminua e cheia de sangue na beira da estrada, vamos apenas buzinar e pensar em como ela é gostosa. Ainda checando minha bolsa e as roupas, eu mal reparei que meu
MaeveEu estava esgotada demais para argumentar com Trevor, e nós dois precisávamos urgentemente de um banho acompanhado de uma boa noite de sono. Por isso, me virei para o lado, memorizando o caminho que fazíamos na estrada e evitei olhar para ele. Com o cansaço que estava, em menos de cinco minutos eu apaguei, o vai e vem da estrada embalando meu cochilo.Despertei assustada com um som alto e abafado. Me preparei para o que quer que tivesse acontecido, só para ver Trevor do lado de fora do carro, seu sorriso de lado rindo de mim. Irritada, sai do carro, fechando a porta do carro com todo cuidado, terminando o movimento com uma mesura, enfatizando a gentileza com a qual tratei meu bebê.-Agora me devolve a chave, antes que eu faça você se arrepender de ter batido a porta. - estendi a mão para ele, apertando os olhos em irritação.Ele riu, o olhar divertido fazendo minha concentração falhar. Por que os mais babacas sempre são os mais irresistíveis?-Para uma humana, tenho que admitir
MaeveRespirei fundo, inalando seu aroma maravilhoso. Meu coração acelerou por um instante quando seus olhos fisgaram os meus. Mordi o lábio, contendo a vontade de beijá-lo. Era errado eu querer Trevor. Eu era a última pessoa que ele deveria ter ao lado e ele tão pouco era o cara certo para mim. Mas a verdade era que fazia tempo que eu não transava com ninguém e ele com certeza parecia certo para isso.Mas então ele abriu a boca e todo o encanto se desfez.-Se você não fosse filha de Robert, já estaria na minha cama.Toda a excitação foi substituída por uma onda de raiva. Trinquei os dentes, fuzilando-o com o olhar antes de me esgueirar por baixo da jaula que ele tinha feito com os braços. Trevor não ofereceu resistência, um sorriso presunçoso estampado em seu rosto. Fui até a cama, pegando uma toalha e a atirando em sua cara. Obviamente ele foi mais rápido e a pegou no ar, só me deixando mais irritada.-Deixa de ser convencido e vai logo limpar essa sujeira. - cruzei os braços o enca
TrevorMaeve era pior do que eu tinha imaginado. Quando a conheci, achei que seria fácil conquistá-la. Mesmo depois do caos da luta com seu pai e a descoberta da maldição, seduzí-la parecia ser a coisa mais simples a ser feita. Eu a traria para meu lado, usando sua influência como filha do Alfa para conseguir libertar Blake. E depois matar todos.Não havia porquê mantê-los vivos depois do que fizeram. Eram uma ameaça real à nossa segurança. Eu e Blake tínhamos decidido desertar do bando de nosso pai - um completo babaca, tenho que dizer - para viver como lobos solitários. Nosso tempo no exército tinha nos ensinado tudo que precisávamos saber para nossos serviços como mercenários. Somos os melhores no que fazemos, entrando e saindo sem ser notados. Poucos sabem sobre nós e por isso cobramos caro.No dia do ataque estávamos observando o Alfa dono do Dark Night, nosso próximo alvo, quando fomos pegos de surpresa. Eu devia ter notado que a bruxa estava perto. Devia ter sentido a magia no
MaeveEu nunca havia tido problemas com outros lobos antes. Eu e vovó moramos a vida toda em uma cidade universitária pequena, bem longe de qualquer bando. Ela sempre me disse que a escolha de cidade não tinha nada a ver com isso, mas eu sabia que ela fazia de tudo para me manter em segurança. Robert dizia que minha sorte em ser dormente era que a maioria dos lobos achava que eu era humana.Mas minha sorte tinha acabado.Quando deixei Trevor na fila do mercado, estava com a cabeça em outro lugar. Ele tinha enchido o carrinho de coisas para nós dois, em momento algum parecendo se importar com o preço de tudo. E é claro que ele não se importaria, já que os cart&oti
Maeve-Dirige.-Eu preciso... -eu o calei com uma mão levantada.-Se não chegarmos até o bando hoje à noite, teremos sérios problemas. - ele me olhou de cara fechada, ainda não estando convencido. -Eu respondo três perguntas suas, mas só se você responder três minhas.-Não tem como nos conhecermos bem o suficiente para enganar o bando só com três perguntas.Ele tinha razão, mas eu não estava interessada em deixar Trevor me conhecer. Nunca.-É o que eu consigo te dar hoje. - virei para o lado, fingindo começar a dormir. - É pegar ou largar.Ele pensou um pouco, ligando o ca
MaeveTrevor ficou imóvel por cinco segundos.Então ele sorriu.E gargalhou.-Ah, Maeve. - sua risada era grave, barulhenta. Eu quis esganá-lo.-Eu estou falando sério. - repliquei, irritada. Ele não me deu ouvidos.-Não sei o que é mais engraçado, - sua risada foi diminuindo conforme ele falava. - você achar que pode me convencer de que é uma Ômega, -ele se virou completamente para mim, todo o senso de humor substituído pela raiva. - ou achar que pode mentir para mim.-Não estou mentindo. -disse s