O garotinho acabara de aceitar o presente quando uma mulher de cerca de trinta anos apareceu apressada, visivelmente ofegante. — Senhorzinho, por que você anda tão rápido? — Ela reclamou, enquanto colocava uma máscara no rosto dele. — Eu já não falei que você tem que usar máscara? Aqui fora tem muita poeira. — No shopping não tem poeira nenhuma. — O menino resmungou, com ar aborrecido. — Ficar de máscara o tempo todo é sufocante. — Claro que tem. É cheio de gente andando para lá e para cá! — A mulher respondeu, olhando com estranheza para o pacote de bebidas lácteas nas mãos dele. Num movimento rápido, ela arrancou o pacote de suas mãos. — De onde veio isso, senhorzinho? Mônica interveio calmamente: — Fui eu que dei. Ele encontrou minha chave do carro e trouxe para mim. Só quis agradecê-lo... — Não precisava. Nosso senhorzinho não toma esse tipo de coisa. — A mulher respondeu com frieza, sem nem olhar para Mônica, antes de jogar o pacote de bebidas diretamente no lixo ao la
O incômodo que Mônica sentia no coração estava prestes a se dissipar, mas de repente seus olhos foram atingidos pelo convite de casamento e a caixa de chocolates sobre a mesa. A visão a fez estremecer.Milena entrou naquele momento para entregar alguns documentos. Mônica, sem pensar muito, jogou os chocolates para ela:— Não quero comer chocolate. Fique com eles.— Ah, tudo bem. — Milena ficou um pouco confusa, mas perguntou com cautela. — Diretora Mônica, fizemos algo errado no trabalho? Você parece... meio diferente nos últimos dias.Até os outros conseguiam perceber que ela estava de mau humor?Mônica ficou ligeiramente surpresa, mas logo disfarçou com um pequeno sorriso:— Vocês estão indo muito bem. É algo pessoal, nada com o trabalho.— Se precisar de algo, é só avisar.Milena logo saiu da sala, levando consigo a caixa de chocolates.Mônica voltou a encarar os documentos à sua frente, mas, após alguns minutos, as palavras começaram a se embaralhar. Tudo se misturava em sua mente,
— Mônica, estou te dando esse presente como forma de agradecimento, nada mais. — Disse Rubem. — Sei que essas coisas não são um peso para você, porque poderia comprá-las por conta própria.Mônica balançou a cabeça:— Não posso aceitar algo sem retribuir. Você já me deu um apartamento de oitocentos mil. Sou imensamente grata. Não precisa me pedir nada, eu já faria o meu melhor pelo Grupo Pimentel e por você.Sua voz soou fria, polida e sem emoção. Rubem franziu a testa, visivelmente incomodado. Naquele momento, ele até sentiu falta da maneira como ela o chamava de "tio" antes.— Então considere isso um presente de comemoração. — Rubem empurrou o estojo novamente na direção dela com um sorriso discreto. — Você foi promovida a gerente do setor de Reguladores. Não tive a chance de te parabenizar.— Não precisa...Mônica tentou devolver o presente, mas a mão de Rubem pousou firme sobre o estojo. Ele a olhou de forma intensa, e o olhar dele a fez estremecer. Por fim, ela cedeu e aceitou o pr
Quando tudo finalmente se acalmou, os ouvidos de Mônica zumbiam incessantemente. Seu ombro direito doía intensamente, e havia um gosto metálico na garganta. Antes que pudesse controlar, vomitou sangue.Quando conseguiu abrir os olhos, sentiu um peso esmagador sobre si. Era como se alguém estivesse deitado sobre ela.Rubem, no momento crítico, havia soltado o cinto de segurança para protegê-la, jogando-se por cima dela. O vidro do para-brisa havia se estilhaçado em suas costas, cravando-se profundamente em sua pele. Ele estava preso na estrutura deformada do carro, coberto de sangue.— Rubem... Rubem! — Mônica estendeu as mãos trêmulas para afastá-lo. O rosto dele estava completamente ensanguentado, uma visão aterradora. Apesar disso, ela percebeu que ele ainda respirava, embora de forma fraca e irregular.Rubem moveu levemente as pálpebras e, com grande esforço, abriu os olhos. Seu olhar, ainda profundo e intenso, a percorreu de cima a baixo. Sua voz saiu rouca, quase um sussurro:— Vo
O peito de Douglas parecia prestes a explodir de dor e frustração. Ele queria explicar tudo para ela, dizer o que estava preso dentro de si, mas sabia que aquele momento não era o certo. Decidido, tentou puxá-la para longe do carro.Os dois se enfrentavam sob a chuva, cada um lutando pelo que acreditava. Mônica, no entanto, não conseguia se soltar. Num ato de desespero, levantou a mão e deu-lhe um tapa forte.O som seco ecoou no ar. A cabeça de Douglas virou de lado com o impacto, e seus óculos voaram para longe. Em poucos segundos, uma marca vermelha em forma de mão apareceu em sua bochecha. Mônica, com a palma da mão dormente, percebeu tardiamente o que havia feito.A sirene da ambulância soava cada vez mais perto, até finalmente chegar ao local do acidente.— Me desculpe... — Murmurou ela, antes de se virar e correr em direção ao carro para ajudar.Douglas continuou parado, imóvel sob a chuva.Com a ajuda dos paramédicos, Mônica finalmente conseguiu retirar Rubem dos destroços. Suas
— Tia Virgínia! — Rebeca chamou.Era ela, Virgínia, a quarta filha da família Pimentel, tia de Rubem e Rebeca.— Estão todos aqui? — Virgínia assentiu levemente, lançando um olhar para a luz vermelha acesa da sala de cirurgia antes de perguntar a Rebeca. — Ouvi dizer que Rubem sofreu um acidente. Como ele está?— Rubem ainda está na cirurgia. Não sabemos ao certo. — Respondeu Rebeca, inclinando o olhar para Mônica. — Esta é Mônica, a nova gerente do setor de Reguladores do Grupo Pimentel. Ela também estava no carro com o Rubem.Ao ouvir o nome de Mônica, as pupilas de Virgínia se contraíram de imediato. Seu olhar afiado pousou sobre Mônica, fixo e implacável. Apesar de seu rosto manter a serenidade, seus olhos revelavam uma tempestade contida.Ela só conhecia Mônica de nome. Mas agora, vendo-a pessoalmente, confirmou que era a mesma mulher que havia recusado uma proposta de negócios sua, preferindo acompanhar Rubem em uma viagem à Turquia. A mesma mulher que, de forma indireta, havia f
Eduardo, que Mônica já tinha visto em uma chamada de vídeo, cumprimentou-a com suavidade:— Srta. Mônica.— Uau, você é realmente linda! — Exclamou um jovem que estava ao lado de Eduardo, seus olhos estreitos brilhando de interesse enquanto olhava para ela. Ele fez um gesto casual com a mão. — A gente se adicionou no Line, lembra?Mônica imediatamente se lembrou da vez em que Rubem, sem paciência, passou o contato de um homem para ela. O mesmo que havia dito algo como: "Que tal a gente conversar mais a fundo, gata?"Seu rosto se contraiu involuntariamente:— Francisco?— É isso mesmo! — Francisco sorriu de canto, com um ar despreocupado. — Parece que eu deixei uma impressão marcante, hein?Mônica ficou sem palavras.Eduardo, irritado, deu uma cotovelada no estômago de Francisco para fazê-lo calar a boca e se virou para Mônica:— Como está o Rubem?— O Sr. Rubem ainda está na cirurgia. — Respondeu ela, tentando manter a calma, embora seu ombro tremesse levemente ao lembrar da cena que h
Diante das súplicas de Virgínia, o médico apenas suspirou, impotente, e respondeu:— Não é uma questão de dinheiro... É que... A situação da perna do Sr. Rubem é muito grave. Fizemos tudo o que podíamos. Desculpe, agora preciso ir, tenho outras cirurgias para atender.O médico se apressou para a próxima cirurgia e logo saiu. A enfermeira empurrou a maca e levou Rubem para o quarto. Do lado de fora do centro cirúrgico, só restavam alguns membros da família Pimentel: Mônica, Eduardo e mais alguns.Ao ouvirem as palavras do médico, os rostos deles mudaram imediatamente. Francisco, visivelmente abalado, deu um passo à frente, tentando segurar o médico, mas Eduardo o puxou de volta com força.— Já chega! Quer causar mais confusão? — Eduardo lançou-lhe um olhar severo e, em seguida, voltou sua atenção para Mônica, com o semblante pesado. — Mônica, você não disse que o Rubem estava bem? Como isso foi acontecer?— Eu... eu não sei... — Gaguejou Mônica, com os olhos perdidos. Na ambulância, a e