Embora fosse Mônica quem havia pedido a Tomás para encomendar os vidros especiais, ela não tinha certeza se as plantas conseguiriam sobreviver fora daquele ambiente. Assim que ela e o chefe da vila saíram do abrigo de madeira, Rubem apareceu. — Olha só ele! Sua mulher vai na horta por um instante e você já fica preocupado? — Brincou o chefe, com um sorriso no rosto. — Esse seu jeito sério, sempre com a cara fechada, parece que não dá confiança pra ninguém, mas, no fundo, você mima bem sua esposa, hein? Rubem não entendeu o que foi dito, mas o tom brincalhão e a expressão do chefe deixaram claro que não era algo exatamente lisonjeiro. Atrás dele, Mônica abaixou a cabeça para esconder o riso. Não tinha como evitar: a identidade de “morador do vilarejo” que Rubem fingia ter era, no mínimo, questionável. Ele já estava fazendo um esforço tremendo só para não parecer hostil. — Chefe, ele é assim desde pequeno. Não precisa se importar. — Disse Mônica, tentando aliviar a situação.
Mônica entregou os potes de vidro para Rubem e caminhou em direção ao chefe do vilarejo: — Chefe, preciso conversar com o senhor. O homem a encarou por alguns segundos. Em seguida, pareceu entender o que ela queria e virou-se, indo em direção ao pátio. Mônica o seguiu em silêncio. Dentro da casa, ela procurou um lugar para se sentar. Com o rosto calmo, explicou sua verdadeira intenção ao chefe, revelando tudo: desde a troca de alimentos pelas plantas até os detalhes do plano. Quando terminou, o chefe bateu com força na mesa, o rosto tomado pela raiva: — Eu já estava achando estranho! Esse lugar ficou esquecido por mais de dez anos, como vocês conseguiram nos encontrar? Vocês... Vocês não têm ideia do que fizeram! Olha só o que virou o nosso lar! Está tudo destruído! — Eu sinto muito. — Disse Mônica, com um tom sincero. — Não imaginávamos que as coisas sairiam desse jeito. Ela sabia que nenhum pedido de desculpas seria suficiente. Eles haviam destruído não apenas um pedaci
Mônica temia que as crianças se sentissem perdidas no novo ambiente e insistiu em ir junto com Tomás. Porém, quando estava prestes a partir, Rubem a chamou. — Sr. Rubem, o que foi? Ele olhou para o corte em sua bochecha, tirou um curativo do bolso e, com cuidado, aplicou sobre o machucado. Seus dedos quentes roçaram de leve na pele dela enquanto ele dizia, com a voz baixa e firme: — Tome cuidado no caminho. — Hm... Eu... Eu vou, Sr. Rubem! — Respondeu Mônica, fugindo rapidamente para dentro do carro, com o rosto em chamas. Assim que o veículo partiu, Lucas e Bruno apareceram. Lucas estava com o uniforme camuflado coberto de lama, parecendo ter passado por uma batalha intensa. Ele encarou Rubem com uma expressão de frustração e culpa: — Me desculpe, Sr. Rubem. Foi falha minha. Desde a visita de Leopoldo naquela noite, tudo tinha ficado calmo. Lucas, confiando na aparente tranquilidade, não esperava que, pela manhã, fossem emboscados por três lados e que os adversários co
No caminho de volta para a cidade, Mônica conversava com Tomás e acabou descobrindo que, alguns dias antes, ele havia recebido ordens de Rubem para comprar uma fábrica e instalar os moradores do vilarejo lá. — Comprou uma fábrica? Não acha um pouco exagerado? — Perguntou Mônica, intrigada. — Exagero, não. — Respondeu Tomás com naturalidade. — Há dois anos, quando viemos à Turquia, o Sr. Rubem já estava de olho nessa fábrica. Com isso, o Grupo Pimentel vai poder abrir uma filial por aqui com facilidade. Instalar os moradores foi apenas um bônus. A fábrica fica perto de uma escola, então as crianças também terão acesso fácil aos estudos. Mônica piscou, surpresa. Por um momento, pensou que Rubem tivesse comprado a fábrica exclusivamente para ajudar os moradores. Só que, no fundo, fazia mais sentido: um empresário como ele sempre pensaria no lado dos negócios primeiro. Ainda assim, os moradores não poderiam reclamar, já que estavam agora sob a proteção do Grupo Pimentel. Lembrando-
Mônica sabia que não teria muito tempo ali, então, assim que voltou para a fábrica com os materiais didáticos que comprou, começou a ensinar turco às crianças. Começou pelo básico: as vogais. Todas as crianças estavam extremamente concentradas, aprendendo com dedicação. O turco, sendo uma língua da família turcomana, era mais fácil de aprender do que idiomas como inglês ou francês. Cada letra tinha apenas um som fixo, e para as crianças, que já falavam Uquebar, também da mesma família linguística, aprender os fundamentos do turco foi bem mais simples. Em uma única noite, elas já haviam dominado o básico. Já passava da meia-noite, mas Mônica ainda estava corrigindo os exercícios das crianças. O progresso era mais rápido do que ela imaginava. Em, no máximo, uma semana, as crianças estariam prontas para frequentar a escola e interagir sem dificuldades com os outros alunos. No entanto, o cansaço a venceu. Corrigindo o último caderno, ela acabou adormecendo sobre a mesa. No dia segu
O espaço era tão pequeno que os dois estavam praticamente colados, com as respirações se misturando. Mônica ainda estava atordoada, o coração batendo descompassado, enquanto Rubem já havia ligado o chuveiro para deixar claro que havia alguém ali dentro. A água que saía do chuveiro fixo no teto a encharcou completamente. Mônica passou a mão pelo rosto, afastando a água dos olhos, e lançou um olhar furioso para o homem à sua frente. Sussurrou, irritada: — Não dava pra não ligar o chuveiro? Por que você não ficou lá fora? E se alguém achar que tem algo estranho aqui? Ela parecia ter tomado outro banho. A toalha que envolvia seu corpo estava molhada e pesada, quase não conseguia mais segurá-la no lugar. — Sem ligar o chuveiro e sem fechar a cortina, quer que alguém venha dar uma olhada? — Rubem respondeu, segurando com firmeza o braço dela, mas mantendo uma distância mínima entre os dois, evitando que ficassem completamente colados. Ele já havia notado sua presença assim que en
O chefe da vila segurou a mão de Mônica com firmeza, os olhos cheios de gratidão. — Muito obrigado. Foi você quem nos deu uma nova vida. Se precisar de qualquer coisa, qualquer ajuda, por favor, me avise. — O senhor não precisa me agradecer. Agradeça ao meu chefe. — Mônica apontou para Rubem, que estava ao lado, e sorriu. — Foi ele quem planejou tudo. Eu só cumpri as ordens. Ela fez uma pausa e continuou: — O senhor e a Aisha podem ficar tranquilos e viver aqui com as crianças. Quando os médicos estiverem disponíveis, não esqueça de levar os pequenos para fazer os exames. Todos os custos ficarão por conta do meu chefe. O chefe da vila assentiu várias vezes, emocionado. Depois, foi até Rubem e apertou sua mão com força, a expressão cheia de gratidão. Rubem, com seu jeito reservado, apenas esboçou um leve sorriso e, em seguida, acompanhou Mônica até o carro que os levaria ao aeroporto. No caminho, Mônica olhava pela janela, vendo a paisagem passar rapidamente. Era difícil acr
Depois de mais de dez horas de voo, o avião pousou no aeroporto de Cidade N. Mônica empurrava sua bagagem ao lado de Rubem enquanto caminhavam para fora. Assim que chegaram à saída, uma figura feminina aproximou-se rapidamente. — Sr. Rubem, Srta. Mônica. — A mulher aparentava ter cerca de vinte e quatro ou vinte e cinco anos. Vestia um tailleur cinza-escuro, com os cabelos impecavelmente presos em um coque, exalando uma aura de profissionalismo afiado. Ela se dirigiu a Rubem com firmeza: — Sr. Rubem, sou Kelly Silva, do departamento de secretariado. Durante a ausência do Tomás, ficarei responsável pela sua agenda. Enquanto falava, Kelly já puxava a mala das mãos de Rubem com eficiência. Rubem apenas murmurou um breve “hm” em resposta e seguiu em direção ao Bentley estacionado na calçada. — Sr. Rubem, eu já vou indo. — Mônica disse, notando que ele estava ocupado. Desde que desembarcaram, Rubem já havia atendido várias ligações e parecia imerso em trabalho. Era evidente qu