Selene finalmente parou de resistir. Não fazia mais sentido continuar procurando um plano mirabolante escondido atrás da bondade de Aiden. Ela simplesmente aceitou. Nunca fora tratada daquela forma, com tanta consideração e paciência, e não podia negar que aquilo aquecia seu peito de um jeito estranho. Talvez fosse fácil de se impressionar porque nunca havia recebido nada parecido antes. O fato era que, naquela tarde, quando Aiden a convidou para um passeio, ela aceitou sem hesitação. Iriam visitar amigos dele, e, pela primeira vez desde que chegara ao clã Vasquez, Selene sentiu que podia simplesmente aproveitar o momento, sem desconfiança ou resistência.Enquanto isso, na mansão do clã de Darius, o próprio ainda estava trancado no quarto do pânico. O silêncio denso do lugar se tornara sua única companhia nos últimos dias. Seu corpo estava fraco, os músculos exaustos pela privação de comida e água, e sua mente fervilhava em tumulto. Darius nunca se sentira tão inútil, tão envergonhado
Aiden tinha dezessete anos quando seu pai começou a prepará-lo para o papel de alfa. O treinamento era intenso, não apenas no combate e nas estratégias de guerra, mas na liderança. Seu pai não era um governante cruel—pelo contrário. Vasquez carregava respeito não só entre os lobos, mas também entre os humanos, apesar de não reconhecê-lo pelo clã, mas por seus atos.Naquele dia em particular, ele acompanhava o pai à Cidade Baixa. Era um lugar miserável aos olhos de muitos, mas para seu pai, era uma responsabilidade. Ele havia fundado o orfanato para humanas e era a mente por trás do auxílio-humano, um programa que oferecia abrigo, comida e segurança para aqueles que não pertenciam ao mundo dos lobos.— Quando eu me for, tudo isso será seu para gerenciar, Aiden — seu pai dissera enquanto caminhavam pelos becos estreitos. — Os fortes não são aqueles que apenas impõem medo, mas os que garantem que até os fracos possam viver com dignidade.Aiden assentiu, absorvendo as palavras. Ele respei
Na grande sala de reuniões do clã Thornheart, o ar estava pesado. Darius ficou de pé durante todo o julgamento; os ombros tensos, a cabeça erguida, mas o corpo denunciava sua fraqueza. Ainda assim, não havia sinal de arrependimento em seus olhos.O alfa-mor se levantou, a presença esmagadora preenchendo a sala.— Darius Thornheart, seu comportamento desonrou este clã — começou, a voz carregada de julgamento. — A lua nos concede força, e com ela, responsabilidade. Você agiu de forma egoísta, sem respeito por sua posição, sem respeito por sua própria linhagem.Darius nada disse. Manteve o olhar fixo no patriarca, esperando o veredito sem demonstrar qualquer emoção.— Por decisão unânime, você jamais será Alfa deste clã. Seu sangue não lhe garantirá liderança, e nunca poderá reivindicar uma Luna.Um burburinho percorreu a mesa, mas Darius apenas soltou um suspiro quase aliviado.Que fosse. Ele nunca quis as responsabilidades que o título traria. Nunca se importou em guiar o clã, em prote
Os dias que antecederam o fim de semana foram uma experiência inédita para Selene. A família de Aiden era extremamente presente, de uma forma quase sufocante.Ela nunca esteve cercada por tantas pessoas antes. Cada cômodo da mansão parecia pertencer a todos, e a privacidade era um conceito vago dentro da residência Vasquez. Na verdade, a casa não era apenas uma moradia — era um espaço de convivência, onde todos se reuniam constantemente. Nos primeiros dias após seu sequestro, a mansão fora mantida em silêncio, permitindo que ela se recuperasse, mas agora estava cheia de vida e movimentação.Selene tentava se adaptar. O barulho das conversas, as visitas inesperadas ao seu quarto, a atenção constante das mulheres da família... Era muito. Mas ela sabia que aquilo fazia parte do pacote.Quando o fim de semana finalmente chegou, Selene foi despertada pelas servas antes mesmo do sol estar completamente alto no céu. Sem protestar, permitiu que a banhassem, vestissem e penteassem. Já não se i
A organização do casamento de Selene avançava como uma tempestade imparável. A família Vasquez parecia movida por uma energia inesgotável, cada membro cumprindo seu papel com precisão e entusiasmo. As mulheres da família discutiam incessantemente sobre flores, tecidos, e convites, enquanto os homens nada faziam além do investimento financeiro. Era uma mobilização impressionante, como se toda a linhagem Vasquez vivesse em função daquela união.Selene sentia-se parte daquele turbilhão, e ao mesmo tempo, uma espectadora. Seu vestido já estava encomendado, as provas agendadas, e tudo que lhe restava era aprovar ou rejeitar sugestões. Mesmo assim, sua mente frequentemente vagava para além dos preparativos luxuosos. Seus pensamentos se fixavam em um futuro que ia além do altar — o futuro como Luna, ao lado de Aiden, e o poder que teriam juntos sobre Cidade Alta e Cidade Baixa.Ela ansiava por entender o real alcance desse poder, e mais ainda, como poderia moldá-lo conforme seus ideais. Lemb
Os dias foram se passando agitados, como se o tempo corresse mais rápido do que Selene podia acompanhar. Entre provas do vestido, reuniões com decoradores e ajustes infinitos na lista de convidados, a mansão Vasquez fervilhava. Mas, toda noite, após o turbilhão de afazeres, ela e Aiden se recolhiam ao quarto e assistiam a um filme humano. Era o pequeno ritual deles. Um respiro. A luz suave da tela, a pipoca compartilhada e os sorrisos cúmplices criaram um espaço só deles, longe das obrigações e das formalidades.Porém, como num piscar de olhos, o dia da visita do clã Devereaux chegou.A mansão foi reorganizada para recebê-los. Os Vasquez da Cidade Alta, que haviam se reunido para ajudar na organização do casamento, retornaram para suas residências, liberando os melhores aposentos para os membros do clã mais respeitado em todo o mundo híbrido. Até mesmo o tom dos empregados mudou — estavam mais rígidos, cuidadosos. Havia um temor velado no ar, um respeito que beirava a reverência.Quan
O dia da despedida de solteiro de Aiden e Selene amanheceu quente, com o sol de dezembro castigando os jardins da mansão. Desde cedo, os funcionários corriam pelos corredores ajustando os últimos detalhes da comemoração que havia sido cuidadosamente organizada pelos padrinhos e madrinhas. Era uma tradição Vasquez — os homens e as mulheres se separariam para celebrar em grupos distintos, cada um com seu próprio cronograma.O clã Devereaux, entretanto, não quis participar. Selene não sabia se aquilo a irritava ou a aliviava. Ainda estava se acostumando à presença deles e à estranha sensação de ser observada o tempo todo pela matriarca Vivienne e seus conselheiros de olhares duros.A manhã seguiu arrastada para Selene. Desde o início, a programação feminina se mostrou entediante. Estavam no andar superior da mansão, em uma sala ampla com janelas altas e cortinas claras. Havia espumantes sendo servidos, petiscos delicados e pratos de frutas, mas a verdadeira atividade era o "embelezamento
Nos aposentos de Aiden e Selene, o clima era outro.Aiden acabava de entrar, fechando a porta suavemente atrás de si. O cansaço misturava-se à leve embriaguez da noite festiva. O sorriso em seu rosto era discreto, mas sincero. Ele se sentia satisfeito, talvez pela proximidade do casamento ou pela perspectiva de, enfim, ter Selene ao seu lado de forma definitiva.Selene estava sentada na borda da cama, descalça, os cabelos ainda presos pelos grampos e Bob's. Seu rosto ainda exibia vestígios do cansaço e da irritação que acumulara ao longo do dia, mas ela também sorria, de um jeito quase tímido.— Sobreviveu? — Aiden perguntou, tirando o paletó e desabotoando o colarinho.Selene suspirou, inclinando-se para trás, apoiada nos braços.— Digamos que o licor ajudou... — Respondeu em tom irônico.Aiden riu.— E sua programação feminina? Imagino que tenha sido... empolgante.Ela bufou.— Foi terrível. O pior é que vi vocês da varanda, se divertindo na piscina... Fiquei morrendo de inveja.Ele