Na grande sala de reuniões do clã Thornheart, o ar estava pesado. Darius ficou de pé durante todo o julgamento; os ombros tensos, a cabeça erguida, mas o corpo denunciava sua fraqueza. Ainda assim, não havia sinal de arrependimento em seus olhos.O alfa-mor se levantou, a presença esmagadora preenchendo a sala.— Darius Thornheart, seu comportamento desonrou este clã — começou, a voz carregada de julgamento. — A lua nos concede força, e com ela, responsabilidade. Você agiu de forma egoísta, sem respeito por sua posição, sem respeito por sua própria linhagem.Darius nada disse. Manteve o olhar fixo no patriarca, esperando o veredito sem demonstrar qualquer emoção.— Por decisão unânime, você jamais será Alfa deste clã. Seu sangue não lhe garantirá liderança, e nunca poderá reivindicar uma Luna.Um burburinho percorreu a mesa, mas Darius apenas soltou um suspiro quase aliviado.Que fosse. Ele nunca quis as responsabilidades que o título traria. Nunca se importou em guiar o clã, em prote
Os dias que antecederam o fim de semana foram uma experiência inédita para Selene. A família de Aiden era extremamente presente, de uma forma quase sufocante.Ela nunca esteve cercada por tantas pessoas antes. Cada cômodo da mansão parecia pertencer a todos, e a privacidade era um conceito vago dentro da residência Vasquez. Na verdade, a casa não era apenas uma moradia — era um espaço de convivência, onde todos se reuniam constantemente. Nos primeiros dias após seu sequestro, a mansão fora mantida em silêncio, permitindo que ela se recuperasse, mas agora estava cheia de vida e movimentação.Selene tentava se adaptar. O barulho das conversas, as visitas inesperadas ao seu quarto, a atenção constante das mulheres da família... Era muito. Mas ela sabia que aquilo fazia parte do pacote.Quando o fim de semana finalmente chegou, Selene foi despertada pelas servas antes mesmo do sol estar completamente alto no céu. Sem protestar, permitiu que a banhassem, vestissem e penteassem. Já não se i
A organização do casamento de Selene avançava como uma tempestade imparável. A família Vasquez parecia movida por uma energia inesgotável, cada membro cumprindo seu papel com precisão e entusiasmo. As mulheres da família discutiam incessantemente sobre flores, tecidos, e convites, enquanto os homens nada faziam além do investimento financeiro. Era uma mobilização impressionante, como se toda a linhagem Vasquez vivesse em função daquela união.Selene sentia-se parte daquele turbilhão, e ao mesmo tempo, uma espectadora. Seu vestido já estava encomendado, as provas agendadas, e tudo que lhe restava era aprovar ou rejeitar sugestões. Mesmo assim, sua mente frequentemente vagava para além dos preparativos luxuosos. Seus pensamentos se fixavam em um futuro que ia além do altar — o futuro como Luna, ao lado de Aiden, e o poder que teriam juntos sobre Cidade Alta e Cidade Baixa.Ela ansiava por entender o real alcance desse poder, e mais ainda, como poderia moldá-lo conforme seus ideais. Lemb
Os dias foram se passando agitados, como se o tempo corresse mais rápido do que Selene podia acompanhar. Entre provas do vestido, reuniões com decoradores e ajustes infinitos na lista de convidados, a mansão Vasquez fervilhava. Mas, toda noite, após o turbilhão de afazeres, ela e Aiden se recolhiam ao quarto e assistiam a um filme humano. Era o pequeno ritual deles. Um respiro. A luz suave da tela, a pipoca compartilhada e os sorrisos cúmplices criaram um espaço só deles, longe das obrigações e das formalidades.Porém, como num piscar de olhos, o dia da visita do clã Devereaux chegou.A mansão foi reorganizada para recebê-los. Os Vasquez da Cidade Alta, que haviam se reunido para ajudar na organização do casamento, retornaram para suas residências, liberando os melhores aposentos para os membros do clã mais respeitado em todo o mundo híbrido. Até mesmo o tom dos empregados mudou — estavam mais rígidos, cuidadosos. Havia um temor velado no ar, um respeito que beirava a reverência.Quan
O dia da despedida de solteiro de Aiden e Selene amanheceu quente, com o sol de dezembro castigando os jardins da mansão. Desde cedo, os funcionários corriam pelos corredores ajustando os últimos detalhes da comemoração que havia sido cuidadosamente organizada pelos padrinhos e madrinhas. Era uma tradição Vasquez — os homens e as mulheres se separariam para celebrar em grupos distintos, cada um com seu próprio cronograma.O clã Devereaux, entretanto, não quis participar. Selene não sabia se aquilo a irritava ou a aliviava. Ainda estava se acostumando à presença deles e à estranha sensação de ser observada o tempo todo pela matriarca Vivienne e seus conselheiros de olhares duros.A manhã seguiu arrastada para Selene. Desde o início, a programação feminina se mostrou entediante. Estavam no andar superior da mansão, em uma sala ampla com janelas altas e cortinas claras. Havia espumantes sendo servidos, petiscos delicados e pratos de frutas, mas a verdadeira atividade era o "embelezamento
Nos aposentos de Aiden e Selene, o clima era outro.Aiden acabava de entrar, fechando a porta suavemente atrás de si. O cansaço misturava-se à leve embriaguez da noite festiva. O sorriso em seu rosto era discreto, mas sincero. Ele se sentia satisfeito, talvez pela proximidade do casamento ou pela perspectiva de, enfim, ter Selene ao seu lado de forma definitiva.Selene estava sentada na borda da cama, descalça, os cabelos ainda presos pelos grampos e Bob's. Seu rosto ainda exibia vestígios do cansaço e da irritação que acumulara ao longo do dia, mas ela também sorria, de um jeito quase tímido.— Sobreviveu? — Aiden perguntou, tirando o paletó e desabotoando o colarinho.Selene suspirou, inclinando-se para trás, apoiada nos braços.— Digamos que o licor ajudou... — Respondeu em tom irônico.Aiden riu.— E sua programação feminina? Imagino que tenha sido... empolgante.Ela bufou.— Foi terrível. O pior é que vi vocês da varanda, se divertindo na piscina... Fiquei morrendo de inveja.Ele
A manhã do casamento nasceu caótica e carregada de tensão. O céu estava limpo, e o ar trazia a brisa fresca das montanhas, mas dentro do aposento reservado para Selene e as madrinhas, o clima era outro. Quando as mulheres se depararam com a noiva, o choque e o desespero tomaram conta.O cabelo de Selene, que deveria estar perfeitamente modelado em ondas suaves, estava um desastre. O cloro da piscina havia feito seu trabalho cruel: as pontas estavam secas, e os fios, opacos e desalinhados. As mulheres se entreolharam como se estivessem diante de uma calamidade.— O que foi que você fez, Selene? — bradou uma delas, segurando uma mecha do cabelo da noiva como se fosse uma prova do crime.— Entrou na piscina? — outra perguntou, com olhos arregalados.Selene tentou se explicar, mas foi abafada pelo burburinho de repreensões e suspiros angustiados. Puxada para a cadeira diante do espelho, foi cercada por mãos ágeis que se revezavam entre secador, escovas e produtos restauradores. A cada nov
O carro os deixou diante do imponente Grand Resort Ravena, um hotel que parecia saído de uma revista de luxo. As colunas brancas se erguiam altivas, e a fachada refletia o pôr do sol sobre o mar, banhando tudo em tons dourados. Selene desceu do veículo ajeitando o vestido de noiva, sentindo-se deslocada, ainda usando o símbolo do dia anterior. Não traziam malas, nem qualquer bagagem.— Não trouxemos nada… — ela comentou, encucada.Aiden sorriu de lado.— Confie em mim.Eles atravessaram o hall, onde um aroma de flores frescas pairava no ar, e Selene observou com curiosidade os funcionários que os recebiam. Havia humanos, mas também híbridos de espécies que ela nunca tinha visto: uma recepcionista de pele azulada e olhos perolados, um mensageiro de orelhas pontudas e cauda felpuda, e um garçom alto, esguio, com escamas prateadas subindo pelo pescoço.Aiden cumprimentava a todos com naturalidade, falando fluentemente o dialeto local, uma mistura melódica que Selene mal conseguia decifra