***CONTINUAÇÃO***
Olhei para a menina que estava com os olhos cheios de lágrimas e não dizia nada. Alexandre: Fala, sua inútil! Além de mendiga, ainda é muda? Ela começou a falar, gaguejando: — Desculpe, senhor. Eu só queria vender minhas flores. Estou desesperada, precisando de algo para comer. Não foi minha intenção irritá-lo. Peguei as flores das mãos dela e joguei no chão, irritado, soltando o braço dela , que se ajoelhou e começou a catar as flores. Alexandre: Seu lugar é aí, no chão, junto com essas malditas flores, sua imunda inútil. Falei, e ela me olhou chorando, mas eu não senti pena nenhuma. Enquanto a observava colhendo flores, fiz sinal para o meu motorista e nós entramos no carro, partindo em direção ao meu apartamento. Por um instante, os olhos daquela mendiga vieram à minha mente, mas logo afastei esses pensamentos. Afinal, quem ela pensa que é para se colocar na frente do meu carro oferecendo aquelas porra de flores? **YELENA*** Hoje o dia amanheceu cinza. Na verdade, todos esses anos têm sido assim para mim. Mas, mesmo diante da escuridão, eu não desisto. A única coisa que ninguém pode me tirar é a minha fé. Posso perder tudo, menos isso. O silêncio da manhã é pesado, sem o canto dos pássaros, apenas a brisa fria que entra pelas frestas da janela. Saio da cama e a arrumo com movimentos automáticos. O colchão fino afunda no meio, e os lençóis já desgastados denunciam o tempo de uso. Vou até o banheiro e me despeço das roupas, sentindo o peso do dia antes mesmo de começar. Entro no chuveiro e deixo a água quente escorrer sobre meu corpo magro, levando consigo a sujeira, mas não as cicatrizes da minha alma. Meu banho é rápido, funcional, sem espaço para luxos. Saio e me encaro no espelho da pequena penteadeira velha do meu quarto. As paredes mofadas trazem um cheiro estranho, misturado com o odor forte do desinfetante barato que tento usar para disfarçar o que não pode ser apagado. Meus olhos encontram a cicatriz que corta meu rosto, uma marca que nunca desaparecerá. Meu estômago se revira, um misto de raiva e tristeza me domina. As lágrimas ameaçam cair, mas as afasto rapidamente com as costas das mãos. Não posso me dar ao luxo de desmoronar. Pego minha escova e penteio meus longos cabelos cacheados, loiros e desbotados pelo sol. Trago-os para o lado direito, escondendo a marca horrenda que me lembra todos os dias do que minha mãe me fez. "Mães não deveriam proteger? Amar? Cuidar?" A pergunta ecoa em minha mente, mas eu já sei a resposta. Minha mãe não é como as outras. Respiro fundo, ignorando o nó na garganta, e vou para a cozinha preparar o café da manhã das minhas irmãs. Elas precisam ir à escola bem alimentadas, pelo menos isso eu posso garantir. No caminho, passo pelo quarto da minha mãe e vejo a cama vazia. Suspiro, já sabendo o que isso significa. Mais uma noite na rua, mais uma noite afundada na bebida e em sabe-se lá o quê. Maysa surge de repente atrás de mim, me assustando enquanto coo o café. — Mana, ela não dormiu aqui. Você viu? O quarto está vazio. — Sua voz carrega um misto de medo e alívio. Coloco a mão no peito, tentando acalmar meu coração acelerado pelo susto. — May, desse jeito você me mata! Quase derramei água quente em mim. E sim, eu vi. Ela não dormiu em casa. Maysa suspira, aliviada. — Graças a Deus, ima... Ela não tem tempo de terminar. O som estridente da porta sendo aberta bruscamente nos faz congelar. Nossa mãe entra na cozinha cambaleando, os olhos vermelhos e injetados, o cheiro de álcool impregnando o ar. — Graças a Deus o quê, sua putinha de merda?! — sua voz ressoa como um trovão. Meu estômago se aperta. Respiro fundo e tento falar com calma, medindo cada palavra. — Mãe, ela estava dizendo "graças a Deus" porque o padre Juan voltou. A senhora não deixou ela terminar. Assim que termino de falar, sinto o impacto da mão dela no meu rosto. O estalo preenche o silêncio da cozinha. Uma ardência cruel se espalha pela minha pele, e a cicatriz parece queimar ainda mais. — O que disse aí, sua merdinha? — Ela ri de forma cruel, os olhos injetados brilhando de prazer. — Amo quando vocês falam mal de mim. E cuidado, Yelena. Da próxima vez, não será apenas uma cicatriz que deixarei em você. Engulo seco. Maysa segura o choro, os olhos marejados. Minha mãe se j**a na cadeira e pega um cigarro amassado do bolso do short sujo. — Agora sumam da minha frente! Você, coisinha, vai pra escola e só volte na hora do jantar. E você, Yelena, vai vender essas porcarias de flores. Meu café está acabando e eu não fico sem café, sua inútil. Seguro a mão de Maysa e a puxo para fora antes que algo pior aconteça. Pego dois pães velhos da mesa e entrego um para ela no caminho. Prefiro sofrer do que ela passar, por isso não quero que minha irmã sofra o mesmo que eu sofro por todos esses anos,na mão de nossa mãe ela é tudo que eu tenho na minha vida, e o que depender de mim ela não passará por nada de ruim. --- Algumas horas depois... O dia foi bastante fraco. As vendas não vão bem. O sinal abre rápido demais, e os motoristas parecem estar sempre com pressa. Poucos sequer abaixam os vidros. Estou exausta e frustrada. Preciso vender pelo menos mais algumas flores para comprar o café, amanhã bem cedo antes de minha mãe aparecer . O sinal fecha novamente, e um carro preto, grande e reluzente para bem à minha frente. O vidro já está abaixado. Me aproximo. Meus olhos se encontram com os do passageiro que está atrás , e meu coração falha uma batida. Ele é o homem mais lindo que já vi. Pele um pouco dourada, olhos intensos e uma expressão dura. O cheiro dele invade meus sentidos: um perfume amadeirado com um toque sutil de café. Engulo em seco, nervosa, mas tomo coragem. — Oi, tudo.. é. — Me corrijo rápido. — Não, desculpe, boa noite. Gostaria de comprar flores? — Meu sorriso vacila um pouco, mas seguro firme o buquê e o aproximo da janela do carro. O homem me encara, e algo em seu olhar me paralisa. Há uma fúria contida ali, um semblante carregado de algo que não sei decifrar. Ele abre a porta do carro com um movimento firme. Meu sangue gela. Droga. O que ele vai fazer comigo? Meu Deus, me ajuda. Ele me pega pelos meus braços e me sacode de maneira bruta, suas mãos machucam a minha pele, meus olhos lacrimejaram, e ouço sua voz grave e rouca. Me sinto tão humilhada por ele ter sido tão cruel comigo, eu só queria vender minhas flores, rico arrogante e maldoso, não sou de sentir ódio mas parece que este homem desperta o pior em mim. Quando acabei de pegar minhas flores do chão que o senhor cruel as jogou, uma senhora para em minha frente e sorri para mim SENHORA— Boa noite querida, quero comprar as flores YELENA— A essas já não servem mais estão quebradas. SENHORA— Pago 20 reais nelas Abro um sorriso e fico em paz por dentro em saber que amanhã não terá confusão, bom não por conta do café pois minha mãe sempre arruma um jeito de criar algumas situações de brigas. YELENA— Obrigada senhora, que Deus dê em dobro. Vou embora pra casa andando apreciando a noite, e mais feliz da vida por ter ganhado 20 reais.***YELENA***A semana começou de maneira diferente. O céu, que nos últimos dias costumava apresentar um tom cinza opaco e pesando sobre nós, hoje brilhava em um azul intenso, como se o universo tivesse decidido me conceder um momento de paz. Esse sentimento talvez estivesse ligado ao fato de que minha mãe estava desaparecida há algum tempo. Maysa e eu buscávamos aproveitar essa rara tranquilidade como um presente dos deuses. Deus me perdoe por isso, mas é tão revigorante viver sem sua presença, longe de seus gritos e do cheiro ácido da bebida que impregnava nosso lar.Com a ausência de minha mãe, nossa vizinha Cassandra finalmente se aproximou. Sempre mantivera uma certa distância, receosa das bebedeiras e dos escândalos que minha mãe costumava provocar. No entanto, nesses dias, ela começou a se mostrar mais presente. Jovem, viúva e sem filhos, Cassandra era uma mulher de olhar doce e mãos delicadas. E, apesar de ser um pensamento proibido, não conseguia evitar: como teria sido se May
**YELENA***— O dinheiro voou no ar antes de cair aos meus pés, espalhando-se pelo chão sujo da calçada. Meu peito se apertou de indignação. Quem aquele homem pensava que era para me tratar assim? Como se eu fosse um objeto, como se minha dignidade pudesse ser comprada e jogada ao vento. Eu sou um ser humano. Não sou um capacho. Nem os animais podem mais ser maltratados assim, e ainda assim, ali estava eu, sendo humilhada por alguém que achava que o dinheiro lhe dava poder sobre tudo.Respirei fundo, sentindo o nó se formar na minha garganta. Me levantei devagar, sacudindo a poeira do vestido que, para mim, era lindo. Para ele, talvez fosse apenas um trapo insignificante. Mas ele nunca entenderia o que é não ter o que vestir, o que é escolher entre comprar comida ou pagar a conta de luz. Minhas flores – pelo menos isso – tinham saído ilesas.Olhei para aquelas notas espalhadas e minha primeira reação foi deixá-las ali, seguir meu caminho e manter meu orgulho intacto. Mas então, a real
†****Miriam***Tenho 54 anos. Cinquenta e quatro anos de uma vida marcada por dores que nunca cicatrizaram. Olhando para trás, vejo um rastro de derrotas, de escolhas erradas e de sonhos que nunca se concretizaram. Aos 13 anos, minha infância se perdeu no peso do trabalho, sustentando os vícios de pais que nunca me deram nada além de tapas e humilhações. Nunca um abraço, nunca um "eu te amo". Para eles, eu não era uma filha, era uma coisa, um fardo, um incômodo.Minha saúde mental já dava sinais de fraqueza quando conheci aquele homem. O pai de Yelena. Eu acreditei que ele seria meu porto seguro, o amor da minha vida. Mas amor de verdade não some no momento em que mais se precisa dele. Quando minha barriga cresceu, ele desapareceu. Me deixou sozinha, prestes a dar à luz, mergulhada num desespero que me consumiu inteira. A depressão pós-parto me engoliu e eu não conseguia olhar para Yelena sem sentir que falhei.Fui parar em uma casa de apoio para mães solteiras. Lá, Yelena cresceu sem
Alexandre,**Há dez anos, ninguém imaginaria que eu me tornaria um CEO implacável e bilionário. Naquele período, eu era apenas a sombra de um parasita. Estava noivo — uma lembrança que me causa certo sorriso amargo agora —, preso à ilusão de um amor juvenil. Flávia era uma mulher atraente, loira, esbelta, com seios siliconados e um olhar sedutor. Ela afirmava que eu era o homem de sua vida, e eu, ingênuo, acreditei.Tínhamos planos. Nossa filha estava a caminho, com três meses de gestação. Eu me sentia nas nuvens, comprando tudo o que via para aquela criança, certo de que minha vida finalmente estava tomando o rumo certo. Recém-formado, consegui um estágio na empresa do meu irmão, Justen. Tudo parecia perfeito, até aquela fatídica noite.O passado me envolve por um momento, mas sou despertado de meus pensamentos por batidas na porta do meu escritório.— Entre — digo, impaciente.Minha secretária entra, de cabeça baixa. Ela cuida da minha agenda pessoal e empresarial, e é uma funcionár