HENRICO ZATTANI
Eu quase estraguei tudo. Esqueci por algum tempo que estava na maldita festa para vigiar e conhecer mais sobre o inimigo, mas acabei dividindo copos de tequila e confraternizando, foi tão natural que não percebi que estava baixando a guarda e relaxando, na cadeia se manter em alerta é o que te mantém vivo, não é os guardas que estão ali para supostamente nos vigiar e "resguardar", muito menos os seus parceiros de selas, a única pessoa confiável naquele meio é você mesmo, por isso eu nunca relaxava e confiava.
Bem, até ontem.
A ideia era fazê-la beber até falar o que não devia, sendo bem claro, até ela está bêbada o suficiente para jogar pra fora os podres de cada membro da família Leal, contando com os seus. O plano parecia brilhante quando se formou na minha cabeça, assim que a vi seguir de forma sorrateira para o bar.
Meus olhos brilharam em expectativa quando a vi tão vulnerável bem ali, a máscara não conseguindo disfarçar a tristeza presente nos olhos claros e bonitos. Merda, talvez a culpa não tenha sido da tequila.
Acreditei em Aurora quando ela me disse que sua madrasta era interesseira, uma qualquer que se deitou com seu pai quando sua mãe estava morrendo aos poucos em uma cama de hospital. Também acreditei quando ela me disse que a fedelha, a bastarda que ela se recusava a chamar de irmã tinha puxado a mãe nesse aspecto. Até então, eu não conhecia nenhuma das duas, mas confiei cegamente nas palavras da minha ex esposa.
No fundo, eu sabia que poderia ser só implicância e ciúmes. Mas os sites de fofocam afirmavam que Anna Maria, mãe de Amélia, tinha sido amante de Augusto Leal por quase um ano antes da morte da esposa. Eu odeio traições, de qualquer tipo. Meus pais sempre mantiveram um casamento feliz, mantinham aceso o fogo do desejo e me faziam fantasiar em ter algo assim um dia, por isso eu peguei um certo ranço das duas antes mesmo de ser apresentado de maneira formal.
No entanto, na época que a garota meio magricela apareceu no meio da minha sala pela primeira vez, brincando de forma distraída com uma galinha, não me pareceu alguém dissimulada e ambiciosa, na verdade, ela parecia um cachorro assustado que adorava mostrar os dentes e rugir. Naquela época me ocorreu um sentimento estranho, algo que ignorei e não falei pra ninguém, mas aconteceu no exato momento que a garota virou para me encarar e me deu uma de suas respostas atrevidas, as que ela costuma dá quando esquece de segurar a língua e manter a compostura de boa menina.
Ela me olhou de igual para igual, empinou o pequeno nariz e roubou todo o meu ar. Lembro de pensar que aquele tipo de beleza era surreal e senti vontade de arrancar a tristeza dos olhos mais bonitos que já tinha visto.
— Então, você quer conversar sobre o que vimos no aniversário da menina? — Encaro o rosto sério de Guilhermino, ele anda tentando falar sobre assunto desde quando chegamos da festa, duas noites atrás.
— Não tem o que falar. — Resmungo. Enchendo meu copo com suco de graviola e levando a boca.
Guilhermino e eu sempre fomos próximos, do tipo que compartilha qualquer coisa. Mas não estou interessado em debater sobre como doeu assistir minha ex beijar outro na minha frente, por mais que ela não soubesse que eu estava ali assistindo o tempo todo e o outro fosse seu atual marido.
O fato é que doeu, mas não tanto quanto ele está pensando.
— Certo, mas não vou aguentar esse seu mau humor. Se não quer conversar, então trate de colocar um sorriso nesse rosto feio e vamos cavalgar. Você precisa relaxar.
Franzo o cenho para as suas palavras, discordando da sua declaração. Eu não estou de mau humor, apenas decepcionado.
Ele se levanta da mesa de café da manhã, arrastando a cadeira com seu movimento brusco e fazendo barulho.
— Meu cavalo morreu. — Relembro.
Ele me olha de soslaio, parecendo entediado com meu argumento.
— Monte Lexus, ele não deixou ser domado por ninguém até agora. — Fala, pegando seu chapéu e encaixando em sua cabeça. Me deixando sem argumentos e partindo pra fora da casa.
Sopro o ar pra fora, me sentindo culpado por está escondendo segredos dele. Eu sei que essa tentativa de relembrar os velhos tempos e me chamar pra cavalgar é só mais uma tentativa para me fazer falar, ele sabe que tem algo de errado acontecendo e acha que me levar pra longe vai me forçar a falar.
Bem, eu prefiro mantê—lo longe dessa parte.
Passear a cavalo não vai extrair toda a raiva que tenho dentro de mim, tenho sonhado com essa vingança e nada vai me fazer parar.
Termino o café da manhã sozinho, subo de volta para o quarto e tranco a porta por seguro. Busco o celular descartável no bolso da minha calça jeans e ligo para um dos dois contatos salvos.
— Alô? — O homem do outro lado da linha pergunta de imediato.
— Você tem alguma coisa pra mim? — Falo, pulando a parte das apresentações.
Ele rir baixo.
— Calma, meu rapaz. Seus homens já me passaram algumas informações importantes, mas preciso de mais. Tudo que eu tenho pode ser derrubado em poucos dias.
Esbravejo, xingando baixo.
— Ok, mas não vou ficar esperando você agir. Vou fazer do meu jeito.
— Cuidado, rapaz. Da última vez você passou longos três anos atrás das grades.
— Não se preocupe, aquele RAPAZ existe mais.
Dou por encerrada a ligação, não dando chances para uma resposta. Clico no outro número salvo do celular, mas, ao invés, de ligar, envio uma mensagem.
PS: Ainda tô de ressaca.
— Seu merdinha, que raios você está fazendo trancado nesse quarto? Não me diz que tá batendo uma punheta. Acho que você precisa de uma mulher, só pensa naquela loira, acho que nem é loira de verdade.
Reviro os olhos, ignorando suas batidas na porta.
— Tava pensando aqui, você ficou tanto tempo naquela prisão, será que ainda gosta de mulher? Você gosta, não gosta?
Bufo, desistindo e indo abrir a porta pra ele.
— Vamos montar, mas, por favor, cala a droga dessa boca.
AMÉLIA LEALExistem duas coisas que podem tornar meu dia melhor e estou indo fazer uma delas agora, já que passar um tempo com Dona Anna Maria se tornou impossível desde que ela decidiu embarcar no mundo da política e participar com frequência dos eventos. Esposa do ano.Um sorriso se forma em meus lábios assim que avisto a sacada do lar aquarela, morada de quase vinte crianças de ambos os sexos e idades distintas, onde tenho me voluntariado desde os dezesseis. Conheci o lugar quando tinha doze anos, fazendo uma visita ao bairro onde minha mãe cresceu. Acontece que foi paixão a primeira vista e de quebra encontrei um refúgio seguro. O táxi estaciona de frente a instituição e o agradeço, pagando pela corrida e saltando para fora do com pressa. Estou morrendo de saudade dos meus pequenos. Dou uma última olhada pra trás para checar se Júlio e César, meus seguranças, estão me seguindo. Reviro os olhos ao constatar que sim, no começo, até conseguia despistar e viver como uma garota normal e
HENRICO ZATTANIÉ tortura vê-la tão feliz com outro, saber que existe alguém ocupando o lugar que é meu por direito me deixa insano, na verdade, traz o de pior em mim à tona.Parece que minha vida foi arrancada sem que eu tivesse chance de escolha e tudo está fora do lugar.Me agarrei ao nosso amor quando fui preso, acreditei que ela ficaria contra o pai e me apoiaria, ou, encontraria provas da minha inocência e me tiraria de lá, mas nem ao menos uma visita ela se dignou a fazer. Aurora é quatro anos mais velha que eu, e fiquei enfeitiçado com sua segurança, beleza e independência quando nos conhecemos. Meu erro.Ela casou com um menino do interior sem se importar com o falatório e críticas, mas acreditou na primeira mentira que ouviu.Eu não sou mais um menino, no entanto. Não sou mais tão ingênuo e definitivamente não tão apaixonado.Ela não parece mais com a minha Aurora.No entanto, meus pensamentos sempre são guiados para os momentos em que vivemos juntos, os poucos meses que pass
AMÉLIA LEAL —É um menino. — É a primeira frase que Pedro fala assim que envolve seus braços ao meu redor, me abraçando com força.Os olhos brilhando em encantamento me fazem sorrir e trazem uma felicidade inexplicável para meu coração,ele é uma das poucas pessoas que me fazem bem, além dele só tem mamãe e as crianças do orfanato. Correspondo ao seu abraço e o aperto de volta, permitindo que meu corpo relaxe junto do seu, embora esteja confusa sobre sua fala.— Descobrimos o sexo hoje cedo e não sei por qual motivo, mas quis dividir com você. Acho que é por ser como minha irmãzinha mais nova e melhor amiga. — Diz e uma pedra de gela se infiltra no meu estômago.Irmãzinha.Sério? Entre todas as palavras, ele tinha que usar essa?— Eu sei que sua irmã iria lhe falar, mas não me aguentei e quis ser primeiro. — Engulo a seco, me sentando na cadeira quando ele faz o mesmo e se senta à minha frente.Minha irmã. Não estou certa se Aurora me contaria sobre o sexo do filho, meu sobrinho, na ver
HENRICO ZATTANIEu gosto de como o cabelo dela está jogado para lado, assim tenho uma visão privilegiada da pequena tatuagem de estrela que ela mantém escondida atrás da orelha esquerda. O que não significa que goste de observá-la ou tenha ficado minimamente curioso sobre o significado do desenho, também não estou pensando se existem outras pelo seu corpo. Estou aqui para dar mais uma passo em meu plano, hoje consegui provas suficientes pra derrubar o chefe de gabinete do meu ex sogro e deixá-lo sem muitas saídas. O tal Alencar está envolvido com lavagem de dinheiro e foi fácil descobrir, o idiota estava lavando em um lava-jato. Amador.O paspalho não deve assistir noticiário, se assistisse saberia que esse tipo de estabelecimento é o primeiro a ser investigado. Infelizmente não consegui nada contra Augusto Leal, contudo, continuo feliz.Primeiro você derruba toda a cavalaria, depois o rei.Amanhã estará estampado em todos os jornais e meios de comunicação. Soares me garantiu a prisão
AMÉLIA LEAL O gosto do chocolate trufado, recheado com licor de cereja, inunda meu paladar na primeira mordida e em poucos segundos os hormônios da felicidade são estimulados, fazendo com que pequenos suspiros de prazer saiam de minha garganta.Essa foi a sobremesa que ele deixou para mim.Acabo com todos os bombons em poucos minutos, me questionando a cada mordida como o filho da mãe sabe da minha preferência por chocolate, certo que esse deve ser um doce apreciado por quase todo mundo, mas como ele pode saber que esse em questão é o meu PREFERIDO.Gemo, culpada por esvaziar a caixa toda e ser tão fácil manipulada.Aceitei ser vendada enquanto jantava com um desconhecido, nem ao menos sei seu nome e mesmo assim fui, me submeti a um ato de submissão apenas para saciar minha curiosidade. Ele tinha razão, eu fiquei excitada com toda a situação. O mistério, a sua voz rouca me puxando sempre ao seu encontro e o jogo todo me envolve e instiga a querer mais e mais.No entanto, estou fic
AMÉLIA LEALAfasto o celular que Aurora ainda segura bem rente ao meu rosto e me proíbo de chorar na sua frente. Não sei o que passa em sua cabeça nesse exato momento, no entanto posso afirmar pelas suas expressões que não são os pensamentos mais corretos. Eu poderia explicar para minha irmã tudo desde o começo, mas não existe muito o que e
HENRICO ZATTANIEla parece uma égua brava. Andando de um lado para o outro, quase espumando pela boca.Me mantenho sobre o topo da sacada, escondido, alguns degraus de distância dela por segurança e me divertido com a situação inusitada. Meu humor estava ácido por não receber nenhuma notícia sobre a prisão de Alencar.<
AMÉLIA LEAL De punho fechado esmurro contra o volante do carro, imaginando no lugar o rosto de Henrico Zattani. Ele me beijou.O atrevido teve a cara de pau de me BEIJAR!