SamantaOs olhos de Sam continuavam fixos no pescoço da prima sentada à mesa da cozinha trabalhando sem parar no notebook. Na noite anterior, chegou tarde em casa, e viu que o carro de Ícaro estava estacionado lá fora. O estranho é que Amélia tinha comentado por mensagens, que um amigo da empresa viria ajudar com o seu projeto de arquitetura. Ela até citou o nome, um tal de Ticiano.Então, Sam ficou confusa quando percebeu que era Ícaro quem estava lá com ela.Ele não dormiu na casa delas. Amélia amanheceu na cozinha trabalhando, com uma aparência cansada e de poucos amigos.Sam ponderou se deveria ou não perguntar sobre as marcas no pescoço, colo e braços dela, ou se poderia perguntar sobre a linda coleira de submissa, cravejada de diamantes rosa.- Por quanto tempo mais você vai ficar me analisando Samanta? – ela perguntou, com os olhos fixos na tela.Sam estendeu uma xícara de café fumegante.- Estou tentando entender por que você está irritada. Seu homem estava aqui ontem, pense
Fernando Vidal A garota asiática que dançava para ele em cima da mesa, não passava dos quinze anos, essa era sua preferência. Ela rebolava vestida com uma roupa sensual preta, salto alto; uma indumentária preparada para ser igual a última vestimenta usada por sua esposinha. Por mais que a garota mexesse o corpo magro, não acabava com aquele tédio que ele sentia. Ela não era a primeira putinha sem graça que foi levada até ele, na casa colonial afastada da propriedade principal. A terceira vadia desta noite, não tinha nada de diferente das outras. Como essa piranha, todas as outras naquele mês e nos últimos anos, fracassaram miseravelmente em entrete-lo com sucesso. Eram tão insignificantes que causavam náuseas assim que as penetrava. Mesmo que fossem intocadas, elas não eram dignas. Até mesmo os gritos pareciam fracos e sem o menor atrativo, fossem de prazer ou dor. A falta daquela euforia experienciada com sua “esposa”, fez de Fernando um homem insatisfeito e impaciente.
A astúcia e inteligência o levaram ao destaque em pouco tempo e logo nos primeiros anos de exercício da profissão já estava no ministério público como o mais jovem juiz da cidade do Rio. Não demorou para se tornar procurador, adquiriu aliados que viram seu potencial e se tornaram sócios nos negócios paralelos, e agora desfrutam do poder e do prestígio do país inteiro. Astrid olhou para as abotoaduras de platina com ouro branco que continha uma minúscula gota de sangue. Ela a removeu com o lenço de bolso dele, e o arrumou de volta impecavelmente. Fernando praguejou com raiva, certamente ela faria disso um motivo para se recusar a fazer sexo mais tarde. Sorriu, beijando as mãos brancas e magras, com unhas pintadas de vermelho sangue. Não colocou tanta força no golpe que deu naquela vadiazinha para que ela se desmanchasse em sangue, respingando sua roupa impecável. Elas eram tão sujas, inúteis e indignas, nem se comparavam com sua “porquinha”. Ela era tímida e estoica, calada e
Ícaro O tatame cedeu sob a pressão dos seus pés, com a manobra da posição de defesa entre as pernas de Ticiano. A noite quente cai lá fora a mais de meia hora. Suados, continuaram o treino de jiu-jitsu que praticavam duas vezes por semana. - Você ficou de me passar as atualizações sobre os últimos passos da Astrid. Até agora só está tentando me nocautear e não me disse uma palavra sobre esse assunto. - Te enviei o relatório por e-mail, antes de sair da Acrópole. Você não viu? – disse o garoto, invertendo a posição do ataque. Com o tempo, ele estava cada vez melhor em derrubar suas defesas. Ticiano acabou de trocar de faixa, conquistando sua primeira faixa vermelha. Ícaro levou muito tempo para fazer esse garoto entender que esse esporte não se tratava de força bruta, e sim de conquistar paz de espírito. Ticiano nutria muita raiva dentro de si. Aos quinze anos, quando começou sua prática, ele era o espelho de um rebelde sem causa. - Não. – Ícaro o derrubou no tatame, o
Amélia Um suspiro frustrado escapou de seus lábios, enquanto se dirigia à sala de Ícaro. Até agora, conseguiu evitar esse contato com sucesso. Passou a manhã e o horário do almoço trabalhando avidamente nas novas ideias de design externo que foram enviadas para serem orçadas. Não saiu pelos corredores, nem usou a copa. Até o elevador de acesso foi cortado de seus planos. Tudo isso, para não se encontrar com ele. Ao longo das horas, o celular recebeu várias mensagens, mas ela ignorou completamente. Certamente alguma delas, era de Ícaro. E não estava pronta para falar com ele sobre o que descobriu, e esse não era um bom dia para discutir com ele. A vulnerabilidade de suas emoções ficam explícitas depois de realizar aquela “tarefa” mensal. Amélia bateu à porta. Esperava que ele só estivesse precisando de um relatório, ou de um documento qualquer. As palavras de Sam voltaram a sua mente. “Esse maldito desgraçado dos infernos ainda está procurando por você!”. Todos os
Icaro Um longo tempo se passou desde que chegaram a casa dele. O choro de Amélia molhou o travesseiro, as mãos dela estavam encolhidas no peito, e seus gemidos de dor despertavam uma fúria assassina em Ícaro. Adormecida a mais de uma hora, o psicológico da mulher sempre tão firme, desmoronou. Quando a colocou na cama, ela nem sabia onde estava, parecia perdida em uma outra realidade, em um passado infernal que minava suas esperanças. Fechou os punhos com força, a vontade de torcer o pescoço daquele desgraçado se tornou imperativa. Sentado na poltrona de couro preto , ele assistia o sono dela. Passou muito tempo, até que os pesadelos cessassem e Amélia suavizar a expressão carregada. Em seus sonhos ela implorava que ele parasse, pedia perdão e se culpava ofendendo a si mesma com palavras tão horríveis que ele não pode acreditar que foram usadas para com ela. Ela pedia constantemente por uma nova chance de tentar de novo, dizia que iria emagrecer, e que seria digna de Fernando. C
Amélia A sensação de aconchego e conforto era tão nova e distinta que ela não queria abrir os olhos. Seus pesadelos foram afugentados por um sonho leve e tranquilo nos braços de Ícaro, queria que seu lugar fosse ali onde a dor nunca mais poderia alcançá-la, onde sentia seu coração leve. Entretanto, uma batida na porta despertou completamente seu sono. O corpo quente dele a acolhia perfeitamente, suas mãos estavam enterradas nos sulcos de sua carne como se fossem feitas para encaixar exatamente ali. - Tem alguém batendo. – murmurou Amélia . Sabia que um sorriso bobo estava em seus lábios, seus olhos se abriram aos poucos encontrando os olhos dele, tão claros e cintilantes que por um segundo se sentiu hipnotizada por eles. - A Lola veio conferir se estava acordado. Provavelmente para avisar que o restante das suas coisas chegaram. - Lola? Minhas coisas? – Amélia debruçou sobre o peito dele e o encarou zangada. - Sim, minha doce amante austríaca – ele segurou seu rosto n
Amélia vestiu uma calça jeans e uma blusa regata preta, calçou seu par de tênis velho e arrumou algumas coisas em sua mochila. Se ele estava pensando que ela aceitaria essa situação absurda, estava muito enganado. Ícaro estava no escritório, no primeiro piso. Portanto foi fácil sair da casa sem ninguém notar. Onde já se viu, fazer uma coisa dessas sem considerar suas escolhas e vontades. Ele era maluco, não tinha outra explicação. A rua estava deserta, as outras casas não eram tão suntuosas quanto o triplex dele, mas todas eram muito luxuosas. As ruas eram ladeadas de palmeiras, as casas de tons claros cor de areia, lembravam um ambiente suave e paradisíaco da costa do Pacífico. Bem, se pretendia ir embora, tinha que se mexer. Admirar o condomínio fechado não levava a nada. Vinte minutos caminhando a passos largos pela rua larga, e não tinha chegado à metade dela. Que merda de lugar grande, pra que tanto espaço para esses riquinhos mimados. - Merda! – praguejou, passando a