SamantaA mesa de jantar ficou tão bonita quanto ela queria, só o clima tenso entre ela e Alberto continuava a mesma droga. Resolveu fazer um jantar de boas vindas para Mel, e também para comemorar a feliz notícia da gravidez.Saber que sua prima estava esperando um bebê foi uma alegria indizível, mas também foi um golpe em seu coração. Pensar em acompanhar o crescimento da barriga de Amélia, ver seu filho nascer e continuar sentindo seu próprio vazio era algo que deixava um gosto amargo na boca de Sam.Os olhos de Alberto queimavam sua pele. Do outro lado da mesa, ele fazia questão de demonstrar o quanto era um filho da puta escroto. - Obrigada por tudo isso, Sam. – Mel agradeceu, desviando a atenção de Samanta.- Não foi nada. Você passou por muitas coisas, precisava de um pouco de comemoração. - A Sam fez tudo isso sozinha, ela é muito talentosa com esse tipo de coisa. – Ícaro comentou, gesticulando a mesa e o ambiente à volta deles. O local escolhido era um restaurante novo que
Ícaro O hospital geral São José não ficava longe do condomínio. Foi para essa unidade que a moradora foi levada. A caminho, ligou para o chefe de segurança para verificar a identidade de quem foi atacado.- Jaime, qual o nome da mulher? – perguntou sem rodeios.- É a nova moradora, senhor Darius. Nivia Linhares.- Curioso isso, não?- Não entendi, senhor.- É interessante que esse incidente aconteceu logo após a ordem de desocupação sair. - Ah sim...isso... O senhor acha que...- Não se preocupe demais com isso, Jaime. – Ícaro verificou o horário. – Boa noite. As peças estavam começando a se encaixar. Enfim aquela mulher mostrava seu verdadeiro propósito, ela fez uma aposta arriscada e muito ousada. Mas adivinhe só, Nivia ou seja lá qual for o seu nome, deu um tiro no próprio pé.Fez outra chamada.- Me encontre no Hospital São José em quinze minutos. Acho que descobri uma coisa, e preciso de você para confirmar.- Estou ocupado. – Alberto respondeu. Um urro de dor foi ouvido d
O entregador parou por cerca de um a dois minutos na porta, em seguida entrou. Usava boné e aparentava ser bem jovem, com algumas tatuagens no pescoço. Ícaro analisou bem o comportamento suspeito do homem, esperando pelo próximo movimento. Entretanto, ele entrou e saiu do quarto, três minutos depois. O entregador não pegou o elevador, se dirigiu às escadas, e parecia com pressa. Estava prestes a segui-lo quando Alberto chegou.- Vamos acabar com isso logo. – ele disse assim que se aproximou. Alguma coisa estava muito errada. Ícaro continuava olhando para o corredor que levava às escadas de incêndio. Seus instintos alertavam sobre aquele cara.- Tem alguém com você? – ele perguntou.- Não, meu está cuidando dos dois suspeitos que foram pegos no condomínio. – Alberto verificou o celular. Ele era tão obcecado por controle que monitorava tudo através de suas câmeras. As imagens mostravam um barracão iluminado com dois indivíduos amarrados em uma porra de estaca, um contra o outro. U
AméliaOs olhos dele estavam sobre ela o tempo todo, mesmo que Amélia afirmasse que estava bem e que não estava sentindo nada, Ícaro permanecia vigilante feito um sentinela.Tudo isso em razão do que aconteceu na noite anterior e por causa da visita a médica obstetra esta tarde. A doutora Castro realizou vários exames e junto deles, o primeiro ultrassom. A emoção de ver aquele pequeno ser dentro dela, era maravilhosa, e compartilhar esses sentimentos com Ícaro era melhor ainda. Mas toda a alegria de ambos foi turvada quando a médica expôs sua preocupação. Devido a lesão que Amélia tinha no útero, havia um grande risco de aborto e complicações durante a gestação.Um plano de parto detalhado foi elaborado pela médica atenciosa, que decidiu que a melhor estratégia era segurar o bebe até a trigésima sétima semana, quando a sobrevivência fora do útero seria tranquila.Ícaro estava preocupado e tenso desde que saíram da consulta, e nada do que ela disse parecia acalmá-lo. Agora que estava
São PauloAmélia BastosMais que aberração é essa?! - um homem gritou.Ela se levantou, virando a cabeça para se desculpar pelo ocorrido. A visão periférica era limitada dentro da cabeça de camaleão. - De que buraco essa GORDA do inferno saiu?!!!! - o homem olhava para ela com raiva. Cuspindo ofensas, o cara continuava indignado apontando ou gesticulando para ela. As pessoas começaram a se aglomerar, querendo saber o que aconteceu.Amélia ficou parada, como se seus pés criassem raízes ali. Seus olhos se marejaram pelas lágrimas. -Ela fez de propósito! Quem fica parado na porta de uma loja com uma roupa bizarra dessa? Tá ocupando toda a saída, sua coisa gorda! - Talvez ela não tenha percebido que era grande demais para ficar aqui… - Não, acho que ela sabia o que estava fazendo… - Nossa tudo isso para vender?... que ridículo….As pessoas opinavam e julgavam com aquele olhar. Amélia sentia o peito apertado, como se o ar faltasse, enquanto as palavras cruéis ainda ecoavam na sua ca
Odiava aquela voz asquerosa.Bastou ouvir seu nome dito naquele tom áspero e autoritário para que Amélia sentisse o estômago revirar. Ela parou no meio do corredor, cerrando os punhos. Ela pretendia apenas trocar de roupa e respirar por um instante, mas claro que seu chefe insuportável tinha que estragar até isso.— Pode esperar um minuto? Acabei de voltar da galeria, preciso me trocar.— Na minha sala. Agora! — ele ralhou, com a grosseria de sempre.Amélia inspirou fundo, se recompondo do caos interior enquanto batia na porta do escritório dele. “Respira. Não perca a paciência.” Mas por dentro, sua frustração ardia como fogo. Soltou um suspiro de desgosto.Jaime Caetano sempre dava trabalho extra a Amélia quase no fim do expediente. Ele não gostou da sua contratação, que foi feita pelo gerente geral das lojas. Segundo ele, Amélia não tinha a imagem que a Color Graphic precisava para seus atendentes.Antes de entrar, puxou o ar com força e tentou adquirir uma serenidade que estava l
Palavrões e impropérios escapavam de sua boca.Parada sob a chuva, Amélia tentava apertar a tampa traseira do fusca, quando sentiu um impacto muito forte e ouviu um barulho alto de freada brusca.O som ao seu redor foi sumindo repentinamente, enquanto ela perdia os sentidos.O barulho de um assovio ensurdecedor na sua cabeça foi a primeira coisa que tomou consciência, sentia uma dor aguda em partes do corpo. Alguém estava tocando seu rosto, um pavor aterrorizante a tomou por não conseguir se mexer.Seus sentidos voltavam letárgicamente, a visão estava embaçada demais, a chuva foi a segunda coisa que conseguiu distinguir. No instante seguinte ouviu uma voz profunda a chamando.A pessoa dizia alguma coisa, mas ela não conseguia entender o que era.Compreendeu então, que sofreu um acidente. O que estavam dizendo? Será que a poça que sentia sob seu corpo era água da chuva ou sangue?- Você... me atropelou... – Amélia conseguiu dizer, ainda não enxergava quase nada e nem sabia se a pessoa t
Aos poucos Amélia foi acordando, estava em um quarto branco e amarelo pálido com uma tv enorme embutida na parede, um vaso de flores do campo de perfume suave; era um hospital particular.Não fazia ideia de como foi parar ali, ela não tinha convênio médico e nem um centavo no bolso para pagar. Se sentou na cama reclinada confortável, o lençol macio escorregou revelando a camisola fina com o logotipo do lugar de alto padrão.Esse é o tipo de hospital que os artistas e gente montado na grana procura quando precisa. Pelo menos a dor praticamente sumiu. Não via sinais de que passou por algum procedimento cirúrgico, felizmente.Amélia suspirou de alívio. Sentindo-se observada, ela se virou nos travesseiros macios; seus olhos se depararam com um homem parado perto da porta fechada.O homem a observava em silêncio. Incrivelmente alto e forte, imponente, o terno preto de alfaiataria cara talhava um porte muito sofisticado e másculo. O físico desenvolvido era invejável; os olhos de tom profun