Capítulo 3

Vivian Lima

Coloco as mãos na cintura e estreito meus olhos para o pequeno garoto que se aproximava. Dylan dá um sorriso tímido, sua babá o acompanhava e encolhe os ombros em um pedido de desculpas. Ontem não consegui arranjar ninguém que pudesse cuidar do Dylan, não deixaria o garoto trancado no quarto, precisava trabalhar e o que me restou foi levá-lo junto. Que Nathan não descubra que coloquei o filho dele para trabalhar junto, Dylan não é muito de falar, mas chegou uma hora que não podia mover um dedo e ele soltava uma pergunta. Ele queria saber o que eu fazia, então mostrei na prática.

E esse menino é espetacular, não é uma criança mimada e com frescura. Fomos a cada canto do hotel, precisava acompanhar alguns trabalhos pessoalmente e ele até me lembrou na hora certa do buffet que foi contratado e eu precisava supervisionar.

— Oi, gatinho.

— Oi, Tia Vivian. — Me abraça e beijo sua cabeça.

— Você me prometeu que hoje iria fazer coisas de criança. Tem uma piscina maravilhosa te esperando.

Dylan coloca os braços atrás do corpo e se balança nos calcanhares.

— Não posso ficar um pouquinho com você?

Ah, é sacanagem! Me olhando com aqueles olhinhos castanhos tão lindo. Dylan tem o mesmo sinal de nascença que seu pai, é uma réplica mais jovem de Nathan, confesso que no lugar da mãe dele estaria bastante irritada. Nove meses carregando a criança e sai a cópia do pai. Torço tanto para a minha filha ser minha cópia.

— Não, não pode. — Seguro em seus ombros e o viro em direção à piscina, dou um tapa em sua bunda. — Agora vai brincar, aproveita o sol que está fazendo e toma banho de piscina.

Desanimado, Dylan segue na direção que coloquei e a sua babá vai junto. Dylan é um garoto obediente e foi bom passar um tempinho com ele ontem, gosto de crianças e trabalhando demais mal posso ficar com a minha filha. Dylan supriu um pouco a saudade e a parte boa de ter uma criança conosco. Volto para minha correria, serão duas semanas intensas, é quase o mês todo para esse evento de negócios de várias áreas e diferentes pessoas do mundo estão em nosso país.

No hotel serão duas semanas seguidas nessa correria, porque algumas dessas conferências acontecem aqui. Porém, alguns hóspedes não ficam nesse período todo.

Ontem teve cinco dos hóspedes reclamando da fechadura. Hoje foram mais quatro, depois de falar com cada um deles, seguir para o escritório do Reinaldo. Dou duas batidinhas na porta e logo escuto a minha entrada ser liberada. Assim que me vê, Reinaldo suspira e revira os olhos, é um homem bonito de porte alto e loiro, mas o cérebro parece uma semente.

— Lá vem problema…

— De ontem para hoje tivemos nove reclamações sobre a fechadura das portas. — o interrompo, não suportando suas gracinhas. — No mês passado foram 100 reclamações. Você precisa resolver…

— Eu? Imagino que tenha dado um jeito nisso. — responde sem tirar os seus olhos do notebook.

— Um conserto temporário não é eficaz. Precisa trocar esse sistema.

Suspirando pesadamente, ele me olha irritado.

— Percebeu que você nunca vem com algo positivo? É exatamente isso que mostra o quanto somos diferentes. — aponta o dedo para mim e depois para ele. — Com você é sempre problema, não sei como meu pai a mantém aqui.

A diferença entre mim e ele é que quero as coisas certas, tudo funcionando no seu devido lugar e perfeitamente para garantir as cinco estrelas e comentários felizes desse lugar. Porque se esse hotel começar a fazer cortes e eu for uma das selecionadas, sou eu que perco o emprego e ele continua nadando no dinheiro.

— Talvez seja melhor você notificar o seu pai sobre os últimos acontecimentos. — Sugiro.

Estou se aplicando para que Carlos volte a liderar o hotel. Por que ele tirou férias? Não existem férias para o império que tem, pelo menos não conto se coloca Reinaldo em seu lugar. Carlos está querendo testar e ver seu império falir em vida? Reinaldo me olha sério.

— Você para uma simples empregada é muito petulante. — Olho para ele chocada. — Se põe no seu lugar e lembre que sou o dono deste hotel, não me estressa ou seu próximo problema será arranjar um novo trabalho.

Fecha as minhas mãos em punho e não usa abrir a minha boca para respondê-lo. Reinaldo me desafia com olhar, querendo que dê motivo a ele. Esse idiota terá o prazer de me demitir mesmo sabendo dos meus direitos, mas quer ter o gostinho de me mandar embora.

— Deseja mais alguma coisa?

Forço um sorriso.

— Não.

— Não o quê? — Dá um olhar inocente.

Sabia bem o que ele queria ouvir.

— Não, senhor.

— Perfeito! Saia da minha sala.

E assim faço. Que raiva! Dois reais ou um estresse diário? Deveria ter pedido minhas férias no exato momento que Carlos saiu de férias também, não seria o mesmo tempo que ele, mas seria menos tempo com Reinaldo. No corredor encosto na parede e respiro fundo, meu emocional está ferrado de um jeito que não sei explicar. Estou tão cansada. Financeiramente falando estou bem graças a Deus, tenho o meu apartamento que foi uma luta, mas consegui comprá-lo. Mora eu e minha filha, ela passou o dia todo e o início da noite com a minha mãe. Preciso sempre ir até o outro bairro para buscá-la e voltar para o Leblon.

Acaba aumentando o meu cansaço fisicamente, agora o emocional está ficando insuportável. Minha mãe, Adelaide, insiste que entre com um processo contra o pai da minha menina e, ao mesmo tempo, tenta defender a minha irmã. Maitê não precisa do pai, consigo nos manter perfeitamente, o grande problema mesmo de não fazer nada que envolva a ele é que dói demais a cachorrada que fizeram comigo.

Porra, era minha irmã e meu noivo!

A minha irmã mais nova me apunhalou pelas costas e meu noivo, quem dormia ao meu lado e todos os dias dizia que me amava, me fez passar como uma completa desconhecida do dia do nosso casamento.

É tão estranha ser considerada a melhor mulher do mundo, ser tratada como uma rainha e depois não passar de uma desconhecida. Dois anos de relacionamento e a única coisa boa foi a Maitê.

Enxugo as minhas lágrimas rapidamente. Trabalho! Preciso trabalhar.

Tento organizar tudo possível para a próxima conferência, o gerente geral me ajuda a manter as coisas no seu devido lugar. Houve mais dois hóspedes reclamando do sistema da fechadura, mais uma vez resolvo. Agora até quando irá durar, não sabemos.

Passando perto da área da piscina, vejo Dylan sentado abraçando as pernas contra o corpo sentado na espreguiçadeira. Ele olha as crianças brincando na água. Por que ele não está brincando com elas? Me aproximo dele, sua babá me ver e praticamente corre em minha direção.

— Não sei o que fazer. — Me olha nervosa. — Ele não quer mais conversar, fica olhando as crianças, mas não quer se aproximar delas. Penso em falar com o Sr. LeBlanc, será que devo?

Seguro sua mão e sorrir.

— Deixe eu conversar com ele, tá bom?

Ela concorda. Me aproximo de Dylan e ele só percebe a minha presença quando me sento ao seu lado. Um sorriso surge em seus lábios.

— Oi, gatinho.

— Oi, Tia Vivian.

O bom é que ele está falando.

— Posso saber porque você não quer brincar com as crianças? — O seu sorriso diminui e ele se cala. — Ei, não quero ver você desse jeito. — Abraço ele de lado. — Não sei o que está acontecendo, mas a qualquer momento que quiser conversar pode me chamar.

Ele balança a cabeça e nada diz.

— Por que não vai para seu quarto assistir desenho ou jogar um pouco? — Era melhor ele ficar no conforto do quarto e no ar condicionado do que nesse calor insuportável.

Dylan se anima, beijo seu rosto e ele segue com a sua babá para o quarto. Fecho meus olhos e suspiro, não tenho que me meter na vida pessoal dos hóspedes. E estou indo fazer exatamente ao contrário, abro os meus olhos e respiro fundo. Onde será que estaria Nathan LeBlanc?

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