Vivian Lima
Vou para a recepção e olho o cronograma das palestras que estariam acontecendo no hotel. Procuro pelo nome de Nathan e olho o meu relógio vendo que daqui a 5 minutos, ele estaria terminando sua última palestra do dia. Me apresso para conseguir alcançá-lo, tenho acesso livre para chegar perto do palco. Corto o caminho torcendo para que Nathan seja um daqueles palestrantes que pega logo o corredor da saída não querendo contato direto com os outros.
Mas ainda assim, caso optasse por ir falar com os seus ouvintes, daria para ele me ver e assim poderia acenar pedindo um pouco da sua atenção.
No corredor, o vejo descer do palco. Começo a acenar disfarçadamente, um homem entra na frente de Nathan e fala algo com ele. Continuo na minha tentativa de chamar sua atenção, Nathan ergue o olhar por cima do ombro do homem e me ver. Nathan pede licença e vem na minha direção sendo seguido por dois homens, homens bem grandes. Acredito que seja os seus seguranças.
— Senhorita Lima. — Me cumprimenta.
— Oi, Sr. LeBlanc. — olho ao redor vendo se não vinha mais alguém. — Poderia ter um pouco da sua atenção?
Ele me olha em silêncio e quando penso que iria negar, acena com a cabeça e segue comigo pelo corredor. Tomamos distância de onde continuava as palestras, seus seguranças ficam a uma distância de nós dando privacidade.
— Há algum problema? Dylan fez algo…
Ergo as mãos rapidamente no ar.
— Não, Dylan é um amor.
Nathan relaxa, percebendo que seu filho não era o problema.
— O que aconteceu?
— É que… sei que estou ultrapassando uma linha que não deveria. — afasto o meu nervosismo e vou direto ao assunto. — Dylan tem se mantido distante das crianças ou fazer qualquer outra coisa que não seja estar em seu quarto. Encontrei ele na piscina, Dylan estava tão triste e distante, gostaria de saber se posso fazer alguma coisa por ele.
Ontem e hoje conheci versões diferentes do Dylan. Algo está acontecendo e se Nathan não sabe, precisa ficar ciente quanto antes. Muitas das vezes as crianças não tocam no assunto sobre o que vem as incomodando e é preciso o adulto ficar atento aos sinais. Sempre cuidando e alertando os nossos pequenos.
— Por que se preocupar com meu filho? — Ah, percebo sua desconfiança.
E está no seu direito. Provavelmente pode pensar que eu sou uma interesseira querendo me aproximar do filho dele com segundas intenções. Amo crianças, comecei como babá pelo apego que eu tinha e a facilidade de cuidados pequenos. Minha filha não foi planejada, mas é o meu maior tesouro nesta terra. Toda criança que eu puder demonstrar um pouco de carinho e amor farei sem sombra de dúvidas. Não é que eu seja apenas amor, sei reconhecer as horas de dar os sermões e um leve puxão de orelha alertando o que está fazendo de errado. Porém, são seres inocentes e há muita maldade nesse mundo.
— Olha, sei que não deveria. Sou funcionária e ele o filho de um dos hóspedes, não é certo me envolver na vida pessoal, mas gosto do Dylan. — Sou sincera. — Ele foi uma companhia incrível para mim.
Nathan parece considerar as minhas palavras. Ele desce o seu olhar para os meus seios, tão descaradamente e engole em seco. Fico incomodada com o seu olhar.
— Estamos passando por um processo… Difícil de certo modo. — Olha novamente. — E Dylan está precisando… Hum… se adaptar a nova rotina. Mesmo que… — Nathan para de falar de vez.
— Há algum problema?! — Acabo falando mais alto do que pretendia.
Colocando as minhas mãos na cintura, olho para ele séria. Estou querendo ajudar o filho dele e esse safado fica olhando para os meus seios, sabia que era tão cretino quanto os outros. É um homem casado! Cadê o respeito com a mulher dele? Cadê o respeito comigo? Nathan ergue o dedo indicador e aponta para os meus seios.
— Seus seios, eles estão vazando.
Desço meu olhar e arregalo os olhos. Meu Deus! Sinto meu corpo esquentar pela vergonha que estou sentindo, não sabia onde enfiar a minha cara. E eu pensando coisas horrendas desse homem.
— Ah, não! — cubro os meus seios com os braços. — É que… Meu Deus! — A mancha não é enorme, mas chama atenção. Como não percebi? — Estou morrendo de vergonha que nem consigo falar.
Evito olhar para o Nathan. Esqueci de fazer a retirada do leite, foi uma correria. Nathan me surpreende tirando seu casaco, um passa o suficiente para estar na minha frente. Sinto a sua recuperação bater no meu rosto e ele passa o casaco pelo meu ombro, o processo é rápido e não sei porquê está em uma lentidão sob o meu olhar. Nathan arruma a gola do casaco em meu pescoço, como se tivesse garantindo que não sentisse frio mesmo que não fosse objetivo. Seus dedos chegam a roçar em minha pele e sinto um arrepio, meus olhos me prendem aos dele.
Prendo a minha respiração vendo os olhos castanhos tão de perto. O sinal de nascença que dá um charme a mais nesse homem, deixa o olhar dele mais intenso.
Nathan olha nos meus olhos e ali fica o seu olhar, nenhum lugar mais. Não me sinto mais desconfortável como antes. Ele sorri, não era um sorriso debochado ou irônico, é um sorriso acolhedor.
— Tudo bem. — sua voz me deixa grogue. — Não precisa ficar com vergonha. Tem filhos? — seu sorriso aumenta, pergunta sabendo da resposta.
Acabo sorrindo também. Ele quer deixar o clima mais leve e me surpreendo mais com a sua atitude.
— Sim, uma menina de seis meses.
— Ah, essa fase é tão boa. — suspira, lembrando de algo. Ah, meu Deus, ele é um pai coruja. Dá para ver no olhar. Esses pais estão em extinção. — Tenho dois filhos, o Dylan é o mais velho de 10 anos e tenho o Mikael de 5 anos. Qual o nome da sua filha?
Será que o mais novo seria tão parecido quanto o mais velho com o pai? Fico curiosa em conhecer o Mikael, Dylan é gentil e meigo, Mikael não deve ser diferente.
— Maitê. — Pensar na minha menina me faz sorrir. — Fui a felizarda em ter bastante leite para alimentá-la e mais três bebês.
Ele ri. A risada grave escapa do fundo da sua garganta, uma risada sincera que faz a pessoa sorrir também. Ainda mais vendo um homem desse tamanho, que constantemente está com o rosto sério e faz parecer ser um homem mau. Na verdade é um pai coruja e sabe sorrir, fazendo a sua beleza bruta mostrar o seu lado sensível. Droga, porque que eu estou sendo tão detalhista desse jeito? É bom para Dylan e Mikael, apenas. Ah, e a esposa dele, essa acertou na escolha do marido.
— Imagino que deva amar.
Dou de ombros.
— Às vezes me sinto uma vaca-leiteira, mas amo minha filha. — Sou sincera demais, estranhamente me sentindo muito confortável.
Ajeito o seu casaco em meu corpo, ouvindo a sua risada baixo. Parando para perceber a nossa aproximação, dou um passo para trás evitando o seu olhar. Fico um pouco tímida, acho que ultrapassei todas as linhas possíveis que não deveria.
— Desculpe. — Respira fundo, controlando a risada.
— Sem problemas.
— Espero um dia conhecê-la.
O olho.
— É, quem sabe. — Aperto o casaco em meu corpo. — Vou me trocar bem rápido e te devolvo…
— Não precisa se preocupar.
Balanço a cabeça concordando, mas me apresso para sair dali.
— Vivian?
Olho para trás.
— Obrigado por se preocupar com meu filho.
Sorri e vou embora. Ainda envergonhada, mas querendo saber sobre Dylan e ajudar se possível. Como havia falado quando o assunto é criança, todo cuidado é pouco, é uma fase tão rápida, as circunstâncias da vida já estão aí para maltratar o suficiente. No mínimo, é manter a felicidade e a inocência da sua fase quando criança.
Nathan LeBlanc O sorriso não deixa meus lábios, lembrando do acontecido com Vivian. O jeito dela entrega tão fácil o que pensa, não consegui evitar olhar para seus seios por cima da roupa que usava vendo a mancha de leite se formar. Não querendo que Vivian pensasse o pior de mim, mesmo suas reações deixando claro, resolvi ser direto. Só não esperava a nossa troca de conversa depois desse desconforto, Vivian me arrancou uma risada sincera pelo modo que falava. Viver com ela deve ser uma montanha-russa pelas suas emoções, mas a mulher é sincera e fala o que pensa.— Papai? Dylan e eu estamos no restaurante do hotel. Não quero que meu filho volte para a caverna que criou depois do avanço que teve ao conhecer Vivian. Ele toma seu sorvete de várias bolas de diferentes sabores. — Oi? — Bebo um pouco do suco natural de maracujá, querendo acalmar os músculos e agitação do meu corpo e ao redor. — Você não tem que trabalhar?— Tenho meia hora até o próximo compromisso.— Ah, sim. — Come mai
Nathan LeBlanc Dou uma volta no salão e falo rapidamente com algumas pessoas, Vivian havia saído sem ser percebida pelos convidados. Mando mensagem rápida para Karl, mobilizando os seguranças e um deles seria o motorista. Cansado de aturar aquelas pessoas, finalmente consigo ir embora. Sinto uma leve dor de cabeça, algo que não tem sido tão constante, mas quando começa é um aviso para ir mais devagar nas minhas atividades. Pego o elevador indo para o estacionamento, as portas se abrem e vejo Vivian dando um pulo e colocando a mão no peito.— Assustada? — Passo por ela, Vivian me segue.— É que está muito silencioso… Hum, e aqueles homens… — Deixa no ar.Era meus seguranças, entrando em seus próprios carros ao me ver.— Não se preocupe, está em segurança. — Aceno para o meu segurança para ocupar o banco do motorista e abri a porta para Vivian entrasse.— É percebi. — Soa irônica.Ocupo o lugar ao seu lado, fechando a porta. Vivian passa o seu endereço.— É realmente necessário tanto s
Vivian Lima Mais uma manhã e mais uma rotina intensa de trabalho. Chego cedo no hotel precisando verificar pessoalmente se o salão para o evento privado de ontem está limpo e liberado para o próximo evento à tarde. Recebo uma reclamação sobre a fechadura da porta do quarto de mais um hóspede, seguimos com resolver o problema sabendo que voltaria a ficar ruim novamente. Vi Dylan apenas uma vez com a sua babá em uma tentativa de brincar com as outras crianças, infelizmente não pude fazer nada e precisei focar no trabalho. Perdi boa parte do meu horário do almoço, minha cabeça dói e a fome parece me devorar de dentro para fora. Poderia comer três marmitas sem problema algum, uma coisa que ganhei com o nascimento da minha filha foi fome. Não comi loucamente durante a gravidez e a nutricionista juntamente com a doutora que acompanhou a minha gestação ficaram orgulhosa de mim por seguir certinho. Sem desejos malucos, minha filha é uma maravilha dentro e fora da barriga.Fico na espera de
Vivian Lima— É a primeira vez e única. Não quero uma mulherzinha como você no meu hotel. — Uma… mulherzinha como eu? — faço uma careta formulando a pergunta. — O que…— Ah, cala boca! Está demitida e ponto final, está querendo ganhar um processo? Pouco me importo com a sua vida pessoal, até porque não iria se casar? Não estou vendo nenhum anel de casamento no seu dedo. Vai saber o que fez para o seu noivo te largar!Sinto as minhas pernas vacilarem, abraço Maitê com mais força, ouvindo o seu choro baixo.— É uma vagabunda qualquer que nem o noivo aguentou. — Me olha com desdém. — Não quero uma imunda no meu hotel.Engoli em seco.— Você não tem… o direito de falar assim comigo. — Pisco, não quero chorar.Sabia que esse homem podia ser baixo e um grande cretino, mas estava com esperança de que não fosse o seu alvo e que as coisas do hotel pudessem voltar ao normal com a chegada do seu pai. Ele dá mais alguns passos se aproximando de mim.— E como deveria falar com uma pessoa igual a
Nathan LeBlancEstava prestes a entrar em uma reunião, quando vejo meu filho correndo atrás de mim desespero e sua babá mais desesperada ainda. Alguma coisa a ver acontecido, peço licença para às pessoas que entram na sala a minha frente, meu agente fica na porta à minha espera. Passo a mão no ar afastando uma mosca, enquanto espero Dylan chegar até a mim e dizer o que havia acontecido. Porém, Dylan está ofegante pela corrida e não diz nada, pegando em minha mão e começa a me passar puxar.— Ei, ei, ei! — Paro e segura a sua mão com mais força fazendo com que ele pare. — Por que essa pressa toda?Me abaixo na sua frente.— Papai, vem! — Tenta me puxar e faço com que pare novamente.— Dylan, ir para onde? O que está acontecendo?Olho para a babá dele, mas é Dylan quem responde.— O homem da cara feia está brigando com a tia Vivian. — Dylan mexe as mãos agoniado. — Ajuda ela, papai, por favor. Prometo me comportar e não fazer bagunça na escola por um mês inteirinho.Como se Dylan me des
Nathan LeBlanc Muito provavelmente essa seja a intenção de Reinaldo Amarante, o que Vivian não imagina é que tenho o contato direto com Carlos Amarante. Vivian tem fama melhor do que o próprio filho do dono, a maioria dos hóspedes são antigos vindo frequentemente para esse hotel. Os comentários sobre a decadência que vem acontecendo é algo que dá para se ouvir de longe, talvez muito venham respeitando a imagem de Carlos e se contendo para falar algo pior. Pelo que sei, Vivian trabalha há alguns anos nesse hotel, um profissionalismo impecável e muito elogiado. Porém, se for apenas o trabalho que impede Vivian de jantar comigo. Posso dar um jeito nisso.— É apenas o trabalho que a impede?Vivian não me responde de imediato.— Não vou me deitar com você. — Estou te chamando para jantar, a parte de se deitar vem depois… — sou rápido em me esquiar quando Vivian tenta me bater.A nossa conversa era baixa, não sei o que é babado do meu filho poderia estar pensando ao ver Vivian em eu ness
Nathan LeBlanc Parece que os dois estão encantados pela mesma mulher, mas com intenções diferentes e nunca apareci com outra mulher perto dos meus filhos. Dylan não quis conversar sobre a minha separação com sua mãe, é um assunto que o incomoda até hoje e sabemos que o afeta.Sempre que tentei conversar ele me ouviu, mas não disse nada.— Olha, Dylan, eu… — me sinto uma criança sendo pego pelo pai.— Vocês estão namorando?— O que?! Não…— Por que não? — inclina a cabeça para o lado. — Não gosta da tia Vivian?Uma mistura de surpresa e confusão me atinge. — Você… não estamos juntos, Dylan. — Fico sério, precisando saber. — Mas está tudo bem para você se me ver com outra mulher que não seja sua mãe?Mikael surtaria.Dylan olha para o chão e pensa um pouco.— Gosto da tia Vivian…— Dylan…— Se vocês ficarem juntos, tia Vivian e Maitê vão para Nova York conosco. — Me olha. — Somos boas pessoas, podemos ser… uma família. — Sussurra a última parte. Evita me olhar. — Quero uma família de
Vivian LimaPoderia começar a me questionar o que está acontecendo comigo em aceitar ir jantar com o Nathan, ele me parece ser uma pessoa boa e estranhamente me sinto bem e segura ao seu lado. Não quero dizer que me tornei uma louca com a segurança da minha filha, mas mesmo tendo ficado relutante em deixá-la com ele hoje mais cedo foi apenas algo momentâneo. A paz tomou conta do meu peito novamente e consegui trabalhar tranquila. Deveria correr para todas as direções se for para longe desse homem e Nathan faz com que siga as direções que dá nele.— Você tem exatamente 10 minutos. — Olha o relógio no pulso. — Dou um jeito de entrar, caso não apareça.Dou uma risada baixa. — Ah, ok.Saio do carro, me sentindo bem. Nem a situação de mais cedo com a minha irmã me atormenta, sinto uma energia surgir e entro no meu prédio. Faz exatamente quatro meses que não tenho contato com outro adulto a não ser que seja sobre o trabalho, resolver assuntos estressantes e nunca gastar o tempo conversando