Capítulo 4

Vivian Lima

Vou para a recepção e olho o cronograma das palestras que estariam acontecendo no hotel. Procuro pelo nome de Nathan e olho o meu relógio vendo que daqui a 5 minutos, ele estaria terminando sua última palestra do dia. Me apresso para conseguir alcançá-lo, tenho acesso livre para chegar perto do palco. Corto o caminho torcendo para que Nathan seja um daqueles palestrantes que pega logo o corredor da saída não querendo contato direto com os outros. 

Mas ainda assim, caso optasse por ir falar com os seus ouvintes, daria para ele me ver e assim poderia acenar pedindo um pouco da sua atenção.

No corredor, o vejo descer do palco. Começo a acenar disfarçadamente, um homem entra na frente de Nathan e fala algo com ele. Continuo na minha tentativa de chamar sua atenção, Nathan ergue o olhar por cima do ombro do homem e me ver. Nathan pede licença e vem na minha direção sendo seguido por dois homens, homens bem grandes. Acredito que seja os seus seguranças.

— Senhorita Lima. — Me cumprimenta.

— Oi, Sr. LeBlanc. — olho ao redor vendo se não vinha mais alguém. — Poderia ter um pouco da sua atenção?

Ele me olha em silêncio e quando penso que iria negar, acena com a cabeça e segue comigo pelo corredor. Tomamos distância de onde continuava as palestras, seus seguranças ficam a uma distância de nós dando privacidade. 

— Há algum problema? Dylan fez algo…

Ergo as mãos rapidamente no ar. 

— Não, Dylan é um amor.

Nathan relaxa, percebendo que seu filho não era o problema. 

— O que aconteceu? 

— É que… sei que estou ultrapassando uma linha que não deveria. — afasto o meu nervosismo e vou direto ao assunto. — Dylan tem se mantido distante das crianças ou fazer qualquer outra coisa que não seja estar em seu quarto. Encontrei ele na piscina, Dylan estava tão triste e distante, gostaria de saber se posso fazer alguma coisa por ele.

Ontem e hoje conheci versões diferentes do Dylan. Algo está acontecendo e se Nathan não sabe, precisa ficar ciente quanto antes. Muitas das vezes as crianças não tocam no assunto sobre o que vem as incomodando e é preciso o adulto ficar atento aos sinais. Sempre cuidando e alertando os nossos pequenos.

— Por que se preocupar com meu filho? — Ah, percebo sua desconfiança.

E está no seu direito. Provavelmente pode pensar que eu sou uma interesseira querendo me aproximar do filho dele com segundas intenções. Amo crianças, comecei como babá pelo apego que eu tinha e a facilidade de cuidados pequenos. Minha filha não foi planejada, mas é o meu maior tesouro nesta terra. Toda criança que eu puder demonstrar um pouco de carinho e amor farei sem sombra de dúvidas. Não é que eu seja apenas amor, sei reconhecer as horas de dar os sermões e um leve puxão de orelha alertando o que está fazendo de errado. Porém, são seres inocentes e há muita maldade nesse mundo.

— Olha, sei que não deveria. Sou funcionária e ele o filho de um dos hóspedes, não é certo me envolver na vida pessoal, mas gosto do Dylan. — Sou sincera. — Ele foi uma companhia incrível para mim.

Nathan parece considerar as minhas palavras. Ele desce o seu olhar para os meus seios, tão descaradamente e engole em seco. Fico incomodada com o seu olhar.

— Estamos passando por um processo…  Difícil de certo modo. — Olha novamente. — E Dylan está precisando… Hum… se adaptar a nova rotina. Mesmo que… — Nathan para de falar de vez. 

— Há algum problema?! — Acabo falando mais alto do que pretendia.

Colocando as minhas mãos na cintura, olho para ele séria. Estou querendo ajudar o filho dele e esse safado fica olhando para os meus seios, sabia que era tão cretino quanto os outros. É um homem casado! Cadê o respeito com a mulher dele? Cadê o respeito comigo? Nathan ergue o dedo indicador e aponta para os meus seios.

— Seus seios, eles estão vazando.

Desço meu olhar e arregalo os olhos. Meu Deus! Sinto meu corpo esquentar pela vergonha que estou sentindo, não sabia onde enfiar a minha cara. E eu pensando coisas horrendas desse homem.

— Ah, não! — cubro os meus seios com os braços. — É que… Meu Deus! — A mancha não é enorme, mas chama atenção. Como não percebi? — Estou morrendo de vergonha que nem consigo falar.

Evito olhar para o Nathan. Esqueci de fazer a retirada do leite, foi uma correria. Nathan me surpreende tirando seu casaco, um passa o suficiente para estar na minha frente. Sinto a sua recuperação bater no meu rosto e ele passa o casaco pelo meu ombro, o processo é rápido e não sei porquê está em uma lentidão sob o meu olhar. Nathan arruma a gola do casaco em meu pescoço, como se tivesse garantindo que não sentisse frio mesmo que não fosse objetivo. Seus dedos chegam a roçar em minha pele e sinto um arrepio, meus olhos me prendem aos dele.

Prendo a minha respiração vendo os olhos castanhos tão de perto. O sinal de nascença que dá um charme a mais nesse homem, deixa o olhar dele mais intenso.

Nathan olha nos meus olhos e ali fica o seu olhar, nenhum lugar mais. Não me sinto mais desconfortável como antes. Ele sorri, não era um sorriso debochado ou irônico, é um sorriso acolhedor. 

— Tudo bem. — sua voz me deixa grogue. — Não precisa ficar com vergonha. Tem filhos? — seu sorriso aumenta, pergunta sabendo da resposta. 

Acabo sorrindo também. Ele quer deixar o clima mais leve e me surpreendo mais com a sua atitude.

— Sim, uma menina de seis meses.

— Ah, essa fase é tão boa. — suspira, lembrando de algo. Ah, meu Deus, ele é um pai coruja. Dá para ver no olhar. Esses pais estão em extinção. — Tenho dois filhos, o Dylan é o mais velho de 10 anos e tenho o Mikael de 5 anos. Qual o nome da sua filha?

Será que o mais novo seria tão parecido quanto o mais velho com o pai? Fico curiosa em conhecer o Mikael, Dylan é gentil e meigo, Mikael não deve ser diferente.

— Maitê. — Pensar na minha menina me faz sorrir. — Fui a felizarda em ter bastante leite para alimentá-la e mais três bebês.

Ele ri. A risada grave escapa do fundo da sua garganta, uma risada sincera que faz a pessoa sorrir também. Ainda mais vendo um homem desse tamanho, que constantemente está com o rosto sério e faz parecer ser um homem mau. Na verdade é um pai coruja e sabe sorrir, fazendo a sua beleza bruta mostrar o seu lado sensível. Droga, porque que eu estou sendo tão detalhista desse jeito? É bom para Dylan e Mikael, apenas. Ah, e a esposa dele, essa acertou na escolha do marido.

— Imagino que deva amar.

Dou de ombros.

— Às vezes me sinto uma vaca-leiteira, mas amo minha filha. — Sou sincera demais, estranhamente me sentindo muito confortável.

Ajeito o seu casaco em meu corpo, ouvindo a sua risada baixo. Parando para perceber a nossa aproximação, dou um passo para trás evitando o seu olhar. Fico um pouco tímida, acho que ultrapassei todas as linhas possíveis que não deveria. 

— Desculpe. — Respira fundo, controlando a risada.

— Sem problemas.

— Espero um dia conhecê-la.

O olho.

— É, quem sabe. — Aperto o casaco em meu corpo. — Vou me trocar bem rápido e te devolvo…

— Não precisa se preocupar.

Balanço a cabeça concordando, mas me apresso para sair dali.

— Vivian?

Olho para trás.

— Obrigado por se preocupar com meu filho.

Sorri e vou embora. Ainda envergonhada, mas querendo saber sobre Dylan e ajudar se possível. Como havia falado quando o assunto é criança, todo cuidado é pouco, é uma fase tão rápida, as circunstâncias da vida já estão aí para maltratar o suficiente. No mínimo, é manter a felicidade e a inocência da sua fase quando criança. 

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