- Luis, fico feliz que você aceitou iniciar seu tratamento e passar pelo processo psicoterapêutico! – uma jovem e em humorada mulher me diz enquanto eu me acomodo na poltrona branca em sua frente. – Antes de qualquer coisa, penso que se nos apresentássemos iriamos nos sentir melhor, o que acha?
- É... – travo e tento não começar a chorar novamente. Aquela semana foi a pior de minha vida, afinal eu sabia de minha sentença de morte a exatamente 7 dias, e agora finalmente estava pronto para insistir em algum tratamento que Raphael me infernizava para fazer. – Tudo bem... – respondo apreensivo, tentando não transparecer para a jovem psicóloga.
- Ótimo! – ela responde colocando seu caderno de anotações na pequena mesa de centro
Duas semanas se passaram desde meu diagnóstico e desde o começo da minha jornada com a psicóloga, que por sinal, estava sendo uma importante aliada na minha descoberta do que era o HIV e como eu lidaria com isso. Meus pensamentos agiam como veneno corroendo uma linda e jovem rosa, que a cada hora sentia suas pétalas morrerem uma por uma. Um dos meus maiores dilemas era a dificuldade que sentia em abrir o jogo com Miguel. Raphael insistia que eu deveria contar de uma vez, para arrancar logo o curativo que vinha me machucando. Mas o fato era que o medo ainda vencia essa batalha, afinal Miguel era a luz que me mantinha são nesse grande e destruidor túnel.- Como se sente? – dizia Raphael me encarando com uma expressão confusa eesperançosa, depois de uma hora de eu ter tomado os primeiros dois comprimidos de meu infinito tratamento. O médico, ante
O consultório de Clara conseguia passar uma tranquilidade para minha mente cansada e bagunçada, acho que todos os consultórios de todos os psicólogos do mundo têm esse poder. A psicologia é mais do que uma profissão, é o que me mantem vivo e são nesses dias.- E como passou essa semana, Luis? – Clara diz após eu entrar e me acomodar na poltrona em sua frente.- Acho que relativamente bem... – digo baixo. – Mas houve um pequeno incidente com meu namorado, alguns dias atrás... – resolvo dizer tudo de uma vez, afinal eu não podia esconder aquilo dela, pois era exatamente aquilo que estava me consumindo a muitos dias.- E você quer me contar o que houve? &ndash
MiguelLuis Hander se tornou o elemento mais importante para minha existência. Ele é como o oxigênio que enche meus pulmões com seu amor, gentileza e bondade. Quando olho para seus olhos azuis, consigo ver o universo de sua alma, consigo ver e entender o porquê todos nós o amamos tanto. Luis Hander é, com toda certeza e vontade desse mundo caótico, o amor da minha vida. Com ele, consigo extrair o melhor de mim, e tenho certeza de que tudo que conto e penso, é recíproco.Não temos tantas certezas em nossa vida, que na maior parte dos casos é curta. Às vezes, ela muda e se transfigura da mesma maneira que o clima de um dia ensolarado e tranquilo de novembro, pode se transformar em uma tempestuosa e assustadora chuva, que molha tudo e todos sem medo, dó ou piedade. Estou familiarizado com o fato de que nossa única certeza é a mo
MiguelVer meus novos melhores amigos se casando era mais do que uma felicidade alheia, era a chave para a certeza de que eu poderia fazer o mesmo com Luis. Eu poderia entrar lado a lado com o amor da minha vida e assinar um papel que selaria nosso amor.- Acho que devemos nos arrumar, então? – digo rindo e levantando do sofá. – Você quer ir até a casa de Luis comigo?- Não, não. Eu vou me arrumar aqui... – diz procurando sua roupa, que estava embalada a sua esquerda. – Ver o noivo antes do casamento da azar, lembra? – acrescenta sorrindo e se despedindo.No caminho, vou pensando e rindo sozinho. Minha felicidade estava atingindo os céus, finalmente tudo estava dando certo!&n
Havia se passado duas semanas desde o casamento de Raphael e Jude.As coisas entre mim e Miguel estavam cada vez melhores, e indo em contramão do que minha mente conturbada criava entre os momentos de coragem e fraqueza, ele era definitivamente a melhor pessoa em lidar com tudo aquilo. Desde os problemas que eu mesmo criava a partir da condição, até dos momentos em que minha mente controlava todas as minhas emoções.- Luis! – Clara diz sorrindo ao me ver entrando em seu consultório. – Olá!- Olá... – digo envergonhado me sentando na poltrona em sua frente.- E como foi o casamento de Raphael e Jude? – questiona interessada. 
3 semanas depois...- Miguel? – atendo o telefone sorrindo ao ouvir a voz dele. Sorrio mais ainda ao ouvir sua leve e gostosa risada.- O que acha de um jantar hoje à noite? – ele me diz empolgado do outro lado da linha.- Oh... Um jantar? – digo surpreso. Acontece que sempre jantávamos juntos, porém quando se nomeia algo que é feito na rotina, quer dizer que existe algo a se comemorar... – O que vamos comemorar?- Ah, nossa felicidade!- ele diz confiante.- Tudo bem então, marcado! – concluo me despedindo e desligando o celular. Miguel nunca permitia que nossa
(salto temporal de um mês)“O que você é capaz de fazer por amor?Sentimos tanto esse sentimento, em tantos momentos de nossa vida, que me arrisco a dizer que somos movidos por ele, seja de uma maneira boa ou ruim. Amor por si próprio, que é muito importante. Amor por uma música, um filme, um livro ou qualquer outra coisa. Amor pelos seus pais. Amor por um animal de estimação, que me arrisco novamente a dizer que não os considero de “estimação”, e sim da família. Amor por noites estreladas e nasceres do sol intensos e laranjas. Amor pela vida... Enfim, amor! É graças a ele, que estamos aqui, vivos e respirando. O amor nos move de muitas formas, e por mais que às vezes ele termine, sabemos que os traços e efeitos em nossa vida são eternos. E, em algum momento, ele se baseia em uma única escolha.A vida sempre se baseou em e
A mudança da realidade de Miguel e Luis passou a ser assunto frequente na mente do jovem Lui, que passara as 23 horas seguintes do seu casamento fadado ao fracasso, sentado no sofá de sua casa, com uma enorme xícara de café intocada, com os olhos inchados e roxos de lágrima. Era engraçado e curioso o jeito como ele lidava com as desavenças de sua vida, a verdade é que estava cansado de ter que enfrentar os problemas sozinho, estava cansado de lidar com sua doença e com todos os olhares que cruzavam sua vista.- Miguel Rogers foi mais que uma paixonite, Raphael. Eu e você sabemos muito bem disso! – ele diz, finalmente tomando um gole de seu café, que estava a horas na xícara a sua frente. – Eca, esqueci que bebidas não ficam na mesma temperatura pra sempre... Assim como relacionamentos!