6 - Uma justificativa aceitável

O pânico cresce rapidamente dentro de Vivienne, e o enjoo se torna insuportável, apertando sua garganta de maneira sufocante. Sem tempo para pensar, ela se levanta bruscamente, os passos rápidos a levando direto até a lixeira mais próxima. Não havia tempo para correr até o banheiro. Ao se inclinar, o vômito irrompe incontrolável, o som do líquido ecoando pela sala em meio ao silêncio absoluto. Todos os olhares se voltam para ela, congelados em choque.

Enquanto ainda ofegava, tentando se recompor, a voz cortante e carregada de irritação invade seus ouvidos.

— Providencie outra sala. — O som é inconfundível, mas tão semelhante que seu coração dispara novamente. — Em cinco minutos, quero tudo pronto. — A voz finaliza, saindo da sala, deixando Vivienne ali, entre a sensação de humilhação e o terror de ter o passado mais próximo do que imaginava.

— Vivienne, o que deu em você? — A voz de seu chefe soa perplexa, enquanto ela luta para recuperar a postura, os olhos baixos, evitando os olhares curiosos ao redor.

— Me desculpa. — Vivienne murmura, quase sem forças, apressando-se em direção à saída. O gosto amargo do vômito ainda presente em sua boca, um lembrete do caos que tomou conta dela.

O pânico silencioso a envolve enquanto tenta, em vão, encontrar algum detalhe, alguma pista que a ajude a distinguir a voz ou a aparência. Mas é inútil. Tudo se mistura, e a incerteza a consome. Qual dos irmãos Muller havia acabado de invadir sua vida, forçando-a a encarar o passado que jurou abandonar?

Enquanto caminha, perdida em seus pensamentos, Vivienne colide abruptamente com alguém. Seu corpo congela ao impacto, e ela levanta o olhar lentamente, seus olhos se fixando no peito perfeitamente delineado sob o colete preto, que repousa sobre a camisa branca impecável, debaixo de um paletó que exala elegância. O perfume dele invade suas narinas, intenso e provocante, deixando-a ainda mais nauseada, mas agora por uma mistura perigosa de confusão e desejo.

— Se você concentrar seu olhar nos lugares certos. — A voz dele é rouca, baixa e carregada de uma sensualidade que a atinge em cheio. O som a faz dar um pequeno passo para trás, um arrepio involuntário percorrendo sua espinha. — Conseguirá diferenciar. — Finaliza, com um sorriso malicioso nos lábios, percebendo que o olhar dela havia ficado preso em seu peito.

— Me desculpa. — Vivienne sussurra, seus olhos deslizando lentamente até o rosto dele. Ela tenta, desesperadamente, identificar qual dos irmãos está à sua frente, embora a presunção já comece a formar-se em sua mente. Então, algo a faz parar. — Heterocromia. — Murmura, mais para si mesma do que para ele, quando finalmente percebe o detalhe revelador. O olho direito dele é azul, enquanto o esquerdo é verde. Uma característica que só ele tem. Noah, por sua vez, tem ambos os olhos verdes. — Com licença, senhor Muller. — Murmura, a voz quase falhando enquanto tenta manter a compostura. Sem esperar resposta, ela se afasta rapidamente, praticamente correndo em direção ao banheiro, desesperada para escapar da intensidade esmagadora do momento.

— Uma coincidência interessante. — Dominic sussurra para si, um sorriso discreto, mas cheio de malícia, curvando seus lábios. Seus olhos a seguem enquanto ela se afasta, o olhar atento, saboreando cada detalhe de sua fuga.

Vivienne sente o coração disparar enquanto lava sua boca, tentando apagar o gosto amargo do vômito e da ansiedade crescente. O pânico a envolve, não apenas pela inesperada presença do irmão de Noah na empresa, mas pelo que acaba de perceber, como um fardo que ela não está pronta para carregar. As peças do quebra-cabeça em sua mente se encaixam rapidamente, trazendo um misto de medo e confusão.

Sem perder tempo, ela sai apressada do banheiro, o barulho dos saltos ecoando no chão enquanto alcança sua sala. As mãos tremem enquanto ela coloca seus pertences na bolsa, como se a fuga fosse a única solução para a realidade que está esmagando.

— Vivi, você está bem? — A voz de Margot Hoffman soa calma, mas cheia de preocupação, parada à porta. — Todos estão te esperando na sala de reuniões. — Acrescenta, com o olhar atento.

— Margot, por favor, conduza a apresentação por mim. — Vivienne solicita, a urgência em sua voz é clara. — Não estou bem, preciso ir ao médico. — Declara, já caminhando em direção à colega, passando por ela sem esperar uma resposta, confiando que Margot lidará com a situação. O ar parece sufocá-la a cada passo em direção à saída, enquanto sua mente tenta processar o turbilhão de emoções que a domina.

— Isso irá acabar mal para Vivienne. — Margot murmura enquanto segue para a sala de reuniões. Ao entrar, todos os olhares a acompanham, e ela apenas faz um breve aceno para o chefe, indicando que Vivienne não comparecerá.

— Se ela não apresentar uma justificativa aceitável para a ausência, demita-a. — Dominic ordena, sua voz firme e autoritária. Ele se levanta com postura impecável. — Bom dia a todos. — Saúda, sua presença dominando a sala naturalmente. — Sou Dominic Wade, o novo sócio da empresa. — Apresenta-se com seriedade, adotando o sobrenome paterno, como sempre faz, exceto quando lida com os negócios da holding Muller, que pertence ao lado materno e que ele também representa.

Com competência e uma autoridade inquestionável, Dominic domina a reunião, deixando claro que, a partir daquele momento, todo o setor financeiro se reportará diretamente a ele. Após suas considerações firmes, ele concede espaço para os funcionários fazerem suas apresentações planejadas, observando tudo com um olhar calculista.

Naquela noite, em seu apartamento, Vivienne mal consegue ficar parada. Seus passos agitados refletem o caos em sua mente, os olhos vermelhos de tanto chorar. Nada parecia fazer sentido, e a dor misturada ao pânico a sufocava. Quando a campainha toca, ela quase corre até a porta, parte de si desesperada por um conforto que jurou não querer mais.

— Eu sabia que você mudaria de ideia. — A voz de Noah soa confiante ao puxá-la para seus braços, ignorando as lágrimas que escorrem por seu rosto. Ele tenta beijá-la, como se a intimidade entre eles pudesse curar o que estava quebrado. Mas Vivienne se afasta. — Que droga, Vivi! — Reclama, frustrado, entrando e batendo a porta. — Por que me chamou aqui, se não posso nem te tocar?

— Noah, eu estou grávida. — Vivienne dispara, a voz embargada, virando-se rapidamente em direção à mesa de centro, apontando com as mãos trêmulas para os testes de gravidez espalhados sobre ela. As lágrimas, que antes deslizavam discretamente, agora se intensificam, como se cada palavra tivesse desencadeado a onda de emoções que ela tentava controlar.

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