O médico fixa o olhar em Vivienne, estudando cada detalhe de seus sinais vitais, cada sutil reação de seu corpo à recuperação. Há fragilidade em sua condição, mas também um vislumbre de resistência. Continua fraca, mas estável, um pequeno triunfo em meio à incerteza. — Na manhã seguinte, realizaremos uma nova avaliação para monitorar sua evolução. — Informa, mantendo um tom profissional e objetivo. — Caso os parâmetros clínicos continuem dentro do esperado e sua resposta ao tratamento permaneça estável, iniciaremos os procedimentos para sua transferência para um quarto. Vivienne não responde. Somente escuta, mantendo o olhar fixo em um ponto qualquer, enquanto o aperto em seu peito se intensifica. A voz do médico ecoa ao fundo, mas sua mente já não está ali. Naquele momento, nada mais importa, apenas o desejo visceral de estar com seus filhos.— Após essa transição, e com a estabilização de seus sinais vitais e capacidade motora, será possível organizar sua visita à UTI neonatal. —
No escritório da OptiFin Solutions, Nicolas e Finn compartilham o ambiente profissional, embora a tensão entre eles seja evidente. A relação é fria e marcada por uma distância calculada, mas para Nicolas, aquele espaço tem um único propósito, supervisionar a transição para a nova sede, a verdadeira razão de sua presença ali.Percorrendo os corredores, ele analisa documentos com atenção, imerso no trabalho, até que uma voz exaltada rompe o ritmo monótono do ambiente. Seu olhar se volta imediatamente para a recepção, onde a secretária tenta conter uma mulher visivelmente alterada.— Preciso falar com o senhor Muller, e não vou sair daqui sem isso! — Insiste a mulher, a urgência transparecendo em cada palavra.O tom firme e insistente dela desperta a curiosidade de Nicolas, que se aproxima, avaliando a cena com cautela. No exato momento em que está prestes a intervir, a porta da sala de Finn se abre, e ele surge, o olhar estreito e atento à confusão que se desenrola diante de si.— O que
Finn se aproxima, sua atenção fixa em cada documento que Nicolas desliza para fora da pasta. O ar na sala parece se tornar mais pesado conforme as páginas se revelam diante deles. Seu olhar, antes apenas curioso, se transforma em algo próximo da incredulidade. Ele pisca algumas vezes, como se tentasse absorver a informação diante de si, mas a verdade ali estampada é quase difícil de acreditar.Então, entre os papéis, um envelope branco chama a atenção de Nicolas. Ao pegá-lo, sente a textura envelhecida do papel sob seus dedos, um detalhe sutil que denuncia o passar dos anos. As bordas desgastadas e o leve amarelado indicam que aquele envelope permaneceu guardado por muito tempo, longe de olhos curiosos, até agora.A caligrafia na frente é suave e meticulosa, cada traço refletindo uma atenção minuciosa. Nicolas percorre as palavras lentamente, como se precisasse absorver cada detalhe para ter certeza do que estava lendo.“Para minha doce princesinha, minha querida e amada filha, Vivien
A enfermeira entra no quarto empurrando uma cadeira de rodas, interrompendo o momento silencioso entre Dominic e Vivienne. Seu olhar profissional examina rapidamente a paciente antes de sorrir com gentileza.— Senhora Wade, está na hora do seu banho. — Informa a enfermeira, ajustando a cadeira de rodas ao lado da cama com precisão. — Vamos fazer tudo com calma para garantir seu conforto e segurança.Vivienne respira fundo, sentindo uma mistura de cansaço e desconforto pesar sobre seu corpo. Ao tentar se mover na cama, uma leve pontada atinge a região do corte da cesariana, fazendo-a prender a respiração por um instante. Ela fecha os olhos momentaneamente, tentando controlar a sensação. — Devagar, pequena. — Dominic murmura, sua voz suave, mas repleta de cuidado, enquanto a auxilia com delicadeza a se acomodar melhor na cama. — Com calma, estou aqui. Tudo bem? — Acrescenta, mantendo o tom tranquilo e reconfortante, seus olhos atentos a qualquer sinal de desconforto.Com firmeza e prec
Vivienne sorri, sentindo-se uma boba por sua própria oscilação de emoções. Ela mesma se surpreende com a rapidez com que seu humor muda, em um momento se sente animada, quase invencível, e no seguinte, está se martirizando, presa em julgamentos internos que parecem não ter fim.Mas a vida, sábia como é, a levou até um homem que a entende sem que ela precise dizer uma única palavra. Dominic lê suas emoções como se fossem páginas abertas, acalmando-a com gestos e palavras que parecem sempre declarações grandiosas de amor. E é por isso que, mesmo nos momentos de incerteza, ela sabe que nunca está sozinha.Ela observa atentamente cada gesto de Dominic, a maneira cuidadosa com que ele desliza a esponja por sua pele, como se cada toque fosse uma demonstração silenciosa de amor. Ele não tem pressa, somente paciência, devoção e um carinho inabalável.Quando ele lava seus cabelos, não se importa em se molhar, não se preocupa com o desconforto. Seu foco está inteiramente nela, no bem-estar dela,
Vivianne está visivelmente ansiosa, com o coração batendo de maneira rápida e intensa. O momento que ela tanto esperou finalmente chegou. Após horas de angústia, incertezas e uma saudade inexplicável de algo que ainda não teve nos braços, ela está prestes a conhecer seus filhos.Uma mistura de ansiedade e emoção percorre seu corpo como uma corrente elétrica, tornando sua respiração curta e entrecortada. Dominic, percebendo sua inquietação, inclina-se suavemente e deposita um beijo carinhoso no topo de sua cabeça. O gesto é simples, mas carrega o peso de tudo o que passaram até ali. Ele segura suas mãos por um breve instante, como se dissesse, sem precisar de palavras, estamos juntos nisso.Com delicadeza, ele a ajuda a se acomodar na cadeira de rodas. Seus movimentos são cuidadosos, como se quisesse protegê-la do mundo. Assim que ela está pronta, ele começa a empurrá-la pelos corredores do hospital, guiando-a até a UTI neonatal, um lugar que ele já conhece como a palma da mão, pois de
Vivienne permanece ali por mais alguns minutos, contemplando seus meninos com um amor que parece maior do que ela. Seu coração bate forte, como se estivesse fora do peito, pulsando naqueles pequenos seres que agora significam tudo para ela.Cada detalhe, cada movimento mínimo, cada respiração dos bebês é precioso. Ela grava tudo em sua memória, como se nunca quisesse esquecer aquele instante. Mas ainda falta um pedaço do seu mundo.Algum tempo depois, a enfermeira retorna, guiando-os até outra ala da UTI neonatal, a de cuidados intensivos. O simples pensamento faz o peito de Vivienne apertar. Ali estava sua filha. Sua guerreira.Dominic empurra sua cadeira com delicadeza, mas dentro dela, a ansiedade cresce como uma tempestade. A vontade de se levantar e correr até sua pequena é quase incontrolável. Ela queria segurá-la nos braços, protegê-la, sussurrar palavras de amor e transferir para ela toda a força que tinha.O ambiente é silencioso, quebrado apenas pelo ritmo constante dos moni
Após o tempo de visita se encerrar, Dominic guia Vivienne de volta ao quarto, auxiliando-a a se acomodar na cama com todo o cuidado. O silêncio se instala entre eles, mas não é um silêncio pesado, é um silêncio carregado de esperança.— Foi assustador, Dom. — Vivienne começa, a voz baixa, quase um sussurro. — Pulei da ambulância. — Murmura, quase para si mesma, enquanto as peças finalmente se encaixam. O carro. O impacto. O som da ambulância. O medo sufocante. A fuga. Vivienne sente o coração acelerar, como se seu corpo ainda estivesse preso àquele momento. Como se, por um instante, o perigo ainda fosse real.O entendimento se solidifica em sua mente, como um choque elétrico percorrendo seu corpo. Ela não tinha somente fugido. Tinha se jogado no desconhecido, no desespero, na necessidade instintiva de proteger seus filhos.Dominic segura a mão de Vivienne, acariciando-a com delicadeza, como se quisesse confortá-la e, ao mesmo tempo, a si mesmo. Pensar em tudo o que ela passou não era