O punho de Florence se fecha e, em um impulso cego, ela o desfere contra o vidro rachado. O impacto reverbera pelo cômodo abafado, estilhaços deslizando pela cômoda, espalhando-se pelo chão, cravando-se na pele cortada de sua mão. O sangue escorre quente entre seus dedos, mas ela não se importa. A dor é irrelevante diante da fúria que a consome. Eles falharam, e isso não deveria ter acontecido.A porta se escancara com um estrondo, fazendo-a se virar em um rompante. O olhar de Hugo a encontra no mesmo instante, percorrendo o caos ao redor com uma fúria contida, os olhos faiscando. Ele bate à porta atrás de si com violência, o impacto reverberando pelo cômodo e avança pelos destroços com passos firmes, a raiva pulsando em cada músculo tensionado, incendiando seu olhar.— Está satisfeita com a confusão que criou? — Hugo dispara, a voz carregada de raiva, enquanto seus punhos se cerram com força. — Tínhamos tudo sob controle, Florence. Podíamos sair ilesos, sem rastros, sem consequências
Florence só consegue parar quando o rosto de Hugo se torna irreconhecível, uma massa disforme de sangue e ossos quebrados. O castiçal escorrega de seus dedos manchados de vermelho, caindo no chão com um som oco. Seu corpo, exausto, despenca de cima dele, os pulmões arfando em um ritmo descompassado.Por alguns segundos, tudo ao redor parece se dissolver. O cheiro metálico do sangue preenche o ar pesado, misturado ao suor frio que escorre por sua pele. Ela ergue as mãos diante do próprio rosto, os dedos sujos, tingidos de sangue. E então, como um choque elétrico percorrendo seu corpo, a realidade a atinge.Ela engatinha pelo chão coberto de destroços, os joelhos arranhando-se no piso áspero, até alcançar a porta. Encosta-se nela, o coração martelando contra o peito, a respiração ainda irregular. Seus olhos se fixam no corpo sem vida estirado no chão, em meio à poça de sangue que lentamente se espalha.E então, algo dentro dela grita. Mas o som que escapa de seus lábios não é um lamento
Após mais de duas horas de espera, onde Dominic permaneceu no quarto, descansando contra sua vontade, obedecendo somente porque sabia que seu corpo não aguentaria por muito mais tempo, ele recebe finalmente a liberação para ir até a UTI Neonatal.Quando chega à entrada da UTI Neonatal, uma enfermeira o recebe, explicando rapidamente os protocolos que ele precisa seguir antes de entrar, higienização completa, avental estéril, máscara. Dominic ouve, mas as palavras mal fazem sentido, sua mente já está completamente tomada pelo que o espera do outro lado daquelas portas.Ele segue cada passo no automático, os movimentos rápidos e precisos, como se seu corpo soubesse exatamente o que fazer, enquanto sua mente está ocupada demais com a ansiedade e o desejo desesperado de ver seus filhos novamente.E então, o momento finalmente chega, ao atravessar a barreira de vidro e adentrar a unidade, seus olhos buscam instintivamente pelas incubadoras. O ambiente é silencioso, mas não o silêncio vazio
Dominic não faz ideia de quanto tempo permanece ali, imerso na presença de seus filhos. O mundo fora daquela sala deixa de existir, o tempo perde qualquer significado. Tudo o que importa é o som suave da respiração deles, os pequenos movimentos involuntários, a delicadeza frágil de cada detalhe. Eles são tão pequenos, tão indefesos, mas estão ali.Seu peito se aperta a cada instante, tomado por uma emoção intensa, quase sufocante. A felicidade o envolve por inteiro, quente, profunda, real. Estar ali, vendo-os respirar, sentindo o peso daquelas novas vidas que agora dependem dele, é a coisa mais certa que já experimentou. Pela primeira vez, sente que tem algo puro, algo que vale a pena lutar com tudo o que tem.E só falta Vivienne acordar para que tudo fique perfeito. Ela e os trigêmeos são tudo em sua vida. Nada mais importa, nada jamais importará tanto quanto eles. Ele precisa vê-la abrir os olhos, precisa ouvir sua voz, sentir sua mão apertando a dele. Só então poderá respirar alivi
Amigos e familiares se revezam na recepção, a preocupação ainda evidente em cada olhar, mas conforme a madrugada avança, a exaustão começa a cobrar seu preço. Um por um começa a partir, seja para os hotéis próximos ou para suas casas, cientes de que, ao menor sinal de mudança, Louis os manterá informados. Ele assumiu essa responsabilidade desde o primeiro instante, garantindo que ninguém ficasse sem atualizações, mas, acima de tudo, garantindo que Dominic não se sobrecarregasse ainda mais. Mesmo sem estar dentro da UTI com Vivienne e os bebês, Louis garante que Dominic também não ultrapasse seus próprios limites. Ele não lhe dá escolha, não permite que ele continue se destruindo lentamente pelo cansaço e pela tensão. Assim que os médicos asseguram não haver mais nada que possa ser feito naquela noite, Louis o conduz diretamente para um quarto reservado no hospital.Dominic não resiste. Se não pode ficar com sua mulher ou seus filhos, não há escolha a ser feita. Ele compreende que, po
Dominic sorri contra os lábios dela, sentindo o calor familiar de sua pele, a suavidade da sua respiração e o ritmo dos batimentos que fazem seu próprio coração acelerar. Enfim, Vivienne acordou. O alívio explode dentro dele como uma onda avassaladora, quebrando todas as barreiras que ele tentou erguer para se manter firme nos últimos dias. Seus olhos se fecham por um instante, como se quisesse absorver cada detalhe daquele momento, como se pudesse gravar para sempre a sensação do retorno dela para ele.Se afasta apenas o suficiente para depositar um beijo delicado em sua testa, os dedos deslizando suavemente pelo rosto dela, em uma carícia reverente, quase trêmula. O medo de perdê-la ainda pesa sobre ele, mas, pela primeira vez, a esperança fala mais alto.E então, a emoção o vence completamente. Ele não consegue segurar as lágrimas, não mais. Elas escorrem silenciosas pelo seu rosto, carregadas de todo o desespero que tentou conter, de cada prece feita em silêncio, de todo o amor q
O médico fixa o olhar em Vivienne, estudando cada detalhe de seus sinais vitais, cada sutil reação de seu corpo à recuperação. Há fragilidade em sua condição, mas também um vislumbre de resistência. Continua fraca, mas estável, um pequeno triunfo em meio à incerteza. — Na manhã seguinte, realizaremos uma nova avaliação para monitorar sua evolução. — Informa, mantendo um tom profissional e objetivo. — Caso os parâmetros clínicos continuem dentro do esperado e sua resposta ao tratamento permaneça estável, iniciaremos os procedimentos para sua transferência para um quarto. Vivienne não responde. Somente escuta, mantendo o olhar fixo em um ponto qualquer, enquanto o aperto em seu peito se intensifica. A voz do médico ecoa ao fundo, mas sua mente já não está ali. Naquele momento, nada mais importa, apenas o desejo visceral de estar com seus filhos.— Após essa transição, e com a estabilização de seus sinais vitais e capacidade motora, será possível organizar sua visita à UTI neonatal. —
No escritório da OptiFin Solutions, Nicolas e Finn compartilham o ambiente profissional, embora a tensão entre eles seja evidente. A relação é fria e marcada por uma distância calculada, mas para Nicolas, aquele espaço tem um único propósito, supervisionar a transição para a nova sede, a verdadeira razão de sua presença ali.Percorrendo os corredores, ele analisa documentos com atenção, imerso no trabalho, até que uma voz exaltada rompe o ritmo monótono do ambiente. Seu olhar se volta imediatamente para a recepção, onde a secretária tenta conter uma mulher visivelmente alterada.— Preciso falar com o senhor Muller, e não vou sair daqui sem isso! — Insiste a mulher, a urgência transparecendo em cada palavra.O tom firme e insistente dela desperta a curiosidade de Nicolas, que se aproxima, avaliando a cena com cautela. No exato momento em que está prestes a intervir, a porta da sala de Finn se abre, e ele surge, o olhar estreito e atento à confusão que se desenrola diante de si.— O que