A UTI está silenciosa, exceto pelos sons ritmados dos monitores e do ventilador que ainda auxilia Vivienne. Dominic permanece ao lado dela, recusando-se a sair, seus dedos entrelaçados aos dela, como se isso fosse o suficiente para ancorá-la à realidade. Ela ainda não acordou, e ele não sabe por quanto tempo mais conseguirá suportar essa espera.As horas passam lentamente, cada minuto uma tortura silenciosa. Enfermeiras entram e saem, monitorando os sinais vitais, ajustando medicações, trocando os fluidos intravenosos que a mantêm estabilizada. O barulho da porta se abrindo tira Dominic de seus pensamentos. Ele levanta o olhar rapidamente, o peito apertado de expectativa ao ver o pediatra neonatologista entrar na sala, segurando o prontuário dos bebês.— Alguma atualização sobre o quadro dos meus filhos? — Dominic questiona, a voz firme, mas carregada pelo peso das últimas horas.— Os bebês estão estáveis, mas, como previsto, precisarão permanecer na UTI neonatal para monitoramento e
Durante a troca de plantão e relatórios médicos, é exigido que Dominic deixe a UTI. Mesmo relutante, mesmo sentindo que cada minuto longe de Vivienne é um tormento, ele não tem escolha a não ser obedecer.Assim que passa pela porta da recepção, os olhares recaem sobre ele. Nicolas havia avisado Finn sobre o que estava acontecendo, e esse, por sua vez, entrou em contato com a família de Dominic. Agora, todos estão ali, aguardando por notícias, rostos marcados pela preocupação e incerteza. Todos, exceto um. Seu avô materno não foi avisado.Noah se levanta abruptamente e caminha na direção do irmão, a preocupação evidente em cada passo apressado. Mas o olhar de Dominic parece arder em fúria contida, um aviso silencioso, feroz, que o faz hesitar por um instante.E então, ele prossegue, ignorando a tensão no ar, mas é bruscamente afastado por Dominic, que o empurra sem sequer desviar o olhar de seu verdadeiro alvo. Ele não quer conversar, não quer consolo. O que ele quer é vingança. E vai
Sem esperar nenhuma resposta, Dominic desvia o olhar, sua atenção agora voltada para Louis. Sem dizer mais nada, sem sequer lançar um último olhar para Marc, ele simplesmente se vira e começa a caminhar pelo corredor, seguindo o tio.A cada passo, a fúria ainda pulsa dentro dele, mas agora, misturada a algo ainda pior, exaustão. Porque, por mais que tenha feito o que precisava ser feito, a única coisa que realmente importa continua fora do seu alcance. Vivienne continua inconsciente. Seus filhos continuam lutando. E ele ainda não pode fazer nada além de esperar.Na recepção, Nicolas e Leon trocam um olhar preocupado, ambos reconhecendo o peso da decisão de Dominic. Demitir Marc naquele momento, movido pela raiva e pela dor, poderia ter consequências que iam além daquela sala. Mas antes que qualquer um deles possa intervir, Noah toma a frente.Ele avança sem hesitação, os olhos fixos em Marc, que permanece impassível, sem sequer levantar as mãos para se defender ou argumentar. Ele sabe
O punho de Florence se fecha e, em um impulso cego, ela o desfere contra o vidro rachado. O impacto reverbera pelo cômodo abafado, estilhaços deslizando pela cômoda, espalhando-se pelo chão, cravando-se na pele cortada de sua mão. O sangue escorre quente entre seus dedos, mas ela não se importa. A dor é irrelevante diante da fúria que a consome. Eles falharam, e isso não deveria ter acontecido.A porta se escancara com um estrondo, fazendo-a se virar em um rompante. O olhar de Hugo a encontra no mesmo instante, percorrendo o caos ao redor com uma fúria contida, os olhos faiscando. Ele bate à porta atrás de si com violência, o impacto reverberando pelo cômodo e avança pelos destroços com passos firmes, a raiva pulsando em cada músculo tensionado, incendiando seu olhar.— Está satisfeita com a confusão que criou? — Hugo dispara, a voz carregada de raiva, enquanto seus punhos se cerram com força. — Tínhamos tudo sob controle, Florence. Podíamos sair ilesos, sem rastros, sem consequências
Florence só consegue parar quando o rosto de Hugo se torna irreconhecível, uma massa disforme de sangue e ossos quebrados. O castiçal escorrega de seus dedos manchados de vermelho, caindo no chão com um som oco. Seu corpo, exausto, despenca de cima dele, os pulmões arfando em um ritmo descompassado.Por alguns segundos, tudo ao redor parece se dissolver. O cheiro metálico do sangue preenche o ar pesado, misturado ao suor frio que escorre por sua pele. Ela ergue as mãos diante do próprio rosto, os dedos sujos, tingidos de sangue. E então, como um choque elétrico percorrendo seu corpo, a realidade a atinge.Ela engatinha pelo chão coberto de destroços, os joelhos arranhando-se no piso áspero, até alcançar a porta. Encosta-se nela, o coração martelando contra o peito, a respiração ainda irregular. Seus olhos se fixam no corpo sem vida estirado no chão, em meio à poça de sangue que lentamente se espalha.E então, algo dentro dela grita. Mas o som que escapa de seus lábios não é um lamento
Após mais de duas horas de espera, onde Dominic permaneceu no quarto, descansando contra sua vontade, obedecendo somente porque sabia que seu corpo não aguentaria por muito mais tempo, ele recebe finalmente a liberação para ir até a UTI Neonatal.Quando chega à entrada da UTI Neonatal, uma enfermeira o recebe, explicando rapidamente os protocolos que ele precisa seguir antes de entrar, higienização completa, avental estéril, máscara. Dominic ouve, mas as palavras mal fazem sentido, sua mente já está completamente tomada pelo que o espera do outro lado daquelas portas.Ele segue cada passo no automático, os movimentos rápidos e precisos, como se seu corpo soubesse exatamente o que fazer, enquanto sua mente está ocupada demais com a ansiedade e o desejo desesperado de ver seus filhos novamente.E então, o momento finalmente chega, ao atravessar a barreira de vidro e adentrar a unidade, seus olhos buscam instintivamente pelas incubadoras. O ambiente é silencioso, mas não o silêncio vazio
Dominic não faz ideia de quanto tempo permanece ali, imerso na presença de seus filhos. O mundo fora daquela sala deixa de existir, o tempo perde qualquer significado. Tudo o que importa é o som suave da respiração deles, os pequenos movimentos involuntários, a delicadeza frágil de cada detalhe. Eles são tão pequenos, tão indefesos, mas estão ali.Seu peito se aperta a cada instante, tomado por uma emoção intensa, quase sufocante. A felicidade o envolve por inteiro, quente, profunda, real. Estar ali, vendo-os respirar, sentindo o peso daquelas novas vidas que agora dependem dele, é a coisa mais certa que já experimentou. Pela primeira vez, sente que tem algo puro, algo que vale a pena lutar com tudo o que tem.E só falta Vivienne acordar para que tudo fique perfeito. Ela e os trigêmeos são tudo em sua vida. Nada mais importa, nada jamais importará tanto quanto eles. Ele precisa vê-la abrir os olhos, precisa ouvir sua voz, sentir sua mão apertando a dele. Só então poderá respirar alivi
Amigos e familiares se revezam na recepção, a preocupação ainda evidente em cada olhar, mas conforme a madrugada avança, a exaustão começa a cobrar seu preço. Um por um começa a partir, seja para os hotéis próximos ou para suas casas, cientes de que, ao menor sinal de mudança, Louis os manterá informados. Ele assumiu essa responsabilidade desde o primeiro instante, garantindo que ninguém ficasse sem atualizações, mas, acima de tudo, garantindo que Dominic não se sobrecarregasse ainda mais. Mesmo sem estar dentro da UTI com Vivienne e os bebês, Louis garante que Dominic também não ultrapasse seus próprios limites. Ele não lhe dá escolha, não permite que ele continue se destruindo lentamente pelo cansaço e pela tensão. Assim que os médicos asseguram não haver mais nada que possa ser feito naquela noite, Louis o conduz diretamente para um quarto reservado no hospital.Dominic não resiste. Se não pode ficar com sua mulher ou seus filhos, não há escolha a ser feita. Ele compreende que, po