Na cidade de Luxemburgo, Noah observa pela janela do Café Élégance, o olhar fixo no movimento das ruas, ignorando completamente o café fumegante que repousa intocado à sua frente. Sua expressão é impassível, quase entediada, até que a porta se abre e uma presença conhecida chama sua atenção. Natasha entra no local com a elegância de quem domina o ambiente, distribuindo sorrisos calorosos e cumprimentos como se conhecesse cada pessoa presente. Cada gesto parece casual, mas Noah enxerga a verdade por trás da máscara, a perfeição ensaiada, o papel da boa moça que ela desempenha com maestria desde a adolescência.— Bom dia, Noah. — Natasha cumprimenta, parando em frente à mesa com um sorriso impecável. Seus olhos deslizam para a cadeira ao lado, mas quando percebe que ele não faz menção de puxá-la, sua expressão vacila por um instante antes de ser rapidamente recomposta. — Não irá puxar a cadeira para mim, querido? — Pergunta, sua voz doce e artificial transbordando em cada palavra.— Voc
Natasha não sentia o menor remorso pelo fato de sua mentira ter sido o início de tudo. A acusação de que Dominic a agarrou não foi fruto de um impulso, foi uma faísca cuidadosamente acesa, sabendo exatamente o que ela poderia incendiar. A explosão em Troy, sua raiva descontrolada, a bebida ingerida sem pensar e a decisão impulsiva de dirigir para alcançá-la, era o espetáculo que ela orquestrou. Enquanto ele perdia o controle, ela estava confortavelmente em um táxi, compondo sua atuação perfeita de fragilidade, ajustando os detalhes como uma artista satisfeita com sua obra-prima.Porque, na mente dela, se ela não podia ser feliz, Dominic também não merecia esse privilégio. Desde cedo, ela havia entendido a profundidade da amizade entre ele e Troy, o elo quase inquebrável que os definia. Sua mentira não foi apenas uma ferramenta de manipulação para causar discórdia, foi uma bomba cuidadosamente armada para destruí-los e separá-los. No entanto, o destino, com sua crueldade que superava a
Natasha acaricia sua barriga com movimentos lentos, um gesto que, para quem observa, parece carregado de carinho e ternura. Para os desavisados, ela seria a personificação de uma mãe amorosa, conectada ao filho que cresce dentro de si. Mas nada poderia estar mais longe da verdade. Não há amor naquele toque, apenas interesse e a inabalável certeza de que a sorte está, mais uma vez, ao seu lado.Para ela, aquele bebê não é uma vida, mas uma ferramenta, um recurso valioso. É a prova de que até mesmo um erro pode ser transformado em vantagem sob seu controle. Uma mina de ouro, um trunfo que ela usará sem hesitar. Sua família sempre priorizou a união de sobrenomes nobres, ignorando o valor do dinheiro. Mas, agora, o dinheiro se tornou sua maior cobiça, a chave para assegurar que ela nunca seja inferior a ninguém.— Você está me ameaçando, Natasha? — Noah pergunta, a voz baixa, mas firme, enquanto tenta ignorar o nó que se forma em seu estômago.— Ameaçando você? Claro que não, querido. — N
Enquanto organiza a cozinha, Dominic sente o celular vibrar no bolso. Ele o pega, apenas para ver o nome de Noah piscando na tela. Por um instante, pondera atender, mas logo decide ignorar, deixando a chamada cair na caixa de mensagens. Seu tio havia garantido que tudo estava sob controle, e ele está decidido a não permitir distrações naquele momento.Com um movimento firme, ele desliga o celular e o coloca sobre a bancada, afastando qualquer possibilidade de interrupções. Aquele fim de semana não é sobre negócios ou obrigações. É sobre Vivienne. Quando acordou no dia anterior, jamais imaginou que terminaria o dia casado. E agora, em sua primeira manhã como marido, está determinado a fazer com que cada momento seja inesquecível para ela. Ele deseja que ela guarde aquele momento na memória como algo único, algo que simboliza o início de tudo.Ele não consegue evitar rir de si mesmo, refletindo sobre as mudanças que está experimentando desde que conheceu Vivienne. Nunca esteve tão afast
Vivienne leva as mãos ao rosto, sentindo-se estranha, enquanto seus sentimentos oscilam de maneira avassaladora. De uma felicidade intensa, ela mergulha em uma tristeza profunda e inexplicável, misturada à irritação crescente, especialmente quando se sente julgada ou acuada. Em um gesto impulsivo, seu punho atinge o balcão, como se buscasse um escape para a tensão que a consome.Dominic congela, pego de surpresa pela explosão repentina. Ele observa o corpo dela estremecer, cada respiração irregular denunciando o caos interno que ela não consegue conter. Então, o pranto irrompe inesperadamente, um som bruto e despido de controle, carregado de vulnerabilidade.O choro é intenso, vindo de um lugar tão profundo que nem Vivienne consegue compreender sua origem. É um turbilhão de emoções que a domina completamente, as lágrimas escorrendo sem controle, enquanto cada soluço expõe a confusão e o caos de sentimentos que a tomam naquele momento.Dominic se aproxima imediatamente, a preocupação e
Vivienne desce do banco com um salto, as palavras de Dominic ainda ressoando em sua mente. Conhecer o avô dele? Como assim? Seus olhos varrem o ambiente, como se instintivamente procurassem uma rota de fuga, seu coração batendo mais rápido a cada segundo. Sentia-se uma criança prestes a enfrentar algo inevitável e assustador, o frio na barriga aumentando à medida que as lembranças de Grant Muller invadiam sua mente. A ideia de que o outro avô pudesse ser tão cruel quanto o primeiro fazia um arrepio percorrer sua espinha, enquanto o medo e a insegurança se misturavam dentro dela.— Não, não, não. — Murmura, começando a andar de um lado para o outro na cozinha, os dedos batendo freneticamente nas têmporas. — Pare com isso! — Ordena a si mesma, como se sua mente estivesse conspirando contra ela. — Estou julgando antes mesmo de conhecer. Parabéns, Vivienne, que atitude incrivelmente madura! — Resmunga, soltando um suspiro exagerado. Ainda assim, seus olhos continuam lançando olhares furti
Vivienne dá um passo para trás, tentando recuperar algum controle sobre a situação, mas é interrompida pelas mãos de Charles, que repousam suavemente sobre sua barriga. O gesto é inesperado, quase íntimo, mas está longe de ser invasivo. Há algo em seus olhos, um brilho emocionado e sincero, que a faz hesitar.Por um momento, o desconforto que a consumia começa a desaparecer. A tensão em seus ombros cede, dando espaço a uma sensação inesperada de leveza. O olhar de Charles, cheio de ternura e atenção, desvia brevemente para o lugar onde seus filhos crescem. E, naquele instante, Vivienne percebe algo que a desarma, diferente de Grant, Charles não era uma ameaça a ser temida, mas alguém em quem ela poderia, talvez, começar a confiar.Dominic, atento a cada detalhe, percebe a sutil mudança no rosto de Vivienne. Um sorriso discreto surge em seus lábios, satisfeito com a possibilidade de ela estar começando a entender que não precisava temer. Ele sabia o quanto as ameaças do avô materno aind
Dominic sente o desespero rasgar seu peito ao ver o corpo de Vivienne inclinado para o lado, inerte. O medo tenta paralisá-lo, mas a urgência fala mais alto. Ele lança um olhar rápido para a estrada e joga o carro para o acostamento, os pneus deslizando com força contra o asfalto em um movimento brusco, enquanto o veículo para abruptamente.Com o coração batendo descontroladamente e a respiração entrecortada, Dominic solta o cinto com dedos trêmulos, quase arrancando o fecho na pressa. Em um ato desesperado, ele se inclina sobre Vivienne, procurando seus sinais vitais. Seus dedos encontram a pele fria e um pulso tão fraco que mal pode ser sentido, e naquele instante, o medo se transforma em puro terror.— Não, não, não, Vivienne! — Implora, a voz rasgando o silêncio como um grito abafado, enquanto pressiona a orelha contra o peito dela. Ele busca, desesperado, qualquer som, qualquer batida, algo que prove que ela continua ali. Mas tudo o que encontra é um silêncio esmagador, um vazio