Enquanto isso, Vivienne chega ao prédio e segue diretamente para o seu andar, o som suave de seus passos ecoando pelo corredor silencioso. Ao sair do elevador, ela para abruptamente, os olhos fixos na mudança inesperada diante de si. As obras haviam finalmente terminado, e os dois apartamentos à frente do seu agora se fundiam em um único espaço amplo e recém-integrado. A visão da porta unificada e impecável provoca uma leve onda de curiosidade e surpresa em seu rosto.— Será que já se mudaram? — Murmura para si mesma, franzindo a testa em curiosidade, enquanto destranca a porta de seu apartamento. Mas assim que entra, o cheiro desagradável toma conta, fazendo-a se arrepender instantaneamente de não ter resolvido aquilo antes. — Droga! — Resmunga, levando a mão ao nariz, enquanto entra com cautela. O ar pesado, combinado com o caos deixado pelo episódio macabro de dias atrás, deixava o ambiente ainda mais sufocante. Sem perder tempo, Vivienne vai de janela em janela, abrindo-as todas n
Vivienne desliza o garfo pela comida, sem pressa, os olhos presos ao prato, como se pudesse decifrar nele respostas que nunca vieram. A mente a trai, puxando-a de volta aos últimos dias na fazenda dos pais. As lembranças chegam afiadas, uma a uma, e cada detalhe ressurge com o peso de um golpe lento. Revive o momento em que tudo ruiu, erros que não eram seus, mas que, inevitavelmente, caíram sobre ela.— Vivi? — Joana chama, a voz baixa e gentil, mas carregada de preocupação. Ela inclina-se para frente, tentando alcançar os olhos da amiga, que permanecem perdidos em outro lugar. — Você está bem?— Não. — Vivienne responde, e sua voz mal passa de um murmúrio, mas carrega uma dor devastadora, enquanto encara a amiga. — É impossível ficar bem com isso. — Declara, e seus olhos se perdem novamente, como se buscassem algo inalcançável. As palavras escorrem, quase inaudíveis, mas pesadas demais para serem ignoradas. — Quando ele disse que eu estava morta, por um instante, quis acreditar que
Vivienne suspira profundamente, encarando o número da mãe na tela do celular. Os dedos tremem, enquanto pairam sobre o botão de chamada, o coração batendo rápido, como se já antecipasse o confronto que estava por vir. A rejeição sempre a machucava, mas as palavras do pai, essas eram como lâminas, deixando cicatrizes que ela não sabia se um dia sumiriam. Mesmo assim, ela inspira fundo e aperta para ligar.O som do tom de discagem ecoa, cada segundo se estendendo como uma eternidade, mas, de repente, sua respiração quase para ao ouvir a mensagem automática ecoar do outro lado da linha.“Este número não existe.”O mundo parece parar. O celular escorrega de sua mão e cai na mesa com um som abafado, mas ela mal percebe. O peito sobe e desce descontroladamente, enquanto Vivienne fecha os olhos, o silêncio ao seu redor amplificando a fúria que cresce dentro dela.— Eles fizeram de tudo para me apagar. — Sussurra, a voz carregada de um misto de incredulidade e tristeza. As palavras mal saem d
Florence mantém a postura ereta, ignorando o peso da tensão crescente. Um sorriso quase imperceptível se forma em seus lábios, enquanto ela finge concentrar-se em sua oração. Por dentro, no entanto, sua mente trabalha como uma máquina, tecendo pensamentos frios e calculados.“Você irá aprender a ficar no seu lugar, minha querida filha.” — Florence pensa, mas não diz, deixando que o silêncio fale por si, enquanto a atmosfera ao redor parece sufocar qualquer tentativa de confronto. — “Será para o teu bem, meu amor.” — Os pensamentos dançam em sua mente, enquanto seus dedos acariciam a cruz do terço. O gesto, aparentemente devoto, é deliberado, carregado de uma calma inquietante. Com movimentos lentos, ela se vira para Elena. Seu olhar é afiado, quase cruel, como se tentasse arrancar a verdade antes mesmo que a sobrinha pudesse respondê-la. — O que mais foi dito? — Pergunta, a voz baixa e gelada, mas tão firme que preenche o silêncio do ambiente.— O que você está fazendo aqui? — Hugo per
Noah desliza a mão pelo chão, seus dedos encontrando uma pedrinha fria e lisa. Com um movimento preciso, ele a arremessa ao rio. Ambos observam em silêncio, enquanto a pedra salta duas vezes sobre a superfície escura da água, antes de afundar lentamente, como se carregasse o peso das palavras ainda contidas.Dominic se aproxima e se senta ao lado dele, apoiando os cotovelos nos joelhos flexionados. Ele permanece quieto, seus olhos seguindo o próximo arremesso de Noah. A nova pedrinha traça um arco perfeito, tocando a água uma, duas, três vezes antes de desaparecer nas profundezas.— Lembra quando competíamos para ver quem conseguia mais saltos? — Noah pergunta, quebrando o silêncio, enquanto joga outra pedrinha no lago.— Sim, eu lembro. — Dominic responde, após um instante, pegando uma pedra e arremessando também. — Troy sempre ganhava. — Acrescenta, um leve sorriso curvando seus lábios, carregado de saudade. — Você contou ao vovô o que aconteceu naquela noite? — Questiona, cada pal
Dominic mantém o olhar fixo no lago, permitindo que as palavras de Noah se infiltrem lentamente em seus pensamentos. Uma risada curta e seca escapa de seus lábios, marcada por uma incredulidade que logo dá lugar a uma dolorosa aceitação. A reação inicial já havia se dissipado, substituída por uma compreensão fria e amarga. Pelo comportamento recente do avô, aquilo era algo que ele quase já esperava.— Sabia que Grant Muller não prestava. — Dominic começa, sua voz carregando anos de mágoas e desconfianças. O movimento do irmão ao seu lado é como um eco de tempos mais simples, quando podiam confiar um no outro cegamente. — Mas essa maldade, é algo novo. — Faz uma pausa significativa. — Só conheci sua verdadeira extensão após a ameaça grotesca que ele mandou para a Vivienne. — Afirma, seus olhos estudam cada microexpressão do irmão, buscando qualquer sinal de cumplicidade com os planos sórdidos do avô.— Ameaça? — Noah questiona, a surpresa em seu rosto parecendo tão genuína quanto sua c
Os dois se viram abruptamente, seus corpos rígidos, tensos, como se prontos para reagir a qualquer ameaça. Mas, ao reconhecerem a figura familiar parada atrás deles, trocam um olhar cúmplice, carregado de um entendimento silencioso. Em seguida, as tensões se dissolvem, e ambos explodem em risadas de alívio, como se o peso do momento anterior tivesse finalmente se dissipado.— Vovô! — Exclamam em uníssono, levantando-se com rapidez, como se a tensão de instantes atrás nunca tivesse existido.— Pelo visto, ainda consigo assustar vocês com essa voz que tanto tentam comparar com a do outro velho. — Charles Wade brinca, envolvendo os netos num abraço que carrega o calor de memórias mais simples. — Os vigias me alertaram sobre dois arruaceiros invadindo o vinhedo da família. Deveria ter imaginado serem vocês. — Provoca, seu tom arranca risadas que parecem rejuvenescer o ar ao redor.— Quando o senhor voltou? — Dominic pergunta, afastando-se a contragosto do abraço, que, como sempre, parece
A mulher congela como uma estátua, o rosto perdendo a cor, enquanto todos os olhares permanecem fixos nela. O silêncio denso parece se esticar por uma eternidade, até ser abruptamente rompido pelo som da taça de Noah atingindo o solo do vinhedo. A borda delicada encontra uma pedra discreta entre a terra, e o estilhaço cristalino ecoa, ressoando como o reflexo exato do choque que paira no ar.— Bem, parece que não preciso apresentar formalmente sua nova avó. — Charles começa, com uma calma estudada, observando as expressões atônitas dos netos. Dominic leva a taça aos lábios em um gesto automático, enquanto Noah passa os dedos pelos cabelos em claro sinal de nervosismo. — Noah, você deve um pedido de desculpas à minha esposa. — Declara, estendendo a mão para a mulher que avança hesitante. — Não fique nervosa, meu amor. — Sussurra, com uma gentileza que contrasta com a tensão no ar. — Sabíamos que esse momento chegaria. — Finaliza, enquanto deposita um beijo suave e deliberado em suas mã