Vivienne suspira profundamente, encarando o número da mãe na tela do celular. Os dedos tremem, enquanto pairam sobre o botão de chamada, o coração batendo rápido, como se já antecipasse o confronto que estava por vir. A rejeição sempre a machucava, mas as palavras do pai, essas eram como lâminas, deixando cicatrizes que ela não sabia se um dia sumiriam. Mesmo assim, ela inspira fundo e aperta para ligar.O som do tom de discagem ecoa, cada segundo se estendendo como uma eternidade, mas, de repente, sua respiração quase para ao ouvir a mensagem automática ecoar do outro lado da linha.“Este número não existe.”O mundo parece parar. O celular escorrega de sua mão e cai na mesa com um som abafado, mas ela mal percebe. O peito sobe e desce descontroladamente, enquanto Vivienne fecha os olhos, o silêncio ao seu redor amplificando a fúria que cresce dentro dela.— Eles fizeram de tudo para me apagar. — Sussurra, a voz carregada de um misto de incredulidade e tristeza. As palavras mal saem d
Florence mantém a postura ereta, ignorando o peso da tensão crescente. Um sorriso quase imperceptível se forma em seus lábios, enquanto ela finge concentrar-se em sua oração. Por dentro, no entanto, sua mente trabalha como uma máquina, tecendo pensamentos frios e calculados.“Você irá aprender a ficar no seu lugar, minha querida filha.” — Florence pensa, mas não diz, deixando que o silêncio fale por si, enquanto a atmosfera ao redor parece sufocar qualquer tentativa de confronto. — “Será para o teu bem, meu amor.” — Os pensamentos dançam em sua mente, enquanto seus dedos acariciam a cruz do terço. O gesto, aparentemente devoto, é deliberado, carregado de uma calma inquietante. Com movimentos lentos, ela se vira para Elena. Seu olhar é afiado, quase cruel, como se tentasse arrancar a verdade antes mesmo que a sobrinha pudesse respondê-la. — O que mais foi dito? — Pergunta, a voz baixa e gelada, mas tão firme que preenche o silêncio do ambiente.— O que você está fazendo aqui? — Hugo per
Noah desliza a mão pelo chão, seus dedos encontrando uma pedrinha fria e lisa. Com um movimento preciso, ele a arremessa ao rio. Ambos observam em silêncio, enquanto a pedra salta duas vezes sobre a superfície escura da água, antes de afundar lentamente, como se carregasse o peso das palavras ainda contidas.Dominic se aproxima e se senta ao lado dele, apoiando os cotovelos nos joelhos flexionados. Ele permanece quieto, seus olhos seguindo o próximo arremesso de Noah. A nova pedrinha traça um arco perfeito, tocando a água uma, duas, três vezes antes de desaparecer nas profundezas.— Lembra quando competíamos para ver quem conseguia mais saltos? — Noah pergunta, quebrando o silêncio, enquanto joga outra pedrinha no lago.— Sim, eu lembro. — Dominic responde, após um instante, pegando uma pedra e arremessando também. — Troy sempre ganhava. — Acrescenta, um leve sorriso curvando seus lábios, carregado de saudade. — Você contou ao vovô o que aconteceu naquela noite? — Questiona, cada pal
Dominic mantém o olhar fixo no lago, permitindo que as palavras de Noah se infiltrem lentamente em seus pensamentos. Uma risada curta e seca escapa de seus lábios, marcada por uma incredulidade que logo dá lugar a uma dolorosa aceitação. A reação inicial já havia se dissipado, substituída por uma compreensão fria e amarga. Pelo comportamento recente do avô, aquilo era algo que ele quase já esperava.— Sabia que Grant Muller não prestava. — Dominic começa, sua voz carregando anos de mágoas e desconfianças. O movimento do irmão ao seu lado é como um eco de tempos mais simples, quando podiam confiar um no outro cegamente. — Mas essa maldade, é algo novo. — Faz uma pausa significativa. — Só conheci sua verdadeira extensão após a ameaça grotesca que ele mandou para a Vivienne. — Afirma, seus olhos estudam cada microexpressão do irmão, buscando qualquer sinal de cumplicidade com os planos sórdidos do avô.— Ameaça? — Noah questiona, a surpresa em seu rosto parecendo tão genuína quanto sua c
Os dois se viram abruptamente, seus corpos rígidos, tensos, como se prontos para reagir a qualquer ameaça. Mas, ao reconhecerem a figura familiar parada atrás deles, trocam um olhar cúmplice, carregado de um entendimento silencioso. Em seguida, as tensões se dissolvem, e ambos explodem em risadas de alívio, como se o peso do momento anterior tivesse finalmente se dissipado.— Vovô! — Exclamam em uníssono, levantando-se com rapidez, como se a tensão de instantes atrás nunca tivesse existido.— Pelo visto, ainda consigo assustar vocês com essa voz que tanto tentam comparar com a do outro velho. — Charles Wade brinca, envolvendo os netos num abraço que carrega o calor de memórias mais simples. — Os vigias me alertaram sobre dois arruaceiros invadindo o vinhedo da família. Deveria ter imaginado serem vocês. — Provoca, seu tom arranca risadas que parecem rejuvenescer o ar ao redor.— Quando o senhor voltou? — Dominic pergunta, afastando-se a contragosto do abraço, que, como sempre, parece
A mulher congela como uma estátua, o rosto perdendo a cor, enquanto todos os olhares permanecem fixos nela. O silêncio denso parece se esticar por uma eternidade, até ser abruptamente rompido pelo som da taça de Noah atingindo o solo do vinhedo. A borda delicada encontra uma pedra discreta entre a terra, e o estilhaço cristalino ecoa, ressoando como o reflexo exato do choque que paira no ar.— Bem, parece que não preciso apresentar formalmente sua nova avó. — Charles começa, com uma calma estudada, observando as expressões atônitas dos netos. Dominic leva a taça aos lábios em um gesto automático, enquanto Noah passa os dedos pelos cabelos em claro sinal de nervosismo. — Noah, você deve um pedido de desculpas à minha esposa. — Declara, estendendo a mão para a mulher que avança hesitante. — Não fique nervosa, meu amor. — Sussurra, com uma gentileza que contrasta com a tensão no ar. — Sabíamos que esse momento chegaria. — Finaliza, enquanto deposita um beijo suave e deliberado em suas mã
Charles se abaixa lentamente até se sentar no chão, ao lado dos netos. Seus olhos pousam nas mãos ensanguentadas de Noah, e um suspiro pesado escapa de seus lábios. Ele sacode a cabeça, claramente incomodado com a cena, mas também carregado de algo mais profundo, uma mistura de desaprovação e uma tristeza contida que ele não deixa transparecer completamente.— Vovô. — Noah começa, sua voz embargada, enquanto tenta limpar as lágrimas com as mãos machucadas. — Me desculpa. — Murmura, seu olhar fixo no chão como se não merecesse encarar o avô.— Não é para mim que você deve desculpas, filho. — Charles responde, com gentileza, seus dedos percorrendo os cabelos do neto num gesto de conforto que remonta à infância. — Sinto muito constatar o quanto Grant falhou com vocês. — Continua, sua voz carregando o peso de anos de arrependimento. — Dominic tem razão, você errou, mas ainda há tempo para corrigir esses erros. Basta você realmente querer.— O senhor me odeia por ser tão fraco? — Pergunta,
A voz robótica e metálica, fria e desumana, ecoa pelo aparelho, distorcida por um modulador. Cada palavra rasga o silêncio, fazendo o coração de Vivienne bater violentamente em seu peito. Seus dedos apertam o celular com força, mas não conseguem conter o tremor incessante. Ela fecha os olhos por um instante, buscando recuperar desesperadamente o controle, enquanto a apreensão rasteja por sua espinha, gritando em sua mente que encerre aquela ligação.— Mãe? — Vivienne arrisca, em um sussurro rouco, sua voz carregando anos de emoções conflitantes, medo, raiva e uma ponta de descrença que ainda ousa existir.— Seja inteligente, Vivienne. — A voz adverte, meticulosamente controlada. — Algumas verdades devem permanecer enterradas. — As palavras soam como uma ameaça velada, ecoando no silêncio do apartamento.— Sei que é você, Florence. — Afirma, com uma coragem que nem sabia possuir, pronunciando deliberadamente o nome da mãe.Do outro lado, um suspiro pesado ecoa pela linha, carregado de