Capítulo 4

Ambhar encontrou-se todos os dias com Kasphio enquanto estavam arrumando suas carruagens para partir. Ele era encantador, extremamente inteligente e solícito. Estavam realmente empolgados para a viagem. Ela dividia seu tempo entre arrumar coisas, treinar, ajudar seus pais a se recuperarem e ler com Kasphio. Certa noite ele a beijou, delicada e docemente. Ela gostou do beijo. Do abraço que veio junto. Mas não podia enganá-lo. Ela parou o beijo e ficou ali no abraço dele. Ambos quietos.

- Você sabe que eu não posso amá-lo, Kas. - ela disse suspirando.

- Eu sei. Eu quero mesmo assim, estar com você ao menos, se você quiser. Sem compromissos. Me sinto atraído por você Ambhar. Eu nunca omiti isso.

- Eu não sei o que fazer. Também me sinto atraída e gosto de ficar com você, mas não é como foi com Fayne, entende? É um turbilhão de sentimentos e com você é calmaria. Eu... Desculpe se te magoar.

- Não, não me magia. Talvez você pense que só goste da turbulência, por não ter sentido o amor calmo. Já pensou sobre isso?

- Não. Pode ser que você tenha razão.

- Então nos dê uma chance. - Falou Kasphio. - Eu viveria uma vida desse tamanho por você.

- Preciso de mais tempo. Não posso decidir isso amando outra pessoa, entende?

- O amor é uma construção Amb, precisa-se de tempo para que ele seja. - falou Kasphio para ela.

- Ninguém nunca tinha me dito isto, você é tão inteligente, amo isso em você.

- Já é um início. - ele riu.

- É muito estranho, eu amo Fayne mas não gosto de muitas coisas nela, a principal é o fato dela ser machista, fria e babaca. Talvez seja apenas desejo e eu não saiba distinguir de amor. Eu sou muito confusa não?

- Eu te darei o que você precisar, se disser que precisa de espaço, eu darei, se disser que me quer perto, eu o farei. Se disser que quer somente minha amizade é isso que terá Ambhar. Eu nunca vou achar que me deve alguma coisa e não vou te julgar por escolher outras.

- OK Kas. Vamos devagar está bem?

- Doce e calmo está bom para você? - disse ele fitando seus olhos.

- Doce e calmo está bom, por enquanto.- disse ela com um sorriso. Ele sorriu também e lentamente o sorriso desapareceu. Ele a beijou novamente. Ela sentiu algo, não ia mentir, mas comparando com os beijos de Fayne... Não queria comparar isso, não era justo. Como ela podia amar alguém mas não gostar desse alguém. Era no mínimo contrastante. Ela queria amar, pertencer a alguém, sentir-se tomada completamente por esse alguém. Acariciando seus cabelos, ele desceu a mão pelas suas costas, a boca e língua dele explorando sua boca e língua. Suas mãos paravam em sua cintura. Ele tomava o maior cuidado para não tocá-la onde ela não mostrava que queria. Estavam de frente um para o outro, sentados em um galho grosso de uma árvore, suas pernas abertas de cada lado e cruzadas uma nas outras. Estavam com os corpos inclinados para a frente, um em direção ao outro. Kasphio tinha pernas fortes, cabelos pretos e olhos claros. Seu nariz era arrebitado e seus lábios sensuais e vermelhos, estavam sempre com um meio sorriso. E agora que se interessara por Ambhar estava cuidando mais da aparência do que antes, quando ela o tinha conhecido. Seus cabelos lisos eram somente lavados e deixados cair do jeito que queriam, agora ele ostentava um corte que fazia os fios ficarem jogados para trás, e às vezes, por serem lisos uma mecha vinha parar na testa num arco displicente. Charmoso demais.

Ambhar havia visto um monte de moças se encantarem com ele, tanto na ilha de Saidheans, a ilha de Faleey, quanto ali, nas ilhas flutuantes.

A pequena fada Tamany havia convidado ele para tomar algo com ela e Ambhar ouviu ele responder que o desculpasse, mas que não poderia, pois estava ocupado com os estudos. E Ambhar sabia que se ela chamasse ele para qualquer coisa, ele iria sem pensar duas vezes.

Percebeu que Tamany ficou um pouco sem graça mas não se intrometeu. E não mencionou nada sobre isto. Ele que deveria escolher com quem queria ficar ou passar seu tempo.

Se separaram pois escutaram algo ali perto, quando viram era um dragão. Ela voava já longe mas Ambhar viu que era Fayne. Ela virou o rosto para ele, que também estava vendo o dragão.

- Acha que ela nos viu? - Ele falou preocupado.

- Não sei. Porquê? Se viu ou não, não me preocupa.

- Não sei, talvez ela fique chateada. Não gosto da possibilidade de ela falar coisas que te magoem como naquela vez da praia.

- Não falará. Não se preocupe. Vamos! Tenho que ajudar meus pais na recuperação. Perdi a noção do tempo.

- Culpa sua e de seus beijos que são deliciosos. - Ela sorriu. Foram de mãos dadas até o castelo. Os pais dela já estavam caminhando devagar pelo grande salão. Ela estava tão feliz. Seu sorriso encantava Kasphio. Foi o que o fez parar por dois minutos quando a conheceu. Ela simplesmente estava perto da fonte, no centro da cidade, olhando tudo com um enorme sorriso e ele se perdeu nela neste instante. Ela lhe perguntou algo e ele não conseguiu nem falar. Os olhos brilhantes de cor mogno.

Agora, luzes do salão traziam um brilho etéreo em sua face.

Kasphio caminhou com ela até a mesa em que Satio e Mona estavam. A médica dos dragões, Sidarta, já fazia eles mexerem os músculos para recuperar as forças deles e caminharem sem sentir dores. Ela tinha ministrado doses de uma medicação para isso. Criar músculos, novamente, em corpos que ficavam há muito tempo em camas. Tinha tido muito sucesso em todas as tentativas. E em seus pais também estava surtindo efeitos muito bons.

- Até que enfim chegou filha. - falou o pai. - E trouxe um jovem com você desta vez.

- Sim, pai, este é meu amigo Kasphio. Ele que nos ajudou na biblioteca de Faleey, ele é um dos últimos bibliotecários.

- Seu pai o olhou boquiaberto. Você é o garotinho, o do orfanato. Que saiu de um grande incêndio? Me lembro de um garotinho que saiu de um incêndio. Foi divulgado um tempo depois que era um bibliotecário mas que havia desaparecido. Posso estar errado.

- Não senhor, não está. Eu desapareci mesmo. Quando descobriram que eu era bibliotecário eu tive que fazê-lo, corria o risco de Borag tentar me matar. Mas me escondi até ficar adulto em um sótão de uma biblioteca. Eu limpava, cuidava e todos achavam que eu era um zelador. Mas só estava me escondendo. Só lia livros de madrugada ou longe dos olhos de qualquer um - contou Kasphio.

- Sinto muito por sua perda, filho. Borag é o mal encarnado. - respondeu Satio.

- Obrigada, senhor. Sim é. Eu tive a prova disto em primeira mão. O bom é que ele não deu sinais de vida mais nos últimos dias - respondeu Kasphio

- Que se mantenha assim daqui em diante - falou Mona.

Emeraldy deu um riso nervoso.

- Desculpem, eu fico um pouco histérica quando mencionam esse ser. Preciso sair um pouco, respirar um ar fresco. Com licença. - E ela saiu ao pátio, caminhando pela grama até chegar na rua de pedras e da rua de pedras, entrou na rua principal.

Ambhar sabia que ela rejeitaria sua ajuda. E sabia porque. Ela já havia pedido que a deixasse resolver isso sozinha e Ambhar e Saphyre a respeitaram. Então quando fizeram menção de segui-la, Ambhar falou que não o fizessem. Que ela ficaria bem. Retornaria. Continuaram com os exercícios dos pais que estavam cada dia mais fortes. E Ambhar amava isso. Após, eles jantaram e retornaram aos seus aposentos. Ambhar despediu de Kasphio na porta de seu quarto com mais um beijo e deu boa-noite entrando e fechando a porta. Ela ouviu ele assobiar pelo corredor e sorriu. Iria tentar isso. Realmente iria. Que os deuses a ajudassem.

Sírius estava terminando de resolver suas pendências no centro do povoado, seus pensamentos atormentados por não ter conseguido falar direito com a princesa, a Emeraldy. Ele não havia tocado nela mais do que quando a tirou de lá nas costas de Zoltark. E muitas vezes ele a via o observar pensativa e depois quando olhava novamente ela já não estava. Mal disseram algumas palavras um para o outro, fora no dia em que chegaram ali. Ele estava decidido a viajar com eles, Kaeidh já havia dito que ele seria necessário em caso de lutas. E para ensinar a todos o seu modo de sobrevivência. E é o que ele já havia iniciado junto com os treinos de fogos das três elementais e sua mãe mais o restante do contingente que iria com eles na segunda leva.

Ele não tinha coragem de se aproximar de forma que a fizesse se lembrar de Borag, já que ela não aguentava nem ouvir o nome dele e já ficava passando mal com falta de ar e se sentindo agoniada. E pelo fato de eles terem se conhecido lá, onde ela era prisioneira, ele pensava que seria algo mais para lembrá-la disto. Então se manteve afastado, mas cordial e educado quando ela falava com ele.

Saiu do centro onde havia enviado cartas para o suplente em seu povoado, explicando que ele voltaria mas não sabia quando. Para que avisasse o povo que se quisessem eles poderiam fazer uma nova eleição. Já que ele havia desaparecido por séculos deixando tudo nas mãos do suplente.

Viu Emeraldy ao longe andando tão rápido, na verdade ela corria na velocidade elfica. Suas pernas estavam quase toda de fora e sua face era de pânico.

Ele andou na direção dela, automaticamente, para ajudá-la de alguma forma e quando ela o viu, correu para ele. Se encontraram na metade do trajeto. E ele a abraçou. Ela soluçou alto e escondeu o rosto em seu peito. Instantaneamente ele a pegou no colo como havia feito quando fugiram da montanha e foi a algum local reservado com ela. Entrou na cabana que ele estava ficando. Ela chorou o tempo todo. Mesmo quando ele sentou no sofá grande e confortável e ficou lá com ela abraçada a ele. Chorou por um tempo ainda, até se acalmar, mas às vezes ainda soluçava. O peito dele doía só de imaginar a dor que ela sentia, a raiva acumulada e todos os outros sentimentos. Ele odiava Borag ainda mais por isto.

E se ele estivesse vivo ele faria questão de fazê-lo sofrer como ela sofria. Havia sonhado tanto tempo com ela. E ela estava ali, em seus braços, não mais em seus sonhos e nunca mais encarcerada. Ele não podia ver ela sofrer de nenhuma maneira. Percebeu que se aquietou e se remexeu devagar, inquieto. Respirava com cuidado para não despertá-la. Deitou ela com carinho fazendo o mínimo movimento para não acordá-la. Saiu com esforço de baixo de seu corpo. Ela ficaria mais confortável deitada nas almofadas do sofá e não em cima dele. Ele havia contado e já estava há mais de uma hora na mesma posição, ela poderia acordar com dor no corpo amanhã. Ela se aconchegou novamente a ele, o puxando com os braços em volta de seu pescoço. Ele ficou mais um tempo ali, de lado deitado com ela o abraçando, o rosto encostado em seu peito. Ele olhou para baixo, precisava tirar as botas. Empurrou elas com seu próprio pé, jogando-as no chão, caíram com um barulho abafado por causa do tapete. Ele olhou novamente para baixo e notou suas pernas totalmente de fora pelas abas do vestido. Se virou um pouco e puxou o cobertor que ficava no encosto do sofá a cobriu devagar e ficou ali. Meio inclinado de lado com seus braços ancorados ao pescoço dele. Sua bochecha colada ao seu peito. Sentiu o cheiro dela. Cheiro de frutas da lua. Os fios de cabelos sedosos completamente brancos estavam cobrindo um dos braços dele, até sua mão. Ele segurou uma mecha e deslizou os fios pelos dedos, sentindo a textura macia. Uma das pernas dela subiu se acomodando até em cima de sua coxa. Ela suspirou e ele também. O leão dentro dele adorando este encontro, ronronou.

Deuses, que me fizessem agora não sentir nada indesejado. Não estava certo. Pensou em todas as coisas que viveu na floresta, pensou nas feridas graves que tivera quando caiu da árvore. A dor que havia sentido e o esforço que teve que fazer para voltar a subir. Ficou pensando nisso até cair num sono profundo.

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