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Capítulo 8 - Conversa de fã

Logo minha mãe ficou sabendo do meu namoro com Léo e de alguma forma isso a deixou feliz. Acho que ele no fundo só queria que eu não tivesse uma vida como a dela. Mal sabia ela que eu não tinha nenhum sentimento por Léo, então se ele fosse meu marido um dia, eu teria uma vida como a dela: triste e sem amor. Eu era uma garota esperta, mas nos assuntos de amor eu era ingênua. Eu sabia que não havia chegado meu príncipe encantado ainda. e eu nem sabia se acreditava nele. Nunca houve um garoto que fizesse meu coração bater mais forte, embora eu tenha tentado me envolver várias vezes. Mas eu era jovem. Tinha 19 anos, em breve faria 20. Eu tinha tantos objetivos para minha vida que nem sabia se existia espaço para um homem. Também tinha medo de me apaixonar por um homem bonito, mas que não era uma boa pessoa, como meu irmão Kevin, por exemplo. Ou até mesmo me casar com uma boa pessoa e com o tempo ele se tornar como meu pai: um homem completamente irresponsável, que só dava trabalho. Eu amava Adolfo Lee porque ele era meu pai. Mas se eu fosse esposa dele, talvez agisse como minha mãe. Teria minha mãe amado outro homem um dia? Teria meu pai se envolvido no passado com outra mulher? Como os dois acabaram se unindo, casando e tendo três filhos, sendo que eles nem se suportavam? Mesmo no passado, em alguns raros momentos em que ele não estava caído no vício, havia certo respeito. Mas amor... Nunca houve.

Entre as conversas com Kim durante a semana, tive outras com Léo. Agora ele me ligava todos os dias, ou então mandava mensagem para saber se eu estava bem. Tanto ele como Kim ficaram confusos ao saberem que eu havia sido selecionada na primeira etapa do emprego no castelo. Mas também se preocupavam pelo fato de eu ser uma anti-monarquista. Por mais que eu não gostasse da monarquia, muito menos da forma como a rainha Anne conduzia o reino, eu não era burra a ponto de ser descoberta. Além do mais, apesar de tudo, eu precisava daquele emprego. Devia ser um alto salário, sem contar o prestígio de ser o braço direito da rainha de Noriah. Isso me garantiria um bom emprego em qualquer lugar depois que eu saísse de lá. Então eu precisava aproveitar a oportunidade e a ajuda de meu pai. Acho que se não fosse ele ter falado pessoalmente com o rei Alfred eu jamais seria escolhida dentre tantas meninas.

No domingo à noite eu estava ansiosa. Ir ao castelo não era uma coisa que eu fazia com frequência. E eu nunca havia entrado lá dentro. Saber que meu pai de alguma forma conhecia o rei também me deixava um pouco apreensiva, pois eu tinha não certeza do que realmente acontecia ou o passado que havia entre eles.

O Jornal da Monarquia havia anunciado que encerrara a pré-seleção ao cargo devido ao grande número de currículos recebidos, que acabou causando até mesmo problemas com rede de dados do reino, causando congestionamento. Então quem não havia se inscrito naquele curto período, não teria mais oportunidade para fazer. Eu duvidava que alguém que quisesse o emprego não tivesse se inscrito no primeiro dia.

Eu não dormi nada bem durante a noite, devido à ansiedade. Na segunda-feira à noite nós também nos encontraríamos com o novo grupo anti-monarquia e isso me deixava com medo.

Quando meu relógio despertou eu nem sabia ao certo se havia dormido. Meu corpo estava um pouco dolorido e meus olhos doíam. Tomei um banho gelado. Quando me olhei no espelho eu estava horrível. Até olheiras eu havia ganhado. Kim havia me ensinado a fazer uma ótima maquiagem que poderia tapar tudo aquele aspecto cansado de volta dos meus olhos claros. Mas na carta dizia “sem maquiagem”. Peguei o corretivo e fiquei na dúvida. Corretivo seria maquiagem? Quem sobreviveria sem corretivo? Para mim era item básico. Na dúvida, não coloquei. Parecia que o objetivo era ser horrível. Será que para ser dama da companhia não poderia usar maquiagem nunca? Não adiantava ficar me questionando... Só saberia quando chegasse lá.

Coloquei uma calça com corte reto, escura, se um tecido grosso, mas não jeans. Uma camiseta branca sem detalhes e um blazer da mesma cor foram completados com um par de scarpin preto confortável. Eu não usaria aquela roupa para nenhuma ocasião que não fosse a tentativa de um emprego no castelo. Sair sem maquiagem, nem um corretivo ou um batom? Era a primeira vez. Se Kim me visse na rua não me deixaria sair com a cara lavada e dormida. Eu estava simplesmente horrível.

No café da manhã fui contemplada com um pedaço de pão além do leite. Nem contestei. Estava ótimo. Mamãe fazia pães maravilhosos. E em breve, quando conseguisse o emprego no castelo, eu lhe daria tudo que precisasse para nos fazer um banquete diariamente. Ou talvez até pagasse uma empregada para ajudá-la de alguma forma.

Antes de eu sair na porta ela me chamou, deu-me um beijo e disse:

- Boa sorte.

- Obrigada, mãe.

Eu estava saindo no portão quando Leon correu até mim e me abraçou com força apertando minha barriga.

- Eu amo você, Kat.

- Também amo você, Leon. Eu vou conseguir este emprego... Por você... Por todos nós.

- Eu sei... Eles vão amar você no castelo.

Eu ri:

- Acho que nem tanto, meu bem.

- Todo mundo ama a Kat.

Eu andei até o ponto e embarquei no ônibus até o castelo. A viagem até lá levava quase 1 hora. E não havia um espaço vago em nenhuma poltrona. Dei-me conta que só havia garotas ali. Certamente todas minhas oponentes ao emprego. Algumas se conheciam e conversavam. Pensei em quantas histórias diferentes tinha naquele mesmo lugar. Todas precisávamos do emprego pelo mesmo motivo: dinheiro. Se não fosse por isso, quem quereria acompanhar a intragável rainha Anne Mari?

Desci no ponto e logo estava junto da multidão de meninas de diferentes idades. Eu não tinha certeza da idade máxima, mas me parecia que era 25 anos. E a mínima 18. Mas tinham umas meninas que aparentavam mais que 25 e outras menos de 18. Várias usavam maquiagens. E as roupas eram das mais variadas. Desde saias curtíssimas até vestidos de festa? Será que cada uma havia recebido uma carta diferente? Creio que sim. E a minha era com certeza a mais bizarra. A rua estava muito movimentada. Eu não sabia se era sempre assim ou somente naquele dia devido ao fluxo de candidatas. A rua que andávamos era de pedras brancas pequenas, parecendo desenhadas e depois colocadas individualmente no chão de tão perfeitas. Meu salto flutuava enquanto eu caminhava. Logo avistei o castelo, imponente, enorme, cheio de pompa. Não era uma construção como dos castelos antigos. Era mais moderna, mas ainda assim trazia um pouco de romantismo e bucolismo. Eu havia ido poucas vezes até lá. Não tenho certeza se a entrevista seria dentro do castelo ou fora e o que exatamente seria. Mas eu estava ansiosa. As grandes grades do portão estavam abertas e na porta havia vários guardas, usando a insígnia de Noriah Sul em suas fardas. A insígnia eram duas espadas cruzadas numa coroa brilhante com um livro aberto embaixo. Eu ri. Quanta ironia no livro aberto, sendo que a educação era para poucos naquele lugar. Era usada inclusive como forma de diminuição da natalidade. Será que só eu pensava daquela forma? Teria outra mulher ali que contestasse a forma de governar da rainha Anne?

Algumas longas filas se formavam numa das portas do castelo. Creio que não era lá a entrada principal. Quanto tempo será que ficaríamos ali, esperando? E se fosse verão e o sol escaldante tivesse sobre nossas cabeças?

- Quanto tempo será que isso vai durar? – perguntou a garota que estava na minha frente. Ela estava se dirigindo a mim.

- Pois eu pensei a mesma coisa. – falei sorrindo. – Seria bom encontrar alguém ali para conversar enquanto aquilo durasse.

Ela sorriu de volta e me estendeu a mão:

- Sofia.

- Kat.

- Só em estar nesta pré-seleção somos privilegiadas, não?

- De certa forma, creio que sim.

- Eu preciso muito do emprego.

- Acho que todas, não? – falei sorrindo.

- Sim...

- Na sua carta mandava vir sem maquiagem, esmalte ou tintura nos cabelos?

- Sim. – ela disse dando uma risada alta. – Achei estranho.

- Eu também... Será que a recomendação não servia para todas?

- Pelo visto não. Ou algumas simplesmente ignoraram.

- Esperar... Será que nos darão o que comer?

Ela riu:

- Está brincando! O castelo não teria dinheiro para bancar lanche para todas estas mulheres.

Ela tinha razão. Eu era tão implicante com a monarquia que às vezes pegava pesado.

- Você... Conhece alguém do castelo? – ela me perguntou com voz mais baixa.

Eu não entendi muito bem a pergunta dela, mas respondi:

- Não...

- Parece que conhecer alguém aqui ajuda bastante.

- Você conhece alguém? – perguntei de volta.

- Sim. – ela disse escondendo a boca atrás da mão para que ninguém escutasse.

- Quem você conhece?

- Uma das cozinheiras... Ela é minha tia. – disse ela orgulhosa.

- Que bom! Acha que isso pode lhe dar vantagem de alguma forma?

- Espero que sim. – disse ela dando de ombros. – Se não conseguir o emprego eu ficaria feliz em entrar no castelo e ver um dos príncipes.

Nisso outra garota entrou na conversa:

- Eu não quero o emprego. Vim só para tentar encontrar o príncipe Dereck. Acho que eu morreria se o visse na minha frente. – ela disse mimadamente.

Começamos a rir divertidamente da forma como a garota falou.

- Mas... Você está usando maquiagem... – observou Sofia.

- Como eu disse, só quero ver o príncipe passando por mim. – falou a garota seriamente.

- Você está falando sério? – perguntei.

- Parece que não? – ela disse. – E se eu encontro o príncipe Dereck sem um batom? Não há possibilidade. Tenho inclusive um no bolso. Caso eu o veja, colocarei mais e mais até ele chegar perto de mim.

Rimos novamente. A garota era engraçada e não parecia mentir. Realmente sua intenção era clara: ver o príncipe Dereck.

- Eu daria meu último suspiro de vida por Magnus. – disse Sofia virando os olhos. – Eu nunca vi ninguém tão belo na vida.

- Mas... Ele quase nunca aparece na mídia. – observei.

- Ele sempre foi mais discreto que Deck. – disse a outra.

- Deck? Quem é Deck. – perguntei confusa.

Agora elas riram de mim:

- Em que reino você vive?

Fiz cara de quem não entendi.

- Deck é o apelido de Dereck. – explicou Sofia.

- Nossa, eu nunca ouvi isso. – confessei.

- Ouvi dizer que Magnus não tem celular...

Eu tirei o foco no que elas falavam e pensei se realmente o chamavam de Deck. Não seria um apelido mais íntimo? Por que elas o chamavam assim? Magnus não ter um celular? Certamente tudo era coisa da cabeça das fãs dos príncipes de Noriah. Pelo visto só eu não era uma. Acho que eu nem conheceria eles se passassem por mim.

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