Logo minha mãe ficou sabendo do meu namoro com Léo e de alguma forma isso a deixou feliz. Acho que ele no fundo só queria que eu não tivesse uma vida como a dela. Mal sabia ela que eu não tinha nenhum sentimento por Léo, então se ele fosse meu marido um dia, eu teria uma vida como a dela: triste e sem amor. Eu era uma garota esperta, mas nos assuntos de amor eu era ingênua. Eu sabia que não havia chegado meu príncipe encantado ainda. e eu nem sabia se acreditava nele. Nunca houve um garoto que fizesse meu coração bater mais forte, embora eu tenha tentado me envolver várias vezes. Mas eu era jovem. Tinha 19 anos, em breve faria 20. Eu tinha tantos objetivos para minha vida que nem sabia se existia espaço para um homem. Também tinha medo de me apaixonar por um homem bonito, mas que não era uma boa pessoa, como meu irmão Kevin, por exemplo. Ou até mesmo me casar com uma boa pessoa e com o tempo ele se tornar como meu pai: um homem completamente irresponsável, que só dava trabalho. Eu amava Adolfo Lee porque ele era meu pai. Mas se eu fosse esposa dele, talvez agisse como minha mãe. Teria minha mãe amado outro homem um dia? Teria meu pai se envolvido no passado com outra mulher? Como os dois acabaram se unindo, casando e tendo três filhos, sendo que eles nem se suportavam? Mesmo no passado, em alguns raros momentos em que ele não estava caído no vício, havia certo respeito. Mas amor... Nunca houve.
Entre as conversas com Kim durante a semana, tive outras com Léo. Agora ele me ligava todos os dias, ou então mandava mensagem para saber se eu estava bem. Tanto ele como Kim ficaram confusos ao saberem que eu havia sido selecionada na primeira etapa do emprego no castelo. Mas também se preocupavam pelo fato de eu ser uma anti-monarquista. Por mais que eu não gostasse da monarquia, muito menos da forma como a rainha Anne conduzia o reino, eu não era burra a ponto de ser descoberta. Além do mais, apesar de tudo, eu precisava daquele emprego. Devia ser um alto salário, sem contar o prestígio de ser o braço direito da rainha de Noriah. Isso me garantiria um bom emprego em qualquer lugar depois que eu saísse de lá. Então eu precisava aproveitar a oportunidade e a ajuda de meu pai. Acho que se não fosse ele ter falado pessoalmente com o rei Alfred eu jamais seria escolhida dentre tantas meninas.
No domingo à noite eu estava ansiosa. Ir ao castelo não era uma coisa que eu fazia com frequência. E eu nunca havia entrado lá dentro. Saber que meu pai de alguma forma conhecia o rei também me deixava um pouco apreensiva, pois eu tinha não certeza do que realmente acontecia ou o passado que havia entre eles.
O Jornal da Monarquia havia anunciado que encerrara a pré-seleção ao cargo devido ao grande número de currículos recebidos, que acabou causando até mesmo problemas com rede de dados do reino, causando congestionamento. Então quem não havia se inscrito naquele curto período, não teria mais oportunidade para fazer. Eu duvidava que alguém que quisesse o emprego não tivesse se inscrito no primeiro dia.
Eu não dormi nada bem durante a noite, devido à ansiedade. Na segunda-feira à noite nós também nos encontraríamos com o novo grupo anti-monarquia e isso me deixava com medo.
Quando meu relógio despertou eu nem sabia ao certo se havia dormido. Meu corpo estava um pouco dolorido e meus olhos doíam. Tomei um banho gelado. Quando me olhei no espelho eu estava horrível. Até olheiras eu havia ganhado. Kim havia me ensinado a fazer uma ótima maquiagem que poderia tapar tudo aquele aspecto cansado de volta dos meus olhos claros. Mas na carta dizia “sem maquiagem”. Peguei o corretivo e fiquei na dúvida. Corretivo seria maquiagem? Quem sobreviveria sem corretivo? Para mim era item básico. Na dúvida, não coloquei. Parecia que o objetivo era ser horrível. Será que para ser dama da companhia não poderia usar maquiagem nunca? Não adiantava ficar me questionando... Só saberia quando chegasse lá.
Coloquei uma calça com corte reto, escura, se um tecido grosso, mas não jeans. Uma camiseta branca sem detalhes e um blazer da mesma cor foram completados com um par de scarpin preto confortável. Eu não usaria aquela roupa para nenhuma ocasião que não fosse a tentativa de um emprego no castelo. Sair sem maquiagem, nem um corretivo ou um batom? Era a primeira vez. Se Kim me visse na rua não me deixaria sair com a cara lavada e dormida. Eu estava simplesmente horrível.
No café da manhã fui contemplada com um pedaço de pão além do leite. Nem contestei. Estava ótimo. Mamãe fazia pães maravilhosos. E em breve, quando conseguisse o emprego no castelo, eu lhe daria tudo que precisasse para nos fazer um banquete diariamente. Ou talvez até pagasse uma empregada para ajudá-la de alguma forma.
Antes de eu sair na porta ela me chamou, deu-me um beijo e disse:
- Boa sorte.
- Obrigada, mãe.
Eu estava saindo no portão quando Leon correu até mim e me abraçou com força apertando minha barriga.
- Eu amo você, Kat.
- Também amo você, Leon. Eu vou conseguir este emprego... Por você... Por todos nós.
- Eu sei... Eles vão amar você no castelo.
Eu ri:
- Acho que nem tanto, meu bem.
- Todo mundo ama a Kat.
Eu andei até o ponto e embarquei no ônibus até o castelo. A viagem até lá levava quase 1 hora. E não havia um espaço vago em nenhuma poltrona. Dei-me conta que só havia garotas ali. Certamente todas minhas oponentes ao emprego. Algumas se conheciam e conversavam. Pensei em quantas histórias diferentes tinha naquele mesmo lugar. Todas precisávamos do emprego pelo mesmo motivo: dinheiro. Se não fosse por isso, quem quereria acompanhar a intragável rainha Anne Mari?
Desci no ponto e logo estava junto da multidão de meninas de diferentes idades. Eu não tinha certeza da idade máxima, mas me parecia que era 25 anos. E a mínima 18. Mas tinham umas meninas que aparentavam mais que 25 e outras menos de 18. Várias usavam maquiagens. E as roupas eram das mais variadas. Desde saias curtíssimas até vestidos de festa? Será que cada uma havia recebido uma carta diferente? Creio que sim. E a minha era com certeza a mais bizarra. A rua estava muito movimentada. Eu não sabia se era sempre assim ou somente naquele dia devido ao fluxo de candidatas. A rua que andávamos era de pedras brancas pequenas, parecendo desenhadas e depois colocadas individualmente no chão de tão perfeitas. Meu salto flutuava enquanto eu caminhava. Logo avistei o castelo, imponente, enorme, cheio de pompa. Não era uma construção como dos castelos antigos. Era mais moderna, mas ainda assim trazia um pouco de romantismo e bucolismo. Eu havia ido poucas vezes até lá. Não tenho certeza se a entrevista seria dentro do castelo ou fora e o que exatamente seria. Mas eu estava ansiosa. As grandes grades do portão estavam abertas e na porta havia vários guardas, usando a insígnia de Noriah Sul em suas fardas. A insígnia eram duas espadas cruzadas numa coroa brilhante com um livro aberto embaixo. Eu ri. Quanta ironia no livro aberto, sendo que a educação era para poucos naquele lugar. Era usada inclusive como forma de diminuição da natalidade. Será que só eu pensava daquela forma? Teria outra mulher ali que contestasse a forma de governar da rainha Anne?
Algumas longas filas se formavam numa das portas do castelo. Creio que não era lá a entrada principal. Quanto tempo será que ficaríamos ali, esperando? E se fosse verão e o sol escaldante tivesse sobre nossas cabeças?
- Quanto tempo será que isso vai durar? – perguntou a garota que estava na minha frente. Ela estava se dirigindo a mim.
- Pois eu pensei a mesma coisa. – falei sorrindo. – Seria bom encontrar alguém ali para conversar enquanto aquilo durasse.
Ela sorriu de volta e me estendeu a mão:
- Sofia.
- Kat.
- Só em estar nesta pré-seleção somos privilegiadas, não?
- De certa forma, creio que sim.
- Eu preciso muito do emprego.
- Acho que todas, não? – falei sorrindo.
- Sim...
- Na sua carta mandava vir sem maquiagem, esmalte ou tintura nos cabelos?
- Sim. – ela disse dando uma risada alta. – Achei estranho.
- Eu também... Será que a recomendação não servia para todas?
- Pelo visto não. Ou algumas simplesmente ignoraram.
- Esperar... Será que nos darão o que comer?
Ela riu:
- Está brincando! O castelo não teria dinheiro para bancar lanche para todas estas mulheres.
Ela tinha razão. Eu era tão implicante com a monarquia que às vezes pegava pesado.
- Você... Conhece alguém do castelo? – ela me perguntou com voz mais baixa.
Eu não entendi muito bem a pergunta dela, mas respondi:
- Não...
- Parece que conhecer alguém aqui ajuda bastante.
- Você conhece alguém? – perguntei de volta.
- Sim. – ela disse escondendo a boca atrás da mão para que ninguém escutasse.
- Quem você conhece?
- Uma das cozinheiras... Ela é minha tia. – disse ela orgulhosa.
- Que bom! Acha que isso pode lhe dar vantagem de alguma forma?
- Espero que sim. – disse ela dando de ombros. – Se não conseguir o emprego eu ficaria feliz em entrar no castelo e ver um dos príncipes.
Nisso outra garota entrou na conversa:
- Eu não quero o emprego. Vim só para tentar encontrar o príncipe Dereck. Acho que eu morreria se o visse na minha frente. – ela disse mimadamente.
Começamos a rir divertidamente da forma como a garota falou.
- Mas... Você está usando maquiagem... – observou Sofia.
- Como eu disse, só quero ver o príncipe passando por mim. – falou a garota seriamente.
- Você está falando sério? – perguntei.
- Parece que não? – ela disse. – E se eu encontro o príncipe Dereck sem um batom? Não há possibilidade. Tenho inclusive um no bolso. Caso eu o veja, colocarei mais e mais até ele chegar perto de mim.
Rimos novamente. A garota era engraçada e não parecia mentir. Realmente sua intenção era clara: ver o príncipe Dereck.
- Eu daria meu último suspiro de vida por Magnus. – disse Sofia virando os olhos. – Eu nunca vi ninguém tão belo na vida.
- Mas... Ele quase nunca aparece na mídia. – observei.
- Ele sempre foi mais discreto que Deck. – disse a outra.
- Deck? Quem é Deck. – perguntei confusa.
Agora elas riram de mim:
- Em que reino você vive?
Fiz cara de quem não entendi.
- Deck é o apelido de Dereck. – explicou Sofia.
- Nossa, eu nunca ouvi isso. – confessei.
- Ouvi dizer que Magnus não tem celular...
Eu tirei o foco no que elas falavam e pensei se realmente o chamavam de Deck. Não seria um apelido mais íntimo? Por que elas o chamavam assim? Magnus não ter um celular? Certamente tudo era coisa da cabeça das fãs dos príncipes de Noriah. Pelo visto só eu não era uma. Acho que eu nem conheceria eles se passassem por mim.
Mas eu o Sofia estávamos erradas. A fila foi andando bem rápido e assim como uma multidão de meninas entrou nos jardins do castelo, outras muitas saíram, tão rápido quanto ingressaram. Algumas saíam sozinhas, outras em duplas, algumas em pequenos grupos. Havia as que saíam em lágrimas e também as que não perdiam a compostura. No fim, eu não sabia se todas ali realmente tinham o mesmo objetivo. Fui me dando conta que as eliminadas estavam maquiadas, mesmo que algumas usando o mínimo dos mínimos. Por sorte eu deixei meu corretivo onde estava. Melhor passar pelo menos na primeira fase. Conforme a fila andava, eu conversava com as outras garotas e embora nenhuma que saísse confirmasse, todas achávamos que roupas muito curtas ou justas, bem como maquiagens e tintura iram eliminando uma a uma. Logo estávamos próximas do portão e embora fosse rápido, j
Passar a noite no castelo de Noriah não estava nos meus planos. Muito menos conhecer os dois príncipes no mesmo dia e ser chamada de anti monarquista. Dereck era mais ou menos como eu imaginava: um homem com cara de garoto, que falava o que vinha à sua cabeça. Mas o fato de eles se preocuparem comigo de alguma forma me deixou muito impressionada. Eu era somente uma garota comum da zona E atrás de um emprego no castelo. Pensando bem não era um emprego qualquer; eu estaria lado a lado com a rainha Anne, a mãe deles. Então de certa forma era um cargo importante dentro do castelo. Agora, ser socorrida por Magnus, realmente não estava nos meus planos. Ele era um homem bem discreto, pouco aparecia sua imagem nos veículos de comunicação. Geralmente ele estava mais nas aparições na televisão, ao vivo. Como eu não assistia muito, acabava não sabendo muito sobre ele ou sua ap
Eu fechei o vidro e fiquei ali, sem saber se deitava, saía dali ou...Ouvi um barulho na porta e logo chegou um homem e uma mulher vestidos de branco.- Bom dia, senhorita Lee, sou o doutor Lewis.- Bom dia. – eu disse sentando na cama.Os dois vieram até mim. Ele examinou meus batimentos, verificou a pressão, olhou alguns papéis que tinha sobre a mesa ao lado da minha cama e disse:- A senhorita já está bem.- Sim... Estou. – confirmei.- Faz algum tipo de tratamento para hipoglicemia?- Não... Só acompanhamento normal.- Ficou quanto tempo sem comer?- Mais de 10 horas.- Até que suportou muito tempo... Seus exames estão bons.- Estou liberada? – perguntei olhando no relógio, que já se aproximava das 7 horas.- Sim. Acompanhei a senhorita ontem e vejo que hoje está muito bem.-
Eu fiquei ali, sem saber o que fazer, afinal, ele era o príncipe. Eu poderia fugir do príncipe? Provavelmente ele já sabia até onde eu morava. Estava tão confusa com tudo que estava acontecendo. Não entendia nada... Estava com um pouco de medo. Parecia história de filme. Se eu contasse a Kim, ele não acreditaria que eu caí nos braços de Magnus e estava conversando com Dereck como se ele fosse uma pessoa normal. Kim... Eu precisava falar com ele. Onde estava a minha bolsa? Meu telefone? Eu havia perdido quando desmaiei? Saí de dentro da porta e fiquei para o lado de fora, observando as outras garotas que iam saindo de pouco em pouco. Teriam elas achado a prova difícil ou fácil? Eu estaria na próxima fase por meus méritos ou por meu pai? Ou agora seria por Dereck? O que aquele homem queria de mim? Vi Sofia saindo de uma das salas e fui até ela.- Como você foi?
Dereck fez questão que eu fosse embora no carro dele com motorista. Eu recusei somente uma vez e na segunda insistência dele aceitei. Eu estava cansada, havia passado a noite na enfermaria do castelo e feito uma prova de conhecimentos gerais com várias folhas para leitura usando óculos fake. Além disso, aquele príncipe estava me chantageando. Tudo parecia meio surreal nos últimos dias. Peguei meu celular, que por sorte ainda tinha um pouco de bateria. Havia 22 ligações não atendidas de Kim. Mais 10 da minha mãe e 2 de Kevin. Olhei para o motorista que dirigia atentamente. Ele poderia ser um espião de Dereck, então eu não ligaria para ninguém até chegar em casa e estar segura. A viagem de carro até a Zona E foi rápida e em pouco tempo eu estava descendo na frente da minha casa. Chegar ali me deu certo alívio. A vida no castelo poderia ser ainda pior do q
Enquanto eu e Kim íamos para a sala secreta da faculdade, meu telefone tocou. Atendi:- Senhorita Katrina Lee?- Sim, sou eu.- Esperamos você às 8 horas no castelo.- Eu passei para a próxima fase? – falei não me contendo de alegria.- Sim.- E... Qual foi minha nota? Quer dizer, você pode me responder isso?- A senhorita acertou todas as questões.Eu não pude me conter e dei um grito no meio da rua. Tentei me conter e disse:- Obrigada.Desliguei o telefone e olhei para Kim:- Kim, eu acertei todas as questões da prova.Ele me abraçou:- Eu não esperava menos de você, Kat. Você será a dama de companhia da rainha. Eu tenho certeza disto.Eu estava feliz pela primeira vez. Acho que porque realmente foi mérito meu. Não foi ajuda do meu pai, nem de Dereck. Eu era inteligente e
Quando a relógio despertou eu fui para o banho mecanicamente. Levantar cedo não era meu forte. Não iria repetir a roupa que ganhei de Dereck, então enquanto deixava a água molhar meus cabelos, pensava no que vestir naquele estilo. De repente a água ficou gelada e eu gritei. Mexi no chuveiro para troca de temperatura, mas não teve jeito: estava queimado. Aquilo era só o início do meu dia. Saí enrolada pela casa tremendo de frio. Encontrei uma saia bem usada e uma blusa branca que acompanhei com um blazer da mesma cor. O sapato iria repetir o que ganhei do príncipe, pois eram extremamente confortáveis. De onde ele havia tirado aquelas coisas? Eram novas... Nunca usadas. Tinham etiqueta e tudo mais. Eu não tinha muito tempo para pensar naquilo. Peguei os óculos fake e botei no meu rosto, saindo com os cabelos úmidos, pois não tive tempo para secar. Quando saí o carro e
Para meu azar, quase tudo que foi servido no almoço do castelo continha carne dos mais diversos animais. Enquanto as demais comiam tudo maravilhadas, eu só sentia uma tristeza infinita ao perceber quantos animais haviam sido mortos para alimentar aquelas pessoas.Ao final do almoço, enquanto todas estavam satisfeitas, eu havia provado poucos pratos. Como dizia minha mãe: “pobre não pode ser vegetariana”. Ainda assim eu insistia. Saí da mesa com fome.À tarde fomos divididas em pequenos grupos para conhecer o castelo, monitoradas por mulheres diferentes. Eu ouvia conversas e risinhos das meninas entretidas com os guardas, que nem se mexiam. Para mim eles tinham todos a mesma cara. Não imaginava alguém tirando um sorriso daqueles rostos sérios. Eu fiquei no grupo de Sofia, por sorte.Fomos andando pelos corredores do primeiro andar, conhecendo lugares históricos.- Ser&