A rainha Vitória enchia os olhos de emoção com a apreciação que tinha pelo teatro. Conheceu Aurora em belos palcos e teve o prazer de convidá-la para uma celebração na corte onde existiria uma festa de máscaras.
Aurora lhe foi apresentada como uma atriz de sucesso, estando entre as figuras mais famosas da Inglaterra. Ela estava com uma máscara dourada cheia de enfeites sublimes, ondulados, pareciam até deixam a aparência da máscara como uma armadura metálica; havia umas penas nela negras esverdeadas, lembrando as aves mais raras dos jardins de deuses da mitologia grega e a maquiagem de seus olhos brilhavam como a lua, lembrava purpurina carnavalesca. Suas vestes contemplavam o ar arrefecido da noite nos bosques mais densos, pois eram pretas. Aurora ainda que estivesse de luto, – com o seu isolamento social – deixara um pouco tudo um pouco de lado para viver a magia de um convite raro desses. Era preciso refrescar os dias com um baile, por causa de uma convocação da rainha.
Naquele salão silvestre do Palácio Real, decorado da forma mais pomposa e requintada, havia um tapete vermelho e cadeiras com detalhes grotescos em dourado e vasos floridos enfeitados de arabescos espalhados por todo o local, além de longas cortinas. Lá apareciam convidados consagrados pela Majestade e muitíssimo bem vestidos; ilustres presenças que deixavam os rostos cobertos pelas máscaras de diversos tipos de personagens – algumas mais extravagantes do que outras, algumas mais pálidas e outras mais coloridas, - e seus sorrisos à mostra. Era uma reverência ao ar de mistério criado pela folia.
Nos portões de entrada haviam soldados da corte, segurando lanças compridas e a bandeira da Inglaterra. Quando chegou a rainha, eles marcharam e tocaram bateria, alguns soaram trombones. Pareciam legítimos soldadinhos de chumbo numa doce sinfonia.
Plumas rodeavam cabeças de algumas figuras, da forma mais exótica possível. Algumas estavam mais sóbrias e deixavam um ar de curiosidade penetrar em seus olhares. Se fazia a pergunta de quem fantasiava mais as suas próprias ilusões, ou quem realmente estava lá para se revelar como ídolo da rainha. Era a vaidade se esparramando por alguns horizontes, engolindo muitas personalidades e derradeira se mostrava até como algo ridículo para os mais humildes.
A rainha Vitória queria ver grandes artistas, fazer o deleite cultural se estarrecer, criar uma tempestade de heróis que levassem seu nome ao auge, que pudessem apenas elevar o país à um patamar maior, com mais senso crítico e sensibilidade aflorada. Ela apreciava tanto a benevolência das artes que suspirava com seus ideias por um país mais bonito e cheio de deslumbre pelo mundo.
- Querida, muito prazer em revê-la. – disse a rainha com entusiasmo. - Sou uma grande admiradora sua.
- Obrigada, Majestade. – disse Aurora se curvando à imagem da corte.
- Aurora, seu teatro é fabuloso, gosto muito das suas representações. Soube que é médium. Bem, que isso fique em secreto entre nós: eu gostaria de lhe pedir uma coisa, claro, se fosse de sua vontade fazê-la. Por favor, quero que me acompanhe até minha sala particular. Precisamos ter uma conversa fechada. Prometo ser breve.
Após entrarem na sala, saíram alguns súditos e a conversa ficou em secreto:
- Minha cara Aurora Morwenna. Você é minha convidada por um motivo realmente especial, mas não é só pela arte que vim lhe chamar para falar comigo. Preciso que tenha uma missão, não só pela Inglaterra, mas pelo mundo inteiro. Sou muito curiosa à respeito desses assuntos... Mas quero deixar isso em secreto para que não se cause nenhum transtorno demais nos jornais, pois sabemos os escândalos que poderiam surgir e más interpretações de meus feitos pelo país. – ela olhou com seriedade para a senhorita e continuou a fala. - Eu tenho um convite para lhe fazer... Tenho ouvido em muitas reuniões, pessoas do mundo todo falando de manifestações misteriosas em todos os lugares do mundo... A verdade é que não sei bem o que fazer... Não sei nada sobre isso, mas me houve uma dúvida cruel que me deixou com a mão no coração...
- Bem, pode dizer, Majestade, eu a respeito e faço o que puder para servir a pátria. – disse a dama com humildade e respeito à rainha.
- Que bom Aurora. – respirou com uma leve pausa. – Bem, eu tenho que lhe confessar que eu só sinto um certo medo...
- Medo? Do quê Majestade?
- É a minha reputação... Não sou uma pessoa fria... Sou uma pessoa caridosa. Eu me importo em ajudar... Mas eu temo que no final de tudo, um veneno seja criado e derrubado por todos os cantos... Eu não quero ser pessimista, mas o que importa é que você aceite o meu pedido.
- Pode pedir. – disse Aurora convicta.
- Bem, a questão é a seguinte: gostaria que você se tornasse investigadora paranormal da corte inglesa. Você receberia cartas do mundo todo e viajaria para locais distantes para resolver esses casos de mistério sobrenatural. Há muitos me pressionando para que alguém possa fazer isso no meu lugar e eu a escolhi para me representar. Só não é preciso que se saiba sua verdadeira identidade, para evitar possíveis problemas futuros.
- Obrigada Majestade, para mim seria uma honra servi-la dessa forma. Mas eu temo um pouco sair assim do meu país e atender outras pessoas desconhecidas de outras partes do mundo... – dizia Aurora tentando arrumar alguma desculpa para não se curvar ao pedido da rainha.
- Ah, eu que agradeço, a honra é toda minha, Aurora. – disse a rainha - Mas não deixo de imaginar que você seria a pessoa ideal para esta missão... Acredito que não a escolhi por acaso. A minha intuição não é falha... – sorria Vitória, tentando convencer a dama.
- Obrigada Majestade. - sorriu a senhorita Morwenna.
- Mas por favor, prometa que vai pensar melhor na ideia. Precisamos de alguém como você, querida. – dizia Vitória, ainda confiante de que a senhorita pudesse mudar a sua forma de pensar.
- Sim, rainha. – se curvava a jovem.
A rainha lhe deu as mãos como forma de agradecimento. Naquele instante Aurora sentiu uma energia pulsante, como se viesse de um calor humano, uma forma de abraço em sua alma, pois sentia que a rainha realmente precisava de sua confiabilidade, e mesmo que não fossem amigas tão íntimas, ela se sentia legítima por ter sido escolhida para servir à Inglaterra, já que amava também ajudar aos demais.
***
Aurora tinha um vizinho chamado Lord Pierre. Ele era um talentoso artista; religioso, frequentava a igreja cristã e adorava compor músicas e escrever histórias com toques sombrios.Ele costumava a dizer que era um servo de Cristo. Que todas as vezes que ele se sentia vazio, clamava por ele, e confessava sua fé por onde passava. Ele era forte e corajoso, tinha um gosto pelas artes invejável, não costumava amar a vida de uma forma tão exagerada, mas, embora dissesse ser pecador, se humilhava para seguir o caminho do Salvador. E seus gestos de bondade eram agradáveis aos olhos de Aurora, que compartilhava bons momentos com sua companhia. Ele orava e sempre pedia bênçãos para sua amiga, dizia que ela era um presente de Deus.A madame se perguntava se ela um dia teria um dom assim, de ajudar as pessoas a se tranquilizarem. Não era fácil passar pelas provações que a vida d
As irmãs de Aurora sempre disseram à ela que nunca se importaram com ela. Um fato triste de se ver, mas Aurora pensava que se elas tinham muito pouco amor por ela, que nunca tinha feito nada de mal para elas, pensava que elas se revoltavam sem motivo. Isso era realmente ruim.Elas já comemoraram em algumas festas juntas, lotadas de amigos delas. Para Aurora, era incrível como essas pessoas se reuniam nas noites para algo com sons tão fúteis e danças tão ridículas, sem classe, até mesmo onde postulava a indecência. Bebiam, faziam a festa até altas horas da madrugada e também jogavam.Aurora tinha muitos poucos amigos. Para ela, naquela situação, muitas pessoas que gostava e tinham consideração a haviam deixado de falar com ela. Talvez tenham a abandonado por causa de sua doença. Não é fácil estar com humor para baixo e viver d
Na casa de Aurora começa-se a sentir um cheiro estranho, como se algo houvesse incendiado. De supetão, num estalo de dedos, Aurora que estava apenas cochilando, começa a tossir e se levanta com um pulo da cama, sentindo uma ameaça querendo cobrir seu corpo e penetrar suas narinas. E para o seu espanto, uma fumaça voraz estava prestes a entrar pela janela e a engolir como se fosse um monstro gigante. Bem, não era tão assustador assim, mas aquelas cinzas poderiam ser tóxicas para os pulmões da delicada mulher que fez abriu todas as janelas e portas da casa para ela ir embora.“O perigo deve estar rondando a minha casa. Devo pedir ajuda?” – pensou a dama - “Não quero incomodar ninguém, talvez o serviço de socorro da cidade não precise vir”. A primeira pessoa em quem pensou foi em seu amigo da vizinhança, mas pelo horário da noit
Aurora de repente ficou mais ansiosa. Não queria fazer tal coisa, mas preferiu ligar para as irmãs. Poderia ser uma questão de vida ou morte. Mesmo que a fumaça tenha passado, Aurora criava um pesadelo, para onde caía no próprio inferno mental. Estava trêmula, seu rosto estava pálido de medo por causa do perigo, mas sentia que não tinha escolha.Pegou o telefone e discou o número da casa de suas irmãs:- Alô? – atendeu a irmã caçula, com voz cansada, bocejando.- Aqui é a Aurora. Desculpe ligar tão tarde, mas não estou conseguindo dormir. É que senti um cheiro estranho e vi que tinha uma fumaça entrando na minha casa. Será que poderiam me ajudar?- Ah, não! O que é que você está pensando? Como pode nos ligar uma hora dessas! Você não sabe resolver seus problemas sozinha?&nbs
“Nós precisamos sonhar até o fim de nossas vidas... [...]. Podemos ver Deus em todas as coisas? Quando você precisa acordar e não escutar nenhum relógio, poderá ouvir vozes em sua cabeça: essa é a perfeição ou a imperfeição da Criação nessa Terra ou isso é o fundo penhasco onde nós estamos caindo como anjos invisíveis para voarmos com nossa imaginação em direção aos céus”. Eu costumava a sonhar com um grupo de ilusionistas na selva, às vezes. Não sei se seria clarividência, mas pressentia que algo mágico estaria para acontecer. Eu costumo olhar sempre em meu espelho - com molduras que lembram as iluminuras com seus arabescos tão bem desenhados, parecem galhos de árvore dançantes ao encanto do som suave da chuva - meus olhos
Lord Pierre naquela tarde de uma primavera surreal, intensa e acolhedora, fazia um convite à sua querida amiga Aurora para tomar um chá em sua casa e apreciar boa música.Ele queria que ela se sentisse bem, pois sabia o que ela sofria. Pierre se colocava no lugar dos outros, se importava com os sentimentos alheios e apenas desejava o bem por onde quer que passasse.Com aquele convite, Aurora se sentiu lisonjeada e levou algumas partituras para tocar piano. Eles costumavam tocar músicas clássicas e outras bem animadas.O vento sussurrava vozes indecifráveis. A corrente do ar se desfigurava com o frescor das flores, como se fosse um pedaço cintilante da lua que transpassasse corpos celestes. O orvalho cristalino invadia suas narinas. Não era uma tarde triste, pelo contrário, havia mais ânimo ali, era algo animado.Eles pintavam alguns quadros juntos, faziam poesias e deixavam o lado da alm
Avistei um coelho branco pulando perto de minha casa, tocando a superfície do solo com maestria, de forma graciosa; e eu o seguia com meu volante entusiasmo; e as aves escuras, preenchendo a minha vista, contornando o verde pálido, buscavam as sementes caídas do solo para se alimentarem no alto das torres das árvores; enquanto o bosque descansava, em meio ao céu rosado, sendo protegido pelo brilho do sol, suplicando por ternura e por paz sem juízo; e então minha luta, cravada no ínterim mais sutil da minha vida, não se deixando levar pelas árduas derrotas, temendo o fim do mundo, substituindo a miséria das serpentes, me guiava até um local precioso, mais parecido com um humilde santuário, que me serviria de abrigo. Lá no bosque, encontrei uma fonte abandonada, seus ornamentos se espelhavam na folia celeste. Os musgos tomavam conta dela e se tornavam sua preferida paixão.N
“Nos tornamos dignos de escalar até reinos que nunca sabem o que chorar”. – Boccaccio.“Eu atravessei o mundo e não era para lhe ver novamente” – pensou Aurora. “Onde está Anna-Katharina Fiedler, a remetente da carta? Será que desapareceu?”- Vamos, vamos, não quero que perca o espetáculo que temos no parque. – disse uma senhora cujo nome era desconhecido até então. Sua aparência era jovem, audaz, talvez saudável, mas não tinha nada de assustador na figura humana.- Bem, qual é seu nome?- Nossa, não estamos tão atrasadas assim. Desculpe querida, permita-me que eu me apresente: sou aquela que lhe enviou a carta. Fico feliz com a sua presença, até acredito que vai ficar muito s