- Você nunca se magoou... Sempre deu a volta por cima... – Percebi uma lágrima rolando pela sua bochecha e apertei minhas mãos, sentindo as unhas cravarem na palma delas, a ponto de doer feito canivetes fincando na pele.
Por que meu coração doía tanto? Por que minhas pernas resistiam em sair? Por que tudo rodava naquele lugar, menos Gabe e sua lágrima solitária? Por que eu o amava tanto?
- Sempre dei a volta por cima... Mas meu coração ficou estraçalhado. Em breve receberá os documentos do divórcio. Se não assinar, entrarei com um pedido litigioso e deixarei a mídia a par de todo processo. A escolha é sua!
Virei as costas e saí, parecendo caminhar nas nuvens, como se o chão abaixo dos meus pés não existisse. Quando tomei o elevador, sob os olhares curiosos, fechei a porta, deixando que as lágrimas caíssem
No primeiro dia de trabalho, por sorte, não houve nenhuma criança acidentada. Então me mantive na minha sala, sem precisar ver sangue nem nada do tipo.No primeiro momento que consegui, saí e procurei Rarith, encontrando-a no mesmo playground do dia anterior. Fiquei observando-a e optei por não a interceptar. Mas logo a garotinha me viu e correu na minha direção, reconhecendo-me. O abraço dela foi forte, mas pegou nas minhas coxas, já que era pequenina. Abaixei-me e olhei eu seus olhos, feliz com o sorriso que ela tinha ao me ver:- Que coincidência... Vê-la por aqui! – fingi que foi um encontro casual.- Eu estudo aqui! – Gargalhou, como se fosse óbvio.- Nossa! E eu... Estou trabalhando aqui! – Ri.- Onde?- Na enfermaria!- Você é enfermeira?- Bem, na verdade eu sou boa em legos, mas acharam que eu me sairia melhor fazendo curativos e aferindo temperaturas.- Se eu for para a enfermaria você pode montar legos comigo?- Infelizmente não tem legos lá.- Rarith, venha brincar com seu
- Se não se sente segura na área da saúde, onde acha que se encaixaria, Olívia?- Sinceramente.... Eu não sei. Parecia que o diretor queria que eu encontrasse minha vocação em menos de cinco minutos.- Pois então pense. Assim que tiver certeza, me avise. Quero que curse uma faculdade conveniada com a nossa escola.Estreitei os olhos, confusa. Mas antes que pudesse perguntar, ele explicou:- Todos aqui são formados. E levarei em conta sua necessidade de trabalhar e também a garantia que me deu de que é capaz de atender na enfermaria. Mas entenda que é temporário. E não, não me refiro ao emprego e sim ao fato de escolher para onde quer ir.Engoli em seco, confusa. Teria sido paixão à primeira vista do diretor por mim? Ou estava me testando? E se Gabe tivesse por trás daquilo tudo? Mas que influência ele teria na escola de Rarith? Talvez todas! Ele tinha influência em qualquer lugar do mundo, por que não na escola da sobrinha? Mas Gabe quereria me ajudar de alguma forma? Tudo por conta
Assim que acabou o expediente, no final da tarde, aguardei o diretor da escola para tomarmos o tal café, muito mais por curiosidade sobre o que ele tinha para falar comigo do que qualquer outra coisa.Jai esperou que todos deixassem a escola e então chegou até mim, que o esperava na calçada. Esperei que fosse buscar o carro, mas para minha surpresa começou a caminhar, e o acompanhei.- Tem uma cafeteria aqui na próxima quadra – explicou – É um lugar tranquilo e agradável.- Eu não moro aqui perto. Então não conheço nada por aqui. – Deixei claro, ainda receosa.- Você... Tem namorada ou é casado? – Perguntei.- Não. E você?- Quero deixar claro que não tenho interesse... Ou melhor, não quero me meter em confusão, diretor.- Pode me chamar de Jai.- Isto seria bem... Estranho!<
- Esqueça, Gabe! – pedi – Traga o chá e está tudo bem. – Garanti.- Não, não está tudo bem. – Ele contestou.- O chá. – Finalizei e ela saiu, visivelmente lamentando o ocorrido – Estou acostumada – expliquei a Gabe – É bem difícil encontrar algo para diabéticos em qualquer lugar.- Pois bem, irei abrir um restaurante para diabéticos. E também uma cafeteria. – Disse como se fosse algo tão fácil como “vou ali usar o banheiro e já volto”.Suspirei, resignada e perguntei de forma direta:- O que quer comigo? Como me achou aqui?- Eu vim buscar Rarith. E achei tê-la visto. Então ela confirmou... Que está trabalhando na enfermaria. No entanto você não pode ver sangue. Como conseguiu este emprego?- Foi simples: enviei um curríc
- Você gosta de mim? – a pergunta não veio carregada de surpresa, mas como algo que ele precisava ouvir de novo, como quem confirma um segredo já revelado. E eu já tinha dito. Mais de uma vez.- Eu gosto. Mas não acho que possamos ter um futuro juntos.- Por quê?- Você gostaria de ter algo comigo, Gabe?- Já temos, Olívia.- O que temos? – eu ri – Casou comigo no lugar do seu irmão, porque Jorel não apareceu no dia. Me maltratou de todas as formas possíveis, me deixando até sem comida. Tirou a minha insulina do mercado somente para me ferir, pondo em risco a minha vida. Então... O que temos, Gabe? Que tipo de “gostar” é este seu? Porque imagino o que você pode fazer com pessoas que não gosta, tipo meu pai. Ainda me pergunto, vez ou outra, porque não mandou matá-lo, sendo que tem dinheiro o s
Rita riu, com sarcasmo:- Eu era uma acompanhante de luxo? Acha mesmo que alguém vai me levar a sério? Rael é bonito, bem sucedido e amigo de Gabe Clifford! O que eu seria além de uma boa foda? E adivinhe? Me arrependi de não ter cobrado por dormir com ele!- Achei que vocês pudessem... Estar tendo um lance.- Só conseguirei me envolver com alguém que não saiba do meu passado. “Eu” tenho problemas com isto.- Acho que só não encontrou a pessoa certa, Rita. Quem a amar, aceitará o seu passado.- Sabe o quanto tempos problemas com “passado” nesta família! Não é fácil para nós. Além do mais, não estou procurando ninguém. Mal tenho tempo de reorganizar minha vida por aqui.Na manhã seguinte, assim que cheguei no trabalho, fui diretamente até a sala do direto
Pronto! Gabe sabia tudo sobre minha nova vida. E pelo visto não me deixaria em paz. E embora eu gostasse de ele estar começando a me dar atenção, não queria misturar minha vida pessoal com trabalho, pois tinha medo de me ferrar.Fui até o armário e peguei um curativo decorado com um personagem infantil e o colei na região do seu coração, sobre o terno, praticamente na área onde ficava o falso bolso. Ficou engraçado e não contive o riso, incerta se era por deboche ou porque realmente achei fofo aquele homem vestido num terno Kiton que custava mais do que eu receberia em um ano de trabalho com um curativo de “bichinho” decorando o look.Quando fui retirar a mão do peito dele, Gabe pegou-a, impedindo-me de me afastar, e fui obrigada a encará-lo, com aqueles olhos azuis que pareciam querer entrar na minha alma.- Ainda dói! – A voz dele f
Sentei-me na cadeira à frente do diretor Jai e perguntei de forma direta:- O que queria falar comigo?- Você é insistente! – ele suspirou – Realmente não quero falar aqui, Olívia.- Não temos outro lugar para fazer isto.- O que acha que pode ser?- Não tenho ideia. No entanto o tempo que perde perguntando sobre o que acho que pode ser, poderia finalmente falar e sanar minha ansiedade.- Ok! – ele respirou fundo e me encarou – Vou trancar a porta, se não se importa.Eu não me importava? Claro que sim. Eu não conhecia aquele homem para me sentir segura trancada com ele numa sala.Enquanto Jai vinha novamente para sua mesa, peguei sem que ele percebesse uma caneta de ponta fina que estava sobre a superfície. Se aquele sujeito tentasse me atacar, eu cravaria nele, com certeza.Com tantas mulheres no mundo por que eu? Era mui