Jorel foi até Gabe e retirou o celular da sua mão, encarando Rose com fúria:
- Ninguém lhe dará dinheiro antes que assine um documento passando a guarda de Isabelle.
Todos o olhamos, confusos, porque apesar da tensão do momento, Jorel parecia ser o único que ainda tinha um pouco de sanidade.
- Ele está certo – Isabelle concordou – Se você não assinar um papel, certamente pedirá mais dinheiro depois. Eu não confio em você... E pelo visto não sou a única. Pelo menos está sendo sincera e mostrando a sua cara, ao menos uma vez na vida.
- Acredite, minha filha, estou fazendo isto para o seu bem.
Isabelle riu, com sarcasmo:
- Você não faz o bem a ninguém a não ser a si mesma. E eu que um dia tive dó de Olívia por ser filha de quem era... – riu, com amargura – Antes eu tivesse
Eles nem tinham cruzado a porta quando Rael chegou. Rose analisou-o silenciosamente e depois riu, de forma debochada:- Só espero que Isabelle não seja o par de Jorel, porque juro que o boto na cadeia. – Apontou o dedo para o Clifford mais novo.- Que moral você tem para isto? – Me enfureci – Nunca vi um ser humano tão hipócrita na vida. Acha que algum de nós algum dia aceitaria um envolvimento entre os dois? Sua mente é doentia... Tudo em você é dissimulado e desumano.- Isabelle e eu somos sócios – Jorel ainda teve a decência de se justificar – Sua filha tem 14 anos, embora você não lembre. E eu estou fazendo 23 na semana que vem. Eu jamais tocaria numa criança, sendo que posso ter qualquer mulher que quiser. Mas vindo da sua mente calculista e pretensiosa, não me impressiono.Ele soltou Isabelle, certamente afetado com a fa
- Acho que ele sabia disto, chuchu... E por isto mesmo tentou o seu perdão ante que o pior acontecesse. O engraçado nisto tudo é que agora você busca a verdade sobre o acidente. E para mim... – suspirou – Bem, para mim tanto faz. Mônica já não faz sentido, aquela vingança parece algo ridículo e tudo que eu tenho de real é você. E nada mais importa no mundo... A não ser nós. E caralho, nunca conte para ninguém que eu falei isto, porque eu me sentiria como um brinquedinho nas suas mãos.- Você pode ser muitas coisas, Gabe Clifford, menos um brinquedinho nas minhas mãos. – Garanti, deitando a cabeça no ombro dele e sentindo seus lábios tocando o topo da minha cabeça enquanto entrávamos em casa.Gabe me ajudou com o banho enquanto me contava sobre Jai e Aneliese. E apesar de ficar feliz pelos dois, temi pelo meu ir
POV GABEOuvi uma batida na porta e Jorel entrou. Meu irmão era a única pessoa na face da terra que se atrevia a entrar na minha sala sem bater. E que pouco se preocupava em ser anunciado, como se a presença dele fosse importante o bastante para não precisar de nenhuma formalidade.- Recebi seu recado. – Ele sentou-se à minha frente, pegando uma caneta que estava sobre a mesa – Quanto você pagou por esta porra?- Menos do que você paga por uma prostituta. – Mal retirei os olhos do que eu estava fazendo no computador.- Não saio com prostitutas. Sou um homem disputado o bastante para felizmente não precisar pagar ninguém para me satisfazer sexualmente, como “uns e outros” por aí. – Deu uma risadinha debochada.Minimizei a tela importante na qual eu estava trabalhando e o olhei:- Não lembro de ter lhe dado o direito de sequer “pensar” no que faço ou deixo de fazer. – Deixei bem claro.- Quando levanta a sobrancelha deste jeito você parece um velho. – Seguiu me provocando.Respirei fund
- Se eu não casar com ela ficarei sem dinheiro?- Não só isto!- Não? – O olhar dele se estreitou, como se quisesse pagar para ver.- Vou ferrar com a sua vida.- Vou mandar fazer um exame de DNA. Duvido que tenhamos o mesmo sangue nas veias, Gabe. Olhe o que você está me dizendo!- Você poderia ser o bebê da mamãe, Jorel, mas não é o meu! Sabe que meu tempo é precioso para que eu o perca com você. Então não teria lhe chamado aqui para “brincar”.Meu irmão ficou um tempo em silêncio, pensativo. Mas eu o conhecia o bastante para saber o que o atormentava. Ele não era capaz de ficar comendo uma única boceta.- Entenda uma coisa, Jorel. Eu só quero que você case com Olívia Abertton. Em momento algum eu disse que deveria deixar de viver a sua vida como sempre viveu? Aliás, eu já falei sobre um bônus a mais na sua mesada, não é mesmo?- Quer dizer que... Se eu casar com a tal Olívia... Posso continuar fazendo tudo que sempre fiz? E... Ainda vou ganhar uma mesada maior? – Os olhos dele se a
POV OLÍVIADesci as escadas correndo atrás de Isa, que decidiu me torturar com cócegas quando encontrei um “Isa e Marcelo” no seu caderno, escrito com a sua letra. Ela gargalhava e fugia de forma ágil, como sempre. Eu tentava desviar dos tapetes e pulava por cima dos degraus. E assim chegamos na sala de jantar.Rose nos olhou com cara de insatisfação. Dei um beijo no meu pai e sentei-me à mesa, de frente para Isabelle.- Como foi seu dia, pai? – perguntei enquanto via a comida ser posta no meu prato: peixe com leguminosas.Olhei para o macarrão com camarão que seria o prato principal dos demais e cheguei a sentir água na boca.- Se comportar-se eu lhe dou um camarão depois. – Isabelle provocou, pegando um com a mão e me mostrando, rindo.Fiz careta para ela e lambi os beiços ao ver o camarão:- Isto é injusto, sua pestinha. Eu com este peixe sem tempero e você com um camarão gigante.- Injusto? – Rose riu, daquele jeito cruel – Deve dar-se por satisfeita de ter um prato diferente para
Engoli em seco, de certa forma entendendo Rose.- Tudo bem! – sorri, fingindo que não me abalei com as palavras dela – Fico em casa. Quem sabe acenda a lareira e mexa com os borralhos... E espere a fada madrinha – brinquei – E papai, por favor, não morra!- Corre o risco de mamãe trancar Olívia no sótão. – Isabelle gargalhou.- Não temos sótão. – Rose contestou, de forma séria.- Talvez me faça ter como única companhia os ratinhos – suspirei – Não se preocupe, Rose, sei que você não seria uma “má”drasta comigo. – Sorri, tentando não parecer irônica.Rose respirou fundo e gritou para a empregada:- Pode tirar meu prato! Perdi a fome. Sem contar que não posso comer mais nada nas próximas 24 horas. Tenho que ficar magra e esquelética para entrar num vestido da Prada que comprei há um tempo atrás e não usei. Ou acha que devo comprar um novo, querido?- Sem compras, Rose. Já vai ser difícil o jatinho. – Papai disse de uma forma tão séria que até me preocupei.- Tudo certo então... Uso o ve
POV GABEEnquanto eu entrava no restaurante, todos vinham na minha direção. Só faltavam lamber o chão que eu pisava. E só tinha uma coisa que eu odiava mais na vida do que Ernest Abertton: pessoas bajuladoras.Me dirigi diretamente ao segundo andar, onde havia reservado todo o espaço para o jantar em família; a de Ernest, claro. Porque eu não tinha e nem queria nada que me ligasse àquilo que alguns chamavam de família, que para mim não passava de pessoas que tinham o mesmo sangue e procuravam vínculos afetivos por serem fracas e incapazes de viver sem precisar de ninguém.Assim que cheguei à mesa, olhei para Ernest Abertton pela primeira vez materializado na minha frente. Respirei fundo e tentei manter minha sanidade, mesmo tendo vontade de espancá-lo até a morte. Não precisava fingir para mim mesmo que nunca tive a oportunidade de quebrá-lo ao meio e mandar separar as partes do corpo, enviando para diferentes partes do planeta. No entanto arquitetei por uma década aquela vingança, qu
- Não, realmente não fez. Mas o senhor contraiu empréstimos bancários. E como garantia deu tudo... Só não a família porque ninguém pediu. – Não contive um sorrisinho ao ver o semblante de espanto e impotência dele.- Mas... Ainda assim não tem nada a ver com a Clifford. – Mesmo com o ambiente climatizado em temperatura ambiente, percebi as gotículas de suor na sua testa e tive vontade de gargalhar.Sim, depois de mais de dez anos pela primeira vez eu senti vontade de rir de verdade. E jamais imaginei que o homem que me fez chorar pela primeira e última vez também seria capaz de me fazer rir novamente, mesmo que fosse aquela alegria momentânea o motivo do seu fracasso.- Na verdade tem. Eu comprei o banco. O que torna as suas dívidas minhas.Ernest contraiu os lábios, tentando entender. Mas eu não precisa explicar-lhe que comprei o banco para que a dívida fosse minha. Seria entregar-lhe de bandeja parte do que tinha lhe preparado com tanta dedicação nos dez anos que se passaram.- Eu..