- Se eu não casar com ela ficarei sem dinheiro?
- Não só isto!
- Não? – O olhar dele se estreitou, como se quisesse pagar para ver.
- Vou ferrar com a sua vida.
- Vou mandar fazer um exame de DNA. Duvido que tenhamos o mesmo sangue nas veias, Gabe. Olhe o que você está me dizendo!
- Você poderia ser o bebê da mamãe, Jorel, mas não é o meu! Sabe que meu tempo é precioso para que eu o perca com você. Então não teria lhe chamado aqui para “brincar”.
Meu irmão ficou um tempo em silêncio, pensativo. Mas eu o conhecia o bastante para saber o que o atormentava. Ele não era capaz de ficar comendo uma única boceta.
- Entenda uma coisa, Jorel. Eu só quero que você case com Olívia Abertton. Em momento algum eu disse que deveria deixar de viver a sua vida como sempre viveu? Aliás, eu já falei sobre um bônus a mais na sua mesada, não é mesmo?
- Quer dizer que... Se eu casar com a tal Olívia... Posso continuar fazendo tudo que sempre fiz? E... Ainda vou ganhar uma mesada maior? – Os olhos dele se arregalaram.
- Exatamente.
- Isto inclui...
- Sim, inclui sair e foder com quantas mulheres quiser. E a mídia? Pouco importa. Pode ser fotografado em boates, saindo com amigos, vivendo a sua vidinha medíocre de sempre. E não se preocupe com o nome da família. Se eu ler “Jorel Clifford, marido de Olívia Clifford, foi flagrado aos beijos com morena misteriosa em saída de Hotel de luxo”, lhe darei o valor dobrado da sua mesada.
- Você está me pagando o dobro do que me dá mensalmente para que eu case com uma gostosa, foda com ela e não deixe de foder com ninguém? E também não se importa se o nosso sobrenome valioso ficar na boca do povo, sendo o ganha-pão dos paparazzi de plantão? É bom demais para ser verdade! – ele sorriu, recostando-se confortavelmente na cadeira, sorrindo – Onde mesmo que eu assino?
Sorri satisfeito. Eu sabia que meu irmão caçula não me decepcionaria. Ele faria boa parte do serviço que era fazer a “garotinha do papai Abertton” chorar lágrimas de sangue. E isto, doeria no papai mais do que tudo. E o pior, ele não poderia fazer nada para ajudá-la. A dor dela seria a dele. Olívia Abertton, a filha do meio, a bastarda, a órfã, era a preferida daquele crápula. E eu a usaria para destruí-lo.
Se poderia mandar matá-lo ou até mesmo lhe dar um tiro com minhas próprias mãos? Claro que sim. Mas onde ficaria o doce sabor da vingança? Eu queria ver Ernest Abertton sofrendo como eu sofri, até que sua filha se tornasse um nada e desse fim à própria vida, cansada de tanto sofrer na teia que lhe preparei.
Ninguém melhor que Jorel Clifford para fazer aquele serviço. Meu irmão, diferente de mim, amava demais. Ele amava a vida, amava o dinheiro e literalmente amava todas as mulheres. E demonstrava isto através do seu pau.
As mais belas e famosas mulheres estiveram em sua cama e Jorel jamais deixou-se envolver-se emocionalmente com nenhuma delas. O coração dele pulsava no pau. E a pobre Chuchu não tinha nenhum tipo de encanto para fazer com que Jorel deixasse de ter pau no lugar do coração.
- Sabe que não posso fazer um contrato deste tipo, não é mesmo? – Esperava eu que ele entendesse.
- Por mim tudo bem.
- Mas no momento que casar, assim que assinar os papéis, na igreja mesmo, receberá o contrato assinado por mim onde aumentarei sua mesada para o dobro do valor. E claro que haverá alguns bônus caso seu nome saia na mídia, com aquelas garotas gostosas que você sai. – Incentivei.
- As prostitutas? – segurou o riso.
- Prostitutas? Eu jamais as chamaria assim. Aposto que saem com você porque tem um pau grande... Tão grande quanto o seu ego.
- Pode repetir?
- Nem fodendo.
Jorel gargalhou:
- Ok, vou seguir Olívia Palito no I***a – deu um clique no celular – Ela não é muito adepta de postagens. Na maioria das fotos está com uma garota... Que deve ter uns 16 – pareceu se interessar.
- Tem 13. E é a irmã dela.
- Como estas garotas estão botando corpo cedo! – ele meneou a cabeça – E já nas redes sociais! – suspirou – Curti e agora vou entra no PV para chamá-la para sair.
- Nem pensar! – De forma ágil me pus sobre a mesa e retirei o celular de suas mãos.
Jorel ficou me olhando com as mãos imóveis, o dedo ainda em processo de digitação:
- Gabe, eu não sei o que o tal Abertton fez para você... Mas confesso que eu tenho pena dele.
- Não é da sua conta. Esqueça o pai dela. Seu papel é sorrir e fazer o que eu mandar. Não quero que a chame para sair. O pai dela a obrigará a casar com você. Simples assim. Quero que ela tenha raiva dele.
Jorel estreitou os olhos, confuso. Eu não tinha que lhe dar satisfações. O papel dele era fazer o que eu mandava e pronto. E estava sendo bem pago para aquilo.
- Vou poder comer a minha esposa pelo menos?
- Sim... Ela e o restante das mulheres do país. Desde que não se apaixone pelo Chuchu, estará tudo certo.
- Eu, me apaixonar? – gargalhou – É mais fácil você se apaixonar do que eu.
Não me dei ao trabalho de revidar a babaquice que Jorel dizia, até porque ele não falava nada que fosse muito aproveitável.
- Agora levanta esta sua bunda preguiçosa daí e vá fazer algo útil.
- Como conquistar a Olívia Palito?
- Seu papel não é conquistar a garota, porra! – gritei, perdendo a paciência – Trate-a como o chuchu que ela é.
- Eu... Gosto de chuchu!
- Não, você não gosta de chuchu, Jorel. Ninguém pode dizer que gosta de chuchu porque é um legume sem gosto. Você só o tolera porque o come junto de alguma outra coisa.
- Já comi lula com chuchu e gostei. Tinham algumas especiarias como base do molho.
- Se o chef tirasse o chuchu o prato teria o mesmo gosto.
- Não acho!
- Quer mesmo discutir sobre o chuchu, porra? Quanto acha que vale o meu tempo?
Jorel levantou, atordoado, o dois dedos indicadores apontados para mim, como se precisasse decorar o que tinha que fazer:
- Caso com Olívia Palito, recebe o dobro de mesada, com quanto mais garotas eu trai-la, mais dinheiro ganho. E de bônus posso comer o chuchu... Mas não posso gostar. Porque lulas são melhores que chuchu.
- Fora! – gritei.
Ele saiu ainda andando de costas, falando mentalmente consigo mesmo, tão sério que parecia até que realmente estava tentando entender o que estava acontecendo. Pobre Jorel! Mal sabia que não precisava entender nada. Só casar no papel, deixar a filhinha do papai Abertton de lado e foder com tudo que tivesse uma boceta pelo caminho.
Interfonei para minha secretária, que ágil como sempre chegou em um minuto:
- Pois não, senhor Clifford.
- Marque um jantar de negócios com Ernest Abertton para amanhã à noite. Escolha o restaurante mais caro da capital de Noriah Norte. Diga que ele deve levar toda a família, a meu convite. E depois ligue para o restaurante e mande que insiram no cardápio o que tiverem de melhor a oferecer. Não quero pratos que possam sair em conta. Exijo um cardápio exclusivo, assim como um lugar reservado a mim e os Abertton.
- Estarei providenciando imediatamente, senhor Clifford. Mais alguma coisa?
- Não... É isto!
Ingrid saiu e recostei-me na cadeira, respirando fundo. Enfim, depois de tantos anos, a hora estava chegando. Ernest Abertton mal sabia o que lhe esperava: os piores dias de sua vida estavam batendo à porta. E viriam sob forma de tortura psicológica com a sua “menina dos olhos”.
POV OLÍVIADesci as escadas correndo atrás de Isa, que decidiu me torturar com cócegas quando encontrei um “Isa e Marcelo” no seu caderno, escrito com a sua letra. Ela gargalhava e fugia de forma ágil, como sempre. Eu tentava desviar dos tapetes e pulava por cima dos degraus. E assim chegamos na sala de jantar.Rose nos olhou com cara de insatisfação. Dei um beijo no meu pai e sentei-me à mesa, de frente para Isabelle.- Como foi seu dia, pai? – perguntei enquanto via a comida ser posta no meu prato: peixe com leguminosas.Olhei para o macarrão com camarão que seria o prato principal dos demais e cheguei a sentir água na boca.- Se comportar-se eu lhe dou um camarão depois. – Isabelle provocou, pegando um com a mão e me mostrando, rindo.Fiz careta para ela e lambi os beiços ao ver o camarão:- Isto é injusto, sua pestinha. Eu com este peixe sem tempero e você com um camarão gigante.- Injusto? – Rose riu, daquele jeito cruel – Deve dar-se por satisfeita de ter um prato diferente para
Engoli em seco, de certa forma entendendo Rose.- Tudo bem! – sorri, fingindo que não me abalei com as palavras dela – Fico em casa. Quem sabe acenda a lareira e mexa com os borralhos... E espere a fada madrinha – brinquei – E papai, por favor, não morra!- Corre o risco de mamãe trancar Olívia no sótão. – Isabelle gargalhou.- Não temos sótão. – Rose contestou, de forma séria.- Talvez me faça ter como única companhia os ratinhos – suspirei – Não se preocupe, Rose, sei que você não seria uma “má”drasta comigo. – Sorri, tentando não parecer irônica.Rose respirou fundo e gritou para a empregada:- Pode tirar meu prato! Perdi a fome. Sem contar que não posso comer mais nada nas próximas 24 horas. Tenho que ficar magra e esquelética para entrar num vestido da Prada que comprei há um tempo atrás e não usei. Ou acha que devo comprar um novo, querido?- Sem compras, Rose. Já vai ser difícil o jatinho. – Papai disse de uma forma tão séria que até me preocupei.- Tudo certo então... Uso o ve
POV GABEEnquanto eu entrava no restaurante, todos vinham na minha direção. Só faltavam lamber o chão que eu pisava. E só tinha uma coisa que eu odiava mais na vida do que Ernest Abertton: pessoas bajuladoras.Me dirigi diretamente ao segundo andar, onde havia reservado todo o espaço para o jantar em família; a de Ernest, claro. Porque eu não tinha e nem queria nada que me ligasse àquilo que alguns chamavam de família, que para mim não passava de pessoas que tinham o mesmo sangue e procuravam vínculos afetivos por serem fracas e incapazes de viver sem precisar de ninguém.Assim que cheguei à mesa, olhei para Ernest Abertton pela primeira vez materializado na minha frente. Respirei fundo e tentei manter minha sanidade, mesmo tendo vontade de espancá-lo até a morte. Não precisava fingir para mim mesmo que nunca tive a oportunidade de quebrá-lo ao meio e mandar separar as partes do corpo, enviando para diferentes partes do planeta. No entanto arquitetei por uma década aquela vingança, qu
- Não, realmente não fez. Mas o senhor contraiu empréstimos bancários. E como garantia deu tudo... Só não a família porque ninguém pediu. – Não contive um sorrisinho ao ver o semblante de espanto e impotência dele.- Mas... Ainda assim não tem nada a ver com a Clifford. – Mesmo com o ambiente climatizado em temperatura ambiente, percebi as gotículas de suor na sua testa e tive vontade de gargalhar.Sim, depois de mais de dez anos pela primeira vez eu senti vontade de rir de verdade. E jamais imaginei que o homem que me fez chorar pela primeira e última vez também seria capaz de me fazer rir novamente, mesmo que fosse aquela alegria momentânea o motivo do seu fracasso.- Na verdade tem. Eu comprei o banco. O que torna as suas dívidas minhas.Ernest contraiu os lábios, tentando entender. Mas eu não precisa explicar-lhe que comprei o banco para que a dívida fosse minha. Seria entregar-lhe de bandeja parte do que tinha lhe preparado com tanta dedicação nos dez anos que se passaram.- Eu..
- Minha irmã Olívia tem uma foto do seu irmão – a aprendiz de adolescente mencionou, direcionando-se a mim – Está no quarto dela.- Sua irmã é uma sonhadora? – Sorri, com todo meu sarcasmo.- Na verdade é apenas uma garota de bom gosto! – ela piscou e bebeu um gole da água que havia na taça.Notei que elas ainda não haviam feito os pedidos.- Desejo batatas Chipperbec com champagne Don Perignon e vinagre francês Ardenne, fritas em gordura de ganso e temperadas com sal trufado francês e raspas de trufas italianas e queijo pecorino. Substitua o molho da casa pelo molho Mornay, com queijo suíço. De sobremesa uma cassata italiana saborizada com licor Bailey’s com compota de manga e romã. A base precisa ser de Zabaione. Quanto à bebida... Traga o tive de melhor na casa, por favor. Afinal, estamos comemorando, não é mesmo senhor Abertton?Logo as mulheres da família começaram a fazer seus pedidos. Esperei que todas escolhessem e chamei o maitre novamente, solicitando mais um prato do menu.
POV OLÍVIAAcordei com vozes vindas de dentro e fora da minha casa. Espreguicei-me e fiquei a imaginar o que estaria acontecendo. Certamente papai tinha feito negócios com o senhor Clifford na noite anterior e aquele tumulto tinha a ver com aquilo.Fui para o banho e abri a torneira do chuveiro e não tinha água. Como assim acabou a água?Com toda aquela gente conversando a governanta não me ouviria de jeito nenhum, nem se eu gritasse ao lado dela. Pus um roupão e abri a porta do quarto, vendo homens uniformizados retirando os móveis de nossa casa e levando pela escada. Alguns itens estavam descendo por uma corda, diretamente do mezanino.Vi Isabelle subindo para seu quarto com uma caneca na mão. Usava o uniforme da escola.- Bom dia, docinho de coco. Não foi à escola hoje? – Perguntei.- Não... Pelo mesmo motivo que você não tomou seu banho. – Passou por mim indo em direção ao seu quarto.- Não foi à escola por que não tinha água?- Porque estamos ficando sem móveis – riu de forma deb
- Coração, prefiro morrer a vê-la casada com aquele desgraçado que a fará sofrer pelo resto da vida. Gabe Clifford não tem coração. E Jorel Clifford só pensa com o pau. Ele já comeu todas as mulheres do país que tem uma conta com mais de três dígitos. É um jogador viciado e um homem que não tem nenhuma qualidade. Vive das migalhas do irmão. Foi capaz de jogar uma herança bilionária fora.- E desde quando você se preocupa com fidelidade, Ernest? – Rose riu com ironia e não tirei a razão dela.Meu pai abaixou a cabeça, arrasado. Sim, ele tinha errado no passado, mas por que cobrar aquilo a vida inteira? Rose perdoou e quando tomou aquela decisão devia ter feito de coração e não da boca para fora. Todos, absolutamente TODOS os dias ela o lembrava da traição, da qual eu havia nascido.- Eu mesma não me importo com traição – dei de ombros e sorri – É Jorel Clifford! Eu casaria com ele mesmo que não precisasse ser a única forma de salvação da nossa família – deixei claro.- Coração, não est
Indo na contramão de minha madrasta e minha irmã caçula, não usei para o evento em que conheceria meu futuro marido algo de marca reconhecida e confiável, optando pelo que fazia meu estilo.- Laranja? – Rose disse, inconformada, quando descemos do carro em frente à residência dos Abertton – Quem usa roupa laranja num evento para conhecer o irmão do homem mais rico do país?- Laranja é o novo nude! – Tentei conter o riso.- A parte boa é que Olívia fica bem com qualquer tom. – Isabelle, como sempre, me defendeu.- Realmente está linda, Coração! – papai pôs o braço sobre meu ombro, fazendo questão que eu entrasse praticamente “protegida” por seu corpo.- Nas revistas de moda a foto chamará muito a atenção para você, por conta da cor. – Rose seguia incomodada com meu look.- Queria que você fosse a atração principal, mamãe? – Isabelle riu de forma debochada – É Olívia que vai casar.- O tom é horrível! Desta vez nem é querer os holofotes para mim, juro!Antes de chegarmos à porta princip