Hoje eu entendo que, quando eu olhava para a imagem de Bloon, sentia esperanças irreais. Era impossível ter uma mãe novamente, ou uma casa bonitinha, ou um pai decente, ou um cachorro peludinho.- "Eu amo você, minha filha. Confie na família" Mirtes garante antes de me soltar de seu abraço confortável. Ela é uma senhora de cabelos escuros, poucas rugas em sua pele clara e castanhos olhos gentis.Eu nunca consegui responder essas palavras. Amor é forte, forte demais. Não sei se consigo suportar esse sentimento tão bonito e cruel. E o bordão da família Carey, esse sobre confiar, também não costumo dizer. De onde eu vim, família é sinônimo de destruição.- "David está em casa?" busco mudar de assunto.- "Sim. Ele está em seu quarto, estudando. Vá falar com ele"David Carey é o que posso chamar de namorado à três anos. Foi o primeiro homem em quem confiei depois de meu pai, e não tive motivos para me arrepender. Pelo menos até o presente momento. Ele foi o primeiro beijo, o primeiro toque
- "Quão bem?" minha voz chega a falhar.- "Ele produz filmes, Blair. Jean tornou-se um diretor de cinema, e agora está fazendo fama e dinheiro" Drake responde, percebendo que Mirtes não seria capaz de o fazer.Então, se eu entendi bem, ele saiu da cidade quando minha mãe estava hospitalizada. Ela morreu, e então eu fiquei sozinha. Ele estava longe, e todos pensavam que aquele verme havia morrido. Eu sofri por anos a fio até encontrar alguém decente como Mirtes, e ele nunca se importou. Enquanto eu chorava lágrimas de sangue em um orfanato onde as pessoas não faziam questão de me amar, ele produzia filmes. Eu chorei, senti fome e frio, encarei brigas e tirei notas baixas. Eu cresci, vivi e sobrevivi na selva da vida, e onde Jean estava?- "O que?"- "Ele está... está bem rico. Eu preciso ser sincera, Blair. Ele me procurou quando você chegou aqui, mas eu não permiti que chegasse perto de você. Você era um pedacinho do meu coração. Jean disse que não desistiria de você, e eu deveria ter
Ethan abandonou o escritório de Michele e caminhou em direção à recepção. Ele tinha esperanças de ver Blair na agência, talvez lendo algum relatório ou correndo contra o tempo para terminar algo. Contudo, antes de chegar ao fim do corredor, ele percebeu que a porta à sua direita estava aberta.O homem analisou calmamente a fresta da porta. Dentro do espaço, ele encontrou exatamente o que estava procurando. Banks gostaria de ter mais de um motivo para perder o fôlego, mas a ruiva em seu campo de visão era o único.Blair estava inclinada, procurando os documentos na última prateleira do armário. Suas costas estavam em um declínio perfeito, literalmente a descida para o inferno. O salto adornando seus pés era um detalhe que valorizava suas pernas e sensualizava sua posição. Seu cabelo estava solto, caindo aos lados do rosto e impedindo que ela visse o homem na porta. Também impedia que Ethan visse o rosto dela.Fosse por atração física ou mental, o homem estava perdendo a noção do que er
- "Isso é sobre ciúmes?"Ethan posicionou sua mão contra a porta do armário de madeira, pouco acima da cabeça de Blair. Sua outra mão continuava deslizando pela perna da mulher, subindo até o limite e voltando para baixo.- "O que?" Blair franziu as sobrancelhas com a pergunta que, para ela, era ridícula.- "Me ver com ela deixa você irritada, principessa?" ele provocou.No fundo, Blair não sentia que Mariah, ou qualquer outra mulher, seria uma rival. Ciúmes não era uma palavra que ela conhecia, até porque seu ego não lhe permitia ser intimidada. Seu egocentrismo não era algo bom, do qual Blair poderia se orgulhar, mas, neste ponto, ela não se importava.Ethan aproximou o rosto até tocar o nariz de Blair com o seu, e, naquele momento, ela pôde sentir o hálito mentolado dele. Sua boca reproduziu o sabor que o homem tinha, a sensação de sua língua e o movimento de seus lábios. Ela se lembrou perfeitamente do beijo.Porém, ao contrário do que Blair desejava, ele deslizou seus lábios para
- "Hoje daremos um passo adiante" Spencer comentou.O inspetor abriu a bolsa que havia levado consigo, e retirou um pequeno equipamento de dentro dela. Blair observou aquele movimento, estranhando a novidade. Normalmente, aqueles rápidos encontros no estacionamento serviam apenas para que ela entregasse os relatórios.- "O que quer dizer?" ela questionou.- "O jantar de hoje pode ser posto a nosso favor. E eu quero que as operações tenham mais precisão. Então, se você ouvir algo incriminador, preciso saber e ter provas"Spencer mostrou um pequeno gravador para a mulher. Tinha basicamente o tamanho de uma caneta, e Blair não soube como esconderia aquele objeto. Ela franziu as sobrancelhas, e então pegou o aparelho das mãos de Spencer.- "Um gravador?"- "Sim. Se conversarem sobre algo revelador, eu saberei"Naquela noite, Blair sairia com Ethan. Seria só um jantar, a princípio, mas talvez ela tivesse acesso a informações incriminadoras. No momento em que fez o convite, a ruiva não tinh
Blair era uma obra divina. Os lábios fartos, cobertos por uma camada brilhante de gloss, recebiam a taça com graça. Os olhos azuis eram inocentes, mas também carregavam malícia forjada no próprio inferno. As poucas sardas em seu rosto davam-lhe certo charme, complementando a aparência angelical.- "O que quer saber?" a ruiva questionou.- "O que quer que eu saiba?"- "Sinceramente? Nada. Perto da sua vida, a minha é uma vergonha" ela sorriu ao dizer, porém o gesto não alcançou seus olhos. Ethan percebeu.- "Eu não acho que uma vida vergonhosa forjaria uma mulher como você" ele murmurou.Blair chegou a procurar indícios de sarcasmo, que era a marca registrada do homem, porém não encontrou. Ele estava falando sério. E naquele instante, ela esqueceu-se do gravador, e do que Spencer ouviria posteriormente. O impacto do momento falou mais alto.- "A vida não foi fácil para mim. Eu fiz escolhas ruins, porque não tinha opções. Eu cuidei de pessoas que não mereciam, e Deus sabe como fui apunh
Na manhã seguinte, Blair estava no departamento de polícia de Las Vegas. Ela havia entregado o gravador à Steve, e logo após foi dispensada. Ele disse apenas que iria averiguar as informações. E, sendo sincera consigo mesma, a mulher estranhou o comportamento do inspetor. Ele parecia estar mais fechado do que o habitual.- "O que acontece agora?" Blair questionou.- "Steve vai ouvir toda a gravação inúmeras vezes" Colton respondeu, displicente.Ambos andaram lado a lado até o fim do corredor, onde situava-se a sala de treinamento. O local com isolamento acústico estava vazio naquela manhã quando Colton abriu a porta, e então esperou até que a ruiva entrasse.No fundo, aquele homem militarizado não gostava do que estava fazendo. Ensinar Blair a ser uma agente, quando sequer ela havia mencionado que apreciava a profissão, parecia ser errado.- "Hoje é seu dia de sorte. Vamos treinar alguns tiros" ele comentou.Tiro ao alvo era uma atividade que envolvia teste de proficiência e exatidão,
Quando Blair apertou o gatilho e a bala abandonou o cano do revólver, Colton mal havia terminado de falar. Ela foi levemente impulsionada para trás, porém manteve-se firme em seus pés separados.A ruiva analisou o buraco no alvo feito pela bala. O alvo era dividido entre quatro cores; verde, amarelo, laranja e vermelho. O centro era vermelho, e ela o acertara de primeira.- "Eu disse que estava carregada" Blair disse, com certa dose de audácia em seu tom.- "Sorte de principiante"- "Posso atirar novamente?"- "Quantas balas você acha que tem?"- "Agora cinco"Colton não respondeu. Talvez, naquele momento, ele estivesse odiando Blair mais do que em qualquer outro. A mulher agia com pura petulância e superioridade, como se não estivesse ali para aprender.- "A primeira coisa que um agente deve ter em mente é a humildade. Nunca pense que você é a melhor" o homem murmurou.Colton caminhou até a demarcação no chão, parou ao lado de Blair, apontou o revólver para o alvo e disparou. Ele dis