Era uma manhã conturbada na Las Vegas downtown, assim como todas as outras. Os arranha-céus sempre acordados na cidade que nunca dorme exalavam dinheiro e poder. Aquele era um lugar onde as pessoas jamais se sentiriam em casa, no entanto, também não teriam vontade de sair dali.Ainda era muito cedo para o restante do mundo, mas não para a ambição dos cassinos e clubes que abriam as portas e mostravam ao público o melhor da vida; o prazer. Os prédios elegantes ao longo da avenida dispunham de escritórios, boates e residências. A mistura eclética era o que caracterizava a cidade do pecado, sua vastidão e amor pela novidade. O tédio jamais se instalaria em Vegas.Dentre os incontáveis prazeres na cidade do pecado, os departamentos policiais também não descansavam. Os telefones tocavam incansavelmente na delegacia, principalmente nas manhãs de sábado.E no meio do furacão que o departamento mostrava ser, Blair Collins caminhava pela recepção. Ela estava deslocada naquele ambiente conturba
Blair Collins era uma mulher exuberante. Os longos fios ruivos em contraste com a pele clara lhe deixavam afrodisíaca, diferente de qualquer outra mulher. Os olhos azuis como o mar das Maldivas eram um atrativo, chamavam e clamavam por atenção. As pessoas se perguntavam se ela podia ser tão bonita e, sim, podia. Era impossível olhar uma única vez para ela, pois seus detalhes convidavam para uma avaliação.Ao chegar no luxuoso hotel Bellagio, localizado na Strip, a limusine parou em frente ao carpete vermelho estendido diante da construção que mais parecia ser um palácio. O hotel inspirado na Itália seria sede do evento organizado para prestigiar Jean Keanu Collins pela direção de seu último filme, sucesso de bilheteria.As luzes embaçaram a vista de Blair. Os holofotes voltados para a frente do prédio lhe davam o ar que somente uma construção em Las Vegas teria. Também haviam dezenas de fotógrafos para prestigiar o mais novo querido da América, Jean. Contudo, os seguranças do local ga
E, ao contrário do que ela esperava, ele teve tempo para esticar a mão e impedir que as portas de aço se fechassem. Então o nervosismo a abraçou novamente.A primeira coisa a ser sentida por ela foi o perfume do homem. Era como se seu olfato fosse desenvolvido apenas para aquele aroma. Forte, másculo e viciante. Não era só o perfume; aquela sensualidade não poderia ser encontrada em um frasco de vidro. Grande parte da atração que aquele cheiro espalhava era a persona do homem, em si.Ela não via seu rosto coberto pela máscara cinza, mas o sentia na pele como se emanasse fogo. O homem era alto e forte, cada parte de seu corpo preenchia o smoking negro de maneira estratégica.A máscara acima dos lábios desenhados, do nariz perfeitamente alinhado e da mandíbula marcada levava mistério ao homem, como um cavaleiro negro.E sob aquela névoa estavam olhos azuis esverdeados. A ruiva sabia que precisaria de muito tempo olhando para eles até decidir se eram verdes ou azuis, mas também sabia que
Era um sábado chuvoso em toda Las Vegas e, no banco traseiro do carro, Blair analisava a paisagem que se desenrolava através da janela. Seus pensamentos estavam dispersos, percorrendo um passado não muito recente.- "A noite foi uma loucura" Drake comentou.Ele estava usando óculos escuros para esconder as olheiras após passar grande parte da noite bebendo com sua amiga. Depois do evento, eles voltaram para o apartamento onde moravam e abriram algumas garrafas de um bom vinho.- "Com certeza" Blair concordou, imediatamente se lembrando do encontro com certo cavaleiro no elevador.Ela ainda não era capaz de acreditar que aquele homem havia lhe seduzido a ponto de avançar sobre ele. O que a confortava era a ideia de que não ver-se-iam novamente, pois a maioria das pessoas presentes no evento da noite anterior moravam em Los Angeles, não em Vegas.- "Nunca mais vou beber" Drake se aconchegou no banco traseiro do Bentley ao murmurar, feliz pelos mimos que o pai de Blair lhes oferecia. Na
Naquele momento, o mundo de Blair deixou de girar e saiu de órbita. Dentre todas as pessoas na festa, todos os homens, todos os rostos, ela havia encontrado Ethan Banks, o nome na lista negra de Spencer. Ela não sabia como reagir, e pareceu esquecer-se de respirar também. Não se tratava apenas de um possível criminoso sendo investigado, mas sim do homem mais atraente que seus olhos tiveram o prazer de ver.- "Bem, eu poderia começar pegando leve. Mas você conhece essas garotas, elas querem saber se você está disponível" o apresentador brincou, e a sombra de um sorriso pouco sincero cruzou o rosto de Ethan.- "Isso pode ser discutido" foi sua resposta.A voz do homem foi como um sopro de vida em Blair, mesmo não pessoalmente. Grave e rouca, aquela era a definição do som que mais parecia sair de um trovão do que de cordas vocais. E, mais uma vez, a plateia explodiu em gritos.- "Felizes, meninas?" Jimmy estendeu os braços como se tivesse acabado de entregar uma conquista para as moças.
- "Não acredito que vamos para o tapete vermelho novamente" Drake murmurou em um gritinho, mal escondendo a alegria que sentia naquele dia.Após receberem uma cesta de café da manhã enviada por Jean, ambos haviam feito uma confortável viagem até Los Angeles. O ponto crucial fora o jatinho fretado pelo Sr. Collins para que a filha dispusesse de todo conforto possível. A intenção era envolver Blair até que seus pensamentos pudessem girar em torno do homem que o pai era, e não do homem que foi.- "Você combina com essa vida" Blair respondeu enquanto deslizava os dedos pelo cetim do vestido que usaria na noite.Era uma peça imponente, em um tom de vermelho muito próximo dos fios acobreados em seu cabelo. Diferente do anterior, o vestido não era ousado. De mangas longas, comprimento recatado e frente fechada, o modelo Dolce&Gabbana parecia perfeito para a ocasião. Seu único detalhe relevante, para além da costura bordada, era a longa abertura nas costas.- "Concordo"Drake apreciou a vista
Sede dos filmes mais aclamados pelo mundo cinematográfico, a cidade dos anjos era mais um ambiente de fingimento e atuação do que de prazer. Os locais, por mais luxuosos e elegantes, não exalavam dinheiro como Vegas. E nem deveriam. Para Los Angeles, o legado de Hollywood era suficiente.Os eventos eram, também, um momento adequado para reafirmar laços de influência e mostrar ao mundo que, para além do dinheiro, os convidados tinham contatos. Era um acordo confidencial entre as estrelas americanas; estar no topo e ajudar quem estava no topo a permanecer.No banco de trás da limusine, Jean, Drake e Blair esperavam do lado de fora do Roosevelt. Um dos hotéis mais famosos entre as estrelas do tapete vermelho. A princípio, seria apenas um jantar entre o elenco que compunha o filme, mas acabara se tornando motivo para uma pequena aglomeração de fotógrafos.- "Você está bem famoso" Drake sorriu para Jean.- "Parece que sim" o homem mais velho olhou para fora, vendo todas aquelas pessoas ido
A máscara lhe dava a aparência sombria que exalava, porém apenas o terno preto era capaz de fazer a mesma coisa. O olhar da mulher desceu para as mãos do homem, torcendo para não parecer sentir falta do aperto ao redor de sua garganta. Mas ele percebeu, sempre percebia.E quando seus olhares se encontraram, de um tom de azul para o outro, foi como uma implosão. A mulher se perguntou como vivera vinte e três anos sem experimentar aquela sensação. Ela se sentia amarrada sem cordas, silenciada com palavras nos lábios, ressuscitada pela morte. Era como se o que houvesse de obscuro nele desse luz à ela.Custou muito esforço para Blair conseguir esconder as raízes do medo se infiltrando em seu corpo. Se aquele homem realmente fossem quem Spencer dizia, ela não devia se aproximar daquela forma, naquela intensidade.Para Ethan, o encontro de olhares valera mais do que qualquer encontro de corpos. Era como se ele fosse um livro aberto àqueles olhos, sendo lido parte por parte. O homem se aprox