O que você já deixou de fazer por ser mulher?
Você já deixou de falar palavrão?
Você já foi impedida de sentar de forma confortável?
Já deixou de ir a algum lugar porque iria voltar sozinha?
Deixou de beber em uma festa por medo do “Boa noite, Cinderela”?
Já evitou uma roupa que gosta por medo de assédio? Ou de falarem mal de você?
Quantas vezes atravessou a rua por medo de alguma pessoa andando atrás de você? E quantas vezes ficou em casa por medo de sair à noite?
Você já foi preterida em algum emprego por ser mulher?
Eu já passei por todas essas situações. Qualquer mulher já passou por mais de uma dessas algumas vezes.
E essa é a história de quando eu resolvi me vingar por todas nós.
Capítulo UmUma proposta inesperadaA crise na economia brasileira afetou todo o conglomerado de empresas privadas, causando cortes orçamentários e redução de pessoal, criando pânico em todos os pobres assalariados sem estabilidade.Eu trabalhava no escritório de uma grande empresa bancária na época. Dez anos de casa e um rendimento muito bom. Todas as agências da região que era de minha responsabilidade haviam batido a meta de vendas nos últimos dez meses e esse era um feito e tanto em anos normais, mas em era de crise... Era estupendo.Para falar a verdade, eu e meu ego estávamos esperando uma promoção a qualquer momento.Acho que nunca poderia ter previsto o que aconteceu, que aquilo estava vindo voando em direção à minha cabeça. Por alguns momentos, me
Capítulo DoisO papel chamuscadoSeguir as instruções de Bianca para encontrar Diego, o tal professor de inglês por quem ela estava interessada, foi uma das coisas mais ridículas que eu já fiz. Para começar, ela queria me avisar quando ele saísse do curso para que eu o seguisse e, então, ela queria que eu o seduzisse a ponto dele me convidar (ou eu convidá-lo) para um local mais discreto e, antes de irmos, contar para ele que eu era soropositiva.Ou seja, se ele topasse, o que eu faria? Bianca tinha tanta certeza que ele não toparia estar com alguém soropositivo (vide suas experiências anteriores) que nem se dignara a me oferecer um plano B para o caso dele aceitar e, por conta disso, eu me sentia prestes a furar o olho da minha irmã.Afinal, com todo o meu charme, que escolha ele teria alé
Capítulo TrêsTem alguém em casa?Na minha concepção, a melhor coisa que eu poderia fazer era entrar em um fast-food qualquer e esperar encontrar alguma movimentação ou conseguir um táxi para casa. Encontrei uma lanchonete aberta depois de correr desesperadamente por cinco minutos; eu gostava e estava acostumada a exercícios, mas aquela situação maluca, talvez pela droga ainda em meu sistema, talvez pela outra coisa que eu preferia não lembrar, fez minhas costelas arderem de cansaço e falta de ar.Pedi qualquer coisa apenas para enrolar. Também escolhi a promoção mais barata. Não estava exatamente com fome, embora soubesse que meu corpo podia se utilizar de alimento naquelas condições estranhas, mas o hambúrguer que eu escolhi era tão peq
Capítulo QuatroUm caso de stripperNa quarta feira, Bia saía mais cedo do trabalho. Ela não tinha turma no curso, apenas aulas na escola, então ela chegava mais ou menos no meio da tarde, normalmente aproveitando após o almoço para fazer compras, ir ao médico ou qualquer outra coisa que ficara acumulada durante a semana. Então, foi uma grande surpresa quando ela parou à porta do meu quarto enquanto eu almoçava, o cabelo amarrado para cima e um filme de pancadaria passando no notebook na minha frente. Eu era o estado do caos, não que ela jamais tivesse me visto naquela situação, mas eu realmente podia evitar, se conseguisse. Principalmente porque eu me encontrava com uma coxa galinha na boca, as mãos e o rosto levemente engordurado.Bia pareceu não notar, ou fingiu.- Oi, Tatá, a gente pode conv
Capítulo CincoOlá, caçadoraFoi Bia que me ajudou a lidar com Bianca quando retornei, no dia seguinte. Mostrei a ela o video que gravara de Marcelo dançando e tirando a roupa e depois de Bia ter se chocado, ficado vermelha e também ter soltado um comentário nada parecido com o comportamento dela, ela respirou fundo, passou o vídeo para o computador e anexou na resposta que escrevia para Bianca. Naquele ponto, estávamos usando o wifi da lanchonete enquanto aguardávamos Lisbela sair da fisioterapia. Ela tinha ficado bastante zangada por não ter conseguido tantos detalhes da noite anterior e eu prometi que não contaria para Bia enquanto ela não retornasse. Mas tinha feito o suficiente para que ela pudesse me ajudar ao que escrever para Bianca."Bom dia, Bianca.A noite foi produtiva e
Capítulo SeisO Homem do Outro Lado da Linha“Ora, olá, Caçadora” uma voz masculina ecoou do alto-falante do celular. “Teve uma semana agitada, não?”Minha primeira reação aquilo foi começar a entrar em pânico. Alguém (um homem querendo se vingar de mim?) tinha descoberto quem eu era e tinha descoberto meu número de telefone. O telefone era fácil de resolver, porém, era só trocar de número. Não tinha ninguém na minha agenda, com quem eu gostaria de manter contato, que não pudesse lhe dar um número novo pessoalmente. Mas haviam outros problemas: se ele sabia meu número de celular e, talvez, meu nome, saberia meu endereço? E, se sim, talvez ele não tivesse com certeza de quem a caçadora era. Podia su
Capítulo SeteProblemas com fogo- Nós não vamos fazer isso – eu anunciei, no dia 19, quando Bia e Lisbela estavam reunidas no quarto da última, que tentava ensinar a primeira a como liberar o próximo mês para reservas, sem sucesso.Eram 23h da noite e Bia tinha planejado abrir as reservas às 0h do dia 20 para ver quanto tempo demoraria para não ter mais vaga. Ela e Lisbela tinham até apostado em minutos e horas. Eu estava nervosa, eu tinha dito para o Investidor Misterioso que iria pensar e não queria demonstrar que já havia decidido, então apenas deixei que elas continuassem com a preparação para a abertura do calendário e, ok, eu estava desistindo no último momento, mas nada justificava aqueles olhares acusatórios que as duas estavam me lançando bem naquele
Capítulo OitoTerceira Guerra MundialO dia já havia raiado quando eu acordei e estava definitivamente abafado e muito calor. Estava calor de um jeito insuportável. Rangi os dentes e reclamei da rigidez do meu corpo ao me mover e demorei alguns segundos para me recordar do que havia acontecido e mais ainda para perceber que eu ainda me encontrava em meu carro. Pior: eu me encontrava trancada em meu próprio veículo com as janelas fechadas e a luz do Sol de quase meio-dia esquentando.Eles haviam me arrastado para o carro e me trancado ali. Talvez para tentar uma morte acidental – como eles achavam que eu era jornalista, um assassinato chamaria a atenção e faria com que a polícia os perseguisse por meses a fio. Ou, então, ficaram com medo do que não compreendiam e, por conta disso, me deixaram lá. Talvez na esperança que eu m