Ao retornarem para a mansão, a atmosfera havia se transformado sutilmente. Não era apenas a casa onde viviam, mas o lar que haviam construído juntos, agora oficialmente selado pela promessa do casamento. Jonathan e Sofia os aguardavam na porta, seus sorrisos calorosos e os olhos brilhando de felicidade."Muitos parabéns, meus queridos," disse Sofia, abraçando Noan e depois Ethan com carinho. "Que vocês sejam felizes para sempre."Jonathan apertou a mão de Ethan e deu um abraço em Noan. "Foi uma cerimônia linda. Vocês merecem toda a felicidade do mundo."Após os votos de felicidades, e percebendo o desejo dos recém-casados por privacidade, Jonathan e Sofia se retiraram discretamente para seus aposentos, deixando Noan e Ethan a sós.Noan olhou ao redor da sala de estar, agora iluminada apenas pela luz suave de alguns abajures. Havia um silêncio confortável, preenchido pela melodia distante das ondas. Ele se virou para Ethan, que o observava com um s
Cinco anos haviam se passado desde aquele dia ensolarado à beira-mar, quando Noan e Ethan trocaram seus votos sob o olhar atento de Tian e o carinho de Jonathan e Sofia. A mansão, outrora um refúgio solitário para Ethan, pulsava agora com a vida e a alegria de uma família unida.Tian era um menino esperto e curioso, com seus dez anos repletos de energia e um amor incondicional por seus pais. Ele havia florescido em um ambiente de apoio e aceitação, sua jornada no espectro autista sendo acompanhada de perto por Noan e Ethan, que se dedicavam a proporcionar-lhe todas as ferramentas e o amor necessários para que ele pudesse alcançar todo o seu potencial.Noan e Ethan eram inseparáveis, seu amor amadurecendo com o tempo, tornando-se mais profundo e resiliente. As dificuldades que enfrentaram apenas fortaleceram o laço que os unia, e a cada dia eles reafirmavam a promessa que fizeram um ao outro naquele altar improvisado na praia.Naquele final de tarde de um s
O sol da manhã seguinte invadiu o quarto através das cortinas finas, despertando Noan com seus raios suaves. Ao seu lado, Tian ainda dormia profundamente, o rosto sereno e a respiração calma. Observá-lo dormir sempre trazia um misto de ternura e preocupação para Noan. Cada dia era uma nova batalha, uma nova tentativa de entender as necessidades únicas de seu filho e de lhe proporcionar um ambiente seguro e amoroso. Com cuidado para não acordá-lo, Noan levantou-se e vestiu a roupa simples que trouxera. Precisava começar a trabalhar. Desceu as escadas hesitante, encontrando Jonathan na cozinha, preparando o café da manhã. O mordomo, com seu semblante amigável e maneiras gentis, o recebeu com um sorriso acolhedor. "Bom dia, Noan. Dormiu bem?" "Bom dia, Jonathan. Sim, obrigado. Tian ainda está dormindo." "Não se preocupe, ele pode ficar no quarto. Sofia já está cuidando da limpeza, mas assim que ele acordar, pode trazê-lo para tomar café." Noan sentiu um peso sair de seus ombros.
O sol da manhã mal despontava no horizonte, pintando o céu com tons pálidos de rosa e laranja, mas para Noan, a beleza do amanhecer era um contraste cruel com a escuridão que consumia sua alma. A mochila surrada a seus pés parecia pesar uma tonelada, carregando não apenas seus poucos pertences, mas também o fardo de uma vida que desabava. Ao seu lado, agarrado à sua calça jeans desbotada, Tian, com seus pequenos três anos, observava o movimento da rua com olhos curiosos, alheio à tempestade que assolava o coração do pai. A noite anterior fora a mais longa e dolorosa de sua vida. As palavras duras e frias de seu pai ainda ecoavam em seus ouvidos, como navalhas cortando sua carne. "Você é uma vergonha para esta família. Não quero mais você e essa criança problemática sob o meu teto." A descoberta que sou Gay e do autismo de Tian, que Noan tanto lutara para entender e aceitar, havia sido a gota d'água para um pai que sempre prezara por aparências e "normalidade". As lágr
Após o susto do trovão, o silêncio retornou à sala de jantar, mas a atmosfera havia se transformado sutilmente. Tian, ainda agarrado à perna de Ethan, olhava para ele com uma mistura de curiosidade e cautela. Ethan, por sua vez, mantinha o olhar fixo no menino, sua expressão agora mais suave, quase pensativa. Noan, sentindo o peso do momento, aproximou-se lentamente. "Tian, meu amor, o senhor Ethan precisa jantar." Tian soltou a perna de Ethan hesitante, mas manteve os olhos fixos nele. Ethan, como se despertasse de um transe, pigarreou e voltou a sua postura habitual, levantando-se com uma rigidez quase defensiva. "Já terminei", disse ele, sua voz voltando ao tom frio e distante de sempre. Sem olhar para Noan, dirigiu-se para fora da sala, deixando para trás um rastro de confusão e uma ponta de admiração em Noan. Nos dias que se seguiram, pequenos incidentes como aquele se repetiram, como rachaduras sutis surgindo na armadura de Ethan. Tian, com sua inocência e espontaneidade,
A conversa na varanda pairou no ar como uma brisa noturna persistente. Noan não conseguia esquecer a dor palpável na voz de Ethan ao confessar sua culpa. Aquela breve abertura em sua armadura revelara um homem atormentado, preso nas correntes de um passado trágico. Na manhã seguinte, no entanto, Ethan parecia ter se fechado novamente, sua expressão mais fria e distante do que nunca. Ele mal dirigiu a palavra a Noan, limitando-se a acenos de cabeça e ordens concisas. Apesar do aparente recuo de Ethan, algo havia mudado na percepção de Noan. Ele via agora as camadas por baixo da frieza, a dor que o consumia por dentro. Essa nova compreensão despertou em Noan um sentimento de empatia, uma vontade de ajudar aquele homem a encontrar algum tipo de paz, mesmo que parecesse uma tarefa impossível. Tian, alheio às complexidades emocionais dos adultos ao seu redor, continuava a ser uma fonte constante de alegria e um elo inesperado entre Noan e Ethan. Ele perseguia as borboletas no jardim,
A semana que se seguiu trouxe consigo uma mudança no clima, tanto dentro quanto fora da mansão. O céu, antes de um azul límpido, começou a se cobrir de nuvens densas e carregadas, prenunciando a chegada de uma tempestade. Noan sentia uma inquietação semelhante em seu próprio interior, uma confusão crescente em relação aos seus sentimentos por Ethan. Apesar da frieza e da distância que o empresário mantinha, havia momentos fugazes de gentileza e vulnerabilidade que plantavam em Noan uma semente de esperança, e talvez, algo mais. Ele se repreendia mentalmente por isso. Ethan era seu chefe, um homem problemático e cheio de traumas. Noan precisava focar em Tian, em garantir a segurança e o bem-estar de seu filho. Mas a verdade era que a tristeza nos olhos de Ethan o afetava, e os raros sorrisos direcionados a Tian despertavam em Noan uma estranha ternura. A tempestade chegou com fúria na tarde de uma quarta-feira. Raios cortavam o céu escuro, e o som dos trovões ecoava pela casa, faz
A manhã seguinte amanheceu com um céu límpido, como se a tempestade da noite anterior nunca tivesse existido. No entanto, para Noan, a atmosfera na mansão parecia carregada de uma eletricidade silenciosa, um eco do olhar intenso que compartilhou com Ethan no corredor. Ele se sentia estranhamente consciente da presença do empresário, cada ruído, cada porta que se abria o fazia sobressaltar.Ethan, por sua vez, parecia ter se retraído ainda mais em sua concha. Ele não mencionou o breve encontro da noite anterior e manteve uma distância ainda maior do que o habitual. Seus olhos, quando cruzavam os de Noan, eram rápidos e evasivos, sem o brilho fugaz de vulnerabilidade que Noan havia vislumbrado.Noan tentava se concentrar em suas tarefas, mas sua mente constantemente voltava para aquele momento no corredor. O calor do olhar de Ethan, a sensação de proximidade... tudo parecia um sonho, quase irreal. Ele se questionava se havia interpretado mal os sinais, se a tensão que sentira era apenas