POV de Alysson A conversa começou baixa, como deveria ser. Estávamos no meu quarto, ao lado do quarto de Cris, que finalmente tinha adormecido. Com apenas sete meses, ele não fazia ideia da confusão que cercava sua curta vida.Eu me sentei na beira da cama, tentando não demonstrar a irritação crescente. Dilan estava parado, de braços cruzados, com o olhar distante, como se procurasse uma resposta em algum lugar do passado.— Qual é o plano, Dilan? — perguntei, mantendo a voz controlada.Ele balançou a cabeça devagar, o cansaço estampado em cada gesto.— Ainda estamos esperando.— Esperando o quê? — insisti, minha paciência já se esgotando.— Que Michael faça algum movimento. Precisamos de algo concreto para provar que ele é o traidor.Uma risada incrédula escapou dos meus lábios antes que eu pudesse conter. Aquele absurdo me deixava furiosa.— Vocês são inacreditáveis! — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. Dilan me lançou um olhar cortante, mas eu continuei. — Melissa morre
POV de Alysson Assim que Dilan saiu do meu quarto, fechei a porta com cuidado e fiquei alguns segundos parada, ouvindo seus passos ecoarem pelo corredor. Ele parou no final do corredor e ouvi o barulho da porta da sala se abrindo e fechando suavemente. Um telefone foi acionado logo em seguida.Ele estava ligando para Debby, a detetive inglesa. Não era surpresa; Dilan sempre a consultava antes de qualquer movimento, como se ela fosse sua bússola moral. Suspirei, aproveitando o momento para agir.Eu me movi rápido até a gaveta trancada do meu criado-mudo. A chave estava escondida no fundo do bolso do meu casaco, e minha mão tremia enquanto a pegava. Quando finalmente destranquei a gaveta, puxei um envelope envelhecido com cuidado. Lá estava ela: a carta testamento de Melissa.Fiquei um momento olhando para o envelope, como se ele pudesse me dar respostas. As palavras de Dilan ainda ecoavam na minha cabeça. A carta era a peça-chave para expor Michael, mas eu sabia que não era tão simple
POV de Alysson Sentei na poltrona desgastada do apartamento da detetive Debby, o cheiro de café frio e papéis velhos preenchendo o ar, enquanto meus nervos pareciam vibrar sob minha pele. O som abafado da porta do quarto se fechando atrás de Dilan foi quase um alívio, mas a tensão no ambiente persistia. Ele estava lendo.A carta. A maldita carta.Eu não queria entregá-la. Desde o momento em que Melissa – morta, mas ainda tão presente – deixou aquela confissão absurda, senti que aquilo não era apenas errado, mas cruel. Ainda assim, lá estava Dilan, trancado no quarto, confrontando a traição que a esposa tinha, supostamente, escondido por anos. Meu estômago dava voltas só de imaginar sua reação.— Você acha que ele vai acreditar? — perguntei, minha voz soando mais dura do que pretendia.Debby olhou para mim por cima dos óculos, ajustando a presilha que segurava seu coque desalinhado. Ela parecia sempre tão no controle, mas até ela tinha um ar cauteloso hoje.— Ele precisa acreditar em
POV de Alysson Dilan ficou em silêncio, os olhos fixos em algum ponto invisível na sala. Ele estava processando, eu sabia. E, sinceramente, não o culpava. O peso da carta, a traição implícita, o desaparecimento de Soraya e agora essa nova estratégia... Era muita coisa para digerir.Debby, sempre a pragmática, quebrou o silêncio.— Precisamos definir os próximos passos antes que você perca a coragem, Dilan.Ele estreitou os olhos para ela, mas não retrucou. Era o jeito dela, e no fundo, ele sabia que ela tinha razão.— Ok. — Ele respirou fundo, cruzando os braços. — Se vamos lançar o projeto, precisamos ser rápidos. Quem controla a mídia nesse momento?Debby sorriu de um jeito que não era exatamente tranquilizador.— Eu conheço algumas pessoas que podem fazer o anúncio ganhar força. Mas precisamos de um plano claro.Dilan virou-se para mim, e eu senti o peso do momento.— Allysson, você falou sobre hospitais, escritórios, geração de empregos... Você realmente acha que isso pode compet
POV de Alysson Dilan dirigia em silêncio, as mãos firmes no volante enquanto o ronco do motor preenchia o carro. O brilho das luzes dos postes riscava seu rosto, destacando os traços tensos e cansados. Eu observava a paisagem urbana passar, mas meu foco estava nele. Sabia que precisava dizer o que estava pensando, mas encontrar o momento certo era outra história.Finalmente, tomei coragem.— Eu acho que você deveria envolver o Michael nisso.Dilan quase freou o carro no meio da rua. Ele me lançou um olhar tão incrédulo que, por um instante, achei que ele fosse me mandar descer.— Você só pode estar brincando. — A voz dele era dura, carregada de incredulidade. — Allysson, você está ficando louca? Dar munição para o inimigo?— Ouvi você dizer isso umas mil vezes hoje. — Cruzei os braços, recusando-me a ceder. — E, pela última vez, não estou louca.— Então, explique. — Ele bufou, desviando os olhos da estrada para me encarar por um segundo. — Porque, sinceramente, não estou vendo lógica
POV de AlyssonDepois do almoço, Mary Jane saiu apressada, como sempre, e me deixou com uma única instrução:– Allysson, você e Dilan precisam desligar do que quer que seja e cuidar do Cris. Juntos.Eu fiquei sem argumentos. Era o tipo de ordem que não dava para recusar, ainda mais vinda dela, que sempre parecia carregar o peso de tudo sozinha. Assenti, observando enquanto ela saía pela porta com a bolsa no ombro, e suspirei. Não era como se eu tivesse muitas opções.Dilan, ao meu lado, parecia ter aceitado a situação melhor do que eu esperava. Ele segurava Cris nos braços, distraído, enquanto o bebê puxava o colarinho da camisa dele. Era difícil imaginar aquele homem, com toda a sua imponência, tão descontraído.– Ele vai rasgar sua camisa se você deixar – comentei, cruzando os braços.– Melhor rasgar a camisa do que o meu cabelo – respondeu ele, sem tirar os olhos do filho, enquanto Cris soltava uma gargalhada.Dei de ombros e fui até o sofá. Robert, o irmão de Melissa, minha melhor
POV de Alysson A semana seguinte foi marcada por muito trabalho e estresse. Eu caia na cama esgotada, dando graças a Deus que estou de férias do curso e esperando sinceramente que tudo isso acabe antes de o próximo semestre começar. Trabalhei uma semana nesse ritmo insano, e já acho que nao dou conta! E a sexta feira acabou de começar…Eu fico com o Cris durante o dia inteiro, estou acompanhando todos os profissionais que Cris mandou falar comigo, apareceu uma enorme planta do complexo, que mal cabe na escrivaninha do meu quarto. Dilan me mandou trabalhar do escritório dele, mas não fico confortável. Cris está engatinhando, na fase que levanta se apoiando em tudo. Essa é uma das fases mais críticas para mães, babás e cuidadoras. É a hora que não se pode tirar os olhos do bebê, porque é nesse minuto, em que não estamos olhando, é que os acidentes acontecem. Cris tem que ter liberdade para engatinhar pelo apartamento, mas em um local seguro, onde ele possa se levantar, puxar algo mac
POV de Bruce Sentado no sofá do quarto de Alysson, com um copo de uísque que eu nem tinha tocado, senti a pressão do mundo pesar sobre os meus ombros. Era um silêncio quase insuportável, quebrado apenas pelo som do vento lá fora, uivando como se fosse um lamento constante. Minha mente insistia em voltar para a carta de Melissa. Aquele pedaço de papel que queimava como fogo nas minhas mãos quando a li pela primeira vez.“Estou apaixonada por outro homem.” As palavras eram secas, cruéis, e mesmo que eu soubesse que aquela carta era forjada, fabricada para me manipular, a dor continuava sendo real. Não era sobre a autenticidade dela, mas sobre a possibilidade. Melissa nunca foi um mistério, mas foi um livro que eu nunca tentei ler por completo, e talvez essa carta fosse um reflexo de algo que eu nunca quis admitir.Agora, aqui estava eu, com Mary Jane em casa, minha sogra, ou talvez a única pessoa que me restava da família que construí com Melissa. Ela me olhava com aquela expressão que